Opposite escrita por Giovana Marques


Capítulo 26
Batalha da Orla


Notas iniciais do capítulo

Feliz Natal e Ano Novo, um poquinho atrasado pra vocês. Bom, o nome do capítulo diz tudo. Desculpem pela demora pra postar, tava muito complicado mesmo! Mas agora em Janeiro tô mais livre e vou postar todo domingo. Quando der pra terminar o capítulo antes do domingo, eu posto também. Espero que muitos não tenham deixado de ler por causa da minha enrolação :( Enfim, o capítulo está aí, espero que gostem! Um beijo e boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/243085/chapter/26

Encaro boquiaberta aos licantropos se posicionando em fileiras. Já estão transformados em lobo e parecem ter crescido muito em número desde que entrei na caverna para conversar com Blake. Analiso-os rapidamente e conto mais ou menos sessenta, o que me deixa bastante impressionada.

Estamos para o lado de fora da caverna, próximos ao acampamento dos lobisomens. Todos se preparam para a batalha que está por vir e confesso estar bastante nervosa, já que, muito provavelmente, será a primeira vez que terei de lutar contra Agramon.

– Preocupada? – Peter pergunta, bem ao meu lado. Ele deve ter notado o fato de eu estar calada demais, o que é raro.

Estamos em um canto, próximos a uma árvore bem grande que delimita o acampamento. Apoio-me nela enquanto espero Peter usar de sua magia para afiar a espada que roubei de Luke.

– Demais. – Confesso, encarando ao céu estrelado e ignorando a dor em meu estômago. – Enquanto estamos aqui, Luke, Nina, Jeremy e Serena estão sendo atacados por Agramon e seus demônios. Não é de enlouquecer?

– Com certeza. – Peter suspira. – Espero que estejam aguentando firme.

Peter me entrega a espada já polida e eu o agradeço. Acredito que um dia ainda consiga ser capaz de usar a minha própria magia para fazer esse tipo de coisa. Enquanto isso, tudo o que faço com meus poderes é destruir. Se bem que a única coisa que vou precisar fazer agora é destruir. Destruir o exército de Agramon.

Nossa atenção é desviada para os enormes e ferozes lobos, que se reorganizam em suas fileiras, como se fossem capazes de se comunicar por telepatia ou algo do tipo.

Fico tentando imaginar como minha mãe conseguiu, aparentemente com tanta facilidade, fazer com que os lobos a tratassem como sua líder.

– Como será que Blake conseguiu se aliar aos lobos?

– É uma história bem interessante. – Peter responde. – Rachel e Logan estavam me explicando enquanto você conversava com a sua mãe.

“Bom, como você já sabe, depois que Blake fugiu de Raven Place e deixou você no mundo humano, ficou totalmente indefesa. Ela precisava de aliados, de uma proteção. Então, por acaso, enquanto se escondia na Terra, sua mãe esbarrou com a alcatéia de Rodrik Langer.”

– Certo... E quem é esse cara?

– Se você tivesse sido criada em Opposite, certamente teria ouvido, durante as aulas teóricas do seu treinamento, sobre Langer. – Peter me deixa levemente aborrecida com o comentário, mas continua a explicar. – Ele era um licantropo muito sábio e líder de um dos grupos mais fortes de lobisomens que já existiu. Entretanto, sua alcateia esteve desaparecida nos últimos anos, depois de sua morte.

“Enfim, diferente dos feiticeiros, a maioria dos grupos de lobos não possuem uma moradia fixa. São nômades que alternam entre certas ilhas Opposite e a Terra. Por isso que Blake os encontrou no mundo humano.”

“Langer estava muito velho e logo iria falecer. Então, ele fez uma proposta à sua mãe: Se ela conseguisse quebrar a maldição da Lua Cheia de todos os lobos da alcatéia, poderia liderá-la quando Rodrik viesse a morrer.”

– Como assim quebrar a maldição da Lua Cheia?

– Normalmente, aqueles que viram ou nascem lobisomens possuem uma ligação com a Lua. São obrigados a se transformar somente quando é noite de Lua Cheia. Normalmente, único capaz de se transformar fora desse período é o líder. – Explica. – Eu não sei como, mas Blake conseguiu criar um encantamento capaz de quebrar a maldição dos lobos da alcatéia de Rodrik. Eles se transformam exatamente quando querem.

– Mas hoje é noite de Lua Cheia. – Digo, apontando para o céu.

– Pura coincidência. – Peter sorri. – Se não fosse, os licantropos estariam em forma de lobo do mesmo jeito.

– Interessante. – Digo, encarando cada um dos grandes e ameaçadores lobisomens, bem à minha frente.

– Com certeza. – Peter concorda. – Depois, Rodrik acabou cumprindo a sua promessa. Logo após seu falecimento, a alcatéia passou a obedecer Blake. Eles tinham uma dívida para com ela, afinal.

Exatamente quando Peter termina de falar, Blake sai da caverna, guiando um cavalo alado negro, que sinceramente, não sei de onde surgiu. Ela também está acompanhada por dois outros lobisomens que a escoltam. De repente eles param de seguí-la e ela anda até um canto qualquer com seu cavalo. Passa a me encarar com seus olhos azuis, como se quisesse falar comigo, o que me deixa inquieta. Ainda mais inquieta, quer dizer.

Caminho até Blake, mas quando estou bem próxima dela o que passa a chamar minha atenção é o cavalo. Ele é grande e majestoso, e suas asas completam a sua beleza mística. É primeira vez que chego perto de um cavalo alado e confesso ficar encantada, o que não passa despercebido aos olhos de minha mãe.

– Este é Nightmare, Emily. – Blake sorri ao me dizer. – Pode tocá-lo.

Com um certo receio, aproximo-me do animal e passo a acariciar sua crina negra com minhas mãos. Nightmare faz um movimento suave com um pescoço, dando a entender que gosta de meu carinho.

– Ele é lindo. – Comento, boquiaberta.

– Também é muito eficiente em combate. – Blake revela. – Já faz um bom tempo que é meu parceiro de guerra. – Ela faz uma pausa sugestiva e eu passo a imaginar se está cogitando a ideia de me deixar utilizar Nightmare na batalha que se aproxima. – Mas apesar de tudo, não acho que você deva utilizá-lo no combate contra Agramon e seus demônios.

– Não? – Questiono, levemente desapontada.

– Não. – Ela confirma. – Na verdade, acho que aquele filhote de dragão seria perfeito para você nessa batalha. Para te ajudar a invocar fogo, claro. Afinal, você acabou de descobrir que controla esse elemento. Não vai ser fácil produzí-lo a partir do nada tão cedo, Emily.

– É, faz sentido. – Aceito, confiando na opinião de Blake. Ela tem muito mais experiência sendo uma feiticeira do que eu, afinal.

– Tem outras duas coisas que eu queria falar.

Minhas mãos de repente se paralisam com o nervosismo e eu não consigo mais afagar Nightmare. Afasto-me dele e volto a encarar Blake. Ela parece bem mais séria agora.

– Eu sei que você tem receio em usar seus poderes. Principalmente por causa da sua dificuldade em controlá-los, mesmo porque isso é normal para um feiticeiro que nunca os utilizou... – Ela começa, fazendo-me ficar levemente nauseada com o assunto.

– Onde você está querendo chegar, Blake? – Interrompo-a.

– Eu preciso que você aja nessa batalha, Emily. – Ela esclarece, me fitando com um olhar de severidade. Blake pode ser bem gentil, mas quando se trata de derrotar Agramon, aparentemente as coisas mudam. – Eu preciso que você dê o seu melhor, que você explore até o grau mais elevado dos seus poderes, que você chegue até o seu limite!

Engulo em seco diante do pedido de minha mãe. Ela sabe muito bem sobre o meu pavor de machucar pessoas e destruir coisas em razão do mau controle dos meus poderes.

– Esse é o problema: eu não sei quais são os meu limites. – Minha voz praticamente falha. – Não tive tempo suficiente pra testá-los.

– Eu sei que não, Emily. Porém não podemos fazer nada agora! – Blake suspira, mas continua com o tom severo. – Eu sinto muito, mas você vai ter que tentar, mesmo que isso signifique ultrapassar os seus limites.

– Mas se isso acontecer, eu posso acabar ferindo pessoas do nosso lado. Pode ser um dos meus amigos, pode ser algum dos seus lobos. Eu não conseguria me perdoar se algo do tipo acontecesse! Posso fazer coisas simples, mas eu preciso saber como primeiro, para depois abusar dos meus poderes. – Minha garganta começa a arder e eu passo a ficar cada vez mais desesperada.

Respiro fundo, numa tentativa falha de ignorar toda a insegurança e aflição de minha mente. De repente passo a lembrar de todas as vezes em que falhei ao usar os meus poderes ao tentar realizar tarefas mais complexas. Já cheguei a colocar em risco a vida de todos os meus amigos e não posso fazer isso outra vez.

– Emily, – Blake me interrompe e coloca uma de suas mãos em meu ombro, numa tentativa de me acalmar. – nós precisamos derrotar Agramon para o bem de todos! Ele tem um exército demoníaco e pode resolver atacar as outras ilhas quando quiser. Só você tem poder grande o suficiente para derrotá-lo. Escute-me, quando eu der sinal para para extravasar, você vai precisar extravasar!

– E se eu machucar alguém? Como é que eu vou me sentir depois?

– Você vai ter que aprender a lidar com isso, se quer salvar seu povo. – Blake diz com firmeza, fazendo-me sentir cada vez pior. Ela está certa, no fim das contas. – Mas para que você fique mais tranquila, sou uma das poucas feiticeiras em Opposite capaz de criar barreiras protetoras. No momento necessário, eu posso criá-la e todos aqueles que estiverem abaixo dela não serão atingidos pelo seu ataque. Entretanto, não é certeza de que conseguirei englobar todos...

– Essa informação com certeza me tranquiliza. – Digo vencida e um pouco mais aliviada. – Tudo bem, Blake, você tem razão. No momento apropriado, darei o máximo de mim!

– É assim que se fala.

A decisão acaba me deixando mais ansiosa do que antes. O medo de fracassar, ou pior, de machucar um dos meus amigos, ou então, um dos lobos, começa a me deixar maluca desde já. No entanto, eu necessito de tentar derrotar Agramon. Mesmo que isso signifique ferir inocentes. Caso o contrário, uma infinidade de outras vidas estarão sendo colocadas em risco.

– Sobre o que mais você gostaria de conversar? – Pergunto, curiosa. E tentando mudar de assunto, claro.

Blake me solta e se afasta gradativamente, como se não tivesse tanto pra dizer.

– Não é algo que eu gostaria de conversar, mas na verdade, uma outra pessoa.

– Quem? – Fico extremamente curiosa.

– Dizer não cabe a mim, você entenderá no momento certo – E então, Blake finaliza. – Mas você deve ter em mente de que precisará saber perdoar.

Nesse exato momento, o sinto meu estômago arder. É tanta coisa de uma só vez que fico para lá de abalada.

E agora, além da ansiedade, estou cheia de curiosidade. De quem é que Blake está falando? Quem que eu terei de perdoar?

Mas antes que possa perguntar qualquer outra coisa, ela sai sem dizer mais absolutamente nada.

***

Já estou montada em meu mais novo dragão de estimação, que por sinal é uma fêmea, batizada por Logan, Rachel e os outros lobos de Ruby devido à sua coloração avermelhada. Não que eu tenha ficado muito satisfeita com a escolha do nome, já que eu gostaria mesmo é que ela tivesse um nome mais ameaçador... Mas tudo bem.

Ruby caminha até ficar bem em frente das fileiras de soldados licantropos, ao lado de Blake, montada em seu cavalo alado.

Os lobos curvam-se, como se exaltassem à sua líder. Blake sorri com graça e confesso que fico arrepiada dos pés a cabeça com a afeição do seus súditos. Blake é, sem dúvidas, uma ótima líder. Pelo menos no que se diz respeito à sua relação com o seu povo.

– Boa noite, meus queridos. – Ela dá um passo a frente, falando em um tom de voz alto. – Chegou o momento para que tanto nos preparamos. Agramon e seus novos aliados, as criaturas demoníacas, estão em Arcanum Island, atacando três dos feiticeiros que ajudaram minha filha a chegar até aqui. Conheço cada um de vocês e posso sentir o quão aflitos estão com a batalha que está prester a acontecer. – Blake faz uma pausa e me encara, transmitindo, através de sua voz e de seu olhar, uma espécie de energia, de ódio, de vontade de lutar. – Mas eu também conheço o potencial de vocês. Eu sei que, juntos, somos capazes de acabar com os planos de Agramon! E é exatamente isso que iremos fazer! Nós vamos dizimar cada demônio de seu maldito exército! E Opposite finalmente permanecerá em paz!

O breve discurso de Blake é aplaudido pelos lobos em forma de uivos em uníssono. Confesso que as palavras dela despertaram tanto em mim, quanto nos licantropos, o ânimo que faltava para deixar-nos confiantes. É como se Blake tivesse acabado de acender uma dinamite, ou melhor, várias delas. E logo chegará a hora de explodir.

***

Percorremos, com rapidez, o caminho mais curto até o litoral.

Reconheço muito dos locais, floresta adentro, por onde estive há algumas horas atrás. Entretanto, agora, sinto-me mais protegida pelo fato de estar acompanhada de Blake, Peter e um exército de lobos.

Enquanto marchamos, começo a refletir sobre tudo o que Blake disse: desde a nossa conversa na caverna, sobre o passado, até o momento em que me pressionou para agir na batalha. Essa bagunça de pensamentos somada ao silêncio da floresta, exceto pelo som dos nossos passos, começa a me fazer delirar. Respiro fundo, numa tentativa de manter a calma e, Peter percebe.

Ele está bem a minha frente, resolveu pegar uma carona em Ruby. Vira-se para me encarar, dando um sorrisinho encorajador.

– Emy, coragem! Vamos conseguir fazer isso.

– Assim espero. – É tudo o que consigo responder.

Então, o silêncio enlouquecedor é substituído por novos ruídos. Passo a ouvir barulhos diversos: urros e rosnados esquisitos, pancadas e estrondos seguidos uns dos outros, chamas sendo conjuradas, e ao fundo o som das ondas do oceano. A escuridão da floresta também é ligeiramente trocada por alguns feixes da luz da lua.

Reduzimos nossa velocidade, diminuindo, desta forma, o barulho de nossos passos, tentando ouvir com maior nitidez o que se passa há alguns metros de nós. Ignoro a sensação de desespero e passo a encarar Blake, esperando pelas coordenadas.

Minha mãe está prestes a dizer alguma coisa, quando é interrompida por um grito do outro lado das árvores que nos cercam.

– Nina! – Fico paralisada quando escuto a voz de Jeremy. Peter me encara na hora, com o mesmo terror no olhar que o meu. – Atrás de você!

E então, depois disso, tudo o que escutamos é um baque esquisito, como se duas coisas tivessem se chocado.

O fato de não podermos ver o que se passa me deixa agoniada e tenho vontade de sair correndo em direção a batalha neste momento. A única coisa que me para é o olhar de Blake, alguns metros a minha frente. Ela sabe o quão preocupada estou, mas seus olhos censuram qualquer atitude precipitada que pretendo tomar.

– Ouçam-me : chegou a hora de agir! – Ela sussurra para todos. – Aparentemente são muitos, mas não se desesperem. Somos totalmente capazes de fazer isso. Lembrem-se de se aproximarem de mim quando eu mandar, para protegê-los de forças maiores, como os ataques de Agramon ou até mesmo dos poderes de Emily. – A menção do meu nome como se fosse uma ameaça faz meu estômago revirar. – Agora é com vocês: vamos acabar com tudo!

E então, finalmente, saímos detrás das árvores e mergulhamos em direção à batalha que nos espera.

***

Tudo o que sinto, além da adrenalina, é o vento açoitando meu corpo enquanto Ruby dispara em direção da areia. Os lobos ainda nos cercam, tão velozes quanto meu filhote de dragão.

Nossa entrada no campo de batalha não é nada silenciosa e nossa aproximação logo é percebida pelos demais. Grunhidos e rosnados das criaturas à frente denunciam insatisfação e a ira que sentem ao nos identificar.

Por trás de Peter, ergo a cabeça para conseguir enxergar o que acontece, mas o que vejo não é nada animador. Milhares de criaturas sombrias, horrendas e de diversos formatos cobrem a maior parte da orla.

Nesse momento, duas coisas me desesperam: o fato de estarmos em menor número e o fato de eu não achar Luke, Jeremy ou Nina no meio da multidão demoníaca.

– Peter... – Começo a choramingar, mas ele logo me responde adivinhando o que tenho em mente.

– Eles estão bem ali, Emy. – Diz, com uma voz assustada, apontando para o centro da orla.

Então, finalmente os reconheço. Luke, Jer e Nina estão totalmente rodeados pelos demônios, mas parecem ter controle da situação. Ambos usam e abusam de seus poderes, de um jeito que nunca vi antes. Fico boquiaberta com os clarões de demônios sendo incendiados e os pedaços de rocha voando em suas direções. Os três lutam em harmonia, cada um dando cobertura para o outro. De vez em quando Nina usa seu arco e flecha e Jeremy sua espada. Mas tudo é tão veloz que tenho uma certa dificuldade em dizer quem é quem.

Continuamos avançando, até que Jeremy nos percebe. Primeiro parece terrívelmente assustado e diz alguma coisa para os outros dois, quando coloca os olhos nos lobos, mas ao reconhecer a mim, Peter, sorri com alívio, gritando para Nina e Luke sobre nossa presença. Os outros dois suspiram, mais tranquilos, apesar de não pararem um por segundo. Sorrio de volta, ignorando o estômago embrulhado e o fato de estar para lá de nervosa.

Um dos demônios surge por trás de Jer, que distraído com a nossa presença, não o nota. Meu coração vai a mil e tanto eu, quando Peter berramos, mas Nina logo o reduz a pó, gritando com Jeremy:

– Merda, Jeremy. Presta atenção!

Desvio o foco de meus três amigos à frente, que por sorte, ainda estão à salvo e passo a me concentrar nos movimentos de Ruby. Estamos prestes a adentrar a aglomeração de criaturas sombrias e preciso pensar no que fazer. Vejo alguns dos lobos mais adiante, já atracarem alguns demônios com ferocidade.

– Ruby, – Peter comanda com um berro. – entre pelo lado onde não haja lobos. Pela esquerda! Emy, segure-se!

Aperto meus braços em torno de Peter, mantendo-me firme em cima de Ruby, enquanto ela faz um movimento brusco para a esquerda.

– Mas o que...?! – Praguejo, não entendendo o que Peter pretende com isso.

– Ruby, reduza a velocidade. – Ele berra novamente, ignorando o que digo. O dragão o obedece. – Emy, vou precisar de você. Pode se soltar, você não vai cair agora. – Diz, soltando uma das mãos de Ruby e a estendendo em minha direção, em chamas. Rapidamente, solto meus braços de Peter e, devido à redução da velocidade, realmente não caio. Encosto minha mão na de Peter, pegando parte de suas chamas emprestada, como uma vela que acende a outra. O fogo acaricia minha pele, dando-me força. – Estenda seus braços e lance as chamas nos demônios dos lados, como eu. – Peter dá as coordenadas, estendendo os braços e eu o imito. – Ruby, preciso de fogo AGORA!

Adentramos, enfim, a multidão de demônios. Vou esperando pela escuridão, mas sou surpreendida pelo clarão de nossas chamas. Ruby reduz à pó todos aqueles que estão à frente, enquanto eu e Peter lançamos labaredas nas criaturas dos lados, desta forma, não somos atingidos. Um belo trabalho em equipe!

O dragão volta a aumentar sua velocidade para que não sejamos atacados pelos demônios que ficaram para trás e quando eu menos espero, atingimos o centro, onde se encontram Luke, Jer e Nina.

– Emy, eu vou descer. Fique com Ruby, ok? – Peter volta a falar.

– Tudo bem... – Respondo, um tanto insegura.

Peter salta para junto dos outros feiticeiros e continua a dizimar as criaturas. Ruby também continua a cuspir fogo e eu tento ajudá-la. Juntas, matamos alguns demônios, mas eu fico tentando imaginar o que é que posso fazer para destruir mais em menos tempo.

Olho para os lados, com a sensação de estar sendo observada e, por um instante, meus olhos encontram os de Luke. Nossa troca de olhares é rápida, mas intensa. Sinto seu aborrecimento por eu ter fugido mais cedo, uma atitude totalmente imprudente, mas necessária. Por outro lado, ele parece contente e aliviado em me ver, apesar de confuso pelo fato dos lobos estarem do nosso lado.

De repente, uma sombra negra rasga o céu, em nossa direção. É Blake Darkbloom em seu cavalo alado. Do alto, ela lança diversos jatos de fogo nos demônios, que se desintegram imediatamente. Ela também controla a terra, em pontos específicos em que nossos inimigos estão prostrados, fazendo-a elevar-se de forma pontiaguda, rasgando as criaturas baixo para cima. Então, finalmente aterrisa, perto de nós.

Nina, Jer e Luke ficam surpresos com a presença de minha mãe no campo de batalha, mas não se deixam distrair.

Eu e Ruby continuamos o nosso trabalho, até que Blake se aproxima de mim com um ar de tensão.

– Os lobos não estão dando conta. – Ela diz, tentando manter a calma. – Os demônios vem do Sul, e estão cada vez mais numerosos. Sei que está tudo tranquilo por aqui, mas é questão de tempo até seus amigos se cansarem. Você precisa fazer alguma coisa, Emily.

Respiro fundo, tentando raciocinar com clareza cada movimento que estou prestes a fazer. E então finalmente, tenho uma ideia. Caminho com Ruby, ainda na região central da orla, virando-me na direção de onde os demônios vêm.

– Ruby, vou precisar de suas chamas. – Digo, com firmeza.

Sem pensar em mais nada que não seja dizimar o exército de Agramon, salto de Ruby, aterrisando com perfeição em sua frente. Fico cara a cara com um demônio de forma homanóide, alto, com escamas, garras e presas afiadíssimas. Ele está a poucos centímetros de mim e não hesita em atacar. No entanto, Ruby é mais rápida. Ela cospe uma grande quantidade de fogo em mim, incendiando-me, como fizemos anteriormente, quando pensei que teria de lutar contra os lobisomens.

Sinto as chamas me lamberem da cabeça aos pés, dando-me força. Minhas mãos ainda tremem, mas não de medo, e sim, de fúria. Acontece muito rápido, mas por incível que pareça, não me perco desta vez. Ergo minhas mãos na direção da criatura em minha frente e com um rugido, lanço o maior jato de fogo que consigo.

Assim, como as chamas de Blake, as minhas desintegram os demônios imediatamente, fazendo com que uma longa fileira deles, à minha frente, vire pó. Sorrio, orgulhosa pela eficiência dos meus poderes e pelo fato de continuar me sentindo tão forte quanto antes. Miro em diversas direções, exceto na direção de onde chegamos, que é onde os lobos se encontram, e assisto meu poder devastar uma grande quantidade de inimigos.

– Continue, Emily! – Blake ordena, ao meu lado, fazendo o mesmo. No entanto, noto que a extensão de suas fileiras de criaturas eliminadas, apesar de serem enormes, não se comparam às minhas.

Não paro um segundo sequer, tanto é que nem sei o que acontece com os meus amigos, próximos de mim. Visando não me desconcentrar, paro de pensar no pior, ou melhor, paro de pensar em qualquer outra coisa e coloco todo o foco no que estou fazendo.

A eficácia de meus poderes parece aumentar a cada segundo e quando eu menos espero, estou eliminando o dobro da quantidade de criaturas do que quando comecei.

De repente, um berro me desperta. Não sei de onde vem, não sei nem de quem é, mas me assusto:

– Cuidado Emily! ABAIXE! – É o que algum dos meus amigos diz.

No entanto, já é tarde demais. A velocidade com que as coisas acontecem é impressionante. Vejo, de relance, uma sombra branca vir do céu em minha direção. E então, antes que eu possa fazer qualquer coisa, ela me atinge, em cheio, no rosto, lançando-me brutalmente para trás.

Meu corpo atinge a areia com um baque, bem no centro do círculo vazio, no qual os feiticeiros estão dispostos ao redor. Minha cabeça gira e minha maçã do rosto direita, local atingido pelo o que veio do céu, lateja de dor. Abro os olhos, desesperada e sento-me na areia, procurando me recompor.

– Merda! – Resmungo, colocando minhas mãos no rosto instintivamente.

Fico realmente irritada pela dor no rosto, mas o que me deixa ainda mais furiosa é o fato das minhas chamas terem sido apagadas e eu ter perdido todo o foco.

Olho para frente, procurando por meu agressor e focalizo uma loira escultural, vestida de branco. Ela bate uma de suas botas no chão, apagando o que restou de meu fogo. Aparentemente, incendiei o calcanhar da maldita no momento em que ela me deu uma voadora na cara.

Assim que termina de apagar as chamas, a loira me encara com seus olhos violeta e um sorrisinho cruel se forma no canto de seus lábios.

– Olá, Emily. Então, finalmente nos conhecemos... – Murmura, andando lentamente na minha direção. – Sou Elliete, uma grande amiga de seu pai. Espero que você esteja aprendendo que desafiar Agramon é burrice de sua parte.

A menção de Agramon me faz estremecer. Estou prestes a responder qualquer coisa ofensiva que vem à minha cabeça, mas neste momento, alguns de meus amigos fazem a menção de deixar de lutar contra os demônios ao redor para me socorrer. No entanto, o mais rápido deles é Jeremy, que se lança na direção da loira com um rugido. Infelizmente, ela é mais rápida e forma uma espécie de campo de força com o ar, arremessando Jer na direção dos demônios.

Meus olhos se arregalam com a cena e eu berro, agoniada, ao ver Jeremy ter suas costas rasgadas, com violência, por uma criatura negra de garras enormes. Pouco depois, ele cai, desacordado, no chão.

Elliete continua bem à minha frente e ri com o acontecido.

– Patético. – Murmura, entre os risos.

Nina massacra rapidamente a criatura que acabou de agredir Jer com um jato de fogo. Então, se abaixa para socorrer o feiticeiro. Ruby já está por perto, dando cobertura aos dois.

O ódio me enche por inteira e eu levanto, na intenção de fazer com que Elliete tire o sorrisinho imbecil do rosto e sofra. Porém, alguém o faz primeiro. Uma adaga dourada voa rumo à loira e acerta um de seus ombros em cheio.

O sorrisinho de Elliete definitivamente desaparece por conta do golpe surpresa e noto que ela encara alguém por atrás de mim. Suas mãos puxam a adaga presa em seu corpo deixando à mostra uma grande mancha de sangue em sua vestimenta branca.

– Maldito. – Resmunga. De repente noto que o sorrisinho cruel está de volta. – Você pode até ser uma graça, mas é muito incômodo.

Olho para trás e me deparo com Peter, fuzilando a loira com um olhar assassino. De repente ele percebe que estou observando-o.

– Emily, vai ajudar na destruição dos demônios, agora! – Ordena, desembainhando sua espada. – Deixa ela comigo.

– Uau, isso foi extremamente sexy. – O sorriso de Elliete se alarga enquanto ela também desembainha sua espada. – É uma pena saber que você vai morrer, lindinho.

Então, Peter se aproxima bruscamente da loira e os dois começam a esgrimar com agilidade. Realmente não sei dizer qual deles é o melhor, coisa que me deixa um tanto impressionada, já que nunca tinha visto Peter lutando.

Não sei se é uma boa ideia, deixá-lo assim, mas quando percebo que os únicos que estão lutando contra os demônios, além dos lobisomens, são Blake, Luke e Ruby, saio correndo para ajudá-los.

Noto também que nosso círculo central está cada vez menor, o que me deixa um tanto desesperada.

Prostro-me ao lado de Luke, que ao me perceber, me fornece um pouco de suas chamas.

Sem tentar se distrair dos demônios com os quais ele acaba, Luke pergunta, preocupado:

– Você está bem?

– Sim. – Respondo, voltando a lançar meus jatos de fogo contra os inimigos. – Aquela vaca loira me acertou em cheio... Minha cara tá inchada e dolorida, mas nada insuportável.

Luke dá um meio sorriso com a minha resposta e então ficamos em silêncio, para ajudar na concentração.

Dizimamos dezenas e mais dezenas de demônios, mas eles nunca acabam. Noto que minha respiração começa a ficar mais acelerada, assim os batimentos do meu coração. A eficácia dos meus ataques passam a diminuir, com o cansaço que estou adquirindo.

– Estou ficando esgotada. – Sussurro para Luke, com uma certa angústia.

– Eu também. – Responde, ofegante. – Estou tentando pensar em algo. Não vamos durar muito mais aqui, sério. Estou cogitando mesmo a ideia de... – Luke começa a dizer, mas não termina. É interrompido por algo que me faz arrepiar.

Uma risada masculina e completamente nefasta ecoa pela ilha. Eu entro em estado de alerta na hora.

É Agramon. Ele finalmente está aqui.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Reviews me fazem feliz...



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Opposite" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.