Em Perigo escrita por bianoronha


Capítulo 18
Capítulo 18 - Monstro


Notas iniciais do capítulo

Gente do céu, capítulo difícil viu, misericórdia!
Aproveeeeeeeitem!!
E leiam as notas finais!!



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Um enorme campo mostrava-se na frente da linda garota de cabelos cumpridos, o barulho das águas que iam fortemente de encontro às rochas soavam distantes, gerando um incrível ambiente de paz. Independente do Sol fraco, dentro dela tudo irradiava e sentia aquela imensidão de coisas não vividas, de um futuro que prometia demais e que seguiria à risca o roteiro feito pelas delicadas mãos femininas, olhou para o papel e não soube identificar o que havia escrito nas linhas tortas, mas a letra era tão bonita que resolveu deixar o detalhe de lado, deixaria ao destino a tarefa de decifrar o que aconteceria a seguir.

 


Levantou os olhos e finalmente o viu, não soube identificar se foram segundos ou minutos que se passaram, mas tudo era irrelevante ao lado do imponente mafioso, toda a magnífica natureza ficava opaca diante dele e o único detalhe que realmente prendia sua atenção eram os profundos olhos azuis, tão azuis, que tinha medo de se afogar nas órbitas se encarasse por tempo demais, porém, notou algo diferente em suas mãos, um pequeno detalhe que brilhava, logo identificou como sendo seu revólver inseparável e uma ruga formou-se em sua testa: o ambiente era tão cheio de paz e tão calmo, porque o criminoso insistia em levar um objeto como aquele para lá? Porque insistia em tirar a pureza daquele local?




De repente o cenário mudou completamente, não estavam mais na praia tranquila, o som ameno das ondas do mar foi bruscamente substituído pelo som de metralhadoras que atiravam sem dó e de gritos enérgicos que demonstravam dor, o semblante da garota mudou para o desespero, não entendia que situação era aquela, mas se via sendo levada por uma mão forte entre as ruas mal iluminadas, a mão firme era dele.




Foi com extremo pavor que notou que também havia uma metralhadora em suas mãos e também atirava em todas as direções e embora quisesse parar, não conseguia, forçava seus braços sem dó, porém a arma continuava a ser disparada, sob ordens de seus braços, enquanto corria. Os tiros alcançavam várias direções: pessoas comuns, crianças e até mesmo sua família. Notou com desespero o rosto de Marie e Jamie, baleados no chão, com os corpos já sem vida.




Avistou Jenny e Emmet um pouco mais a frente, mas antes que pudesse clamar por socorro, os corpos já tombavam no chão, a arma do mafioso disparara contra eles, tirando-lhes a vida. Ela quis gritar, se mover, espernear, exclamar que estava tudo errado, que aquela matança desenfreada deveria parar o mais rápido possível, mas seus pés só sabiam correr na mesma direção do mafioso e sua boca nada dizia.




Apertou com força a mão que segurava a sua, tentando, a qualquer custo, chamar atenção do que corria, operação essa que fracassou, o homem não tinha tempo para olhar para trás, tudo que fazia era correr matando tudo que estava à sua volta. O grito entalado em sua garganta finalmente saiu diante do amontoado de corpos, chamado a atenção do homem e fazendo com que  parasse.




Virou-se lentamente para trás e quando os olhos da doce garota se encontraram com as órbitas azuis, o choque atingiu o ápice no rosto feminino: os olhos eram vorazes. Não possuíam nenhuma bondade ou terror pelo que estava acontecendo, possuíam apenas prazer, o mais sombrio prazer de ver os corpos, um a um, tombarem ao chão, fazendo com que todos os inocentes possíveis partissem daqui para um lugar desconhecido, a garota quis correr, mas os pés estavam fincados ao chão e algo em sua mente martelava que não havia saída, o destino acusava mostrando quais eram as consequências de suas escolhas.




"Vo-vo-cê ma-matou todos eles" A voz fina gaguejou e uma gargalhada gutural saiu dos lábios pecaminosos.




"E você os matou comigo, amor" A voz grossa e afiada não lhe trouxe a paz costumeira e os olhos se encheram de lágrimas ao notar o quanto as palavras eram verdadeiras. "É por isso que eu amo você, somos completamente iguais e vamos para o inferno juntos" Com uma rapidez assustadora uma adaga foi enfiada em seu peito e notou que o mafioso também possuía uma adaga em seu corpo colada por ele mesmo. Os corpos tombaram juntos e enquanto sentia os últimos resquícios de sua vida indo embora, sentiu a mão forte apertar a sua, ouvindo a última frase de sua existência: "Eu disse que seria assim amor, eu te avisei, não deveria ter entrado nisso"




O desespero me alcançou e de repente estava sentada em minha cama, olhei assustada para os lados notando que estava exatamente onde havia deitado na noite anterior: na minha cama. O coração acelerado e as mãos trêmulas mostravam meu desespero e quase gritei de alívio ao perceber que tudo havia sido um sonho, um maldito sonho.




Lancei o corpo suado novamente para cama e notei que Jenny estava no banheiro, provavelmente tomando banho para as atividades do dia. Alice já confiava algumas pequenas missões aos iniciantes, permitindo que levassem drogas a alguns locais e atrapalhassem carregamentos de outros cartéis.




Meu corpo ainda estava em alerta devido ao sonho assustador: os corpos pelo chão, o rosto de prazer do Cullen ao matar diversas pessoas, sua fala afirmando que éramos iguais. O cenário catastrófico havia me assustado de uma forma gigantesca, mas decidi deixar para lá, era apenas um sonho estúpido e não deixaria que me atormentasse.




Enrolei meu corpo no edredom, desejando que um ser de outro planeta aparecesse em meu quarto e fizesse minha mente esquecer da noite anterior, porém, quanto mais eu me forçava a esquecer, mais minha mente insistia em lembrar os malditos detalhes do mafioso e de como suas mãos eram fortes, detalhe que rapidamente expulsei da minha mente. O fato era que arrependimento era a porra do pior sentimento do mundo e ele pesava toneladas dentro de mim, simplesmente não sabia como descer as escadas e encarar o maldito sorriso zombador do mafioso que eu tanto odiava.




Não podia negar que o corpo do maldito era de um absurdo e que as malditas divisórias que o abdômen possuía simplesmente me encantavam, mas era só isso. Continuava odiava todo o resto, odiava o sorriso zombador, odiava a prepotência, odiava a feição de orgulho que ele usava para encarar os outro, droga, simplesmente odiava aquele homem, o que havia dado em mim noite passada?


Estapeei meu rosto como punição por ser tão estúpida, a merda estava feita e eu teria que lidar com a situação como adulta, ia descer as escadas, desejar um bom dia para todos aqueles que merecessem e seguir com a minha vida normalmente, não era assim tão ruim ter dormido com Edward Cullen, aliás, não significava nada, então estava tudo bem.




Sacudi minha cabeça diante da mentira descarada e soltei um grito abafado pelo travesseiro, quem eu queria enganar, afinal? O acontecimento da noite anterior era trágico e certamente não conseguiria lidar com aquilo de uma forma adulta, evitaria o mafioso até a morte se possível, mas não olharia naquele rosto traiçoeiro.




Na noite anterior meus olhos estavam tão pesados que acabei dormindo nos braços do maldito, momento esse que só durou alguns minutos, já que de madrugada me jogou para o lado afirmando que a missão começaria, avançou firmemente com o automóvel e me deixou no Cartel sem dizer uma palavra sequer, fato que me fez confirmar que continuávamos inimigos como sempre, era ainda pior de ceder aos meus desejos, como eu poderia ter ficado com um cara assim?




Jenny desligou o chuveiro e logo passeava pelo quarto, tentando escolher uma roupa, lançando-me um olhar reprovador.




"Sério que ainda está na cama?" Revirou os olhos. "Está ficando mais preguiçosa a cada dia, o Cullen está te acostumando mal hein" Soltou uma risada e meu corpo estremeceu ao ouvir o nome do mafioso, perguntei a mim mesma o que minha colega de quarto pensaria se eu contasse os detalhes da noite anterior, porém, só de pensar na hipótese meu corpo era invadido pelo nervosismo, essa possibilidade não poderia existir, a noite anterior tinha de ser completamente apagada da história do Cartel e da minha vida. Um leve arrepio passou por mim ao pensar no assunto, Cullen não era do tipo que dizia por aí o que fazia, certo?


"Não fale besteira Jenny, não tenho nada a ver com esse idiota" Resmunguei, me odiando por estar tão vulnerável nas mãos do criminoso.




"Uh, vejo que alguém acordou de mau humor" Deu um risinho zombador. "Aliás, dona Isabella, não vi você chegando no quarto ontem a noite" Disse com uma cara sapeca. "Todos ficamos preocupados quando o Cullen te levou de repente e você me aparece de madrugada aqui?" Gelei, suando frio, Jenny não podia suspeitar de nada!


"O que está querendo insinuar?" Fiz minha melhor cara de blefe, rogando aos céus por ajuda. "Ele foi um grosso como sempre e nos fez ficar horas em frente a uma festa infantil, para que eu supostamente matasse o aniversariante, o que claramente, não fiz" A voz estava uma oitava acima, minha mente sabia que nada daquilo era culpa de Jenny, porém, não gostava de perguntas demais e odiava ter que mentir, porém, avaliando um pouco os fatos, não era bem uma mentira, apenas estava contando uma verdade meio distorcida, o que acalmou minha mente.


"Você sabe que estou brincando Bells" Sentou-se ao meu lado, tocando levemente em minha mão. "Apesar de notar uma fissuração quase doentia do Cullen por você" Tentei protestar, mas ela me impediu. "Sei que jamais aceitaria tal coisa, você e o Cullen jamais dariam certo, é até estranho de se imaginar" Soltou uma risada, fazendo uma careta logo em seguida, e voltou a se arrumar deixando-me como uma leve culpa por tê-la enganado.


Porém, ainda que a fala de Jen não fosse totalmente verdadeira devido à noite anterior, possuía certo tom de verdade ao afirmar que jamais me envolveria com o mafioso e imaginar que tivesse sido apenas mais uma estúpida para ele fazia meu estômago retorcer de uma forma estranha, que merda de situação.


Após a saída de Jen, ouvi três batidas na porta e um rosto conhecido surgiu em meu campo de visão.

 



"É aqui que mora uma preguiçosa que se recusa a descer para trabalhar?" O rosto simpático de Jasper surgiu e apenas naquele momento notei o quanto senti falta dele, tinha séculos que não o via, as diversas atividades do Cartel sempre o deixavam ocupado e distante, o que fazia com que eu passasse a maior parte do tempo com Emm e Alice.


"Achei que você não gostasse mais de mim" Fiz doce. "Parece que faz uma eternidade que não te vejo, Jaz" Ele soltou uma gargalhada da minha fingida tristeza e entrou no quarto com um embrulho nas mãos.


"É exatamente por isso que estou aqui" Estendeu as mãos, com uma feição animada. "É pra você"


Peguei o pequeno embrulho com curiosidade e abrir, notando que continha um pequeno bolinho azul, com um "B" desenhado, franzi a testa e voltei os olhos para Jaz, que possuía uma expressão divertida no rosto.


"Faz seis meses que você veio para o cartel Bella" Arregalei os olhos com a notícia, havia tantas atividades e problemas que minha mente nem se lembrava de contar os dias ali. "Estou surpreso por tudo que você conseguiu fazer até aqui e até me sinto orgulhoso" Deu uma risada sem graça. "Claro que não queria isso pra você, mas já que está aqui, estou muito orgulhoso" Voei no pescoço de Jaz dando uma abraço apertado, lembrar que Jaz estava ali comigo todo esse tempo me deixava aliviada, Jaz era um dos amigos que eu ainda podia ter. "Não é só isso, olha dentro da caixa"


Deu outro sorriso e eu me afastei para observar o que havia e encontrei um pequeno bilhete com uma caligrafia quase ilegível:


"Vale um dia com o melhor amigo"


Dei uma gargalhada, enquanto Jaz sorria envergonhado.


"Sei que estou em falta com você, tenho trabalhado demais ultimamente, por causa da segurança" A expressão de Jaz realmente parecia cansada. "Mas hoje separei o dia para ficar com você, só preciso resolver uma coisas antes" Sacudi a cabeça em aprovação e logo Jaz se foi, prometendo que encontraria comigo mais tarde.


Deitei novamente na cama imaginando como seria se as coisas fossem diferentes, em como eu poderia me deixar levar se Edward fosse uma pessoa boa, mas apesar dos devaneios, sabia que era impossível, Edward Cullen era o pior mafioso que Londres já havia visto e eu tinha que ter plena consciência disso.


Perguntei a mim mesma o que o levou a assumir tal postura, ninguém falava nada sobre a família do Cullen, tudo o que era possível saber era que Esme e Catherine haviam morrido em um acidente de carro, mas nunca falavam nada sobre o pai dele. Lembrava do livro de regras que existia no Cartel logo que cheguei que apontava Carlisle como um dos mais incríveis traficantes que o mundo já teve, mas não falava absolutamente nada sobre sua morte. Das poucas vezes que comentei sobre o assunto com Cida, ela nada tinha a declarar, somente dizia que os bons tempos não existiam mais e que jamais houve alegria no Cartel após a morte das duas mulheres.



Um súbita curiosidade me corrompeu ao pensar no passado de Edward, precisava procurar por detalhes, mas todos naquele lugar ninguém parecia ter permissão para tocar no assunto, então, teria que procurar por meus próprios meios.


Estava decidido, mesmo que eu tentasse a todo custo evitar o rosto de meu inimigo traiçoeiro, descobriria tudo sobre seu passado e encontraria um motivo para o coração de pedra que ele possuía.








*







Apesar do dia parecer ainda mais frio que o costumeiro gelo matinal de Londres, aquilo simplesmente não afetou meu humor e penso que nada conseguiria, a enorme mesa e o computador era tudo que minha visão tinha, mas minha mente ia muito além, todos os planos estavam indo exatamente por onde deveriam ir o que me deixava extremamente satisfeito.


Existiam diversas transações para me preocupar e variadas missões precisavam da minha atenção, mas a porra dos olhos castanhos não saíam da minha mente, me sentia como um daqueles filhos da puta adolescentes e me perguntava qual problema estava acontecendo comigo. Bati minha cabeça na mesa de trabalho gerando altos ruídos, a maldita tinha que sair da minha cabeça nem que fosse com tortura, não entendia que tipo de feitiço a garota lançou sobre mim, mas era certo de que não continuaria assim por muito tempo.


Não podia negar que Swan possuía um corpo mais divino e dentro de mim todo meu ser exultava pela noite anterior, mas nada daquilo mudaria as coisas dentro de mim, eu era o maior criminoso do país e criminosos não podiam se apegar a ninguém e era exatamente por isso que eu sorria: Isabella finalmente estava em minhas mãos.


Não como gostaria, admito, pois imaginar que Isabella se renderia aos meus encantos como uma garota comum era uma mentira, ela não era o tipo de garota que se deixava levar por qualquer conversa, apesar de seu coração propenso a sentir piedade por tudo que se move e respira, ela era esperta, e sabia que jamais se deixaria levar, porém, tudo era questão de tempo, se havia uma qualidade que eu possuía era a paciência, com a qual todos alcançam seus objetivos, e minha mente já percebia que estava no caminho certo.


Eu não possuía interesses na garota, não queria nenhum tipo de relacionamento, mas ela seria útil para todos os meus planos no futuro e enquanto eles não se realizassem era bom que ficássemos próximos, apesar de não possuir nenhum sentimento pela garota, meu estômago se revirava ao imaginá-la nos braços de outra pessoa.

O único desgraçado que podia tocá-la era eu.


Notei que realmente era verdade: era um desgraçado.


A garota entrara no cartel se ter pretensão de nada do que acontecia ali, sem saber que desde a primeira vez que notei seu nariz empinado em minha direção, que eu a queria. Lembrava exatamente da feição assustada e do rosto cheio de perguntas, no entanto, eu jamais imaginei que duraria tanto no Cartel e que seria tão importante para meus planos, mas independente de qualquer situação, Isabella deveria estar sob meu controle, o que nunca conseguia que acontecesse. Mesmo não nutrindo nenhum sentimento por ela, que mal faria se nos divertíssemos um pouco?


Três batidas foram ouvidas e o rosto de uma senhora entrou em foco, fazia semanas que não a via.


"Edward" Cida entrou na sala, chamando minha atenção e sentou-se à minha frente. "Sabia que estaria aqui"


"Algum problema com as crianças?" Perguntei ainda olhando para o computador, procurava em todos os registros do cartel algo sobre Marie Swan, mas não encontrava nada, o que me deixava irritado, a mulher sabia demais sobre o cartel e algo me dizia que deveria descobrir como sabia tanto, não gostava de ser intimidado ou ameaçado.


"Nenhum, elas estão ótimas" Vi um curto sorriso se formar em seus lábios, mas logo se foi, e ela voltou a ficar séria. "Quer dizer, Gabriel ainda não fala e Lizzie continua com o péssimo hábito de odiar a todos, mas estão bem de saúde, se é o que está perguntando" Dei um curto sorriso com a descrição da mulher, Cida me conhecia desde pequeno e cuidou de mim, o que a dava certa liberdade de me chamar atenção de sua forma irônica, sabia que insistia que ficasse com meus sobrinhos mais tempo e fosse algo como uma figura paterna para eles, mas o Cartel tinha problemas demais para serem resolvidos, não tinha tempo para gastar com outras atividades.


"Coisa de criança" Meus dedos ágeis procuravam a todo vapor algo sobre a maldita Swan, mas nada era encontrado, o que me deixava extremamente frustrado, não era possível que a mulher se escondesse. "Depois eles melhoram"


"Me pergunto de quem Lizzie pegou essa mania de odiar a todos" A voz irônica e rosto sério mostravam que desejava atenção e havia ido ali para falar de algo importante. "Tenho uma leve inclinação de quem seja"


"Pois ela é que está certa" Fechei o notebook voltando minha atenção para Cida. "Antes odiar do que amar todo mundo para acabar sendo feita de idiota" Cida balançou a cabeça negativamente.


"O que estou querendo dizer Edward, é que eles estão crescendo sem ninguém" Os olhos da mulher chamuscavam de preocupação, mostrando que realmente não queria que a situação continuasse do jeito que estava. "Eles precisam de atenção, desde que o acidente ocorreu simplesmente foram lançados para mim e adoro cuidar deles, você sabe disso" Afirmou, não deixando que eu interrompesse. "Mas não posso substituir os pais deles, uma babá jamais será a mãe ou o pai de uma criança, e eles precisam disso"


"Bobagem" Afirmei, tomando um gole da bebida que estava em meu copo.  O assunto me deixava angustiado, era algo que evitava, odiava simplesmente lembrar que minha irmã não estava ali por eles. "Eles tem a você e tudo que precisam nesse cartel Cida, o que mais podem querer?"


"Um pai e uma mãe?" Afirmou revoltada. "Edward, eles perderam muita coisa depois do acidente e o que parece é que estão simplesmente congelados no tempo, parece que ninguém nesse Cartel vive depois daquele dia"


"Todos nós perdemos muita coisa naquele acidente Cida" Levantei sentindo aos poucos a irritação tomar conta de mim, aquele era um assunto que certamente não me agradava. "Todos nós perdemos, então não comece com esse assunto"


"Não começar com esse assunto?" Exclamou. "Eles são crianças, precisam de um pai!"


"E você quer que eu faça o que, Cida?" Minha voz elevou-se uma oitava e meu braço foi de encontra à mesa, com força, gerando um breve ruído, o que não a assustou. "Que eu contrate a porra de um casal para ser pai e mãe deles?"


"Não, eu quero que você seja!" Exclamou com comoção. "Catherine iria querer isso de você Edward, vocês eram tão próximos, ela pediria isso a você"


"Catherine está morta, Cida" Exclamei, sentindo meu peito latejar devido ao assunto. "E mortos não querem nada, estão de baixo da terra e não sentem mais nada" Sentei novamente, tentando me acalmar. "Portanto, não comece com esses jogos de emoção, porque você sabe que isso não funcionam comigo"


"Se você não quer ser o pai deles Edward, então deveria procurar o pai biológico" As falas foram lançadas e de repente tudo fez sentido, era por isso que ela estava ali, não para me convencer a cuidar de meus sobrinhos, pois ela sabia que era impossível devido ao cartel, mas para me convencer a aceitar o maldito filho da puta.


"Não fale nesse desgraçado" Afirmei desejando que Cida terminasse aquela conversa o mais rápido possível e fosse embora dali. "Isso não é uma hipótese, nossa conversa está terminada, pode se retirar"


"Edward, apesar de tudo, você que o que estou falando é verdade, por favor, peço que pense nisso" Os olhos fundos clamavam a mim, mas era tudo em vão, aquele pedido não seria sequer ouvido.


"Pense no que?" Meus olhos a encaravam com vivacidade. "Em chamar o filho da puta que os abandonou quando eram pequenos para brincar de ser papai?" A ironia era despejada de minha boca e tudo que conseguia era sentir ódio. "Cida, você está sendo tão absurda quanto não imaginei que seria, por favor, saia"

 

"Edward, você precisa tirar esse ódio do seu coração" Os olhos marejados me encaravam com um maldito sentimento de pena. "Você sabe que não pode continuar com isso, você tem uma vida inteira pela frente querido, precisa se livrar desse desejo de vingança" De repente não falávamos mais sobre minha irmã ou sobre meus sobrinhos, falávamos do verdadeiro motivo pelo qual eu administrava aquele Cartel, o verdadeiro motivo de minha existência: vingança.




"Só poderei viver minha vida quando eu matá-lo" Meus olhos agora eram sérios e a voz gutural que saia de minhas cordas vocais mostravam que o assunto era sério. "É para isso que eu vivo e só poderei morrer tranquilo quando aquele filho da puta estiver de baixo da terra"




"Edward, já faz seis anos" Inclinou-se em minha direção. "Seis anos de luto, seis anos em que você não vive, seis anos de tristeza nesse lugar" Meus olhos encaravam o nada, sem foco algum, tocar naquele assunto me deixava imobilizado, como se fosse minha maior fraqueza e ao mesmo tempo o que me tornava forte. "Se lembra de como este lugar costumava ser feliz?" Deu um curto sorriso enquanto minha mente dava voltas e voltas no passado: cenas da infância, Catherine correndo de um lado para o outro com suas bonecas, Esme arrumando os jardins. Tudo parecia tão distante que mal existia. A porra do maldito passado que eu insistia em esquecer. "Esme não queria isso para você filho" Tocou uma de minhas mãos e eu não me movi, permaneci intacto. "Esme desejava coisas boas para você e não que você se tornasse um morto, que apenas vive para se vingar"




"Mas eu morri Cida" Minha voz saia como um breve sussurro, como se todas as minhas forças se esvaíssem diante da afirmação mórbida. "Morri no dia que encontrei os corpos delas naquele lugar" Os olhos permaneciam sem foco e minha mente voava para o dia do acidente, as lembranças eram tão vívidas que pareciam ter ocorrido naquele momento. "Morri com elas Cida e nada vai mudar isso"




"Nem mesmo Isabella?" Meus olhos voltaram à tona e notaram assustados que a mulher falava sério.




"O que Isabella tem a ver com isso?" A voz grave saía mais firme, como se ao citar o nome da maldita mulher que me atormentava trouxesse à tona toda minha vivacidade.


"Tem tudo a ver" Cida afirmou com os olhos ainda mais sérios. "Será que você não percebe?" Exclamou irredutível. "Desde que ela chegou no cartel, tudo mudou" Soltei uma risada de escárnio, mas ela não se deixou abalar. "Ela conquistou a todos do Cartel, apesar de você ter afirmado que não possuía nenhuma chance de permanecer aqui, está aqui até hoje e parece que tudo que aquelas mãos tocam, a alegria floresce"


"Que porra de assunto é esse Cida?" Exclamei incrédulo. 


"Você sabe que é verdade" Levantou o queixo em desafio e minha raiva só aumentava, será que até em minhas conversas Isabella se intrometeria. "Todo o cartel mudou desde a chegada dela, até Lizzie gosta dela, apesar de não admitir"


"Se gostam dela ou não, isso não tem absolutamente nada a ver comigo"


"Quer saber o que acho?" Ergueu-se da cadeira e andou alguns metros, de um lado para o outro. "Ela é a única salvação para você" Uma gargalhada saiu sem permissão de meus lábios ironizando a fala da mulher à minha frente.


"Confesso que você fica mais divertida a cada dia" Apesar da diversão forçada, as palavras me ofendiam, Cida não entendia que Isabella jamais seria minha salvação, Isabella era a porra da minha perdição.


"Pode rir o quanto quiser, você sabe que é verdade" Sentou-se novamente, se aproximando. "Estou ciente dos seus planos e está muito enganado se pensa que Isabella irá se submeter às suas ordens" Afirmou com voracidade e o ódio só crescia dentro de mim.


"Isso é problema meu" Exclamei.


"É verdade" Levantou-se, pronta para ir embora. "Mas lembre-se que ela é diferente Edward" Os olhos assumiram uma tonalidade diferente. "Por favor, não a puxe para esse abismo que você está, Bella é pura e cheia de sentimentos bons dentro de si, não tire isso dela" Foi em direção a porta e logo se foi, me deixando ainda mais confuso, tudo que se tratava à maldita garota só embaralhava em minha mente.


Lembrei da noite anterior e da confissão que havia feito, e o nó formou-se dentro de mim ao identificar que nenhuma das palavras que disse foram um blefe, era vergonhoso admitir que meu corpo realmente necessitava do corpo da maldita, algo nela clamava por mim e algo em minha mente exclamava que ela deveria ser minha. A pele macia, o cheiro inebriante e as curvas deliciosas que minha inimiga possuía me deixavam incrivelmente excitado. Porra de garota!


Levantei da cadeira sabendo exatamente para onde iria.








*








A decisão estava tomada: eu ia pesquisar sobre a vida do Cullen. Aproveitaria a missão, que certamente ele estaria à frente e procuraria em todos os possíveis locais do Cartel algo sobre o mafioso.


Levantei ainda sentindo a preguiça me dominar, várias partes do meu corpo possuíam uma dor chata devido à noite anterior, alguns relapsos vinham em minha mente constantemente e lembrar do mafioso com o corpo quente tão próximo de mim não era nada recomendável para minha sanidade. Não era certo, aquilo não era certo, eu não deveria gostar de estar perto do homem que só me machucou desde quando cheguei ao Cartel.


Sabia que não gostava dele, na verdade, o odiava, portanto, não fazia sentido que minha mente lembrasse tão nitidamente do mafioso, mas eu sabia que era tudo culpa do meu corpo, estava irrefutavelmente atraída por Edward Cullen e isso era uma merda, mas já estava decidido, não me deixaria levar pelo mafioso, me recusava a ficar sequer uma vez com ele e estava convicta disso, embora minha consciência gritasse que tudo não passava de uma mentira.


Uma ducha foi o suficiente para me fazer relaxar com o silêncio dominando no quarto e a água quente invadindo todo meu corpo suavemente, minha mente se acalmando, afinal, não era o fim do mundo, todos tinham alguém desagradável em sua lista e comigo não seria diferente. Descansei minha mente com a desculpa de que ninguém saberia, portanto, ninguém poderia me julgar além da minha própria consciência. Logo o episódio da noite anterior se tornaria apenas em uma lembrança desagradável e não precisaria me preocupar.


Quando minha consciência ecológica passou a me acusar desliguei o chuveiro e fui em direção ao quarto, vestindo um short jeans e uma regata branca, hoje seria um dia de pesquisas, não poderia me prender a detalhes. Notei o pequeno relógio na cabeceira de Jenny que marcava dez da manhã, todos já estariam na missão e enquanto Jaz não me procurasse, eu ia atrás de evidências sobre o maldito Cullen.


Porém, ao abrir a porta, não estava prepara para a figura que veria em minha frente: encostado na parede, com os braços cruzados e o rosto desleixado, estava Edward Cullen. Os olhos azuis me encaravam com tanta intensidade que pareciam ler minha alma e um sorriso zombador logo surgiu em seus lábios.


"Um belo dia, não acha?" Continuei intacta sem saber ao certo o que dizer, o mafioso possuía esse feito sobre mim, de me deixar sem palavras. Não me prendi por muito tempo nos olhos azuis, com medo de jamais poder sair deles, obriguei meu corpo a se mover indo em direção à escada.

 



"Verdade" Disse simplesmente, tentando sair de perto do traiçoeiro, mas ele sempre era mais rápido quando se tratava de seus interesses.


"Ora, vai correr de mim tão rápido?" A voz era carregada de ironia e ter o corpo másculo bem na minha frente me fazia ficar ainda mais nervosa, eu deveria saber que viria atrás de mim. "Não vai me dar nem um beijo de bom dia?" As sobrancelhas arqueadas demonstravam todo o seu deboche, detalhe que só o deixava mais bonito e me fazia ainda mais estressada.


"Aposto que tem milhões de garotas nesse Cartel querendo beijar você, não precisa de minha ajuda" Tentei ir para o lado, mas o corpo do mafioso me acompanhou demonstrando todo seu divertimento com a situação constrangedora para mim. As mãos foram em direção à minha cintura, e mesmo um degrau abaixo de mim, seu corpo era maior, aproximou seus lábios do meu pescoço e cochichou em meu ouvido.


"Não acredito que vai me tratar com tanta frieza depois da noite passada, assim você magoa meus sentimentos Swan" O hálito quente vinha em minha direção me fazendo arrepiar, coisa que só deixava o criminoso ainda mais satisfeito. Levantei minhas mãos com pressa e o empurrei, fazendo com que ele cambaleasse.


"Pare com isso" Minha voz firme contrapunha-se com meu espírito trêmulo e nervoso, mascarando minhas verdadeiras emoções. "Não quero você perto de mim"


Desci as escadas com pressa e ainda pude ouvir a alta gargalhada que meu inimigo soltava, porém, ele não fora atrás de mim, fato que não me deixava tranquila, já que tinha plena certeza que continuaria com seu plano em outro momento. Esse era o verdadeiro motivo que me irritava: eu não sabia o que o Cullen queria e isso me frustrava.


Abanei a cabeça e fui em direção ao refeitório para comer alguma coisa, desde o dia anterior não colocava nada em meu estômago, não podia ir até o escritório do Cullen enquanto ele estivesse no cartel, teria de esperar que ele fosse à missão. Cheguei no refeitório e o local jazia com um silêncio quase mortal, apenas os últimos funcionários arrumavam a bagunça deixada pela refeição; após tanto tempo eu já conhecia quase todos por la, fato que me deixava muitas vantagens.


Pelas regras do cartel quem perdesse o horário das refeições teria que ficar sem comer para aprender a ser pontual, porém, a regra não se aplicava a mim, os funcionários sempre guardavam algo e me entregavam nos dias em que eu faltava e dessa vez não fora diferente. Sentei na bancada que me proporcionava uma bela vista do jardim e passei a mordiscar o pão, observando o amplo estacionamento do cartel.


Após alguns minutos observando notei o corpo musculoso que tanto odiava atravessar o estacionamento e ir em direção à Suzuki falando algo de forma irritada no celular e vi que era minha chance. Depois de me certificar que ele realmente tinha saído do Cartel, terminei de comer o que sobrou de meu café da manhã e fui o mais rápido possível até o escritório do mafioso, torcendo para que não estivesse trancado.


Girei a maçaneta e notei que estava com sorte, a sala abriu e não havia ninguém lá dentro, entrei e passei a chave para me certificar que ninguém entrasse enquanto eu estivesse lá. Rodei meu corpo avaliando o local, uma mesa e alguns sofás de couro preto era tudo o que havia para ser observado. Abri as gavetas encontrando diversos papéis e contas do cartel, nada que me interessasse. Fitei o notebook desligado sabendo que seria impossível encontrar a senha. Não havia nada que me ajudasse ali, eu teria que procurar em outro lugar.

 


Saí do local sem ser vista e fui até a enorme biblioteca, uma senhora conhecida estava atrás do balcão e lançou-me um sorriso aconchegante.


"Bella, bom ver você por aqui" Me aproximei devolvendo o sorriso com gratidão.


"Digo o mesmo" Apoiei as mãos no balcão, notando que não havia ninguém no enorme local, provavelmente era o único lugar do cartel que passava dias e dias vazio. "Estou à procura da história do cartel, sinto-me no dever de conhecer um pouco mais sobre o lugar e as pessoas, já que também faço parte" Dei um sorriso nervoso. "Pensei que talvez pudesse encontrar algo aqui"


"Pois veio no lugar certo" Levantou os olhos cobertos por um enorme óculos de grau para mim. "Quase ninguém se importa com essas coisas, mas temos uma ala somente com jornais e anotações sobre o cartel, fica ali atrás" Apontou para o final do corredor e eu logo segui, agradecendo pela a ajuda.


Andei rapidamente observando as enormes prateleiras distribuídas e minhas mãos movimentaram-se ágeis para ler o maior número de anotações sobre o Cullen. Milhares de jornais foram espalhados no chão e sentei-me entre eles, lendo rapidamente suas manchetes. Mortes, suicídios, crimes, havia de tudo nos papéis e me encontrei ainda mais surpresa pelos diversos relatos. Relatos dos próprios funcionários contavam sobre famílias inteiras que havia sido dizimadas por não aceitarem se submeter ao cartel, e fiquei surpresa ao perceber que a regra era mesmo verdadeira. Abri uma das anotações, decifrando uma caligrafia quase ilegível:


"Hoje o patrão matou alguns iniciantes que não conseguiram completar a missão, foram silenciados pela metralhadora que parece não sair de suas mãos, após muita tortura. Me pergunto se algum dia isso irá acabar, se algum dia teremos paz nesse lugar, mas percebo que já sei a resposta óbvia: não teremos. Enquanto o chefe viver, teremos guerra por aqui. Rezo para que eu não seja o próximo."


Me perguntei quem seria o patrão de quem o funcionário falava, mas percebi que não poderia ser o Edward, já que a pequena data no canto na folha dizia que havia sido escrita anos atrás, Edward provavelmente nem estaria no comando do Cartel ainda, então, o tal patrão deveria ser o antecessor.


Porém, apesar dos diversos registros que os antigos jornais mostravam, não havia nada sobre Edward.


Bufei irritada diante da frustração de um trabalho mal sucedido, não era possível que não houvesse ninguém que soubesse algo sobre o mafioso.


"Conseguiu o que queria querida?" A voz preenchida pela sincera preocupação me puxou dos pensamentos.


"Acho que não" Respondi com voz de desistente, horas já haviam passado e Jaz estava provavelmente me procurando enquanto perdia meu dia procurando por pistas que não estavam em lugar algum.


"Sobre quem especificamente está procurando?" Perguntou-me lançando para mim a sabedoria e mostrando-me que apesar de idosa, a mulher sabia que eu não estava exatamente procurando sobre o cartel.


"Edward Cullen" Confessei e a mulher arregalou os olhos quase imperceptivelmente, dando uma pequena risada.


"Não tem nada sobre ele aí menina" A senhora me chamou com as mãos indo em direção à porta de depósito, puxando uma pequena chave do bolso, que identifiquei que seria a que abria a pequena porta.


"Tenho algumas coisas aqui que talvez lhe ajudem, mas terá que prometer não contar a ninguém" Abriu e me vi completamente espantada com a dimensão do lugar, aquilo não era somente um simples depósito, era uma enorme sala com várias prateleiras e estantes, quase do mesmo tamanho da biblioteca em si. Fitei a senhora com os olhos arregalados e ela me lançou um sorriso cúmplice. "Guardo aqui minhas obras favoritas e outros livros que as pessoas não devem ler" Franzi o cenho notando a sensação de mistério que pairava no ar. "Há muitas situações que ocorreram nesse cartel que estão enterradas e aconselho a não ir tão fundo, ok?" Andou entre os corredores comigo em seu encalço.


Foi na última prateleira que a pequena senhora pareceu encontrar o que queria, puxou um fino lençol e revelou uma sequencia de livros iguais, porém, não eram livros comuns, pareciam diários.


"Aqui" Entregou-me os livros. "São os diários de Esme e alguns de Catherine, talvez possam lhe revelar o que quer saber" Olhei espantada para o que tinha em mãos perguntando-me o quanto aquela mulher sabia. "Mas escute" Segurou em minha mão impedindo-me de virar. "Não procure demais, quem sabe muito não dura muito por aqui" Saímos do local e logo ela voltara para seu posto, após agradecer, também saí da biblioteca e voltei para meu quarto, quase quicando de curiosidade, algo me dizia que em breve eu descobriria algo sobre meu inimigo.


Não pude deixar de notar que o aviso da senhora era realmente sério, quanto menos as pessoas soubessem por ali, melhor seria, talvez fosse por isso que ninguém se atrevesse a falar sobre a vida do mestre, mas eu não era assim, descobriria tudo o que pudesse sobre o Cullen. Sentei na cama e abri um dos cinco livros que estava em minha mão, sentindo um leve cheiro de mofo invadir meu olfato, uma linda caligrafia estava escrita no delicado diário.


"Querido diário, que estranho encontrar em papéis o consolo de um coração solitário, mas resolvi fazê-lo mesmo assim. Não há ninguém com quem eu possa realmente compartilhar o que tenho vivido e penso que escrever é uma forma de desabafar, pois não posso guardar tudo para mim. Hoje é um dia especial, Alice veio morar conosco, é uma linda garotinha de olhos assustados. Não sei quanto tempo será necessário para que ela se acostume com todo o ambiente e vida diferente, mas creio que não demorará muito. Edward já a assimilou como irmã, apesar de serem primos e Cath parece ter uma afeição enorme por ela, o que me deixa satisfeita. Algumas missões foram feitas nesse final de semana e me sinto realmente assustada por finalmente descobrir o que está acontecendo, apesar de insistir muito com Carlisle para saber das transações, hoje sei que permanecer na ignorância era minha felicidade e eu não sabia, as situações são realmente difíceis aqui dentro e constantemente sinto de casa, mas sei que não posso voltar atrás com minhas decisões, fiz o que era melhor para minha família. Além disso, tenho Edward e Catherine, eles serão minha felicidade eterna. Agora só me resta torcer para que tudo melhore, perder a esperança é a última alternativa, enquanto houver ar dentro de mim, estarei acreditando em tempos melhores. Acho que realmente ajuda escrever, transformarei isso em um hábito. Esme."


Encarei surpresa as palavras à minha frente, lembrando de quando Cida me relatou que Alice era prima de Edward, mas se tratavam como irmãos devido ao longo tempo em que estiveram juntos. Na folha que continuava em meu campo de visão relatava bastante sobre a mãe de Edward, que se mostrava extremamente doce e solitária demais para o recomendável. Carlisle era o nome do pai do mafioso, e pelo que pude perceber, Edward teve a quem puxar tanta maldade, talvez o patrão que eu encontrei em um dos relatos dos funcionários fosse mesmo ele.


Virei as páginas rapidamente procurando por um outro dia que me chamasse a atenção, porém, tudo parecia a mesma coisa. Nostalgia e tristeza preenchiam as folhas, algo me dizia que Esme sempre foi muito solitária na época em que viveu no Cartel e Carlisle parecia rígido demais para ter conquistado uma mulher tão doce. Minha mente voava rapidamente nas hipóteses e eu cogitava como Esme havia caído exatamente ali, no cartel, mas não conseguia encontrar a resposta.


Uma batida na porta me despertou e rapidamente guardei os livros em uma parte do guarda-roupa a tempo de ver Jaz entrando. Os olhos castanhos me focalizaram e um sorriso logo apareceu.


"Finalmente terminei" Levantei e fui em sua direção. "Vamos para o terraço?" Assenti e fomos pra lá, em nenhum momento as palavras anteriormente lidas saiam de minha mente e eu tentava decifrar o quebra-cabeça que era aquele Cartel, porém, sempre parecia faltar algumas peças. Chegamos até o amplo local sentindo o vento frio nos atingir, dezembro chegou trazendo um frio cada vez maior, a previsão era que logo teríamos neve e Jenny só sabia falar sobre isso, desejando que o natal chegasse o mais rápido possível.


Marie adorava festas comemorativas e vez ou outra me obrigava a fazer parte delas, mas na maioria das vezes conseguia burlar a atenção de minha avó.


Sentamos no chão do terraço e uma maravilhosa vista se apresentou, dali víamos todo o cartel, o que dava uma incrível sensação de poder. Vi Jaz puxar algo do bolso e abri um enorme sorriso ao ver o que era.


"Lembra disso?" Puxou vários pacotes de chiclete sabor uva, que faziam a boca ficar com um tom de vinho e ainda provocavam ardência. Fiquei surpresa por Jaz ainda se lembrar, já que fazia muitos anos que comíamos aquilo.


"Não acredito, onde você encontrou?" Exclamei pegando alguns pacotes.


"Naquela mesma venda perto de casa, acredita que eles ainda vendem as mesmas coisas?" Deu uma gargalhada. "Parece que eles pararam no tempo" Dei um curto sorriso e fitei o Sol que aparecia tímido à nossa frente. Pensei em como as coisas realmente tinham mudado: eu me formei em Direito, mas não me tornei uma advogada ou juíza. Eu estava no maior Cartel de drogas do país, dei uma risada pensando no quanto meus professores se irritariam ao descobrir minha vida desconexa.


"As coisas mudaram demais Bella" O rosto de Jaz tinha algumas rugas de preocupação, mas a voz era tranquila. "As vezes sinto falta da minha vida antiga, de ser um cara normal" Confessou. "Mas sinceramente" Virou-se para mim. "As vezes é um alívio estar aqui, fazer parte de algo, parece que finalmente encontrei algo para o qual viver, mesmo sendo torto e ilegal" Completou com uma risada e entendi o que ele queria dizer, pois também me sentia assim. Raras vezes me pegava pensando em como era bom estar ali em determinadas horas e em quantas pessoas incríveis havia conhecido naquele lugar, de uma forma completamente estranha, me sentia segura ali.


"É meio estranho se sentir assim, mas acho que entendo" Encostei minha cabeça nos ombros de Jaz lembrando de como ele era alto. "Há pessoas incríveis aqui"


"As vezes sinto que gosto mais deles do que de minha família" Uma risada escapou de sua boca e um pensamento rápido correu por minha mente e lembrei que o pai de Jasper já estivera no cartel antes dele e mesmo assim estava casado com a mãe dele, pergunta essa que sempre me intrigava.


"Jaz" Chamei a atenção. "Naquele livro de regras estava escrito que pessoas do Cartel não podem manter relações com gente de fora, isso quer dizer que só podem casar entre si?" Perguntei com certo desespero, a hipótese de casar com um mafioso de olhos azuis me deixava aterrorizada.


"Não, isso é apenas enquanto são iniciantes" Afirmou e logo relaxei. "Iniciantes já deram muito problema ao Cartel por falarem demais, por isso foi criada essa regra, mas depois de um ano, podem ter contato com outras pessoas" Deu de ombros e eu assenti compreendendo, realmente não fazia sentido que todos casassem entre si.


O silêncio imperou e por alguns longos minutos ficamos apenas observando a cena que se mostrava, o sol do meio dia irradiava nos jardins deixando tudo bem iluminado. De tempo em tempo Jaz prendia a atenção em um pequeno monitor que estava sempre em suas mãos.


"O que é isso?" Toquei as pontas dos dedos no objeto, que parecia ser de alta tecnologia, vários pontos verdes invadiam a tela, me fazendo ficar confusa.


"É um radar de monitoramento pessoal" Afirmou, mostrando-me melhor. "Com isso posso monitorar tudo que entra e sai do cartel e como estão as transações" Olhei surpresa para o aparelho. "Normalmente fica com o mestre, mas já que ele teve de resolver alguns assuntos e deixou comigo" A simples menção do mafioso fazia meu estômago embrulhar, mas ignorei meu corpo patético.


"Não é exagero andar com isso de um lado para o outro?" O cartel parecia bem tranquilo ultimamente, apesar de saber que vez ou outra algo perigoso acontecida, não me parecia necessário toda essa vigilância.


"Há alguns meses vem ocorrendo invasões no cartel" Citou e me lembrei do homem que tentara arrancar a vida de Edward e da vez em que outro invasor fora morto pelas mãos do mafioso no celeiro. "Não sabemos ao certo por quem eles são enviados, mas estamos investigando, por isso é necessário todo o tipo de segurança" Afirmou e continuou olhando para frente. "O mestre não parece estar preocupado com as invasões, o que me deixa um pouco nervoso, penso que ele já saiba de onde elas estão vindo, mas não queira dizer" Franzi a testa diante da desconfiança de meu amigo, não imaginava nenhum motivo plausível para que o mafioso escondesse ou ficasse parado diante de ameaças, conhecia bem o Cullen, se ele realmente soubesse de onde vinham as invasões provavelmente o mandante já estaria de baixo da terra.


"Não faz sentido ele saber a origem das invasões, mas não tentar exterminar o mandante" Afirmei e Jaz concordou com o rosto ainda fincado.


"Exatamente, por isso que parece faltar algo na história que eu não consigo descobrir o que é" A voz de Jaz era carregada de preocupação e assim como tudo naquele cartel, o assunto era misterioso e desconexo.


Sempre pareciam faltar peças quando se tratava de Edward Cullen.


"Talvez seja impressão sua" Dei de ombros e ele concordou.


"É, talvez seja" Olhou para mim com um sorriso. "As vezes você parece tão madura"


"Ei, eu sou madura" Fiz cara feia para ele. "Você nem imagina o quanto"


"Sei, sei" A voz carregada de ironia. "Me parece bem madura em suas discussões com o mestre" Soltou uma gargalhada e fechei a cara.


"Não consigo suportá-lo" Revirei os olhos lembrando-me de como o mafioso era arrogante. "Parece que ele foi criado com o objetivo de me irritar"


"Sabe que dizem que do ódio para o amor é só um passo né?" Fez graça e eu lancei um tapa em direção ao seu braço, fazendo com que ele se contorcesse com fingimento de dor.


"Não fala besteira" Ralhei e ele sorriu.


"Ok, não falo mais" Fez um zíper na boca e o fechou com os dedos. "Droga" Olhou para o aparelho, levantando-se. "Acho que tenho que ir, o mestre chegou" Meu coração falhou pateticamente um batida com a notícia e ele entortou a boca em uma careta e estendeu a mão para me levantar, mas não a peguei.


"Acho que vou ficar um pouco mais por aqui" Afirmei e ele deu de ombros.


"Tudo bem, qualquer coisa sabe onde me encontrar" Piscou e virou-se novamente para mim antes de sair. "Não fique andando sozinha por ai, ainda não estou satisfeito com a segurança" Assenti e logo ele se foi.


As palavras de Esme novamente voltaram para minha mente e não podia evitar o enorme sentimento de compaixão dentro de mim. Um desejo intenso de que ela ainda estivesse no cartel surgia dentro de mim, talvez ela pudesse me aconselhar e me ajudar no que deveria fazer. Porém, não seria assim tão fácil conversar com ela sobre o próprio filho. Talvez eu pudesse lhe dar uma bronca por ter criado uma criança tão egoísta e mesquinha. Isso, ela não merecia minha compaixão, merecia uma bela bronca.


Soltei com força uma lufada de ar e senti aos poucos uma leve sonolência me atingir, apesar de estar em pleno meio dia o sol era fraco e o ar frio demais. As noites mal dormidas finalmente mostravam seu poder e aos poucos fui fechando os olhos, entregando-me aos pensamentos e reflexões desconexas. Várias imagens voavam por minha mente e meus músculos foram aos poucos relaxando, alguns curtos barulhos surgiram e logo tudo voltou a ser silêncio. Após alguns minutos senti um leve incômodo e abri os olhos.


Novamente me surpreendi com o que vi: sentado à minha frente estava Edward Cullen, com um ar despojado e os malditos olhos azuis me encarando. Tomei um leve susto e corrigi minha postura, sentando-me ereta.


"Deu para me perseguir agora?" Rosnei irritada com a presença constante do mafioso.


"Paro quando você admitir que gosta que eu esteja por perto" Lançou um sorriso de escárnio e eu me levantei rapidamente, irritada demais para me importar com meu estúpido inimigo e me direcionei até a porta, mas ele foi mais rápido. "Já está ficando chato esse jogo de você me odiar, quando está claro que seu corpo me adora" Com o corpo de frente ao meu, passeou levemente a ponta dos dedos por meu braço gerando uma série de arrepios, o que o fez sorrir satisfeito, maldito corpo traiçoeiro.


"O que importa é o que minha mente diz, não o meu corpo" Tentei empurrá-lo, mas com o corpo duas vezes maior que o meu, a tentativa foi um completo fracasso.


"Que besteira, se o corpo fala significa que a mente já está rendida" Me puxou mais para perto pelo quadril. "Sou criminoso, sei identificar quando uma pessoa está rendida" A cada nova palavra a fúria surgia dentro de mim, as palavras grosseiras e arrogantes de meu inimigo me lembravam porque não nos dávamos vem e porque jamais poderíamos ter qualquer tipo de relação harmônica: ele era um babaca!


"Então essa sua mente doente nem para isso serve" Empurrei com toda força que meus braços puderam realizar. "Porque estou longe de está rendida a você"


"Isso, continue se enganando, é divertido ver você lutando contra o inevitável, me faz ainda mais vitorioso" Declarou com deboche e meu rosto retorceu-se em puro desprezo, meu dedo levantou-se apontando em seu rosto.


"Olha, se você pensa que vou ficar com você de novo está muito..." Ele segurou minha mão com força, puxando-me para perto, diminuindo o que restava da distância.


"Estou muito o quê?" Perguntou a centímetros de mim, fazendo com que o hálito quente tocasse em meu rosto. "Enganado?" Passeou com o rosto em meu pescoço me fazendo paralisar, sabia que precisava lutar contra o maldito mafioso mas todo meu corpo parecia clamar pelo dele. Odiava a mim mesma cada vez mais, porque minha mente insistia em esquecer o quanto ele era tapado quando estava tão próximo de mim? "Acho que não, Bella" Um arrepio surgiu em meu corpo ao vê-lo me chamar por apelido pela primeira ver, a voz tão rouca que parecia carregar todo o ambiente. "Quero você de novo" A voz quente em meu ouvido me fazia perder toda a noção de tempo e espaço, Edward Cullen parecia ter o poder de enfeitiçar as pessoas apenas com o som da voz. 


Então os lábios voaram em direção ao meu em um beijo intenso e rápido, não dando tempo para reflexões ou pensamentos, tudo que tínhamos era aquele momento e eu sabia que ele se aproveitaria o máximo daquilo. As mãos foram para minha coxa, puxando para o colo, fazendo com que meu corpo se colasse ao corpo quente do criminoso com destreza. Só quando estava perto dele tinha noção do quanto ele fazia falta enquanto estava longe e tudo isso me deixava nervosa demais, não era certo que as coisas fossem assim, não era certo que meu coração sacudisse tanto quando ele estivesse por perto, simplesmente não era certo.


As mãos firmes passeavam por todo lado, mas não pareciam ter pressa, Edward espalmava suas mãos com uma destreza e tranquilidade que se misturavam com nervosismo e irritação. Talvez tudo que tivesse a ver conosco fosse exatamente assim: desconexo e sem ordem exata. Simplesmente ia acontecendo com intensidade.


Quebrou o beijo e arfou demonstrando todo seu desejo por mim, os olhos estavam cheio de um azul anil que transbordava de pura luxúria e uma de suas mãos entrou por minha blusa, alisando demoradamente minha barriga.


"Quero gravar cada pedaço de você" Minhas mãos estavam afundadas em seus cabelos e minha respiração, cada vez mais acelerada e inconstante, se confundia com a dele de tal forma que era difícil saber quem era quem. As mãos passeavam com tanta lentidão, que chegava beirar a delicadeza. Seria possível que meu inimigo conseguisse, ao menos por um instante, ser gentil? "Quero deixar cada pedaço de você guardado em mim, para quando você me odiar eu poder lembrar de como é bom tê-la em meus braços" Os lábios foram em direção ao meu pescoço e meu coração não cansava de dar mortais dentro do meu peito, o ar se tornara escasso e mãos arranhavam com força o couro cabeludo do criminoso, talvez tentando, em uma tentativa frustrada, puni-lo por ser tão pateticamente e estupidamente desejável.


O perigo de alguém entrar no terraço a qualquer momento deixava tudo ainda mais tentador, estar nos braços do mafioso me fazia ir de zero à cem em questão de segundos, como se fosse um carro extremamente veloz que estivesse prestes a explodir, mas ainda assim fosse completamente desejável, mesmo não se sabendo o que aconteceria a seguir. Percebi que estar com Edward Cullen era exatamente assim: perigoso. Com ele eu estava sempre em perigo, mas aquilo não me assustava, pelo menos não enquanto os olhos azuis estivessem tão firmes em mim que pudessem ler minha alma, não enquanto eu estivesse nos braços dele. Não, nada daquilo importava.


Eu ia me arrepender, sabia que ia, mas não podia deixar de ver um filete de humanidade que surgia no mafioso apenas nessas horas. O maldito parecia sempre saber exatamente o que dizer para me render e talvez fosse mais algumas de suas técnicas adquiridas durante os anos de sobrevivência no cartel, mas o filamento de sinceridade que insistia em aparecer quando ele me fitava me provava justamente o contrário. Existia um Edward Cullen que só existia quando estava comigo e era esse o problema, eu gostava dele. Gostava das palavras sinceras, gostava das mãos firmes e gostava dos olhos azuis transbordantes. Sabia que esse Edward era uma utopia, talvez existisse apenas em minha mente, mas não poderia deixar de considerar toda a sinceridade que transbordava dele.




As mãos voaram para minha blusa, porém, antes que qualquer peça de roupa fosse lançada ao chão, a porta abriu-se. A garganta secou e o ar tornou-se tão tenso que parecia ser palpável, tudo ao mesmo tempo. Alice entrou no local tão rapidamente que não deu tempo de fazer absolutamente nada, enquanto a intrusa escancarava a boca e os olhos arregalados mostravam surpresa, tudo que fiz foi esconder o rosto no pescoço do mafioso, que parecia tão irritado que talvez houvessem pedacinhos de Alice espalhados pelo ar em segundos, apenas com o poder do pensamento.


"Eu... Eu... Me desculpa, eu não pensava que... " As palavras saiam desconexas e a vergonha era tão grande que se pudesse, cavaria um enorme buraco negro ali mesmo e me enterrava. Foi então que o mais surpreendente aconteceu: uma enorme gargalhada saiu da boca da garota, o que me fazia confirmar a hipótese de que todos os Cullen tinham um parafuso a menos.


"Caralho Alice, que porra que você quer aqui?" O rosto e a voz estavam tão carregados de irritação que não sabia se sentia pena de mim ou dela. A vergonha de ser descoberta pela irmã de Edward era terrível, ela provavelmente teria uma imagem patética de mim. A garota que queria ficar com o líder da máfia. Argh, só de pensar na frase ficava com enjoo, mas iria explicar tudo e ela em breve entenderia que não havia nada entre nós. Na verdade, eu não tinha a mínima ideia do que falaria para ela já que nem mesmo eu sabia o que estava acontecendo. Maldição, por que só me metia em situações ridiculamente difíceis?


"Calma, irmãozinho" A voz era carregada de ironia e divertimento, Alice estava claramente satisfeita por ter algo contra o irmão. "Vim avisar que os carregamentos chegaram e precisam de você no caminhão para contabilizar a encomenda"


"Mais que porra, eu sou o dono dessa merda, não tem nenhum funcionário para fazer isso?" Enquanto praticamente berrava com a irmã, o mafioso ainda me carregava com facilidade e firmeza, não me deixando sair do casulo que eram os seus braços. Covarde e sem nenhuma coragem de levantar a cabeça, continuava enfiada em seu pescoço, imagem que só tornava tudo mais ridículo para quem assistia, presumi.


"Tomáz está aqui, você disse que queria vê-lo pessoalmente" Disse e pude notar que segurava uma risada pra não deixá-lo ainda mais aborrecido.


"Tá, foda-se" Irritou-se e um silêncio tomou conta do lugar, o nervosismo tomava conta de todo meu corpo desejando que aquele estranha situação acabasse o mais rápido possível. "O que ainda está fazendo aqui Alice?" A voz subiu uma oitava. "Já vou, pode ir embora"


"Ok, ok" Concordou ainda divertida. "Temos todo o tempo do mundo" Piscou para ele que rosnou de volta, e Alice logo saiu descendo as escadas com rapidez, ainda foi possível ouvir a estrondosa gargalhada que ela soltou de longe.


"Que caralho" Depositou-me no chão e logo o Edward estúpido estava de volta, andou até a porta com passos duros e pensei que iria embora como sempre fazia: sem falar absolutamente nada. Porém, mais uma vez me surpreendi. Antes que pudesse sumir pela porta, virou-se com os olhos em chamas e declarou com a voz poderosa. "Não pense que vou esquecer o que estava acontecendo aqui, terminaremos isso em breve" E se foi me deixando sem ar e com as pernas trêmulas. Maldição de mafioso!








*







Desci as escadas ainda tonta, os efeitos pós-mafioso não eram nada agradáveis, mas resolvi não pensar naquilo. Deixaria os malditos detalhes e frases do criminoso de escanteio e me preocuparia com coisas saudáveis. Havia prometido dias antes que leria histórias para o Gabriel, coisa que não fazia há algum tempo. Apesar das consultas com o psicólogo ele ainda continuava sem dar um palavra, mas parecia mais feliz, o que já me deixava satisfeita. Lizzie apesar de toda sua ousadia e irritabilidade, era uma garota muito inteligente e passara a gostar um pouco mais de mim - ou me odiar menos, não sabia ao certo, quase todas as tarde eu inventava novas versões dos contos de fadas para contar ao pequeno garoto, fato que parecia o divertir demais.


Enquanto Cida tinha outros afazeres, normalmente eu ficava com eles, ou Alice, quando podia. Cida costumava afirmar que eu tinha um coração de ouro por cuidar deles por algumas horas, mas ela mal sabia que quem ganhava era eu. Algo nos dois irmãos me trazia certa paz naquela confusão toda que era minha vida e na maioria das vezes quem mais se divertia com as histórias loucas e discussões bestas era eu.


Fui em direção ao jardim onde normalmente nos encontrávamos, já sentindo a tarde cair no horizonte, devido à refeição tardia ainda não tinha fome, portanto deixei o almoço para mais tarde. Antes que eu pudesse chegar ao jardim, senti uma mão me puxar com firmeza, um grito entalou-se em minha garganta devido ao susto e logo o rosto divertido de Tiziano entrou em foco.


"Desculpe, não queria te assustar" Soltou uma risada enquanto me apoiava nos joelhos, recuperando o ar perdido.


"Meu Deus do céu, não faça mais isso" A risada tornou-se mais intensa até tornar-se apenas em um sorriso. "Pensei que Edward tivesse machucado você, o que está fazendo aqui?" Perguntei chocada com a ousadia, Edward demonstrara claramente que não o queria por perto e algo o fazia insistir em estar ali.


"Alice me deixou ficar" Deu de ombros. "Edward não vai me machucar, não se preocupe" Ele disse com tanta convicção que resolvi acreditar.


"Ok, então vem comigo, vamos contar histórias" Declarei puxando-o pela mão e levando-o até o jardim que era cuidado por Cida.


"Contar histórias?" Perguntou confuso.


"Sim, vou te apresentar aos sobrinhos do Edward" Ao dizer a frase senti o corpo dele estancar atrás de mim e virei-me preocupada, estava pálido e soltava um sorriso nervoso.


"Eu já os conheço Bella" Declarou com certa insegurança que eu ignorei, soltando uma risada.


"É mesmo, sempre esqueço que você já estava aqui antes, aliás, precisa me contar essa história direito"


Apesar da brincadeira ele continuou o resto do caminho calado, até chegarmos ao jardim. Senti suas mãos frias demais sob as minhas e logo chegamos até o local.


"Cida" Exclamei vendo-a sentada no banco, enquanto as duas crianças voltavam-se para nós. A reação de Lizzie me surpreendeu: ela correu em direção ao Tiziano com extrema alegria e o abraçou.


"Tio!" Exclamou. "Estava com saudade, porque ficou tanto tempo sem nos visitar?"


Cida se levantou tranquilamente com Gabe em seu encalço, parecia um pouco surpresa por vê-lo.


"Lizzie, deixe o Tiziano respirar" Disse com familiaridade e eu sorri diante da cena divertida que se desenrolava.


"Mas é que eu estava com saudade" Confesso que fiquei surpresa com a declaração mal feita de Liz, sabia que ela não se dava com quase ninguém, o que fazia com que falas como essa fossem bem raras.


"Também senti saudades, pequena" Apesar dos doze anos da garota, o que a transformava quase em uma pré-adolescente, ele a carregou no colo, dando um abraço apertado, enquanto assistíamos e logo a pousou no chão novamente, olhando para o pequeno garoto. "E esse garoto?" Sorriu em sua direção, mas o menino não pareceu corresponder. "A última vez que o vi era apenas um bebê, ele está enorme" Olhou com emoção para Cida e pareceu transmitir uma mensagem com os olhos que não consegui compreender. "Eles estão incríveis Cida, obrigada" Não tive tempo de pensar na frase ou de avaliar como era estranho Tiziano agradecer à Cida, pois logo uma terceira voz entrou na conversa.


"Que porra você pensa que está fazendo aqui?" Edward exclamou andando rapidamente em nossa direção, com Emmet em seu encalço parecendo preocupado.


"Calma Edward, só estamos conversando" Tiziano levantou as mãos em sinal de paz e vi que Lizzie esbanjou uma enorme preocupação com a fúria do tio e segurou forte a mão do que estava ao seu lado, querendo protegê-lo.


"Conversando?" Caminhou de forma enfática. "Já mandei que você ficasse longe daqui, será que vou precisar ser mais explícito para que entenda?" A voz de Edward saia firme demonstrando sua sincera irritação que beirava a fúria.


"Edward por favor, não fale assim na frente das crianças" Olhei para Liz e ela possuía os grandes olhos ainda mais arregalados de pavor mediante a ameaça do tio furioso.


"Leve-as daqui Cida" O mafioso nem sequer olhou para o lado, mantinha os olhos focados em Tiziano como se transmitissem a última sentença.


"Mas..." Tentou intervir.


"Agora!" Gritou e Cida logo puxou os dois pela mão, Lizzie lançou um olhar desesperado para mim enquanto era levada, olhar esse que demonstrava desespero: ela esperava que eu fizesse algo para intervir.


"Então quer dizer que resolveu ficar de conversinha com meus sobrinhos?" Não entendia por que, mas algo ali parecia não se encaixar, a fúria de Edward extrapolava a simples irritação por uma pessoa indesejada, via que naquela conversa havia muito mais que isso, havia remorso e acusação.


O mafioso se aproximou de Tiziano velozmente, mas me enfiei na frente tentando evitar um confronto.


"Pare com isso Edward, Tiziano é meu amigo e não quero que o machuque" Algo nos profundos olhos azuis pareceram mudar e vi que eles estavam em chamas.


"Ah, então ele é seu amigo?" Soltou uma gargalhada debochada diante da confissão. "O seu amigo já contou porque está aqui, Isabella?" Seu foco estava atrás de mim e os olhos de chama eram pura acusação.


"Já contou o motivo pelo qual atendeu seu telefone sem pestanejar semanas atrás?"


"O que está querendo dizer?" Inquiri sentindo o chão fundo demais, as ideias misturavam-se rapidamente e percebi que realmente não havia me perguntado em momento algum o real motivo para que Tiziano estivesse ali. Virei-me para ele questionando. "Do que ele está falando?" O rosto dele estava contorcido e demonstrava dor, algo inconstante para um rosto que estava quase em todos os momentos com uma feição divertida e risonha.


"Bella, eu..." Foi interrompido.


"Então seu amiguinho não contou que veio aqui para espionar os filhos que abandonou?" As palavras me paralisaram completamente e voltei para Tiziano em choque notando que seu rosto perdera completamente a expressão e estava preenchido com derrota. "Vamos, conte para ela como você usou minha irmã à anos e a abandonou na primeira oportunidade!" Edward ultrapassou a distância e passou a grita no rosto de Tiziano. "Diga para ela o merda que você é"


"Não é verdade" Finalmente um sussurro saiu de sua boca. "Eu a amava, Edward"


"Amava porra nenhuma, você não sabe o que é amar alguém seu filho da puta" Partiu para cima dele, mas Emm foi mais rápido, segurando. Edward parecia simplesmente transtornado enquanto Tiziano possuía os olhos fundos e marejados.


"Eu a amava, juro que a amava, só Deus sabe quanto" Exclamou com desespero e lágrimas passaram a rolar em seu rosto. "Não sabia como lidar com tudo aquilo na época, porra Edward, eu não estava preparado para ser pai, você me conhecia, sabia que eu era um idiota completo, mas eu juro que a amava"


"E você acha que ela estava preparada pra ser mãe?" As palavras saiam com verdadeiro ódio, como se estivessem guardadas há muitos anos, esperando para serem lançadas a quem de direito. "Acha que estava preparada para aguentar tudo sozinha?" As veias saltavam demonstrando a fúria guardada por anos e Tiziano já estava em prantos. Observava assustada a situação sem saber ao certo o que fazer, eram informações demais para que eu pudesse fazer algo. "Você a abandonou, porra!" Exclamou em tom baixo já sem forças. "Ela amava você e ainda assim a abandonou com um filho na barriga, você não passa de um belo filho da puta" Se sacudiu nos braços de Emmet se livrando do aperto e agachou-se para ficar próximo do rosto dele. "Gabriel não fala e Lizzie odeia tudo que vê pela frente, sabe por que?" Perguntou em tom baixo. "Por que eles não tiveram pais" Declarou e vi pela primeira vez que Edward realmente se importava com os sobrinhos. "Você nunca mereceu Catherine e eu sempre vou odiá-lo por isso" E se foi com passos rígidos.


Não sabia ao certo o que dizer, estava magoada por ter sido enganada o tempo inteiro por Tiziano e ver que ele talvez não fosse a pessoa que eu esperava me frustrava. Alice surgiu desesperada e logo ajudou Tiziano a se recompor. Eu não tinha forças para ficar ali e fui em direção ao meu quarto, precisava digerir tudo o que tinha descoberto e aquilo não seria nada fácil.








*








Sacudi a perna em sinal de nervosismo, a escuridão já tomava o céu e mesmo com o corpo lançado na cama há algumas horas não estava relaxada. Sentia compaixão por Tiziano e até mesmo por Edward, os dois pareciam machucados com o passado e nada disso me agradava. Sacudi a cabeça espantando os pensamentos, não passaria a noite inteira pensando nisso.


Fitei os cinco livros que estavam sob minha posse e resolvi voltar às pesquisas. Havia um fato importante que se mostrara com a leitura dos livros: a partir do segundo livro o tipo de escrita mudara. Esme parecia melancólica e solitária no primeiro diário, mas a partir do segundo ela parecia bem mais feliz, com uma escrita mais leve, como em uma das anotações:


"Querido diário, parece que a vida finalmente está abrindo novas portas para mim. Tudo é perigoso e assustador dentro do cartel, mas me sinto radiante, como se nada pudesse nos destruir. Não posso escrever muito, estou atrasada. Só posso declarar que estou feliz, cada vez mais. A esperança finalmente mostrou-se convicta e os olhos não choram mais, finalmente encontrei a felicidade. Me deseje sorte. XXEsme."


O quebra-cabeça me parecia cada vez mais incompleto e peças faltavam, mas eu logo as acharia. Enquanto lia mais algumas páginas notei uma enorme movimentação no andar de baixo e olhei pela janela. A única mini van do Cartel, que costumeiramente ficava intacta, estava estacionada na porta da mansão e Alice gesticulava com brutalidade para Edward. Será que era uma nova missão?


Impulsionada pela curiosidade e pela sensação de algo estava errado, desci as escadas com rapidez e cheguei até o estacionamento, me direcionando aos dois. Assim que cheguei Alice parou de falar e Edward me lançou o costumeiro olhar frio.


"O que está acontecendo?" Perguntei notando que vários funcionários estavam o redor da van e atuavam agilmente para mover algo que estava no porta-malas.


"Bella, acho que é melhor você entrar" Emmet surgiu de repente, me empurrando para dentro, mas eu o detive.


"Quero saber o que está havendo" Teimei levando meu olhar para a porta agora aberta do porta-malas, uma maca foi tirada de dentro do automóvel, embrulhada por um papel preto e naquele momento eu soube que não haveria uma missão, a missão já havia sido realizada e um cadáver estava sob nossos olhos.


Franzi o cenho e observei Alice esconder o rosto com as mãos deixando escapar um gemido.


"Quem é que está na maca?" Encarei a todos mas não houve resposta, o único que me encarava de volta era Edward com um olhar tão frio que congelaria até o inferno. Avancei com desespero para maca resoluta a saber quem havia sido morto, Emmet tentou me segurar, mas eu o empurrei com força e puxei a lona preta que cobria a maca.


Foi então que eu o vi.


Ali, a centímetros de mim estava Ben já sem vida.


Meus olhos se arregalaram diante do choque e senti meu coração falhar uma batida, a garganta fechou e senti meus olhos umedecerem com lágrimas que certamente viriam.


"O que... quem..." Não conseguia formar frases corretas e Emm veio ao meu encontro me segurando já que minhas pernas pareciam não se sustentar.


"Fui eu que o matei" A voz fria do mafioso preencheu o ambiente e ao voltar meus olhos vermelhos para ele souber que havia tomado minha decisão: eu sentia muito mais do que ódio por ele, sentia nojo.


"Você prometeu que não faria" Lembrei da noite anterior em que ele havia dito que não mataria o menino, mas deveria saber que a palavra do criminoso não valia absolutamente nada. "Como pode fazer isso?" Os gritos saiam com força de minha garganta e notei que não respondia mais por mim. "Ele era só uma criança!"


"Que nasceu na família errada, por isso morreu" Declarou com frieza e eu voei até ele disparando tapas por todo lugar, o choque espelhando-se por todo meu corpo, não era justo, nada naquela porra de cartel era justo!

 


De repente o sonho da noite anterior veio em minha mente e tudo pareceu fazer sentido: não havia sentimentos bons para serem salvos em Edward e se eu continuasse perto dele me tornaria exatamente o monstro que ele havia se tornado.


"Você é um monstro, eu odeio você, odeio você!" Os gritos saiam sem permissão e as lágrimas já não me deixavam enxergar nada à minha frente. As órbitas azuis pareciam congeladas e por um momento, quem congelou foi eu.


Soltei das mãos de Emmet tentando me acalmar e notei que quase todo o Cartel assistia chocado a cena que seguia. Aproximei do mafioso e cuspir as palavras com todo o desprezo que eu possuía dentro de mim.


"Tenho nojo de você, nunca mais se aproxime de mim" E simplesmente sai deixando para traz qualquer hipótese de algo com o mafioso e deixando para traz toda a compaixão que eu tinha por ele. Se ele queria a porra de uma guerra, que viesse preparado, porque eu estava fervendo de ódio.


E todo mundo sabe que uma mulher irritada é o pior castigo de um homem.


Edward Cullen estava prestes a descobrir do que uma Swan era capaz.


Se ele era frio, que se preparasse, por que eu faria nevar.

 

 


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Notas finais do capítulo

Ok, antes de mais nada: PASSEI NO VESTIBULAR DE NOVO! E agora foi no curso que eu queria: Direito. Passei na faculdade particular que eu queria e estou muito feliz, Deus é bom demais!
OBRIGADA aos comentários lindos de vocês, de verdade, as vezes fico até sem palavras, obrigada por todos os "parabéns" pra mim e pra Luiza hehehe ESSE CAPÍTULO É DEDICADO À MELHOR PRIMA E AMIGA DO MUNDO: LUIZA.(Parabééééns, obrigada por tudo, te amo!)
Ok, agora continuando, não sei se vocês perceberam, mas novos mistérios surgirão na história, e meus capítulos favoritos estão prestes a chegar uhuuuuuu então bora ficar de olho hohohho
Estou QUASE de férias, quarta-feira que vem será minha última prova e FICAREI DE FÉRIAS AMÉM SENHOR! Muuuito feliz por isso e terei tempo de escrever mais, então bora ficar feliz comigo.
OK, PRECISO DA OPINIÃO DE VOCÊ, DE VERDADE! Vocês sabem o quanto eu sou insegura e vocês sempre me fazem mais felizes com comentário e RECOMENDAÇÕES! Então, por favor, movam os dedinhos!
Para as LEITORAS NOVAS: SEJAM BEM-VINDAS, suas lindas! Para as antigas: VOCÊS TÊM TODO MEU AMOR ♥
Enfim, já sabem né? Bia sem vocês não é Bia.
Não me abandonem!
Um suuuuuuper beijo no coração!
Bia.
PS: SIGAM O @EMPERIGO no twitter