Já fazia algum tempo que eu tinha saído em jornada de casa. Tudo bem, uma semana, e não estava gostando nadinha. Ryo, evoluiu na cidade de Azalea para Quilava, Mika estava com dificuldades para aprender novos golpes. E Kaya estava precisando urgentemente de uma tosa. Ahn? Oh, sim! Meu nome é Lyra, e atualmente eu estou em jornada por Johto com meu melhor amigo de infância, Ethan.

– Ethan, vamos parar, estou cansada, meus pés doem e eu não quero mais andar! - Sentei no chão, abracei as pernas e encostei o rosto nos joelhos - Eu quero parar! - Ryo ficou ao meu lado me olhando com um pouco de aversão.

– Vamos Lyra, essa é a Rota 34!* Estamos quase chegando em um lugar especial! - Não sabia o que tinha de tão especial na Rota 34. Para mim, era uma Rota monótona e chata, como outra qualquer. Mas ele... Ele parecia tão animado... Nem parecia o mesmo Ethan da cidade de Azalea, que eu tive que chamar umas trocentas vezes para se levantar! - Levanta, Lyra! - Ele segurou meus braços e saiu me arrastando pela Rota 34.

Após alguns minutos Ethan soltou meus braços e saiu correndo. No mesmo momento levantei a cabeça e olhei adiante. Ele estava abraçando um velhinho e o chamava de "vô". Aquele cara era o avô de Ethan? Levantei-me rapidamente e limpei minha roupa. Fizemos as apresentações e Ethan disse que eu tinha de conhecer sua avó.

– Vamos Lyra, você vai gostar dela! - Tudo bem, o que custa?

– Então tá - Sorri amistosa e me despedi - Até mais Sr. Wate... - O velhinho sorriu de volta para mim e acenou enquanto eu entrava numa pequena casinha e meu amigo ia falar com uma velhinha que estava atrás do balcão.

– Ah, meu netinho! Olha como você está lindo! E como vão as namoradas, hum? - Ela falava enquanto saia de trás do balcão e o abraçava. Quando ela falou que ele estava bonito, eu corei bastante e olhei para Ryo que fazia graça da cena. Acho que não queria que Ethan arrumasse uma namorada... - E quem é aquela? A namorada, hein? - A velhinha sorriu para mim e eu fiquei ainda mais vermelha, se é que era possível!

– O que?! N- Não! Não é a minha namorada! Eu nem tenho namorada! Vó! Aquela é a Lyra! - Ele coroava bruscamente - Sabe a Lyra? De New Bark? Ela não é a minha namorada! É só a minha amiga! - Ele fez uma careta. Olhei novamente para Ryo que estava praticamente se contorcendo para não rir. Chutei ele de leve, atraindo um olhar zangado do Pokémon.

– Ah, sim, sim. A Lyra, claro que me lembro dela - A senhora sorriu e veio em minha direção, logo em seguida me dando um abraço. Ethan me olhou com os olhos esbugalhados e falou sem emitir som enquanto balançava a cabeça de um lado para o outro e passava a mão pelo pescoço. Não consegui entender muito bem. - Como você está linda criança, está uma mocinha! - Ficamos na casa dos avós de Ethan mais alguns minutos e depois fomos embora.

Descobri que lá na verdade, era um Day Care. Antes de ir embora, peguei o celular dos dois avós de Ethan, caso quisesse cruzar alguns dos meus Pokémon. Confesso que queria ter aceitado quando nos ofereceram para dormir lá, mas Ethan disse que não e saiu me arrastando pela Rota. Após uns metros, eu sentei no chão e comecei a reclamar.

– Eu não quero mais andar! Está tarde, eu estou com fome, com sono e cansada! Eu quero dormir... - Eu estava praticamente miando aquelas palavras. - Vamos parar, por favor, por favor, por favor! - O menino me olhou com um meio sorriso e suspirou de leve. Começou a cair uma fina chuva, mas logo começou a se intensificar. Ryo me olhou irritado por conta do tempo e eu o retornei.

Ethan se mexeu, mas eu nem prestei atenção, estava mais concentrada na dor dos meus pés e na água gelada que caia em mim. Do nada os pingos cessaram, quando levantei a cabeça, o garoto estava segurando um guarda-chuva vermelho acima de nossas cabeças enquanto sorria próximo ao meu rosto. Tudo bem, próximo demais. Corei de leve e desviei o olhar.

– Vamos Lyra, se você quiser eu te carrego - Ele sorriu novamente e me deu o guarda-chuva, logo tirando o casaco e cobrindo meus ombros com o mesmo.

* * *

Após alguns minutos, eu estava abraçada ao pescoço dele, em suas costas, enquanto andávamos pela cidade de Goldenrod debaixo da chuva atrás do Centro Pokémon. Estava muito frio. Não sei como ele não estava reclamando, quando chovia em New Bark, esse menino só fazia reclamar.

– Estamos quase chegando... - Ethan disse. Eu murmurei um "Tá" meio cansada e abracei seu pescoço mais carinhosamente, escondendo meu rosto na curva de seu pescoço. Ele tinha um cheiro bom... - Ei! - Começou a rir - Para, isso faz cócegas!

– D- Desculpa! - Eu gritei, morta de vergonha. O que eu tinha acabado de fazer? Nossa, acho que a chuva mexe um pouco comigo.

Assim que chegamos, eu desci de suas costas e devolvi seu casaco. Ethan sorriu e guardou o guarda-chuva.

Entramos no Centro e pedimos um quarto. A enfermeira nos deu a chave e subimos. Logo que entramos no cômodo, eu olhei para a beliche e subi rapidamente na de cima, colocando minha bolsa ali e olhando para o garoto que ria de leve.

– Se queria ficar com a cama de cima, podia ter falado.

Ficamos de bobeira um tempo, apenas conversando. A chuva já havia parado a alguns minutos e Ethan abriu a varanda. Eu gemi com a rajada de vento frio que entrou no quarto e me encolhi na cama. Ryo já estava fora da PokéBall, acompanhando Ethan no ar noturno da noite.

– Vem cá, Lyra! Vai me deixar sozinho? - Ele estava me provocando, eu sei que estava. Pulei da beliche e fui para a varanda. Quando olhei, Ethan estava sentado em uma cadeira dupla, com Ryo apoiado no guarda-corpo, olhando para a cidade. Eu sentei ao seu lado e ele me deu seu casaco. De novo. - Está frio, pode ficar com ele. - Vesti a peça, aproveitando para puxar um pouco a gola, para sentir de novo aquele cheiro meio cítrico e forte que Ethan tinha. Sorri abobalhadamente e olhei para ele, murmurando um "Obrigada".

Ethan me olhou significativamente; Parecia que estava tentando me dizer algo através do olhar. Corei bastante e desviei o olhar para Ryo, que já dormia tranquilamente debaixo da cadeira que eu dividia com o garoto. Quilava tosco... Ethan suspirou e acaricou sua Marill; Se bem o conheço, parecia meio triste ou algo assim. Até que alguns segundos depois, tomei coragem e disse:

– Ethan, tem alguma coisa errada? - Tentei sorrir de leve. Mas não consegui. Parecia que meu peito estava a ponto de explodir! Rezei mentalmente para o garoto não escutar as batidas. Mais uma vez ele suspirou e olhou para cima. Marill grunhiu como se sentisse a dor do dono.

– Nada... Só estou pensativo. Só isso mesmo - Logo depois Ethan olhou para mim e sorriu. Aquele típico sorriso travesso, de quando alguém está fazendo algo que não devia. Eu revirei os olhos e virei a cabeça para cima, olhando o céu estrelado, quase imperceptível com todas as luzes da cidade de Goldenrod.

– Tudo bem, Sr. Pensativo. Pode me dizer no que está pensando? - Sorri meio triste. Adorava olhar as estrelas. Mas não dava para ver quase nenhuma da varanda do Centro Pokémon... Maldita urbanização!

Passados alguns minutos, Ethan continuava calado. Senti quando ele tocou na minha mão. Um toque delicado de sua mão fria. Marill pulou de seu colo e entrou para o quarto, pulando na beliche de Ethan, que eu dividia com ele. Baixei um pouco o olhar e o garoto me olhou com certa melancolia.

– Ethan, ou você me conta agora o que está acontecendo, ou eu vou dormir! - Disse meio irritada. Meu amigo soltou uma risadinha e enlaçou nossos dedos. Isso já era normal para nós que éramos amigos desde que nos conhecemos por gente em New Bark. Eu fui mais para perto dele, logo em seguida, me escorando em seu ombro. Ele passou o braço por cima do meu ombro. Isso agora sim era novidade. - Conta, Ethan... Talvez eu possa dar um jeito - Sorri torto.

– ... Tudo bem... - Ethan aproximou o rosto de meu ouvido num sussurro suave. - Lyra... - Ele hesitou e se afastou de leve. Eu soltei um pequeno muxoxo e o menino riu. - Promete que vai ficar tudo de boa entre nós? - Pediu, claramente preocupado.

– E quando não fica tudo de boa entre nós?

– Ahn... - Ethan levantou a mão e começou a contar dedo por dedo - Quando eu peguei seus lápis no jardim de infância, quando sem querer eu esqueci de te devolver um dinheiro que peguei emprestado, quando não te deixei brincar com a Marill porque ela estava doente e... Ah! Também teve aquela vez qu- Eu o interrompi.

– Tá, tá! Pulando essas - Dei uma boa risada. - Agora me conta, não vou fazer nada, eu juro. O garoto suspirou e recostou-se na cadeira. Eu fiz o mesmo e me juntei mais para perto dele. Ethan virou o rosto na minha direção e chegou perto do meu ouvido.

– Lyra... - Ethan disse meu nome como se fosse doce em sua boca. Parecia feliz em dizer essa palavra. - Eu... - Eu...? Anda logo Ethan! Droga, por que estou com calor? - Eu te amo, Lyra. - Ah, era isso... Tudo bem, ele me ama e... A MÃE DE QUEM?! Como é que e a história, Ethan Wate?! (Nome que eu inventei '-') Corei muito e arregalei os olhos.

– E- Ethan? - Chamei ainda sem olhá-lo. Tive vergonha de ele me ver nesse estado, afinal, eu nunca havia corado na frente de ninguém, nem mesmo quando o Silver disse que gostava muito de mim, no sexto ano.

Ele não respondeu. Senti meu "amigo" se aproximar mais de mim e roçar de leve o nariz no meu pescoço. Encolhi involutariamente os ombros. Do nada minha barriga se revirou e eu fiquei com mais calor ainda. Ethan estava mesmo sentindo isso? Talvez isso explique porque ele estava tão nervoso no Day Care. Virei o rosto para encará-lo. Ele também estava tão vermelho quanto eu. Ethan fechou os olhos de leve e inclinou a cabeça para o lado. Eu fiz o mesmo.

Fomos nos aproximando cada vez mais, parecia que eu ia ter um ataque cardíaco ali mesmo, só de meu "amigo" ter roçado o nariz em meu pescoço e estar a alguns centímetros de meu rosto. Nossos lábios se tocaram de leve, num simples selinho. Os dele eram quentes e macios. Confesso que já havia pensado em beijar Ethan alguma vez, mas nunca imaginei sentir isso que sentia agora. Simplesmente indescritível. Senti algo molhado em meus lábios, logo deixei uma leve fresta aberta em minha boca.

Ethan aprofundou um pouco o beijo, ainda meio tímido no início. Logo em seguida segurando meu rosto com uma delicadeza imensa. Eu passei uma de minhas mãos ao redor de seu pescoço, ele estremeceu de leve ao meu toque.

– Hmm... - Ouvi ele grunhir de leve. Ethan era tão fofo... Após mais alguns segundos nos separamos, muito corados e sem saber o que dizer um para o outro. Eu simplesmente me recostei em seu ombro e sussurrei:

– Eu... Eu também te amo... Ethan. - Sorri de leve e acabei por adormecer ali mesmo, junto de meu amigo de infância e primeiro amor.