Opposite escrita por Giovana Marques


Capítulo 14
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Notas iniciais do capítulo

Consegui postar! Espero que gostem desse.
Por favor, comentem com suas opiniões, eu realmente preciso delas!
O próximo capítulo só será postado Domingo que vem.
Acho que é só isso...
Beijos e boa leitura! :3



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– Odeio isso. – Nina bufa totalmente irritada, desviando das folhas das árvores mais baixas enquanto anda. – Odeio procurar por algo sem ter nenhuma pista, odeio andar em círculos.

– Enquanto não temos outra ideia melhor, essa é nossa melhor opção. – Luke diz, tão irritado quanto ela. Já é a quarta que discutem sobre isso, o que realmente me deixa aflita.

Tudo o que nos cerca possui duas cores dominantes: verde e marrom. Caminhamos pela densa e quente floresta de Arcanum Island, já faz um bom tempo.

Somos interrompidos assim que nos deparamos com um enorme tronco de árvore caído no meio do nosso caminho. Passo meu tornozelo machucado, já coberto por algumas ataduras, por cima do tronco. Jeremy segura uma de minhas mãos, para que eu me equilibre nele. Passo minha outra perna pelo tronco e Jer faz o mesmo. Aterrissamos juntos. Nina faz um movimento rápido e pula por cima do tronco, assim como Luke.

– Nossa, obrigada. – Digo a Jer, surpresa pela ajuda. Jeremy não costuma dar uma de cavalheiro, quem faz isso geralmente é Luke.

– O que? – Ele diz, estranhando minha surpresa e então ri. – Não esperava mesmo que eu fosse deixar você escalar esse tronco sozinha e ainda com o calcanhar machucado, esperava? Poderia cair e ficar mais três dias em coma.

Reviro os olhos e dou um soco em seu ombro, levemente irritada pela provocação. Isso o faz rir um pouco mais.

– Aquilo foi um acidente, ok? Não tinha visto os poisonies...

Continuamos andando, nos desviando de folhas, galhos e espinhos das árvores ao nosso redor.

Acontece que depois de ser envenenada, fiquei desacordada por três dias. Meus amigos me disseram que enquanto estive apagada, eles se instalaram em uma caverna (a mesma em que acordei). Também me contaram que foi fácil encontrar as ervas para fazer uma poção curativa.

Nesses três dias de sono e alucinações, Luke e Jeremy sairam para procurar o Oráculo Mágico enquanto Nina cuidava de mim. É claro que por Arcanum Island ser imensa, não encontraram nada. Luke até fez um mapa indicando os locais onde já estiveram.

E é basicamente isso o que estamos fazendo agora, procurando pelo Oráculo. Nina me explicou que teriamos de procurar até o sol se pôr. Não entendi muito bem o porquê da busca se limitar no fim do dia, mas logo percebi que estava se referindo aos demônios. Os demônios não resistem à luz solar e segundo Luke, a ilha é infestada deles. Seria impossível procurarmos pelo Oráculo sendo perseguidos por um milhão de criaturas ao mesmo tempo.

Como não temos nem ideia de onde o Oráculo possa estar, estamos andando sem rumo algum. É claro que concordo com Nina sobre isso ser inútil. Quer dizer, não vamos simplesmente esbarrar no Oráculo uma hora ou outra.

Passo uma de minhas mãos em meu rosto, limpando o suor que já escorre pela minha testa e ignorando um certo cansaço que atinge minhas pernas em cheio. Respiro fundo e o ar em meus pulmões me faz relaxar um pouco.

De repente sou assustada por algum tipo de criatura com mais ou menos dez centímetros de altura, que voa rapidamente até as plantas ao meu lado. Sou obrigada a parar de andar para encarar pequeno ser humanóide de orelhas pontudas. Parece mais uma espécie fada, devido sua encantadora beleza e as asas, mas é claro que é pequena demais para ser uma. Seus cabelos são rosados e sua pele esverdeada, de um tom bem parecido com o da planta em que está pousada. De repente ela sorri para mim.

Quando percebo, todos já pararam de andar e me encaram com curiosidade, como se eu fosse boba o suficiente a ponto de me interessar naquela pequena fada. Eles sempre se esquecem que eu fui criada no mundo humano e que nunca soube de criaturas sobrenaturais. Isso realmente me irrita.

A pequena fada ainda sorri para mim e não deixo de sorrir de volta. É tão bela, que de repente algo faz com que eu tenha vontade de tocá-la. Meu braço se move em sua direção, mas Luke me para com um rápido golpe.

Me sinto tão assustada quanto a pequena criatura, que agora me encara de forma triste. Luke segura meu braço e parece incrédulo quando olho em seu rosto.

– É uma pixie. – Ele diz, como se fosse óbvio o bastante para entender toda aquela sua reação.

Balanço meus braços com força, fazendo com que Luke me solte. Me sinto mal pela pequena pixie, que soluça, como se fosse chorar.

– E daí? – Pergunto, tão indrédula quanto ele. – Não acredito que está implicando com essa coisa tão...

– Fofa? – Nina completa a minha frase seca, adivinhando o que eu estou prestes a falar.

– Sim, fofa. – Digo, totalmente confusa.

– Pixies parecem fofas, – Nina diz, um pouco mais séria que o normal. – mas não são nem um pouco.

O que ela diz parece um pouco exagerado e então meus olhos voltam para a pequena pixie, que com um olhar magoado balança a cabeça negativamente, como se quisesse me dizer que Nina está mentindo.

– Essa coisa é diabólica. – Jeremy insulta ainda mais à pequenina.

– São quase que uma mistura de fadas e duendes. Herdaram a beleza das fadas e o espírito zombeteiro dos duendes. Primeiro, a pixie a atrai com sua incrível beleza e depois que ganha a sua confiança, adora usá-la para pregar peças em você mesma. – Luke explica finalmente.

Encaro assustada a pequena pixie, como se não pudesse acreditar. Não é possível que uma criatura tão aparentemente inofensiva seja tudo isso o que meus amigos dizem.

Sua expressão triste e incrédula fica séria e depois, como se não se importasse mais em manter o teatrinho, mostra a língua para Luke. Um sorriso malicioso aparece em seus lábios, mostrando uma fileira de dentes pontiagudos. Algo neste sorriso nos diz que haverá vingança. E sai, voando para longe.

Nina suspira, cansada e murmura:

– Não sei se no mundo humano costumava ser assim, mas nesse mundo as aparenças se enganam, Emy. Precisa tomar mais cuidado. É claro que a culpa não é sua, já que a pixie faz com que você goste tanto dela, a ponto de fazer qualquer coisa para agradá-la.

Balanço a cabeça, concordando. Confesso ainda estar um pouquinho perplexa pelo que acabamos de ver.

Então, resolvemos continuar nossa caminhada em busca do Oráculo.

***

Continuamos nosso percurso, ainda que tenham se passado algumas horas e não tenhamos conseguido pista alguma sobre o paradeiro do Oráculo dentro da ilha.

De repente Nina para de andar, fazendo com que Luke esbarre nela, eu esbarre em Luke e Jeremy esbarre em mim.

– Seria bem legal se você avisasse quando vai parar de andar, Nina. – Jeremy diz, irônico.

Nos afastamos e Nina parece bem aborrecida quando olha para trás. Já até imagino que a discussão entre ela e Luke vai recomeçar em poucos segundos.

– Luke, não adianta procurar assim, sem mais nem menos! Você acha mesmo que o Oráculo vai aparecer no nosso caminho de uma hora para outra? Vamos ser um pouquinho mais inteligentes e pensar onde ele possa estar.

Luke cruza os braços e franze o cenho. Não sei dizer se está chateado ou só refletindo.

– Acredito que esteja em uma caverna. – Ele diz. – Estou tentando chegar até algumas delas.

Nina se apoia em uma árvore e encara seus pés. Diante de algumas pontadas em meu tornozelo machucado, eu a imito.

– É o que dizem algumas lendas. – Ela diz, soando inteligente. – Se bem que o último feiticeiro que conseguiu encontrar o Oráculo está morto há séculos. E tem muita informação falsa a respeito de...

Mas então Jeremy a agarra, tapando sua boca. Nina arregá-la os olhos e parece tão surpresa quanto eu com aquela reação. Olho para Luke e ele parece alarmado. De repente faz um sinal de silêncio e outro para que nos abaixemos atrás de uma árvore de tronco largo.

Estou confusa e assustada. Olho para Luke com curiosidade, mas ele não diz nada. Levanta seu pescoço para espiar por trás da árvore e eu faço o mesmo.

Então, observo com um sobressalto a criatura que se aproxima. É um animal grande, que possui um pouco mais do que nossa altura. Pesadas escamas avermelhadas cobrem seu corpo, desde a ponta da cauda, até o focinho, como se fosse um grande lagarto. Possui asas e uma mandíbula tão poderosa, que chego a arrepiar. Seus dentes são afiados e as possuem pupilas verticais dos olhos, como gatos. É por isso que eu o idenfico, com um sobressalto. Dragão.

– É um dragão? – Pergunto, sussurrando.

Luke me encara nervoso, pedindo por silêncio e balança a cabeça positivamente.

Arregalo meus olhos e observo o dragão passar por onde estavamos minutos atrás. Parece alarmado e desconfiado, como se algo não estivesse certo. Olha para os lados, tentando nos encontrar.

Estou intrigada novamente, quer dizer, havia imaginado dragões muito maiores do que aquele. Não que não pareça perigoso. Parece, e muito! Mas pensei em dragões extremamente gigantes quando Luke me contou sobre sua existência.

A criatura se aproxima da árvore em que estamos escondidos, fazendo-nos estremecer. Abaixo minha cabeça mais um pouco, evitando fazer qualquer ruído e então Luke nos faz um sinal para segurarmos a respiração.

O silêncio inunda o momento e tudo o que escuto é o barulho do meu coração, batendo mais rápido do que nunca. O dragão fica paralizado por alguns segundos, esperando pelo nosso movimento que não acontece. Então, volta a se mover parecendo desapontado e rosna, quando vira de costas. Finalmente, anda calmo para longe de nós.

Alívio. Acho que essa é a palavra que me define no momento. Não só eu, mas também meus amigos, que parecem bem mais tranquilos agora. Nos levantamos, ainda abatidos pelo susto e respirando de forma irregular.

– Sem querer subestimar, nem nada, mas achei que dragões fossem maiores. – Comento quase que sussurrando e um tanto desapontada.

– E são. Esse é apenas um filhote. Perceba que ele ainda não voa, pois ainda não aprendeu a fazer isso. – Luke explica, sussurrando assim como eu. – Os dragões maiores vivem em outra ilha, ao sul de Opposite, mas poucos filhotes sobrevivem estando nela por ser muito fria. Então os dragões colocam seus ovos aqui, em Arcanum Island e vêm visitá-los uma vez por semana, para se certificarem...

Um grito interrompe a explicação, assustando-nos e Luke para de falar por um momento. Droga. O filhote de dragão com certeza nos ouviu.

Nos viramos para a esquerda, na mesma hora, como se tivessemos combinado e descobrimos que o grito vem de Jer. Ele chuta algo para longe, murmurando alguns xingamentos e olhando para sua mão, que parece bem mais vermelha e inchada que o normal.

Com um sobressalto, percebo que o que ele acabou de chutar é a pequena e maldosa pixie de cabelos rosados que encontramos há pouco. Ela gargalha em silêncio e sorri com escárnio quando sai voando para longe.

Mordeu Jeremy de propósito, só para que gritasse e assim atraísse a atenção do dragão, que neste exato momento, anda em nossa direção. Como pude, por um só momento, confiar naquela fadinha tão cruel?

O dragão rosna de um jeito violento e passa a correr quando entramos em seu campo de visão. Ele é tão pesado que posso sentir o chão tremer conforme chega perto. Fecho minhas mãos em punhos, já sentindo o estômago arder de nervoso.

Luke caminha na direção da criatura com agilidade, assim como Nina. Jeremy ignora sua mão dolorida e também se prepara, ao lado dos amigos. Então, de forma sincronizada, seus braços começam a pegar fogo.

Tento manter-me calma, mas confesso ter uma certa dificuldade para fazer isso. Vou me afastando sem nenhum movimento brusco, afinal, sou a que mais corre perigo aqui por não ser feiticeira negra.

– Não vai adiantar atacá-lo. – Jeremy berra para Luke. – Dragões são imunes ao fogo, assim como nós.

Os rosnados do dragão começam a ficar cada vez mais altos e ensurdecedores, e ele se aproxima gradativamente. Escuto o barulho das chamas saírem com um sopro de sua enorme boca e as vejo consumindo as plantas próximas de nós. Há também uma grande quantidade de fumaça.

– Vamos só levá-lo para longe. – Luke planeja, decidido. Então olha para mim. – Emily, fique longe do dragão! Mas de qualquer jeito, vamos precisar da sua ajuda. Por favor, apague o fogo das plantas.

Concordo com a cabeça e os três finalmente correm, usando a rapidez de feiticeiro. Isso distrai a criatura por um momento e ela os segue, me deixando sozinha com o fogo.

É fácil conjurar água e faço isso de forma tão rápida que de repente fico impressinada comigo mesma. Ela escorre pelas minhas mãos, escassa por um primeiro momento, mas depois, vai aumentando até formarem dois jatos. Miro minhas mãos na direção das chamas alaranjadas que devastam as plantas.

E em questão pouco tempo já não há mais fogo algum.

***

– O que fizeram com o dragão? – Pergunto aos meus amigos, que já estão de volta.

Os três feiticeiros aparentam estar bem mais cansados do que já estavam. Sem falar nos seus rostos, imundos em uma mistura de suor e fuligem. Ofereço-me para limpá-los usando meus poderes, mas eles recusam educadamente. Não me sinto ofendida, pois sei que não estão habituados a compartilhar poderes com feiticeiros brancos. Talvez seja estranho para Luke, Nina e Jer precisarem de meus poderes. Ou talvez tenham medo de que eu não consiga me controlar e, possivelmente, morrer afogados. Mas tudo bem.

– Apenas o atraímos para o outro lado da ilha. Mas tenho absoluta certeza de que ele ainda vai procurar por nós. Por isso, temos de ser um pouco mais cuidadosos. – Nina explica, olhando diretamente para Jeremy.

– Nem vem, Nina! – Ele revira os olhos, chateado e indignado. – Você sabe que foi tudo culpa daquela pixie imbecil.

– Tanto faz. – Nina diz mordendo seu lábio inferior para esconder um sorriso. Se existe uma coisa que ela adora, é poder pegar no pé de Jeremy.

Luke está mais quieto que o normal, então tira de um dos bolsos de sua calça o pequeno mapa que estava tentando criar para que não nos perdêssemos. Ele o estuda com calma, parecendo um pouco pensativo demais.

Nina limpa seu rosto com uma de suas mãos, mas sem total sucesso e Jeremy relaxa, encostado na árvore mais próxima de nós. Cruzo meus braços e espero até que digam algo.

– Cavernas. Estavamos falando sobre cavernas quando dragão apareceu, não foi? – Nina retoma a discussão anterior.

Luke parece completamente absorto no mapa quando responde:

– Sim, mas são muitas as cavernas daqui... Estou pensando em algo. O que acham da ideia de nos dividirmos?

– Não gosto disso. – Nina diz, pensativa. – Mas diante da situação, acho que é a melhor coisa a se fazer.

Devo admitir que também não gosto muito da ideia, principalmente sabendo da existência de dragões e outras criaturas andando pela ilha. Discutimos um pouco e no final decidimos mesmo nos dividir. Nina e Jeremy procurarão em algumas cavernas do sul da ilha. Luke e eu procuraremos em cavernas da região oeste.

Dividimos algumas armas e itens de sobrevivência. Nina acaba ficando com o arco e a aljava de flechas e Jeremy com uma das espadas. Pego uma adaga prateada, dentro da mochila de Jer, e Luke fica com a outra espada.

Repartimos nossos mantimentos e deixamos que Nina e Jer fiquem com toda a água, afinal, sou capaz de conjurá-la. Coloco a comida em uma pequena mochila que Nina carregava até então, afinal, Jeremy está com a outra.

– Tomem cuidado. – Luke adverte-os, preocupado. – Procurem pelo Oráculo somente dentro das cavernas e se algo perigoso aparecer, dependendo do que for, corram. Quando perceberem que o sol está para se pôr, voltem para a nossa caverna. E acima de tudo: não se separem. Certo?

– Não somos estúpidos, Luke. – Jeremy diz, revirando os olhos. Todo mundo sabe que ele odeia ser subestimado. – Vamos ficar bem.

Certo? – Luke pergunta novamente, ignorando o primo.

– Certíssimo. – Nina e Jeremy respondem ao mesmo tempo.

Nos despedimos e nos desejamos boa sorte. Confesso que aquilo me deixa meio abalada, afinal, detesto despedidas.

***

A floresta parece silenciosa, a não ser pelos ruídos causados pelos meus passos e de Luke. Caminhamos no mesmo rítmo, sem dizer absolutamente nada. Luke confere seu mapa e eu o sigo, carregando a mochila com nossos mantimentos e equipamentos. Minha adaga está embainhada e presa a um cinto que Nina comprou para mim em alguma loja de Hawkslane.

Não demora muito até que algo entra em nosso campo de visão: uma grande parede de rochas castanho-avermelhadas, há poucos metros. Instantaneamente, Luke e eu nos encaramos, meio surpresos. Nos aproximamos, cautelosos até notarmos um pequeno buraco no meio da parede de rochas. A entrada para a caverna.

Luke volta a olhar em meus olhos com entusiasmo e não deixo de sorrir. Investigamos e percebemos que a caverna é um pouco mais funda do que esperávamos. Por sorte, lembro de ter pego uma das cordas com Nina antes de nos dividirmos. Entrego-a para Luke e com rapidez, ele a amarra em uma árvore próxima.

– Vou usar a corda para descer, mas não desça de imeditado. – Ele pede, sendo prevenido. – Espere até me certificar que está tudo bem.

Encaro-o, um pouco preocupada. Isso é meio arriscado, não? Podem haver criaturas asquerosas lá dentro, como demônios se escondendo da luz do sol.

– E se não estiver tudo bem?

– Se não estiver tudo bem vou precisar da sua ajuda para sair daí o mais rápido possível. – Ele faz uma pausa para procurar algo dentro da mochila já jogada aos meus pés. Vejo que pega uma lanterna e a guarda em um cinto, bem parecido com o meu, onde está presa sua espada dourada. Então volta a olhar para mim. – Por isso que preciso que fique aqui, entende?

Não gosto muito dessa história, mas mesmo assim concordo com a cabeça, afinal, Luke é o líder aqui e provavelmente está certo como sempre.

Ele checa a corda, assegurando se está bem presa e eu volto a colocar a mochila em meus ombros novamente.

Luke se inclina na abertura da caverna, já segurando a corda com firmeza. Ele vai descendo, com os pés apoiados na parede de rochas. Coloco minha cabeça para dentro do buracoenvolvendo a corda com minhas mãos ao mesmo tempo. Não seria nada legal se ela arrebentasse.

É bem escuro lá dentro, e para ser sincera, isso faz com que eu arrepie um pouco. A caverna vai se iluminando conforme Luke vai descendo com a lanterna ligada.

Decido olhar para trás, afinal, algo pode me atacar pelas costas já que estou tão distraída.

Ouço um barulho abafado vindo de dentro da caverna, como se Luke tivesse colocado os pés no chão. Escuto seus passos lá de dentro e então suspiro com alívio. Parece estar tudo bem.

O som dos seus passos diminui, como se estivesse adentrando cada vez mais a caverna. Estou um pouco nervosa e meus dedos tamborilam na parede rochosa, a qual estou apoiada. Não resisto e volto a olhar para dentro do buraco, esperando que Luke finalmente diga que posso entrar. Mas isso não acontece, na verdade, ele está fora do meu campo de visão. Estico meu pescoço um pouco mais, tentando vê-lo, mas é impossível.

Isso me desespera, de certa forma. Penso em chamá-lo, só para conferir se está tudo bem. Porém, quando estou prestes a fazê-lo, a dor me interrompe.

Sinto várias coisas afiadas afundarem em minhas costas, arranhando-me sem piedade. Garras. Giro, com um grito de agonia e susto, e finalmente me vejo diante de um enorme lobo. Um lobo exatamente como aqueles que me atacaram na noite em que conheci Luke. Um lobisomem, para ser mais precisa. E ele está tão próximo que poderia arrancar a minha cara com uma só mordida.

Luke provavelmente me escutou, pois já grita preocupado, perguntando se estou bem.

O lobo rosna e eu fico completamente sem reação, afinal, é impossível puxar minha adaga sem que ele perceba. Tudo acontece em fração de segundos e quando o lobo avança mais um pouco, lanço-me para trás, para dentro do buraco.

Sinto meu corpo despencar por um breve momento, mas por sorte, agarro-me à corda pendurada e torço para que o lobo não a arrebente. Luke está bem abaixo de mim e pede para que me solte.

– Pode soltar, eu te seguro! Eu prometo que te seguro.

Minhas mãos suadas e trêmulas soltam a corda e com um grito, despenco do alto. Caio nos braços de Luke, com um baque, e ele me encara assustado.

– O que houve?

Lobisomem. – É a única coisa que consigo dizer, já que estou em choque.

Os olhos de Luke se arregalam e ele parece tão intrigado quanto eu.

– Você tem certeza, Emily? Lobisomens não conseguiriam chegar até aqui. Não sozinhos.

Minha respiração está irregular e eu meio que engasgo com minha própria saliva quando saio dos braços de Luke e mostro minhas costas arranhadas, que no momento ardem. Sinto minha blusa empapada pelo meu próprio sangue.

Ele parece assustado e desembainha sua espada dourada assim que ouvimos mais rosnados, ou seja, mais lobisomens.

Nos encostamos na outra parede da caverna para conseguirmos enxergar o buraco de entrada e assim que o fazemos, cinco ou seis lobos saltam em nossa direção.

Eles aterrissam com graciosidade, como se fosse fácil saltar de uma altura dessas. Talvez até seja, para criaturas tão extraordinariamente fortes como os lobisomens.

Mais quatro lobisomens pulam para dentro da caverna, e então todos nos cercam. Eles se aproximam vagarosamente, um de cada lado, fazendo com que eu e Luke saiamos de perto da parede. Quando nos damos conta, estamos no centro de um círculo formado pelos lobos.

Luke suas costas para mim, encostando nas minhas. Tento parecer ameaçadora com a adaga de prata, já que lobisomens não são imunes a esse tipo de material, mas acho que tenho tanto sucesso assim. Principalmente porque eles continuam a rosnar e se aproximar cada vez mais.

– O que vocês querem? – Pergunto e minha voz sai mais esganiçada do que eu espero.

A respiração de Luke é tão irregular quanto a minha, quando ele responde algo que faz meu queixo cair:

– Não me leve a mal, mas acho que estão atrás de você.

Balanço a cabeça, assustada, mas ainda concentrada nos movimentos dos lobos ao nosso redor.

– Estão nos perseguindo faz um bom tempo e da última vez que os vimos, quase a levaram. – Luke diz, ofegante. Por um segundo consigo escutar seu coração acelerado.

Isso faz um certo sentido, mas não vejo motivo para me quererem. Tento pensar em alguma coisa, mas estou preocupada demais para refletir no momento.

Para o meu maior desespero, mais lobos caem do alto e se juntam ao nosso redor.

– Emy, na hora que eu falar. – Luke diz, provavelmente pensando em algum plano.

Concordo com a cabeça e então ele grita:

– Agora!

Luke corre, golpeando os lobisomens de forma ágil. Alguns se voltam para mim e tentam me abocanhar, mas estou tão nervosa que consigo fugir. Cravo minha adaga em algum lobisomem ou outro, mas sem matá-los.

Uso e abuso dos golpes ensinados por Katherine e de repente me surpreendo com meus reflexos de feiticeira. Luke tenta matá-los de todas as formas possíveis, mas os lobos parecem bem mais fortes do que quando nos atacaram em New York, como se estivessem muito mais preparados. Alguns deles, feridos pela minha adaga, ganem, como se estivessem sofrendo e param de me perseguir.

Cinco deles me rodeam e eu realmente não sei qual atacar. Com um pulo, lanço-me para longe, caindo com força no chão. Não sei dizer se meu pé machucado ainda dói, já que caio em cima dele, pelo fato da adrenalina correr em abundância pelas minhas veias. Levanto-me, adentrando ainda mais a caverna, até que chego à escuridão completa.

Escuto Luke berrar pelo meu nome, como se não fosse uma boa ideia continuar correndo para o fundo da caverna, mas eu o ignoro.

Então, escuto um baque ensurdecedor seguido por um grito agoniado de Luke. Fico horrorizada, já que nunca o ouvi berrar dessa forma, como se estivesse sendo gravemente ferido.

Não sei o que diabos está acontecendo, mas é certo que Luke corre perigo. E isso é o bastante para despertar minha fúria.

Ouço passos de outros lobos, correndo em minha direção, mas os ignoro, parada. A consciência de que eu preciso fazer alguma coisa berra como uma sirene em minha mente, enlouquecendo-me. Fecho os olhos e tento usar meus poderes para fazer o fiz mais cedo: conjurar água. É a única coisa que me vem a cabeça, afinal.

Os lobos chegam cada vez mais perto, mas por incrível que pareça, nada me acontece. Berro, colocando toda a minha energia no que estou prestes a fazer e de repente, me pego sussurrando algumas palavras que parecem de um outro idioma. As palavras saem de forma rápida de minha boca e eu caio de joelhos.

A sensação de poder sem limites toma cada centímetro de mim, novamente, e pela primeira vez, sinto-me segura nessa caverna.

Esqueço por um instantes dos lobos e só percebo que o que estou fazendo realmente funciona, quando a água bate na altura pescoço.

Paro de sussurrar as estranhas palavras e abro meus olhos imediatamente: para o meu alívio, lobos já não estão mais aqui; para o meu desespero, a água sobe cada vez mais. Quando me dou conta, já não alcanço mais o solo e tenho de nadar.

Isso me assusta um pouco, já que tenho um certo trauma, mas então me lembro de Luke e o meu medo se transforma em outro. Respiro fundo e mergulho, nadando o mais rápido possível, para procurá-lo.

Deparo-me com os lobos nadando até o buraco de entrada da caverna. Eles fogem, assustados. Alguns carregam outros feridos e fico contente em tê-los causado pânico. Espero que não voltem atrás de mim.

Vejo algo ou alguém desacordado boiar, e com um choque, percebo que é Luke. É estranho vê-lo tão indefeso, já que na maioria das vezes, ele é quem me salva.

Meu oxigênio está prestes a acabar e tenho a leve impressão de que não vou conseguir. A menos que eu abuse um pouco dos meus poderes e tente respirar embaixo d’água. A ideia não me parece nada agradável, principalmente, quando me lembro da sensação de estar sendo sufocada...

Sem pensar em mais nada, sugo a água com a boca, receosa, e agradeço ao perceber que ainda tenho energia de meus poderes para não precisar do ar aqui embaixo.

Nado com facilidade até Luke, percebendo alguns arranhões feios em seu corpo. Torço para que nenhum dos lobos tenha mordido-o, caso o contrário, virará um deles. Agarro um de seus braços e subo até o buraco, arrastando-o comigo.

Bato minhas pernas com força, nadando para cima, até atingir o buraco por onde entramos. Coloco meu corpo para fora e respiro fundo quando chego ao ar. Termino de arrastar Luke pela grama e o repouso em um lugar onde a água que sai da caverna não toca. Percebo que ao sair da caverna inundada, a água para de ser conjurada.

Ajoelho-me ao lado de Luke e com desespero, empurro seu abdômen para baixo, tentando fazer com que a água do seu corpo saia, já que ele não respira. Coloco toda minha força em meus movimentos, mas ainda continuo sem sucesso.

Meu coração palpita tão rápido quanto antes e estou tão preocupada, que não sinto frio quando um vento gelado sopra pelo meu corpo coberto das minhas roupas ensopadas.

Toco meus lábios nos de Luke, tentando uma técnica de desafogamento que havia aprendido em um dos anos que fui para o acampamento. Aperto minhas mãos contra seu abdômen novamente. Funciona, já que quando eu me afasto, ele expulsa a água do seu corpo, vômitando-a. Até que aqueles acampamentos estúpidos tinham servido para alguma coisa.

Luke respira, ofegante e, para minha alegria, abre seus olhos. Um alívio tão grande me enche, que única reação que tenho é abraçá-lo quando já está sentado.

Você conseguiu. – Ele sussurra em um dos meus ouvidos.


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