POV Annie

Restrições... então era disso que eles falavam... meus poderes não funcionam completamente perto dele, é como se ele me deixasse fraca. Mas como? Com ele eu me sinto completa.

Um terrível pensamento me ocorreu e eu logo o afastei. Não, nada pode me afastar do Nico, não.

Enquanto pensava tudo isso, eu estava atordoada demais, nem percebi que ia me afastando dos meninos sem mesmo falar nada.

Eu... preciso de alguém pra conversar, pra desabafar tudo isso que anda rondando minha cabeça. Fui para o meu chalé pensar um pouco, mas havia alguém me esperando na porta.

– Rachel?- perguntei me aproximando.

–Ah, oi Annie. Lembra que ontem eu tava precisando falar com você?- ela falou simpática mas havia certa angustia em seu olhar.

–Ah, verdade. Pode entrar então.- abri a porta do chalé e nós entramos.

Se eu já estava precisando de alguém pra conversar, quem melhor que um oráculo hein? Pois é.

Mas ela não parece com um oráculo, parece uma pessoa normal.

–Você não tem nada a ver com um oráculo.- falei sentando na cama a convidando para sentar também.

Ela riu com minha observação.

–Esperava que eu fosse um esqueleto mofado e assustador sentado numa cadeira velha de porão?

– N-Não! Também...- tentei me explicar um pouco envergonhada.

–O antigo oráculo era assim mesmo sabe, – arregalei os olhos- Bem melhor agora né?

Então nós rimos.

– Mas então...- ela começou se levantando da cama.

Ela começou a andar pelo quarto, impaciente e observadora enquanto media as palavras que iria falar.

– Eu... tenho que ter cuidado com o que falo, mas alguma coisa me atraiu pra cá, eu senti que deveria vir aqui e...

Ela parou bruscamente e encarou um baú de frente à minha cama. Ela a olhava paralisada como se aquilo fosse um peça solta de um quebra-cabeça. Mas era só um baú, sempre esteve ali desde que cheguei, nunca reparei nele direito e nunca tentei abrir.

Então Rachel se curvou como se levasse um soco na barriga, seus olhos se iluminaram num verde fantasmagórico e sua voz saiu duplicada como se duas Rachel’s falassem ao mesmo tempo.

Se eu tava com medo? Magina gente...

– “O poder de um coração destranca até um das armas mais afiadas, mesmo que ela esteja trancafiada diante de seu leito.”- ela falou e meu coração palpitou.

Então ela voltou ao normal, como se nada tivesse acontecido.

–A-A... minha imaginação me disse isso, mas...- eu falava apavorada- e-eu, eu.. acho que entendi.

–Entendeu o que? Quem lhe falou isso? Sua imaginação? Annie.. você tá bem?

Agora eu entendi o presente de meu pai.

– O poder de um coração – falei tirando o colar do meu pescoço enquanto Rachel me observava- destranca até uma das armas mais afiadas, mesmo que ela esteja trancafiada diante de seu leito.

Falei enquanto ia em direção do baú, na frente do meu “leito” tendeu gente? Sacou as parada? É, eu também.

Então abri o colar de Morfeu que minha mãe me deu- em forma de coração- e coloquei na entrada da fechadura. Então com um clique o baú se destrancou. Com medo, eu olhei o que havia dentro.

– A Adaga de Bronze de Morfeu!- Rachel falou ao se aproximar de mim, ela estava admirada- Uma das armas mais afiadas e perigosas do mundo grego.

– Cê tá falando sério? Essa faquinha aqui? Puff!- debochei.

–Annie, não brinca, isso foi um presente de seu pai. Uma honra. Essa adaga nunca pertenceu a nenhum semideus... até hoje.

–Oh... ok.

Examinei a lâmina com cuidado, ela não estava empoeirada, achei estranho. Ela era realmente linda, era feita de ouro celestial, brilhava tanto que chegava a exalar pequenos feixes de luz, agora sim eu tenho minha própria arma.

Fechei os olhos e em uma prece silenciosa falei “ Valeu, Pai”

– Você deve ser muito especial Annie... Presentes como esses só são dados a semideuses realmente especiais- Rachel falou.

–E onde você quer chegar com isso? – falei desconfiada ao sentar-me na cama ao lado dela.

– Annie, eu sou um oráculo – agora a novidade?- e eu sei que você está precisando falar com alguém, não sei o que está escondendo de todo mundo, só prevejo profecias e ações, não pensamentos. Esses dias venho tendo visões da nova campista, a criança de pele clara e cabelos negros, ela irá terá uma grande importância, posso sentir isso,também tem outras muito ruins, ainda embaçadas em minha mente. Algo relacionado à você e sua escolha. Ela está chegando Annie...

– É, eu sei, ela me disse e...

– Ela quem?

– Bem, acho melhor eu começar do começo... Eu... nos últimos tempos, tenho visitado uma espécie de lugar só meu enquanto durmo, isso foi antes de eu saber que era Filha de Morfeu e toda essa coisa de semideusa –olhei pra Rachel e ela assentiu me incentivando a prosseguir- Então... lá eu tenho uma espécie de orientadora, a minha imaginação, eu sempre posso fazer o que quiser lá, mudar o que quiser, dá um tempo do mundo sabe? É maravilhoso, me sinto em casa.

– Sim... continue. – Rachel falou.

– Ok... então, na ultima vez que eu fui lá havia algo diferente. Tudo estava quieto, minha imaginação disse que as pessoas, ou coisas sei lá, que vivem lá estavam nervosas e ansiosas por que “ele” estava chegando...

– Ér... estranho- Rachel estava nervosa, e com certeza me escondendo alguma coisa.

– O que foi? Você ta escondendo alguma coisa de mim.

– Primeiro preciso saber de tudo, para ter certeza, é só isso que tem pra me contar? – ela perguntou.

– Não, bom, agora que você já sabe que eu tenho um mundo de sonhos cheio de criaturas da Barbie e que minha imaginação fala, deixa eu ver... ah, claro! Eu acho que posso ler mentes, nada demais.- falei dando um riso nervoso.

Ela arregalou os olhos, mas não via surpresa neles, era como se ela já suspeitasse disso e tivesse com medo da confirmação.

– Que?!

– É... tipo, eu fico confusa por que eu consegui ler a mente do Liam e do Louis, mas do Nico... nada. Então pouco antes de vir pra cá e lembrei do que Annabeth me disse uma avez sobre...

– A barreira de Hades, e consequentemente de seus filhos- ela me completou – Hades não sonha, seus filhos sonham mas tem uma barreira que impede ou dificulta que os poderes do Deus dos Sonhos funcionem corretamente.

– É, essa coisa aí mesmo. Mas... eu vou ter que me afastar do Nico? – perguntei assustada.

Ela deu um sorriso acolhedor.

–Você se acertou mesmo com ele não foi? – ela perguntou e eu assenti- Mas eu acho que não é preciso se afastar dele, você só fica mais fraca e...

–Eu não me importo – me antecipei – com ele eu sou feliz.

– É...

Ela ficou pensativa então desejei ler a mente dela.Consegui, mas... ela muda a cada segundo, novas palavras aparecem, novas figuras, nada é fixo, coisas do passado, do presente e do futuro se misturam.

Ela pareceu perceber o que eu fazia, acho que eu tava fazendo careta.

– Tentando ler a mente de um oráculo? – ela riu- Nada é fixo na minha cabeça então nem rola.

Eu ri.

–Mas de volta ao trabalho, sua história já acabou?

–Deixa eu ver... Bom, acho que sim, tudo tá muito confuso na minha cabeça é meio difícil me lembrar de todas as charadas que eu recebo...

Ela riu mas pude perceber que estava nervosa.

– Annie, eu sei tudo o que vai acontecer com você, posso ver seu futuro. Mas não posso te revelar o que tudo isso significa, não posso interferir na sua vida. Você vai ter que resolver e descobrir tudo isso sozinha, sinto muito... Mas espero ter te ajudado a clarear suas ideias.

– Ah... sim, eu estava precisando de alguém pra me escutar. Obrigada.

– Eu que agradeço, suas informações me ajudaram a entender mais as visões que ando tendo. Se prepare pra quando “ele” chegar.

Meu coração acelerou.

– Quando isso acontecer, sua escolha estará prestes a ser feita. Sempre há uma saída Annie, e... sei que alguém já te disse isso antes mas o sonho vive dentro de você Annie, não se esqueça disso.

Fiquei sentada e pensativa na minha cama enquanto Rachel saia do meu chalé.

Encarei minha adaga, em seguida apertei meu colar de coração e no mesmo instante senti saudade da minha mãe, vontade de conhecer meu pai, medo de ter que me afastar do Nico, medo da nova campista, medo da minha profecia, medo da minha escolha, medo do meu futuro...

Suspirei.

É... e eu pensava que resolver o Cubo Mágico era difícil.