Quatro Anos Depois. escrita por mandikasilva


Capítulo 7
Os projetos.




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Naquela noite dormira mais do que na anterior, mas quem dormiu 4 anos parece querer passar mais tempo acordado. Bem, Hermione apenas conhecia o seu caso. Ela seria igual aos outros?

Mas aquele era um dia especial para ela: a sua avó (a única que tinha) visitara-a. Fora uma surpresa muito agradável, pois Hermione adorava a avó. Talvez porque ela era mais velha e sabia mais acerca da vida do que os seus pais. Era uma grande amiga e excelente conselheira; com ela falou acerca da do que se passou no mundo mágico durante a guerra e a senhora transmitia- lhe uma paz...

- Custou-me tanto perder o Ron!- disse ela durante essa conversa- Já viu o que é morrer daquela maneira? Acho que preferia saber exactamente o dia e a hora da minha morte!

- Não digas isso, querida- respondia a avó, puxando aquele xaile fininho que usava durante todo o ano- Viverias toda a tua vida obcecada com essa data; de que serve viver se não aproveitarmos esse tempo?

Sempre assim, a avó; Hermione desejava ser, um dia, igual a ela. Sempre com uma palavra amiga para dizer, um conselho para oferecer; uma amiga 5 estrelas. Até chegou mesmo a acompanhar a neta ao mundo mágico, onde Hermione seguiu para Hogwarts. Teria de retomar os estudos se queria ser uma bruxa a sério!

Mais uma vez, teve de se separar da família após o almoço para entrar naquele mundo aparte, ao qual também pertencia. Ao entrar no colégio, tentou não reparar no memorial á entrada, mas o olhar fugiu para ele. Mais precisamente, para o nome de Ron. Quando é que as saudades a deixariam respirar livremente?

Hogwarts continuava deserta, o que se tornava um pouco confuso, visto que Hermione apenas a conhecia cheia de gente. Cada passo que dava nos imensos corredores do castelo mais pareciam passos num local desconhecido e estranho do que na escola que a acolhera durante anos!

- O professor Dumbledore está no escritório- disse a professora McGonnagal, correndo apressadamente por ela- "Paz e esperança" é a senha.

Hermione acenou com a cabeça, mas tinha a impressão que McGonnagal nem reparara: corria pelo corredor como se fugisse de um incêndio! A professora estava estranha; mas quem não andava? Poderia ainda não ter visto tudo o que o novo mundo lhe guardava, mas descobrira já o suficiente para perceber que nada era igual àquilo que era antes da guerra. Agora, só precisava de encarar isso!

Subiu até ao escritório do director e, após a permissão dele, entrou. Dumbledore pediu-lhe que esperasse um instante: a cabeça pequena e vermelha de raiva de Fudge encontrava-se na lareira. Percebeu palavras ou expressões soltas como «Estamos num mundo de loucos», «É precisa calma», «Motins», «Contestações», mas as boas maneiras foram mais fortes que a curiosidade; Hermione esperou pacientemente pelo fim da conversa.

Ficou 10 minutos á espera que Fudge se fosse embora. Ao fim desse tempo, Dumbledore chamou-a.

- Peço desculpas, Hermione. A coisa está preta; muito preta!

Fawkes, a bela fénix do professor, continuava no poleiro que lhe pertencia; os antigos directores do colégio dormitavam nas molduras. Igual àquele que sempre conhecera! Hermione e Dumbledore sentaram-se e ela decidiu ir direita ao assunto:

- Professor, vim cá por causa dos estudos, gostaria de terminar o sétimo ano quanto antes!

- Bom, se está assim tão desesperada poderá ingressar em Hogwarts já neste ano. O problema é que o ano lectivo inicia-se em Setembro e já é quase Agosto... Pensei que só queria regressar á escola quando estivesse já habituada ao novo mundo!

- De certeza que seria o melhor!- Hermione mirou os olhos azuis do feiticeiro- Mas tenho 21 anos; sinto-me um pouco excluída ao pensar que não sou uma bruxa de verdade!

- E sente-se verdadeiramente preparada? Os alunos de Hogwarts conhecem-na; todos sabem o seu nome, a sua situação. Tirando os alunos que entrarem pela primeira vez e não sejam de famílias mágicas! Está mesmo preparada para encarar tudo?

Respirou fundo.

- Estou! O meu maior objectivo é terminar os estudos, nem que me tenha de trancar numa torre para ninguém me ver!

Dumbledore sorriu e ajeitou os óculos de semi-lua. Sabia que Hermione era corajosa, sabia que ela iria conseguir enfrentar este desafio, sabia que ela possuía forças para isso! Porque Hermione podia ainda não ser uma mulher adulta, mas já não era a menina que se lembrava há 9 ou 10 anos atrás! O quanto as crianças cresciam! Pareciam passar apenas horas e aqueles pequenos que brincavam e se divertiam nos jardins imensos do castelo cresciam repentinamente! Um dia, aparecem casados e com filhos e as pessoas sentem-se envelhecer. Dumbledore sentia-se velho; ele sabia que era velho!

Já Hermione não estava totalmente certa do que fazia quando entrou naquele escritório. Queria completar os estudos, sim, sempre fora boa aluna e sentia-se um pouco envergonhada por pensar que tinha 21 anos e não podia fazer magia livremente, como outro feiticeiro da sua idade! Mas estaria pronta para enfrentar toda a gente tão pouco tempo depois de ter acordado após 4 anos? Estaria realmente apta para encarar todos os novos factos do pós-guerra que a esperavam naquele lugar? Quando Dumbledore lhe fizera essa pergunta, hesitou um pouco, ainda estava indecisa (estaria, não estaria?); mas percebeu que estava, percebeu que precisava! Porque achava que nada poderia ser pior do que aquilo que já descobrira fora da escola e porque achava que assim poderia perceber melhor o mundo e habituar-se a ele. Se queria fazer isso sozinha, achava que era aquele o caminho certo!

Ficou então decidido que a melhor aluna do seu ano iria regressar a Hogwarts no 1º de Setembro. Visto a sua situação, foram-lhe dadas algumas regalias. Hermione não as aceitou; Dumbledore achou que era melhor começar o ano lectivo para depois decidirem. E assim, ambos chegaram a acordo.

- Então, espero por si novamente em Setembro!- disse ele, alegremente.

- Tudo bem! É bom regressar outra vez, e peço desculpa se o interrompi com o Ministro!

- Não, o Fudge não sai daqui, deve julgar que é a casa dele! Também, coitado, as coisas não andam muito bem para ele!- Dumbledore baixou a voz- A população não gostou muito de certas medidas que ele tomou durante a guerra, nem vale a pena dizer quais- o que lá vai, lá vai! A verdade é que os britânicos estão a organizar motins e revoltas para retirar Cornelius do poder. Ele tem medo do futuro que se aproxima.

Não foi coisa que espantasse Hermione! A atitude que Fudge tomara desde o seu 4º ano, quando Voldemort regressara ao poder, já a desiludira bastante; não custava nada acreditar que ele tomara medidas descabidas para tentar acabar com o conflito bélico.

Ficaram juntos mais uns minutos, conversando acerca do próximo ano. Mais tarde, Hermione saiu do escritório, enquanto Dumbledore permaneceu à secretária, resolvendo assuntos urgentes. Desde que acordara, que ela só o via trabalhar! Será que o professor não tirava férias? Lembrou-se quando ela, Harry e Ron se juntavam e magicavam as férias dos professores: desde Dumbledore a esfregar o creme no nariz longo até Snape de calções de banho e de touca para não molhar o cabelo, nenhum faltava! Se todos os Verões fossem como aquele que presenciava, estavam redondamente enganados!

- Por aqui outra vez, Hermione?

Hagrid caminhou até ela após esta sair do escritório. Sorriu-lhe.

- Vi tratar dos meus estudos, Hagrid. Quero obter o diploma!

- Tu mereces. E quando voltas a Hogwarts?

- Já Setembro! Quando mais depressa, melhor, meu amigo. Estás a ver-me com 40 anos a ter aulas no meio de miúdos de 17? Já um pouco confuso ter 21... sem saber o que é viver o fim da adolescência! Não viver os 18, quando damos cabo do carro de família ao tirar a carta de condução- é o que diz o meu pai.

- Carro?

- É o meio de transportes para os Muggles!

Ambos caminhavam pelo castelo, enquanto conversavam. Hagrid perguntou-lhe o que tinha acontecido nos dias anteriores e ela conseguiu dizer-lhe tudo, inclusive falar-lhe da discussão que tivera com Harry por causa da irmã mais nova dos Weasleys. Admitiu estar arrependida, mas o guarda dos campos conseguiu ver um brilho nos olhos de Hermione quando falou na reconciliação.

- Mas continuam a namorar, não é?- perguntou ele, assim que a rapariga se calou.

- Não... nesta altura preciso de tempo para mim, tempo para compreender, tempo para crescer. Por dentro, claro! Quando tudo passar...talvez voltemos...Ah, eu não sei, é tudo tão diferente...tudo mudou, tudo poderá mudar!

- E foi essa a decisão correcta?

- Foi!- Hermione não tinha dúvidas- Tanto para mim, como para ele. Penso que não percebe o que lhe diz o coração, está dividido entre mim e a Ginny! Parece impressionante que ainda há uns dias estava a discutir por causa disto e agora estou...calma! Mas claro que vou ficar triste se o perder, qualquer pessoa ficava, acho eu.

O meio-gigante passou um comprido braço pelo ombro da sua "protegida". Tinha pena dela! Pena pela discriminação que tanta vezes era vítima por vir de uma família Muggle; pena por ter passado quatro anos a dormir sem que ninguém a conseguisse acordar; pena por finalmente acordar, mas num mundo diferente e muito pior que aquele que deixara; pena por ter perdido o melhor amigo; pena por já não ter namorado; mas principalmente, pena se ela não se aguentasse com tudo aquilo e fosse abaixo quando mais precisava de estar no seu máximo! Se fosse ele, já teria desistido há muito; mas era preciso admitir que Hermione era mais forte que ele, a nível psicológico!

- Quando vieres outra vez, não te largo um minuto!- disse Hagrid, sorrindo.

- Obrigada, mas...- Hermione olhou o amigo nos olhos- Eu preciso de tempo para mim. Preciso de pensar, de compreender, crescer, encontrar um lugar forte dentro de mim onde deposite as minhas forças e a minha confiança. E preciso de estar só para isso! Mas agradeço-te muito por te ofereceres!

Hagrid parecia um pouco triste pela decisão dela, mas compreendeu. Apesar da idade e do corpo de mulher, Hermione continuava a ser uma menina por dentro, embora ela talvez nunca o fosse admitir! O que ela admitia era que queria crescer no novo mundo sozinha, sem a ajuda de ninguém, sem ter alguém a protegê-la; na escola, existiam professores, mas recusaria a ajuda deles. Seria ali que ela iria crescer de verdade; seria ali que iria recuperar os quatros anos perdidos. Tinha de conseguir!

Viraram uma esquina e entraram no corredor da ala hospitalar. Hermione teve um rápido vislumbre daquele corredor cheios de macas, onde se encontravam feridos da guerra, esperando pela ajuda que não vinha! Não conseguiu abrir a boca, mas já não precisava de dizer mais nada. O silêncio tomou conta do local.

Alguém o roubou ao abrir a porta da enfermaria. Era a segunda vez que Hermione encontrava Malfoy em tão pouco tempo! Susteu a respiração ao ver de novo o rapaz na cadeira de rodas. Era chocante!

- Outra vez, Granger? Andas numa de seguir-me, é?- perguntou ele, com os olhos azuis a brilharem de fúria.

Ela queria responder-lhe, mas Hagrid colocou-lhe uma mão no ombro para a impedir e falou:

- Cala-te, Malfoy, e desanda daqui! Sabes as razões porque aqui estás, não estragues tudo o que te resta! Fecha a boca nos corredores e apenas entras e sais da enfermaria.

- Não preciso da vossa caridade, prefiro estar morto a estar aqui, sabes bem isso!

- Então morre; ninguém vai sentir a tua falta!- disse o meio-gigante, mais seco que o deserto do Saara.

Malfoy engoliu as palavras e virou as costas. A cadeira andava sozinha, como Hermione reparou.

- Já o encontraste antes?

- Ontem, depois do almoço. Comecei a andar por aí e fui parar a um lugar estranho, que vim mais tarde a saber ser a antiga moradia de Devoradores da Morte. Ele estava lá!

- Perdeu tudo nesse sítio: a mãe, o pai, a riqueza, deixou de andar,...

- Que lhe aconteceu?

- Não sei muito bem, mas disseram-me que lhe foram dirigidos vários Cruciatus. Apanhou os feitiços dos próprios colegas! Meio adoentado e ferido, caiu num buraco qualquer...Agora não anda! Foi abandonado pelos seus e Aurors trouxeram-no para aqui, desmaiado. Dumbledore deu-lhe uma segunda chance e ajuda-o. Existem estudos para encontrar a poção que corrija estes defeitos; Malfoy vem cá de vez em quando experimentar uma nova. Nada resultou até agora!

- Coitado!- murmurou Hermione.

- Coitado?! É um ingrato, diz que prefere morrer! Se fosse eu, exilava-o! Agora, não anda aí com o nariz empinado, como se fosse uma dádiva do céu. Não tenho pena dele!

- Eu sei que ele é mau, Hagrid, mas...mas até a família ele perdeu! Decerto que ele gostava dela...

- Não sei, mas a mãe morreu devido a ele: colocou-se á sua frente no ataque, segundo o que me contaram. Malfoy ficou bastante chocado!

- Vês?

Hermione olhou a direcção que Malfoy seguira. Esperava que ele ainda não tivesse deixado o castelo, pois tinha uma palavra a dizer-lhe. Virou costas a Hagrid e deu passos no corredor imenso. O guarda dos campos chamou-a:

- Onde vais, Hermione?

- Fazer algo que me ocorreu! Preciso de apanhar o Malfoy!

- Queres que vá contigo?

Ela olhou-o, a sorrir.

- Não, obrigado! É melhor fazê-lo sozinha. Sei quem ele é, mas já não sou uma menina. Não vou chorar se ele me chamar Sangue de Lama; sou adulta o suficiente para lhe dar um par de estalos!

Ofereceu um sorriso cúmplice ao meio-gigante e seguiu o seu caminho. Agora, só esperava que o malvado Slytherin ainda não tivesse abandonado Hogwarts; apressou o passo para ainda o apanhar.

*Continua...


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