ANNABETH

Pulei com o susto. Reyna e Piper quase se bateram umas nas outras depois do barulho. Percy ergueu sua espada, e Thalia, seu arco.

– Devemos ir ver o que é? – Sussurrou Thalia.

– Espere. – Disse Percy.

Fiquei olhando para o buraco que tinha se aberto no chão. Estava cercado por fogo, sem sinal de que algo vivo sairia dali. Mas como aquele dia estava totalmente perfeito para coisas fora do normal, uma forma começou a parecer em meio às chamas.

Leo escalava a cratera que abrira no chão, coberto de arranhões por todo o corpo. Ele parecia cansado, e sem duvida, muito ferido.

– Leo! O que aconteceu? – Perguntou Percy, correndo para ajudá-lo.

– Frank vai cair também. Os espíritos do vento são muito fortes. Deuses estão lutando aqui, Percy. Não tem como sobreviver sem ajuda. – Leo disse, subindo com a ajuda. Assim que nos viu percebeu onde estava, e ergueu os olhos. – Uau.

Eu não havia reparado, mas naquele pequeno espaço coberto estavam dezenas de semideuses que caíram durante a guerra. Estávamos ali em no mínimo uma hora, e todas aquelas pessoas morreram. Algumas estavam petrificadas, outras viraram estatuas de gelo. A cena era aterrorizante. Leo olhava o lugar com tristeza, sentando-se perto de nós. Reyna continuava segurando Hylla, com a cabeça encostada nos ombros de Piper. Ela chorava, e Leo percebeu o seu choro.

– Reyna... Hylla está...? – Ele tentou perguntar, com dificuldade de magoar ainda mais a garota.

– Sim. – Reyna respondeu com a voz fraca. Um vento gelado se passou. Não havia percebido isso também, mas estava cada vez mais frio. Leo acendeu uma chama em sua mão.

– Eu sinto muito. – Ele disse, colocando a sua mão flamejante perto da garota. Ele não estava aquecendo apenas nós, mas sim, o corpo de Hylla. Reyna o olhou, agradecida.

– Não consegui evitar... Foi minha culpa. – Ela disse.

– Não foi sua culpa, eu tenho certeza. Hylla sabia o que poderia acontecer, mas mesmo assim enfrentou. Ela comandou as amazonas e tenho certeza que, se não fossem por elas, não teríamos chegado até aqui. – Leo falou, acariciando seus cabelos. Reyna retirou a cabeça dos ombros de Piper e encostou-se a Leo, chorando. Ele a envolveu com o braço livre, deixando a chama acesa entre eles.

Ficamos assim por mais alguns minutos. Luke apareceu com um pouco de ambrosia nos bolsos, e deu a Leo. Infelizmente, ele apareceu também com más noticias.

– Não vamos conseguir. O sol vai se por daqui a 3 horas. Aliás, é quase imperceptível vê-lo, mas mesmo assim, nosso tempo é curto. O exército dela está em vantagem. – Luke falou, olhando para os corpos que jaziam ali.

– Temos que voltar. – Disse Thalia, levantando-se. Eu, Piper e Percy também nos levantamos, esperando por Reyna e Leo. – Reyna, deixe o corpo de Hylla aí. Ela vai estar protegida.

– Não consigo... Deixá-la... – Reyna soluçou, com medo de perder sua irmã de uma vez por todas. Piper inclinou-se sobre ela.

– Reyna. Eu sinto muito, muito mesmo. Mas temos que ir. Você é tão importante quanto qualquer um de nós nessa batalha. Hylla sabia das consequências. Lutou contra elas, mas... Você sabe. Você é como ela, Reyna. Mostre o que você pode fazer. – Piper disse. Pude sentir que não havia charme em sua voz, que ela estava sendo sincera ao dizer aquelas palavras.

Reyna olhou para Leo, insegura. Estranho. Reyna pedindo opinião de Leo, se consolando com Leo. Afrodite devia ter alguma coisa a ver com isso.

Ele acenou com a cabeça afirmativamente, e começou a ajudá-la a se levantar. Reyna limpou suas vestes e secou suas lagrimas, pegando sua adaga. Seu rosto transformou-se de tristeza para puro ódio. Algo me dizia que a morte de sua irmã seria vingada.

Leo deu um sorriso tímido.

– Posso ficar com você, se quiser. – Ele disse, convidativamente. Reyna olhou para ele, dessa vez, sem o desprezo que ela carregava ao vê-lo. Na verdade, acho até que surgiu uma esperança de sorriso.

– Agora não, Valdez. Preciso resolver uma coisa sozinha. – E, como nada é tão estranho que não possa piorar, Reyna tascou-lhe um beijo na bochecha, deixando Leo tão vermelho quanto um camarão. Ela simplesmente virou e saiu, correndo para a guerra. Percy, Thalia e Luke fizeram o mesmo, enquanto eu e Piper riamos vendo Leo nas nuvens.

– Parece que alguém está apaixonado. – Piper riu.

– Calada. – Disse Leo, embargado. – Calada.

Finalmente deixamos o lugar, mas a batalha estava terrível. No ar, reinavam o exército de Gaia, preparados para atacar quem quer que invada seu espaço. Na terra, algumas pessoas eram puxadas para baixo, deixando todos temerosos em relação ao solo. Parei, pensando em como precisávamos de ajuda. Nós não íamos conseguir. Eles eram muitos, e Gaia estava despertando. Olhei para a coruja, que me encarava.

Espere.

Coruja que me encarava?

Cheguei mais perto, apreciando a bela ave que ali pairava. Ela era de um tom caramelado, e tinha olhos cinza como tempestade. Os meus olhos. Os olhos de minha mãe. Atena estava ali?

“Não, criança.” – Uma voz ecoou em minha mente. – “Você pediu ajuda, e a ajuda está a caminho. Os deuses estão ajudando vocês, por mais que não estejam presentes. Eu sou apenas uma mensageira.”

Ok, pensei. Por que não?

Decidi ignorar o fato de que eu estava ficando totalmente maluca e corri para me juntar a guerra. Percy já tinha um corte imenso na testa, esse cabeça de alga... Jason lutava contra um exército de centauros que tinham se juntado a Gaia, junto com Piper. Reyna finalizava o serviço de sua irmã, derrotando qualquer ciclope que ali passava. Leo também estava por perto, lançando chamas. Para mim, parecia estar admirando Reyna, mas decidi não comentar.

Um cão infernal me deu um ataque surpresa, derrubando-me no meio do caminho. Ele rosnava, e prendia meu braço com sua pata enorme. Não consegui levantar minha adaga, e o monstro chegava seu rosto cada vez mais perto do meu. Pensei na coruja, dizendo que nossa ajuda estava a caminho. Seria uma boa se elas chegassem agora.

O chão começou a tremer, de uma maneira incomum. Não era Percy, e nem Gaia. Eram... Passos? Passos rápidos. O cão que estava acima de mim pareceu ter percebido, me dando a chance de atacá-lo por baixo. Assim que consegui me levantar, um pássaro carnívoro caiu no chão, morto. Assustei-me, e olhei para o céu.

Pégasos, Harpias e outros seres voavam ali, destroçando cada um dos monstros. Reconheci Ella, a harpia que citou minha profecia. Podia jurar que vi algumas corujas voando ali também, mas não tinha certeza. O que me fez ter quase certeza foram pombas que também voavam, junto de uma águia que não era Frank, e um pavão. Os deuses não estavam entre nós, mas enviaram ajuda. Mas esse não era o mais surpreendente.

No solo, Tyson corria comandando seu exército de ciclopes. Os pôneis de festa tinham chegado. As hespérides estavam na luta, junto com seu dragão, Ládon. Calypso as acompanhava. As ninfas do por do sol saíram de seu jardim, apenas para nos ajudar. Fora isso, alguém muito espertinho pelo visto havia acionado o plano 23, pois vi algumas estatuas correndo. Porém, a forma arrogante de Términus era irreconhecível. Ninfas, sátiros, mais heróis, vacas (Hera? Apolo?), javalis, cavalos, veados. Os animais sagrados dos deuses se juntaram a luta.

Percy olhou para mim com um brilho no olhar. Enfim, tínhamos alguma chance.

Dessa vez, o chão começou a tremer da maneira que já conhecíamos. Gaia estava tentando evita-los, subindo o solo. Hazel entrou na frente, como se lutasse com a própria mãe terra, fazendo com que o solo se abaixasse. Frank apareceu em forma de elefante, passando pelo local onde os novos exércitos tinham chegado. O plano de Gaia fracassara.

Percy se juntou a Leo, lutando contra alguns telquines. Me juntei a eles, derrotando-os facilmente.

– Devemos ir para a base! Enfrentar o gigante e buscar Nico! – Percy exclamou.

– Quanto tempo temos? – Perguntei.

– Não muito. Precisamos chamar Hazel, Frank, Jason e Piper.

– Vou com vocês. – Disse Reyna, aparecendo de repente.

– Apoiada. – Falou Leo. Percy olhava para os dois com incredulidade.

– Certo... – Murmurou. – Como vamos juntar todo mundo?

– Não sei... Espera, a coruja! – Me lembrei. Tentei me concentrar o máximo possível na ajuda.

– Que coruja...? – Leo ia dizendo, mas eu o silenciei com um aceno de mão. Poucos segundos depois, a coruja estava ali.

– Preciso que você chame Frank, Hazel, Jason, Piper, Clarisse, Luke, Thalia e Grover. É urgente. – Falei.

– Chame Calypso também! – Disse Percy. Olhei para ele como se não acreditasse, e ele ficou um pouco envergonhado. – É... Pode ser uma boa ideia...

Continuei encarando ele, mas assenti para a coruja.

– O que fazemos agora? – Perguntou Reyna.

– Vamos indo devagar, duvido que alguém esteja para aqueles lados. – Disse Percy. – Por que chamou Grover?

– Ele não usou mais a sua benção de Pã depois daquele dia. Queria ver se era possível acontecer. Seria muito útil. – Respondi.

– O que? – Perguntou Leo.

– Nada. – Eu disse, rindo.

Percy e Reyna foram à frente, conversando sobre a pretoria e as amazonas. Reyna ainda estava chateada, mas prometeu vingar a morte de sua irmã, e assim foi feito. Leo estava do meu lado, meio cabisbaixo.

– Apoiando as decisões da Reyna, Sr. Valdez? – Perguntei, brincando. Ele sorriu um pouco.

– Vale tudo no amor e na guerra. – Ele disse, me surpreendendo com a resposta. – E isso é um pouco dos dois.

– Amor?

– Quem sabe. – Ele sorriu, tímido. Hazel e Frank estavam atrás de nós, junto com Luke e Thalia.

Caminhamos em direção a entrada do Partenon, lentamente. Calypso tinha chegado também, colocando-se ao lado de Percy. Tive vontade de arrancar aqueles cabelos dela, mas infelizmente, Percy ficaria chateado se eu tivesse que fazê-lo pagar uma peruca. A garota mal tinha saído de sua prisão. Jason e Piper chegaram junto com Clarisse.

Quando estávamos a poucos metros de distancia, paramos. Percy olhou para mim.

– Falta o Grover.

– É melhor irmos logo com isso. O sol já está se pondo. – Eu disse. – Quem está lá dentro?

– O gigante, Hécate, Quíone e imagino que outros seres também estejam. – Falou Jason.

– E Nico. – Completou Hazel. Frank colocou a mão em seu ombro.

– Vai dar tudo certo. – Frank disse.

Andamos mais um pouco, esperando por algum sinal de monstros. A única coisa que vimos foi uma entrada no chão, como um túnel. Ao que tudo indicava, para determos Gaia devíamos entrar no seu território.

Hazel foi a primeira a entrar, pois tinha algum controle sobre o solo. Nada aconteceu, então seguimos em frente.

O lugar era como uma caverna, e estava rodeado de velas no chão. Por mais que houvesse fogo por todo o local, era tão gelado quanto lá fora. O teto da caverna era congelado, como se fosse um cristal acima de nós. Podíamos ver nossos rostos assustados com o lugar e com o fato de Leo e Reyna estarem de mãos dadas.

Peguei a mão de Percy também, por precaução. Tinha medo de perdê-lo, depois de tudo que nós passamos juntos. Enfim, a figura branca como a neve apareceu em nossa frente.

– Pensei que não chegariam nunca. – Quíone disse despreocupadamente, mas dava para notar em seu tom de voz que ela não esperava por tantos.

– Onde está Nico? – Hazel perguntou.

– Ah, você já o verá, querida. – Disse a voz suave de Quíone. Ela olhou para Leo com desaprovação. – De mim, para ela? Vejo que fiz bem em não te escolher.

– Mesmo porque ia levar um fora. – Respondeu Leo, deixando Quíone com cara de tacho.

– Vamos. – Ela disse, e partimos pelo corredor frio e escuro da caverna.