Com isso a deusa sumiu. Eu estava aliviada por Nêmesis ter nos ajudado, mas intrigada por não entender claramente o comportamento da deusa. Era um enigma e eu gosto de desvendá-los, quando tudo isso acabasse, me focaria em encontrar uma resposta cabível. Também estava com raiva, Nêmesis tinha ameaçado Percy, e isso me fez ficar irritada, muito irritada.

  - Annabeth? – Percy chamou – Acho que não temos escolha. Vamos achar os pertences de Neleu e Pélias.

  O castelo era gigante, não sabíamos por onde começar. Chegando no corredor principal do térreo, percebemos que não tinha jeito, teríamos de nos separar. Percy foi para o segundo andar, Thalia ficou no térreo e eu subi para o terceiro andar.

  Eu não pude deixar de prestar atenção à arquitetura do local, era tudo maravilhoso, planejado para que os cômodos ficassem bem iluminados e com uma delicadeza incrível. Mas tinha um problema, era tudo brilhoso demais, alegre demais...chegava a ser estranho, um pouco medonho.

  O pior é que eu não sabia o que procurar. O que Tétis roubara? Eu não fazia ideia...Seriam armas? Objetos pessoais? Eu examinava cada detalhe dos quartos em busca do item não-identificado. No fim de um corredor eu me deparei com uma porta imensa de carvalho. Eu abri, e quando olhei para o interior não pude acreditar.

  Era uma biblioteca. Não só uma biblioteca, uma super biblioteca. O único cômodo que parecia verdadeiramente agradável até agora, sem aquela felicidade exagerada. Eu fiquei sem ar, as prateleiras estavam lotadas, cheias de livros em latim, inglês, grego, francês, japonês... O lugar era oval, lustres de cristal pendiam do teto. Para alcançar os livros do alto eram necessárias escadas. Janelas gigantes estavam por toda parte.

  Depois de um tempo observando decidi entrar. Comecei a folhear livros e mais livros, eu não sabia quanto tempo havia se passado, na verdade, eu tinha esquecido de que estava em uma missão...aquela biblioteca fez isso comigo.

  Subitamente me lembrei do meu propósito. Voltei a procurar pelos artefatos de Neleu e Pélias. Eu levaria dias procurando naquele lugar.

  Um livro estranho me chamou a atenção, ele estava no canto, tinha uma capa velha, ao contrário de todos os outros. 

  Fui andando em sua direção, esperava descobrir o assunto... O nome estava escrito em uma linguagem ainda anterior ao grego antigo. Quando toquei em sua capa o mundo virou de cabeça para baixo.

  Era como se eu estivesse sendo puxada para algum lugar, tentei gritar, mas a minha voz não saiu.

  Thalia's POV

  Eu tinha ficado com o térreo enquanto Percy e Annabeth subiram. Tudo naquele castelo era perfeito, perfeito demais. Aquele lugar era sinistro. Parecia com aqueles castelos de princesa dos contos de fada que eu detestava quando criança. Tudo feliz e colorido... urgh. Passei por um corredor cheio de imagens de nereidas. Isso me fez pensar em Mare Laudes e Nico, que tinham ficado para trás. 

  Balancei a cabeça, não podia me preocupar com isso agora. Iríamos conseguir salvá-los, eu tinha certeza. Ou queria ter...

  Continuei andando até que vi algo que me fez parar. Um quadro das caçadoras de Ártemis, com a legenda de 1690. Ver aquilo me fez sentir saudades, sentia falta das caçadoras e de Lady Ártemis... Onde elas estariam agora? Alguns dos rostos do quadro eram conhecidos. Emma, Evangeline, Adelina, Katherine, Alice... Elas já estavam com Ártemis há bastante tempo.

  Continuei meu caminho, a procura de algo desconhecido. Já que Nêmesis quis nos ajudar, por que ela não disse quais itens foram roubados? Isso teria facilitado a nossa vida. 

  Suspirei. E desde quando algo era fácil na vida de semideuses?

  Percy's POV

  Aquele castelo me dava arrepios. Era como se uma fada dançante fosse sair de algum lugar e me acusar de estar estragando o visual do local. Seria um lugar legal se não fosse tão... Como posso dizer... Alegre?

  O terceiro andar era imenso, eu não sabia por onde começar a procurar. Tentei um quarto, as paredes eram cor-de-rosa e ele estava vazio. Estranho.

  Entrei em outro cômodo, esse tinha vários instrumentos musicais. Muitos mesmo. Até aqueles que eram usados na Grécia Antiga... um filho de Apolo saberia os nomes, acho que Annabeth também.

  Avistei uma porta esquisita, torta, roxa e cheia de brilhos. Eu não tinha a mínima intenção de entrar ali, mas precisava procurar em todos os lugares.

  A sala era estranha, meio hippie, uma névoa sinistra no chão, como se tivesse uma máquina de fumaça por perto. Muitos pufes roxos e verdes e uma parede com as cores do arco-íris, onde estava fixado um espelho que devia ter o dobro da minha altura.

  Já ia sair do lugar quando uma luz cegou meus olhos. Percebi que ela vinha do espelho.

  A luz ficou mais fraca e uma série de imagens surgiu no vidro.

  Arquejei.

  Imagens minhas, daminha vida. Coisas que eu nem me lembrava, como o meu fracassado aniversário de nove anos, onde só eu e minha mãe comemoramos. Meu primeiro skate, o dia em que me perdi no central park... A visita do meu pai.

  Outras visões eram bem particulares... O beijo de Annabeth no Monte Santa Helena, brigas, Rachel, a morte de Charles Beckendorf, o dia em que eu e a Sabidinha começamos a namorar, e assim ia...

  Sentei-me, hipnotizado pelas imagens. Aquilo era muito esquisito, um espelho que mostrava a sua vida.

  Saí do transe quando ouvi alguém me chamar. Era Thalia.

  - Eu já acabei no térreo... não consegui encontrar a Annabeth, ela desapareceu - ela parecia preocupada. Quando olhou o cômodo, ficou desconfiada - O que estava fazendo sentado aí?

  As imagens tinham desaparecido quando ela entrou. Eu fiquei um tempo em silêncio, ainda atordoado com o que vira, antes de conseguir responder.

  - Nada, eu só... me cansei. - teria contado tudo para ela, mas não era importante agora, tinha que encontrar Annabeth.

Nós procuramos a Sabidinha por toda parte... ela não estava em lugar nenhum. Eu temia pela minha namorada.