The Real Side escrita por Jess Gonçalves


Capítulo 16
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

Tenho um leve estoque de capítulos, não se acostumem.



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A última coisa que Avril aceitaria era um “ombro amigo”, por isso Steve tomou todo o cuidado para não soar nada como isso. Qualquer tentativa mais explícita e a garota regrediria para a defensiva. Com cuidado ele havia se afastado do assunto “Loki”, também havia feito os dois começarem a andar pelas ruas de Cleverland, já que até ele se sentia agoniado quando muito tempo parado, e, quando começou a notar alguns sinais de cansaço na garota, sugeriu que voltassem ao apartamento.
A volta para o apartamento alugado foi muito mais animada do que a ida ao restaurante e o leve desentendimento entre ambos ficava cada vez – aparentemente – esquecido quando surgia um assunto qualquer coisa que Steve tivesse conhecimento – fosse algo da época dele ou algo que ele já havia “descoberto”. Uma conversa simples que pessoas normais tinham sobre assuntos normais, algo bem diferente do que ambos estavam acostumados. Até aquele dia todas as conversas haviam sido de assuntos estranhos: o primeiro contato fora por causa de um ataque de um extraterrestre, e eles só tiveram assunto porque Steve trabalhara com o avô da garota quando Howard era jovem. Esse exemplo já era o suficiente para demonstrar a não normalidade, por isso pode ser considerado uma evolução eles terem conversado sobre Star Wars por mais de duas horas.
Avril planejava voltar para o hotel onde Steve estava anteriormente hospedado, mas esse não permitiu a saída da loira, que como estava com sono – e pelos vários dias sem dormir, não era muito inteligente lutar contra ele – acabou aceitando dormir novamente no apartamento. Mesmo com muita discussão, Steve conseguiu que Avril dormisse na cama, enquanto ele ficou no sofá, zapeando canais até que caísse no sono.
A garota acordou algumas horas mais cedo que o super soldado e decidiu fazer algo legal em retorno – afinal, Steve estava realmente se esforçando para ser uma pessoa agradável e não julgá-la por tudo que ele sabia que ela já havia feito. Não algo exatamente grande, apenas organizou a cozinha e colocou J.A.R.V.I.S. para ajudá-la a pesquisar coisas que valiam a pena Steve saber do que ele havia perdido.
— Devo adicionar O Senhor dos Anéis à lista, Avril? – perguntou o sistema, enquanto ela guardava o último prato recém-lavado.
— Você já me fez perguntas melhores, J – riu a garota, prendendo seu cabelo no topo da cabeça com um elástico – Coloque os clássicos. Coisas que as crianças cresceram assistindo.
— Harry Potter? – sugeriu J.A.R.V.I.S.
— E filmes da Disney – lembrou ela, enrolando o pano de prato na mão – Quero saber como uma pessoa reage de verdade à morte do Mufasa.
— Como quiser, Av – respondeu ele, voltando a executar sua tarefa em silêncio.
Mais cedo Avril havia feito relatório atrasado informando do imprevisto ocorrido, que agora Capitão Rogers tinha conhecimento de sua proximidade, mas que isso não seria um problema. Steve, por alguma razão desconhecida queria confiar na agente disfarçada, e isso lhe seria muito útil. Claro que Fury não ficou nem um pouco contente, mas aceitou a situação melhor do que ela esperava.
— Eu te dei apenas uma restrição, Stark grunhiu o diretor Você só não podia ser descoberta.
— Ele n
ão está desconfiando de mim explicou ela, pela milésima vez durante aquela conversa Rogers quer confiar em mim, Fury. Isso é melhor do que ter conquistado a confiança dele.
— Espero que seja, agente Stark
esbravejou ele, antes de cortar a comunicação Porque se Capitão Rogers se virar contra nós no futuro, parcela da culpa vai ser sua.
— Adiciono Coldplay à lista, Av? – perguntou J, a tirando de seus pensamentos.
— Eu já conheço essa banda, J.A.R.V.I.S. – Steve respondeu, surpreendendo a garota, que se virou para a entrada da cozinha – Não sabia que esse sistema era algo compartilhado pelos Starks.
— Tony também não sabe disso, então vamos manter segredo, por favor – pediu a garota, pegando seu celular e o colocando no bolso antes de murmurar um “continue trabalhando, J.” – Você realmente acorda cedo.
Steve apontou para a cozinha limpa, se apoiando no batente do portal.
— E pelo visto você acordou muito mais cedo que eu – retrucou ele.
— Nunca fui de dormir muito, na verdade.
— Problemas de insônia resolvidos, então?
— É uma grande evolução – lembrou Avril, pegando uma xícara, a enchendo com café e entregando-a ao homem.
— E uma grande evolução merece comemoração – brincou Steve, erguendo sua xícara como se fizesse um brinde e provando a bebida em seguida – Isso realmente está muito bom.
— Comprei na cafeteria na esquina – confessou Avril – Culinária não é exatamente a minha área.
—Você só pode estar brincando – estranhou o loiro, colocando a xícara na mesa e se adiantando alguns poucos passos para a garota - Deve existir algo que você saiba fazer nesse espaço.
— Talvez uma bomba caseira – confessou ela, olhando intensivamente para a gaveta de talheres antes de voltar sua atenção para o loiro a sua frente – Mas não acho que temos colheres o suficiente para isso.
Os mesmos passos que Steve havia dado em frente, ele regressou, causando riso na jovem.
— Estou brincando – sorriu ela, apoiando os cotovelos na mesa e o queixo em suas mãos – Todo mundo sabe que colheres são armas muito melhores sozinhas.
Outro regresso e um riso mais alto e animado.
— Eu sou uma Stark! Piadas desnecessárias em momentos ruins é a minha especialidade, Rogers. Você poderia se acostumar com isso, sabe – resmungou Avril, assistindo Steve abrir e fechar a boca seguidas vezes.
— Eu devia receber algum tipo de prêmio por isso – lembrou ele, perdendo o olhar pela cozinha. Steve havia conhecido três gerações da mesma família e todos tinham a mesma lembrança dele. Era perturbador.
— E com certeza isso deve ser algum tipo de recorde... Não passei muito tempo com meu avô, então não tenho muita base, mas Stark é Stark – riu ela, voltando sua atenção para a pouca louça que estava na pia.
— Você ficaria surpresa em como são parecidos... Tony e Howard, principalmente – disse Steve, colocando sua xícara agora vazia junto com a louça suja e se sentando em uma cadeira próxima em seguida – Você ainda parece um pouco mais reservada comparada a eles.
— É que você não me viu na adolescência... – riu a garota, com um sorriso travesso – Pepper quis morrer de desgosto por me ver tão parecida com Tony.
As lembranças de sua época rebelde inundaram sua mente, e Avril não conseguiu esconder um sorriso divertido. Até chegara a gostar um pouco daquele mundo de festas de Malibu, onde não precisava provar nada a ninguém... Seu nome era tudo o que ela precisava para ir onde quisesse. E claro, a mídia adorava. Apenas Pepper tentava algo para mudar a situação, já que além de ser responsável pela imagem dos Starks, ela também se preocupava com a garota.
— Ela parece ser uma boa mulher...
— Ela é louca! – riu Avril, se virando para o homem – E é culpa nossa, na verdade.
Steve apenas riu, vendo o sorriso fácil no rosto da garota que apenas o olhava de volta. Não esperava uma Avril tão solta logo de começo, mas estava feliz com isso. Ela parecia cada vez mais distante da “agente” que ele conhecera, parecia mais comum mesmo não sendo. Afinal, ela ainda era uma Stark e isso nunca mudaria. 
O sorriso de Steve foi diminuindo até seus lábios estarem comprimidos, e Avril estranhou. Ela havia dito algo errado? A conversa estava fluindo bem – até demais – do ponto de vista dela. Então por que de repente ele ficara sério? “Lembranças, Av”. Claro, ela era uma conexão com seu passado, e aquela conversa nostálgica com certeza havia o feito voltar no tempo, relembrar de coisas que deviam ficar esquecidas.
— Então, o que pretende fazer hoje? – perguntou ela, sentindo que o homem não sairia daquele estado sozinho. Steve sacudiu a cabeça rapidamente, tentando afastar pensamentos e se focar na garota a sua frente. A neta de seu grande amigo.
— Você conhece a cidade? – perguntou ele, se levantando - Podemos fazer um tour, o que acha?
— De super soldado a guia turístico... O que Steve Rogers não faz? – brincou ela, saindo da cozinha para se trocar.
— Bombas com colheres – respondeu o homem, ouvindo o riso alto e distante da mulher que entrara no quarto.
Xx
Não demorou muito para que os dois já estivessem do lado de fora do prédio, caminhando lado a lado na calçada naquela manhã em que o sol fizera questão de se fazer ser notado, embora não estivesse quente o suficiente para que pudessem reclamar de suas calças jeans.
Avril mostrou toda a pesquisa que J.A.R.V.I.S. havia realizado nas últimas horas e, enquanto Steve analisava a lista e dizia o que já conhecia ou não, ela tentou arquitetar alguma estratégia para que conseguisse cumprir o que havia prometido ao Fury: cuidaria do soldado estando perto. O problema seria continuar perto dele por mais tempo sem parecer suspeito.
— Certo, o que vamos fazer? – perguntou Avril finalmente, depois de que havia ficado decidido que assistiriam alguns filmes da lista quando voltassem ao apartamento.
— Que tal irmos ao zoológico? – sugeriu Steve, escondendo as mãos nos bolsos. Avril o olhou desconfiada.
— Não estamos um pouco velhos demais para ir ao zoológico sem uma criança?
— Você não cansa de implicar com a minha idade?
— Não! Quer dizer...Não foi isso que eu quis dizer! – a garota tentou se explicar, e quanto mais se enrolava, mais ela ria – Eu me inclui naquela frase, não foi uma alfinetada. Foi apenas a realidade.
— A cidade tem ótimos museus e teatros, mas não acho que podemos conversar abertamente nesse tipo de local – explicou o loiro, ainda com um sorriso brincando em seu rosto - Por isso o zoológico foi minha sugestão.
— Concordo com apenas uma condição – suspirou a garota, parando de andar e erguendo a cabeça para olhar diretamente em seus olhos – Só vou se o tio prometer me comprar um sorv...
Steve não a esperou terminar: deu-lhe as costas e continuou andando ao som das risadas altas de Avril, que logo o alcançou, murmurando um “essa foi a última de hoje”.
Pelo menos relacionada à idade.
Xx
Não demorou muito para que eles chegassem ao Metroparks Zoo que, pelo horário e ser um dia da semana, não estava cheio, permitindo que ambos pudessem circular e conversar livremente.
— Avril? – perguntou Steve, depois de alguns momentos em silêncio, enquanto passavam pela área de felinos.
— Sim?
— No terceiro dia que você ainda estava dormindo, seu cabelo estava parecido com a juba daquele leão ali...
— Que ousadia é essa, Rogers?! – esbravejou ela, mas acabou rindo logo em seguida – Que tal procurarmos um urso? Você pode dar algumas dicas para ele sobre como hibernar.
— Não vou te comprar sorvete depois dessa – brincou o loiro, e ela o acompanhou, levando as duas mãos a boca como se ele tivesse dito a pior coisa do mundo.
— Seu sem coração! – acusou-o Avril, e rindo eles continuaram o percurso.
Steve não pode deixar de notar como a loira parecia estar tentando se conter a cada animal diferente que via, fazendo piadas infantis e rindo de quando ele também fazia graça. Não dava para saber se ela estava fingindo, mas ele queria acreditar que as reações eram verdadeiras. Chegava a ser engraçado ver uma agente animada por ver um hipopótamo.
— Tudo bem, talvez zoológico tenha sido uma boa ideia – confessou Avril, se apoiando na cerca que a separava dos elefantes. Ela não podia evitar. Até que gostava de animais.
Além do mais, agir daquela forma faria com que o soldado perguntasse sobre sua infância, o que facilitaria muito a tarefa de fazê-lo se preocupar ainda mais com ela.
— Parece que você não foi o tipo de criança que ia sempre ao zoológico.
— Isso talvez seja porque eu fui o tipo de criança que nunca foi ao zoológico – ela sorriu satisfeita, estranhando a expressão de Steve ficar séria de repente – Que foi? Viu alguém suspeito?
— Por que você nunca foi? Tony te proibia ou algo do tipo?
— Bom, depois do meu sequestro quando eu tinha quatro anos, a segurança a minha volta foi alterada para nível CIA – contou ela – Era escoltada de casa para a escola e vice-versa. Se eu quisesse ir para um lugar como esse, talvez Tony até permitisse. Porém ele teria que ser fechado apenas para mim, e cercado com alguns tanques...
Steve apenas ficou olhando para a garota e imaginando como seria ter uma infância como aquela. Ele podia não ter sido a criança mais saudável do mundo quando pequeno, mas ao menos tivera liberdade.
Aquela não era a primeira vez que a loira contava isso a alguém, e até conseguia entender a surpresa de quem teve uma infância normal, mas não podia dizer que fora completamente infeliz. Foi nessa época que ela montara o maior número de robôs em sua vida.
— Não olhe desse jeito para mim – reclamou a garota, cruzando os braços - Eu não achava ruim. Provavelmente eu recusaria uma oferta dessas para continuar o dia no laboratório desmontando alguma coisa.
— Como você conseguia ter amigos?
— Quem disse que eu tinha? – riu ela – Você está me ouvindo, já percebeu que era realmente uma criança difícil de lidar.
— Deixe-me adivinhar... Tony não ajudava muito.
— No quesito socialização, não. Mas ele costumava parar uma vez por semana para ver que tipo de experiências eu estava fazendo – continuou ela, sorrindo nostálgica. Aquelas deviam ser as únicas ações em relação ela que Tony não se arrependia. Apenas naqueles momentos ele dava atenção à filha - Tudo bem que teve uma dica dele que me fez incendiar parte da casa, mas eram nesses momentos que ele me levava a sério. Ciência sempre foi a única língua em comum entre nós.
— Mas ninguém mesmo conseguia te suportar? – estranhou Steve, tentando não rir para não magoá-la – Com o tempo de convivência obrigada acaba fazendo com que crianças se tornem amigas.
— Eu mudava constantemente de escola – comentou ela, lembrando de todo trabalho que Pepper tinha quando ela precisava ser transferida - Os professores não aguentavam. Eu questionava o conhecimento falho deles, eles encaravam isso como desacato, e eu acabava com advertências que se acumulavam até resultar na minha expulsão. Passei por todas as escolas da região, e, quando tinha uns catorze anos, me aceitaram na faculdade.
— Passar por todas as escolas era um pré-requesito? – brincou o loiro.
— Pepper queria que eu fosse uma garota normal, só que, mesmo se quisesse colaborar, ninguém conseguia ver além do “pequeno irritante gênio” ou do “pote de ouro Stark”.
— Mas isso mudou, não é? – perguntou Steve, tendo dificuldades de lembrar o nome da amiga da loira - A garota da S.H.I.E.L.D. não parecia se importar com isso.
— Eu aprendi a ser sociável, okay? Se não tivesse, nunca estaria tendo essa conversa.
— E mesmo sendo tão sociável, está viajando sozinha – debochou ele, ouvindo um “ei” em reclamação;
— Queria um pouco de liberdade. Na Europa eu fazia o que eu bem entendia, mas aqui eu sempre fiquei aprisionada – ela esclareceu, quase pulando pela conversa estar tomando o rumo perfeito. Ela apenas precisava tomar cuidado para não soltar informações demais – Se estou sozinha é porque não tenho ninguém que possa me acompanhar, ou entender o motivo de eu estar afastada.
Uma luz vermelha começou a piscar na mente de Avril.
Trazer o assunto de seu afastamento era algo delicado demais, por isso ela parou. Steve precisava saber apenas o necessário para acreditar que a garota precisava de ajuda, não o suficiente para ser seu diário ambulante.
— Desculpe... Não quero falar sobre isso – suspirou ela, se virando para a cerca que a separava dos animais que ela não fez questão de localizar. Não queria tocar naquele assunto e sequer queria mentir – Olha, eu... Steve?
Ele não estava em seu campo de vista.
Steve tinha sumido.
Ela já conseguia ouvir a voz de Fury a condenando a pena de morte.
— Voltei – sorriu o loiro, ignorando a expressão assustada que Avril mostrava, lhe entregando um picolé – Acho que ambos estamos errados.
— Primeiro você some e depois me volta falando coisas sem sentido! – grunhiu a loira, realmente nervosa – Pode explicar.
— O que aconteceu com o “poder de analisação e...”.
— Eu estou desligada. Sou quase normal no momento – cortou-o ela – Se explique, Rogers.
— Eu estava dizendo... Que talvez você não seja a única fazendo as coisas do modo errado – retomou ele, se apoiando na cerca e voltando a ficar sério.
Aquela parecia ser a coisa certa a fazer, mas ele temia utilizar as palavras erradas e a garota rejeitar sua proposta. Ela recusaria qualquer tipo de ajuda que ele oferecesse, mas será que ela recusaria a ajudá-lo?
— Estar sozinho apenas nos deixa mais vulneráveis a antigos fantasmas – disse ele por fim.
A verdade era essa: ele estava cansado de estar sozinho. Havia viajado por algumas cidades próximas de New York na tentativa de se conectar ao novo mundo, mas isso apenas fizera com que ele se sentisse mais solitário. Claro que a companhia de Avril não era a mais recomendável, mas, enquanto ele ficasse alerta a qualquer atitude suspeita vinda dela, não seria nenhum problema tê-la por perto.
Talvez fosse até divertido.
— Que tal voltarmos para almoçar e começar a diminuir sua lista de filmes para assistir? – sugeriu Avril, provando seu picolé – Está começando a ficar cheio de crianças aqui.
Algumas turmas de crianças pareciam ter escolhido aquele dia para excursão e logo eles sofriam para sair do local sem esbarrar em alguma criança correndo, ignorando o adulto que tentava controlar a turma. No caminho de volta, Steve a obrigara fazer um resumo de cada filme da lista sem a ajuda de J.A.R.V.I.S., o que a manteve ocupada por todo o trajeto.
Avril podia explicar passo a passo de como quebrar a segurança de qualquer computador sem muitos esforços, mas ter que lembrar sobre o que era um filme que ela vira quando tinha seis anos era uma tarefa um pouco mais complicada, porém, ela fez com um sorriso no rosto.
E esperava aquele tipo de oferta de Steve até o fim da semana, embora não imaginasse que seria daquela forma, com Steve se mostrando tão vulnerável quanto ela.
Xx
Uma semana depois
Era fim de tarde e a única distração que Avril tinha era Steve trocando de canal de três em três segundos, quase quebrando o controle toda vez que apertava seus botões.
— Você não está contente – concluiu a loira, escorregando do sofá para se sentar ao seu lado no chão.
— Esse fato não é verídico, Av – respondeu ele simplesmente, sem olhá-la, deixando a TV sintonizada em um filme que ele não sabia o nome.
— É sim. Tem algo que você não está me contando.
— Você está falando besteira...
— Você está mais tenso do que a Romanoff e o Barton quando alguém pergunta sobre o que aconteceu em Budapeste! – disse a garota séria, mas desatando a rir ao ver a expressão confusa do loiro - Sério, faça isso um dia. É muito engraçada a reação dos dois.
— Você continua estando enganada – ele desconversou, apenas vendo em seguida a garota jogar a cabeça para trás e respirar fundo apenas para gritar:
— STEVEN!
— OKAY – gritou o loiro, respirando algumas vezes mais que o necessário apenas para irritar a garota – Eu só estou sentindo um pouco de falta da ação, só isso.
— Então... Você está querendo que alguém nos ataque? – deduziu Avril incerta, fazendo o homem bufar – O que foi?
— Pelo amor de Deus, Avril! Quem em sã consciência desejaria ser atacado?
— Desculpe, mas você não parece estar em seu melhor estado mental, Cap.
Mesmo contra a vontade, Steve se flagrou rindo. Era tão difícil explicar algo àquela garota, mas era tão divertido vê-la se confundindo em suas próprias conclusões.
— Eu quis dizer que sinto falta do movimento, Av – ele disse calmamente, fitando o chão e apenas voltando a olhá-la para concluir: - Em NY, eu passava a maior parte do meu dia com um saco de areia.
— Por todo tempo que Thor gasta para passar chapinha naquela cabeleira, Steve! Por que você não me disse isso antes?! – vociferou Avril, se ajoelhando e agarrando uma almofada do sofá com as duas mãos – Você tem noção de quantas dessas eu já destruí nessa semana? Nós poderíamos estar nos socando invés de estarmos jogados aqui assistindo... EU NEM SEI O NOME DO FILME!
— Eu não vou lutar com você, Stark! – debochou Steve – Posso te quebrar ao meio com um tapa.
— Okay, não vou argumentar. Eu não vou me humilhar e tentar comparar a minha força com a sua, eu gosto do meu mundinho de negação, Rogers. Mas se não fosse esse soro, eu podia muito bem te arrebentar, okay?
— O vento podia arrebentar o “eu-antes-do-soro”, Stark – comentou Steve, e foi necessário mais tempo do que o loiro gostou para que a garota se recuperasse – Seu riso prolongado feriu meus sentimentos.
— Você tinha até asma, Rogers. Era bem capaz do vento te arrebentar se você não saísse bem agasalhado – comentou ela, se recuperando – Certo, chega de enrolação! Afasta essa poltrona e eu arrasto o sofá.
— Eu não vou lutar com você, Avril – repetiu Steve, entretanto a seriedade o acompanhando – Eu vou acabar te machucando. De verdade.
— Primeiro, eu sou uma excelente lutadora. Sei me defender muito bem. Segundo, tenho quase certeza que há um escudo bem útil nesse recinto – retrucou ela, pisando na lateral do escudo e fazendo que ele subisse até seu braço, de uma maneira menos perfeita do que Steve fazia – E terceiro, é apenas algo para nos distrair. Não é um combate real, onde eu sou sua inimiga. Você só precisa usar uma parcela da sua força. Algo como... 2%, se você for legal.
Steve apenas balançou a cabeça, descrente.
— Isso só lhe irá ser útil caso eu decida te alvejar.
— Isso quer dizer que eu posso deixar o escudo de lado ou que eu tenho que segurá-lo pelo resto da minha vida?
Steve não aguentou e curvou o corpo de tanto que ria.
Avril jogou o escudo perto da porta e se pôs em posição de defesa, esperando que Steve se aproveitasse de sua crise de riso para pegá-la de surpresa. Coisa que não aconteceu, já que ele apenas se recompôs e se virou para o sofá, murmurando um “não vou lutar com você, Av”.
Sem lhe dar ouvidos, ela se adiantou para um chute que teria acertado a orelha direita de Steve, se ele não tivesse abaixado no último momento, virando-se para a garota em seguida com uma expressão nada feliz.
— Não quer lutar comigo? Tudo bem. Eu luto com você sozinha, se quiser defender, seja feliz... – disse ela, iniciando outra sequência de chutes que o loiro facilmente bloqueou – Gostando de ter adrenalina de volta em seu sangue?
— Está me analisando, Stark? – riu ele, segurou o punho da loira quando ela terminou uma sequência de golpes – Assim eu fico em desvantagem.
— A única coisa que eu estou analisando é seu sorriso satisfeito, Rogers – sussurrou ela, antes de pegar impulso para envolver o pescoço do soldado com suas pernas, em um movimento que o levou ao chão – E sim, isso eu aprendi com a Romanoff. Agora vai brincar comigo ou eu vou continuar me divertindo sozinha?
Steve apenas deixou que um sorriso maldoso brotasse em seu rosto enquanto ele se levantava. Não faria mal nenhum ele entrar na brincadeira, certo? Não podia negar que seria uma atividade no mínimo interessante. Avril podia não ser tão forte quanto ele, mas ela podia facilmente prever seus movimentos, bloqueando-os antes que fosse realmente uma ameaça. Seria um bom exercício de estratégia.
Rindo com esse pensamento, ele iniciou sua primeira sequência de golpes, que Avril bloqueou enquanto recuava.
— Droga, você é mais rápido do que eu pensava – resmungou ela, se abaixando para tentar lhe dar uma rasteira.
— Mas já quer desistir? – brincou ele, segurando a perna que ela erguera para chutá-lo e a jogando em direção ao sofá. A garota, que esperava o impacto bruto do chão, se curvou de rir após sentir o estofado macio do sofá amortecer sua queda – Nunca em uma luta te jogaram em um sofá, não é?
Avril não conseguiu responder, apenas rindo ainda mais ao tentar falar. Sua “habilidade” estava desligada e realmente fora pega de surpresa pelo sofá, algo que não era exatamente comum de acontecer. O ataque de risos teria durado mais tempo se o ataque de Steve não tivesse voltado, já que não era muito fácil rir e se defender ao mesmo tempo, e um soco do loiro – mesmo que não usando toda força – não devia ser muito agradável.
Logo se passaram horas, mais móveis haviam sido arrastados, alguns vasos quebrados e uma camiseta rasgada, e ambos se encontravam cada um apoiado em uma parede da sala, ofegantes e suados, em um acordo de paz silencioso. Não que não pudessem continuar na brincadeira, mas todos os movimentos mais “inofensivos” já haviam sido utilizados repetidas vezes e, para começarem a inovar, teriam que mudar para um local mais amplo.
A campainha tocou, tirando-os da conversa de olhares que eles mantinham. Steve, por estar mais perto da porta, se adiantou para atender, e Avril se inclinou para conseguir ver quem que estava na porta. 
A surpresa dos dois foi ver o síndico do prédio.
O homem, que não devia ter mais que 50 cinquenta anos, pigarreou constrangido ao ser atendido por um Steve suado e sem camiseta – que havia sido rasgada acidentalmente durante a luta –, e por ver a tal amiga jogada no chão da sala, usando o que parecia ser uma roupa de ginástica.
— Hm, Sr. Rogers... – começou o homem, visivelmente sem jeito pela situação – Recebi algumas reclamações dos moradores do andar inferior... Sobre sons de... Hm, coisas caindo e batendo no chão sucessivamente.
Avril naquele momento quebrou a promessa que havia feito: usou sua “habilidade” para se manter séria enquanto sua mente ria livremente. Ela só não sabia ao certo se estava rindo mais do síndico ou de Steve que ainda não havia entendido a interpretação errada do homem.
— Nos perdoe, senhor – disse Steve, colocando as mãos no bolso da calça – Não planejávamos fazer isso, e acabamos saindo um pouco do controle.
O homem se engasgou com o ar e Avril pensou que perderia o controle. Queria pedir para Steve calar a boca, mas, se fizesse isso, começaria a rir e não pararia tão cedo.
— Hm, sei que é difícil manter o controle na sua idade, mas a garota é uma jovem delicada...
— Também costumava pensar isso, mas ela aguenta mais o tranco do que... – brincou Steve e foi ali que Avril perdeu o controle, gargalhando mais alto do que na vida inteira, se curvando em cima de seus joelhos - ...muitos soldados. Av, está tudo bem?
— Tudo ótimo – soltou ela entre risadas, aos poucos se controlando, mas com a mão na boca por precaução – Senhor, eu só queria esclarecer que nós estáv...
— NÃO! Hm... Não precisa se explicar, minha jovem – pediu o homem, um tanto desesperado – Vocês são jovens, fazem o que quiser com a vida de vocês e não há nenhuma regra que impeça esse tipo se ato, que, afinal é algo natural. Senão, não havia raça humana, certo?
Uma luz acendeu na mente de Steve.
— Nós... Não... Eu e ela... – o soldado se enrolou com as próprias palavras, fazendo com que Avril risse um pouco mais no fundo.
— Apenas não façam com tanto barulho, tudo bem? – pediu o síndico, dando uma risada sem graça e sumindo no corredor.
Steve fechou a porta, mas não se moveu. Continuou parado, agora com as mãos na cintura, repassando toda a conversa que tivera no último momento. O homem achava que ele e Avril tinham algum relacionamento... Amoroso? A ideia desnorteou o loiro. Avril era neta de seu amigo, era de uma época diferente da dele, era alguém que ele sequer sabia se realmente confiava ainda. Não era quem ele amava.
— Que tal nós continuarmos conhecendo o país... Em outra cidade? – sugeriu ele, finalmente se virando para a garota, que voltou a rir com mais vontade enquanto concordava com ele. Estavam ali há muito tempo, não era seguro.
Claro que ficar em um lugar onde pensavam que ela tinha algo com Steve não era de seu agrado, mas não seria o suficiente para que ela escolhesse continuar viagem, embora fosse uma ótima desculpa para começarem a se mover.


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