... poderia ter sido.

            Annie está atrasada para o trabalho.

            A diretora da escola andou brincando com a tabela de horários e agora ela tem uma turma no primeiro período da manhã para ensinar a colocar os acentos nos lugares certos. Ela tornou-se uma pessoa mais séria. Tornou-se professora e, bem, ela gosta do que faz.

            Também deixou coisas para trás.

            E pessoas.

            Porque, como dizem, tudo um dia passa. Ou quase tudo.

            Ela agora tem um gato e um namorado. Persie, o gato, tem a estranha — assustadora, na verdade — mania de se esconder em cima dos armários e guarda-roupas, e Annie pensa a todo momento que um dia o maldito gato ainda a matará do coração. Dave, o namorado, é o cara que a ensinou a jogar bilhar e que tem o par de olhos verdes mais bonito de toda Nowhere Town. Ela gosta de quando ele a chama de docinho e a puxa para a cama.

            Faz um ano e meio que eles moram juntos.

            E dois desde que ela deixou aquele cara para trás.

            Às vezes, quando chove, ela senta na porta da varanda com uma caneca de café amargo nas mãos e sente aquela velha dor, aquela saudade que, no fundo, nunca pôde ser totalmente enterrada. Às vezes, no escuro do quarto, ela se encolhe nos braços quentes de Dave e engole a vontade de chorar por coisas que nunca teve.

            E às vezes ela ainda pensa naquilo que...