Paixão Pós-morte escrita por RoBerTA


Capítulo 6
Primeiro dia no paraíso parte I


Notas iniciais do capítulo

Oi ^.^ Obrigado por todos os reviews >.< Amanhã posto outro maior e melhor :) Espero que gostem da capa...



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–Acooordaaaa!!!

Abro os olhos alarmado, com uma sensação de frio no rosto, quando vejo uma Manuela alegre demais, pairando acima de mim, com um largo sorriso, uma imitação barata do coringa.

–Vamo lombriguinha, é seu primeiro dia! Tenho certeza que você fará muito ‘amiguinhos’. –ela faz uma pausa dramática antes de continuar —E eu serei sua instrutora.

–Eu não preciso de instrutora.

Puxo o lençol em cima da cabeça, com a esperança que ela desista, mas a garota é persistente. Ela –apesar de fantasma— puxa todas as cobertas e as joga no chão, sem dó nem piedade.

Olho no relógio só por precaução. Eram 05h00min. E a escola era só às 07h15min. Ela acordava todos os dias a essa hora? Em 5 minutos dava para chegar à escola.

–É madrugada! –protesto— da pra vê até as estrelinhas pela janela. Vai achar outro infeliz para assombrar.

Ela se mostrou inabalada pelas minhas palavras. Viro-me de barriga para baixo, mas sei que ela continua lá.

–Eu fiz café!

Num sobressalto, saio da cama, horrorizado. Sinto um nó no estômago só de pensar em o que ela pode ter feito na cozinha. Minha mãe vai me enterrar vivo, isso sim.

Com o sono sucumbido, saio do quarto e vou direto para a cozinha. Chego lá e me vejo encarrando um ovo em cima da mesa. Espera, onde está a bagunça?

Manuela se aproxima, sentado numa baqueta.

–Bom, eu tirei o ovo da geladeira, agora você frita.

Encaro-a incrédulo. Essa era a ideia de café dela?

–O que você comia antes de ir para a escola?

–Uma xícara de café, e às vezes biscoito - ela dá de ombros.

–E por que eu tenho que comer um ovo frito?

–Porque você precisa de calorias - fala como se fosse óbvio.

Essa garota estava começando a me irritar com essa paranóia a respeito da minha “magreza”. Faço uma carranca, sentindo uma leve irritação. Guardo o ovo enquanto sou observado. Agora seria impossível voltar a dormir. Começo a fazer meu café, sem pressa, afinal tempo não é o meu problema. Dessa vez o sanduiche vai ser de goiabada.

–Você só sabe fazer sanduiche de geléia?

–Você só sabe tirar um ovo da geladeira? –rebato e o silêncio é a minha resposta.

Continuo de onde parei, terminando o sanduiche enquanto espero o café esquentar. Pego a xícara no microondas e meu sanduiche delicioso num canto.

Levo até a bancada e me sento. Termino de comer em silêncio, e pela primeira vez, ela realmente parece um fantasma.

Quando termino, arrumo o que tem para arrumar, e paro na frente dela, que olha para um ponto distante atrás de mim. Antes que possa me virar para ver o que está olhando, ela fixa seus olhos nos meus. Fico sem
folego. Nunca tinha percebido como seus olhos eram tão azuis, de um tom tão profundo, que pareciam me sugar. Me encarrava séria, como nunca antes a havia visto. Deus, ela parece uma boneca de porcelana.

–Desculpe. Eu sou assim mesmo, uma pessoa –ou fantasma no caso—muito difícil de lidar.

Percebo que está sendo sincera, por isso não sinto vontade de brigar. Na verdade, me sinto completamente desarmado.

–Tudo bem –como percebo que está triste, acrescento—então, que tal me ajudar a escolher minha roupa? Afinal, é a primeira impressão que fica.

Ela abre um sorriso radiante, e percebo que minha boca esta sorrindo de volta, sem o meu consentimento. A fecho rapidamente, inclinando a cabeça em direção às escadas.

Subo depois, com os pensamentos distantes. A que tipo de moda descabida eu teria que me submeter? Minha expressão deve ter me
entregado, pois ela me disse que ia ficar tudo bem, como se eu fosse um soldado prestes a ir para a guerra.

Paramos em frete às minhas malas, ainda desfeitas. Se não tinha coragem antes de tirar as roupas do guarda roupa, agora que não tenho mais, com a dona no meu encalço.

–Você ainda não arrumou as malas?

–Elas estão arrumadas, olha só, bem alinhadinhas.

–Você entendeu o que eu quis dizer.

É claro que eu tinha entendido, mas não perderia essa oportunidade de infortunar ela por nada nesse mundo.

–Onde eu deveria por? Embaixo da cama? Em cima do guarda-roupa? Sim, por que dentro tem as suas roupas. E duvido que você vá me deixar simplesmente tira-las de lá.

–Na verdade, eu não preciso mais delas –ela ponta para si mesma, que só agora percebi que esta usando um vestido diferente. Um preto tomara que caia, com pequenos detalhes em cinza—você pode ficar com o guarda roupa –ela parece sincera.

–Bom, a gente resolve isso depois. Eu tenho aula daqui uma hora, lembra?

Ela concorda com a cabeça, e vai direto numa mala, para abri-la. Mas sou mais rápido, e consigo impedi-la. Ela me encara irritada e confusa.

–É que aqui tem as minhas, hnm, roupas íntimas.

–E daí, você acha que nunca vi uma cueca na vida?

Deus, como ela é direta.

–Mas não as minhas.

Sem concordar nem discordar, abre a mala mais próxima a ela. E assim vai por minutos, ela abrindo minhas malas, espalhando roupas e separando outras. Por fim se da por satisfeita, colocando de lado uma calça jeans escura, uma blusa de uma banda lá que ganhei de Natal, e um casaco de capuz preto.

–Não é como se existisse muitas opções. Você só tem roupas pretas ou quase pretas! –ela bufa indignada, batendo o pé no tapete—aposto que até as tuas cuecas, perdão, roupas íntimas são pretas.

E se for? Ela não tem nada a ver com isso. Pego a roupa e olho para ela, tentando faze-la entender a indireta. Mas a garota fica olhando para mim, sem sair do lugar. Chega de sutilidade.

–Será que você poderia me dar licença para me vestir?

Manuela da de ombros, se vira e começa a andar em direção a parede. Fico assustado, e depois surpreso, quando ao invés de dar de cara nela, a garota simplesmente a atravessa.

Mas não tenho tempo para ficar analisando seus superpoderes de fantasma. Ficar escolhendo a roupa gastou muito tempo.

Como só um garoto consegue fazer, me visto e fico pronto em minutos, sem superpoderes. Pego minha mochila num canto esquecido do quarto, e calço rapidamente um All Star velho.

Saio do quarto e vejo minha amiguinha escorada na parede, de forma entediada. Quando me vê, arregala os olhos. Aposto que a surpreendi. Péssimo fantasma, que nem sente as pessoas se aproximando. Depois, começa a balançar freneticamente com a cabeça.

–Você está apresentável, vamos?

Concordo, e me encaminho em direção à saída. Tranco a porta e começo a caminhada rumo ao meu inferno paraíso pessoal. Caminhamos em silêncio, e ela parece flutuar pelo chão. Não sei se é porque é
um fantasma, ou se era assim quando viva também. Fico observando-a pelo canto to olho, e percebo como ela parece mais viva que muitas pessoas que realmente estavam vivas. E eu, nunca me senti tão vivo na vida.

Paramos em frente ao portão, observando o fluxo de alunos que entram, e saem também. Alguns conversam, outros simplesmente
encaram o nada, e tem também aqueles que se destacam, porque querem se destacar. Mas logo toda a atenção está voltada para mim. Cidade pequena e de conto de fadas, provavelmente é o motivo.

–Bem vindo a minha escola. Vai lá e arrasa, bonitão.

Com uma presença dessas do meu lado, o que mais eu poderia querer?

Que tal um buraco para cair dentro e sumir?


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