Irreal escrita por Anna Peixoto


Capítulo 1
Capítulo Único




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As luzes caíam sobre o vocalista sozinho no palco, que recebia um tom azulado na pele por causa da iluminação. Todos os sentidos daquelas nem tão muitas pessoas estavam postos no vocalista que estava pronto para iniciar a música final. Menos eu, talvez.
Eu estava perdida no meio dos gritos e dos berros de todos a minha volta, aquela algazarra de vozes, o último show, que nem estava lotado, mas com a energia de corações emocionados e vibrantes. Eu pus meus olhos na bateria, na esperança de te encontrar. E te encontrei. Eu não cheguei a olhar nos seus olhos, coisa que faço de praxe. Eu te observei no silêncio da minha subconsciência, reparando no seu corpo perfeito, na sua camisa da sua própria banda! No fundo eu ria disso!
Então, num ataque que misturava desespero, ansiedade, felicidade e orgulho, eu mexi minhas mãos freneticamente, tentado despertar-lhe a atenção. Fiz isso muitas vezes, tentando fazer com que meus braços finos perdidos naquele emaranhado de gente na arquibancada fizesse algum sentido nos seus olhos - que eu sei que são verdes.
Então, meio timidamente, eu pude perceber que você, Charles, fez um movimento com as mãos. Ninguém ali prestava mais atenção em você, a não ser eu. Eu olhei para a bateria azulada, vi seu rosto inocente e suas mãos balançando para mim, eu via seu rosto voltado para mim. Meu mundo se perdeu ali. Eu não só tinha recebido o olhar sincero de um integrante da melhor banda do mundo – sim - e da minha banda preferida, como tinha visto um aceno do meu melhor ídolo sendo diretamente direcionado para a minha pessoa. Então, você voltou ao seu trabalho. Aquele segundo demorou um minuto para mim.
Parecia tão irreal.
E então, na certeza absoluta que vivia a realidade, eu cantei a última canção com a minha banda predileta. Com todos os cinco, mas especialmente com você. Talvez isso possa significar nada para você, mas aquele singelo e carinhoso gesto mudou toda a minha percepção em relação a você: você não era só mais um – e nunca foi – contudo aquilo ficou tão evidente, tão ridiculamente evidente, na minha cara... eu não sabia que poderia sentir um amor desse nível com relação a uma pessoa que nunca me conheceu. Quero dizer, você sabe que eu te amo, porém não sabe como eu sou, afinal de contas, você me enviou pela minha amiga três “thank you” e um “obrigado” com seu sotaque francês... Depois do show acabado, juntei minhas lágrimas e derramei-as na minha bandeira, minha lembrança do dia mais inesquecível da minha vida, das duas horas mais velozes. Nenhuma das garotas entendia o que eu fazia. Isso só reforçou a idéia de que tinha sido eu quem recebera aquele aceno.
Obrigada,
Charles-Andre Comeau. Você será para sempre o meu grande amor, meu eterno herói !


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