Olhos da Meia-noite escrita por Débora Falcão
Notas iniciais do capítulo
Todos os personagens são fictícios, criados por mim. Algumas coisas são retiradas do livro Vampiro - A Máscara, mas muitas delas são criações minhas.
Aquela noite Milena precisava sair. Por mais que negasse a si mesmo, precisava vê-lo. Ricardo não saía de sua mente. Mas precisava entender que não existem relações amigas entre humanos e vampiros. Isso não pode acontecer. Mesmo assim, queria ir. Não entendia o que estava acontecendo. Apenas queria ir. E foi.
Entrou no bar. No mesmo instante, todos os olhares voltaram-se para ela. Sentiu medo. Afinal, tinha provocado uma confusão da outra vez. Caminhou para o balcão e sentou-se. O barman se aproximou.
— Você é a garota da confusão da outra noite, não é?
— Olhe... eu sinto muito se causei algum estrago...
— Estrago? Você me livrou do cara mais barra pesada da região!
Milena olha em volta.
— Fala do... do Cachorrão?
— Sim.
— Como pode ter tanta certeza que se livrou dele?
— Ele jamais voltará a esse bar. Foi desmoralizado por uma mulher. Só vai voltar se for pra acertar as contas com você. E na frente de todo mundo.
Milena respira fundo.
— Pois que venha.
O barman olha para a garota a sua frente. Tão bela, tão forte, tão corajosa.
— Bem, não vai pedir nada?
— Não... eu... na verdade, eu vim apenas ver alguém...
Milena olha em volta. Rapazes abraçam moças, outro grupo bebe e sorri em uma mesa, o bar cheio, muitos conversam.
— ... mas acho que perdi meu tempo...
— Talvez não.
O barman aponta para a porta, por onde entra Ricardo, e se aproxima de Milena.
— Imaginei que te encontraria hoje.
— Com licença... se precisarem de alguma coisa...
O barman se afasta, deixando os dois sozinhos no balcão.
— É, eu vim...
— A galera toda tá falando bem de você.
— Ué, de mim? Por quê?
— Porque você botou Cachorrão prá correr. Dá só uma olhada. Tá todo mundo ligado em você.
Milena olha em volta. Alguns rapazes numa mesa fazem sinal amistoso. Uma garçonete passa e sorri. Dois garotos em outra mesa cochicham.
— Não entendo. Eu fiz a maior confusão aqui ontem...
— Aqui toda noite tem confusão. E era sempre por causa dele, de Cachorrão. Agora que você botou ele pra correr, a galera gostou. Tu tá com a maior presença nesse bar, Milena.
Milena sorri.
— Por falar nisso, tem algumas coisas daquela noite que eu não me lembro. A gente saiu do bar... você me levou em casa?
— Sim, levei. Você tava... com muito sono e... eu tomei a liberdade de te ajudar a subir e... desculpe se eu fui intrometida...
— Claro que não... obrigado.
Milena olha em volta novamente. Os dois garotos na mesa continuam cochichando. Um deles olha para ela e seus olhos brilham. Respira fundo.
— Vamos sair daqui.
— Oxe, por quê?
— Confie em mim. Vamos.
Os dois se levantam e saem do bar.
E assim se sucederam as noites. Milena se encontrava com Ricardo no bar, e tentava evitar outros vampiros, mas era impossível. Somente naquele momento ela percebeu o quanto eles eram muitos e estavam em toda a parte. Chegou a brigar, muitas vezes, com alguns deles por causa de Ricardo. Ela não imaginava o que estava acontecendo, até falar com Lady Anthonya.
Milena pára na porta da biblioteca, lady Anthonya escreve algo na mesa.
— Não fique aí parada, filha. Entre. Quer me dizer alguma coisa?
— Sim. Na verdade, é um pedido.
— Qual?
— Quero trazer um humano pra cá.
Lady Anthonya não conseguia sequer ouvir.
— O quê? Um humano? Nosso rebanho já está abastecido, não estamos precisando. E como estamos controlando a Shufi, não vamos precisar de humanos tão cedo.
— Mãe, não é isso.
— E o que é então?
— Bem... ele é um amigo e...
— Ficou louca?! Não existe amizade entre humanos e vampiros! É simplesmente impossível! O que está acontecendo, Milena?
— Ele é meu amigo, o conheci há algum tempo e gostaria que ele conhecesse a senhora...
— É um rapaz. Qual o nome dele?
— Ricardo... mas como sabe que é um rapaz?
— Pela maneira como está agindo.
— Como assim...
— Está apaixonada. Pior: por um humano! Isso é impossível! Os vampiros não podem se apaixonar!
— A... a... apaixonada? Mas...
— Não pode trazê-lo aqui. É perigoso. Não atingimos, nem eu nem você, a maturidade humana. Somos como animais, somos vampiros, temos instintos sanguinários. É perigoso para este humano estar entre nós.
— Entendo.
— Ele... ele já viu você... da forma que realmente é agora?
— Sim.
Lady Anthonya teria um ataque do coração se ainda fosse humana.
— Mas não se lembra. Quero dizer... tenho evitado vampiros, mas na primeira vez não pude fazer nada. Dois Malkavianos atacaram e eu tive de protegê-lo.
— Daí você usou a perda de memória seletiva.
— Sim.
— Tome cuidado. Primeiro com esse humano. Ele não pode saber quem você é. A melhor forma de se esconder é deixar dúvidas sobre nossa existência.
— Sim, mãe.
— Em segundo lugar, tome cuidado com estes vampiros. Alguns deles são fortes demais, outros, mesmo fracos, podem aparecer em bandos, e não haver chances contra eles. Esses Malkavianos, mesmo sendo mais fracos, podem aparecer novamente. Cuidado, essas castas nunca esquecem o mal que fazemos.
Milena não entendia naquele momento, mas a Jyhad estava lá, viva, forte. Até mesmo vampiros como Lázarus eram letais peões nas mãos dos anciões. A Jyhad não era simples guerra entre vampiros. Era um poderoso jogo entre os mais antigos vampiros despertos.
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