El Beso Del Final escrita por Ms Holloway


Capítulo 19
Quem é meu troféu?




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- Pela milésima vez, O`Conner!- bradou o diretor-assistente do FBI durante a reunião de cúpula sobre o caso Arturo Braga. – Dominic Toretto jamais irá nos ajudar, mesmo que prometêssemos a ele uma anistia. Principalmente agora que a namorada dele foi morta. Imagino que a essa altura ele já esteja sabendo disso.

- Não temos certeza se ela está morta, senhor.- disse Bryan. – O corpo dela não foi encontrado e o corpo que está no necrotério não pertencia a Letícia Ortiz. O senhor viu o resultado da autópsia.

Mônica mexeu-se desconfortável na cadeira porque sabia exatamente que Bryan estava mentindo, e o pior de tudo é que ela estava acobertando.

- Não importa se a autópsia teve um resultado negativo.- contestou o diretor-assistente. – Você acha mesmo que ainda vamos encontrar o corpo dessa moça? O cartel deve ter sumido com ela há muito tempo. Para encontrá-la teremos que cavar muito fundo e você sabe que, no momento nossas prioridades são outras.

Bryan balançou a cabeça, desapontado. Sentia-se aliviado por Letty estar viva e bem, do contrário, o FBI levaria muito tempo para resolver o caso dela, pois não estavam realmente interessados nisso, não importava que Letty tivesse quase dado sua vida pela missão.

- Olha aqui, Bryan, não somos monstros se é o que está pensando. – disse o diretor, notando o olhar de reprovação de Bryan. – Mas estamos com uma situação complicada nas mãos. A explosão naquela lanchonete só fez piorar as coisas. Precisamos agir rápido. O cerco está se apertando. E é por isso que você irá participar da corrida para escolher pilotos para o Braga esta noite.

- O quê?- Bryan retrucou, embora já esperasse por isso. O FBI jamais confiaria em Dom para aquela missão. Não depois do que acontecera com Letty.

- Você entendeu, Bryan.- falou o diretor. – Escolha um carro em um dos depósitos de apreensão federal e vá correr! Você precisa entrar para a equipe do Braga. Não pode perder essa corrida.

- Senhor, tendo em vista o que aconteceu aos últimos agentes infiltrados, acha mesmo que seria uma boa ideia mandar o Bryan pra lá? Pode ser uma armadilha. É óbvio que o Braga está desconfiado. A explosão na lanchonete confirma isso- Mônica argumentou, genuinamente preocupada com a segurança do parceiro.

- Nós temos que fazer alguma coisa, Fuentes. Precisamos encurralar o Braga de qualquer jeito.- afirmou o diretor. – Quanto aos outros agentes que pereceram em serviço, infelizmente são os riscos necessários do trabalho. A garota desaparecida faz parte da bagunça do O`Conner, ele agora precisa consertar isso. Reunião encerrada!

Todos começaram a se levantar da mesa. Porém, o diretor ainda endereçou mais algumas palavras a Bryan e Mônica:

- Relatórios investigativos amanhã de manhã na minha mesa! Boa sorte, O`Conner!

Quando eles deixaram a sala, Bryan apressou-se pelo corredor para achar a agente Trinh para ajudá-lo a escolher um carro para a corrida que seria em poucas horas. Mônica o seguiu.

- Bryan, o que seu amigo irá achar disso?- ela perguntou.

- Ele não vai gostar, Mônica. Mas isso não depende mais só dele. Farei o meu melhor para vencer a corrida e espero que o Braga esteja precisando de dois novos pilotos.

- Você sabia que o chefe iria querer que você corresse, não sabia?- Mônica indagou.

- Eu fazia ideia sim.- respondeu Bryan. – Mas eu não podia contar isso ao Dom, ou então ele não aceitaria correr. É preciso que nós dois estejamos juntos nessa para pegar o Braga!

- Eu espero que dê tudo certo.- ela falou com sinceridade.

- Obrigado.- disse Bryan. – Você irá assistir a corrida?

Mônica balançou a cabeça negativamente.

- Não. Eu tenho que lidar com o garoto no hospital e a mãe dele que ainda não sabe de nada. Ela disse que resolveu não testemunhar contra Braga, mas assim que souber o que aconteceu à família dela, vai mudar de ideia, eu tenho certeza. Preciso convencê-la a dar seu testemunho.

- Você está certa.- concordou Bryan.

- Faça o seu melhor lá, Bryan.- disse ela com sinceridade. – Eu sei que você consegue.

Ele sorriu.

- Cuide-se!

- Você também, Mônica.- falou ele se despedindo para ir atrás da agente Trinh. Ele tinha certeza que no depósito de carros apreendidos pela polícia deveria ter o carro certo para a corrida. Ele só precisava se apressar e arrumá-lo em tempo para a corrida.

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Gisele abriu a porta de seu possante Camaro preto, 1960 e prendeu os longos e lisos cabelos escuros em um rabo de cavalo antes de descer do carro e olhar ao redor. Esta era a sua rotina pessoal todas as noites quando ia às corridas, especialmente às corridas promovidas por seu chefe, Arturo Braga, um dos homens mais poderosos do crime organizado.

Ela já estava na organização há cinco anos. Era muito jovem quando desistira do exército. Se alistara para sair de casa e escapar de uma tia perversa que queria levá-la para as ruas e ganhar algum dinheiro com ela. Órfã de pai e mãe muito cedo, Gisele havia sido criada por essa tia e passado maus bocados na vida. Após deixar o exército, ela viu-se sem rumo novamente até conhecer Braga em um bar onde estava trabalhando como garçonete. Ele lhe deu tudo o que ela sempre sonhou em ter. Mas ao contrário do que muitos pensavam o relacionamento entre eles era paternal. Braga a tratava como a uma afilhada e lhe dava tudo desde que ela sempre seguisse suas ordens sem pestanejar, e era isso o que Gisele vinha fazendo há cinco anos. Jamais questionara as decisões ou os métodos de seu "padrinho" porque se não fosse por ele, ela ainda estaria servindo mesas e provavelmente teria se transformado na mulher que sempre afirmou que jamais seria. Não, aquela vida não era para ela, precisava de muito mais. Quanto às corridas, Gisele adorava estar naquele cenário.

Não participava diretamente do que dizia respeito à entrega e recebimento de mercadoria através da fronteira, mas ela cuidava de tudo sobre encontrar e contratar novos pilotos para transportar a carga. Gisele promovia pessoalmente as corridas e levava os pilotos para a aprovação de Braga. Ela sabia o que acontecia com a maioria dos pilotos após completarem sua primeira missão, porém não se manifestava a respeito disso, preferia ignorar que tal violência existisse. Tentava enxergar a morte dos pilotos como algo que funcionava fora de sua jurisdição. Braga não queria testemunhas. Apenas um piloto escapara uma vez. Uma garota há um ano atrás. Fênix dizia que ainda iria pegá-la. Mas isso era uma outra história. Gisele acreditava que a garota não seria tão louca de contar alguma coisa a alguém porque ela estaria morta antes que pudesse fazer isso. Fênix nunca falhava e se essa garota ainda estava viva em algum lugar era porque ele a deixara viver.

Na corrida daquela noite, Braga estava interessado em um piloto em especial. Gisele o vira correr há duas noites atrás. Ele era muito bom, embora tivesse perdido a corrida para uma garota. Mas aquela derrota na opinião dela se devia mais ao interesse dele por aquela garota do que por incompetência na pista, e de fato Gisele acreditava que a garota o recompensara muito bem após a corrida por ele tê-la deixado ganhar e ninguém saiu perdendo.

O nome dele era Dominic Toretto. Braga recebera informações de fontes seguras de que aquele era o melhor piloto que as ruas de Los Angeles já conheceram. Por isso ele estava tão interessado, principalmente depois de saber que o homem estivera fora dos Estados Unidos por cinco anos fugindo da polícia. Seria fácil trazê-lo para a organização. Gisele acreditava que Braga tinha muitos planos para ele, e ao contrário dos outros, Toretto não seria morto no deserto em sua primeira missão.

- Ele está aqui!- anunciou Fênix quando Dominic estacionou o carro nos arredores do local onde ocorreria a corrida naquela noite.

Gisele cruzou os braços em frente ao peito e analisou o alvo à distância. Dominic Toretto chegara em um carro de respeito. Um Vectra GT 2.0 de 4 cilindros. E assim como o carro, o motorista não deixava a desejar, Gisele pensou. Toretto era alto, muito forte e musculoso. Suas feições não eram delicadas, mas rústicas e másculas do jeitinho que ela gostava. Ela sorriu abertamente.

- Já vi que gostou dele, mami.- Fênix a provocou. – Só não vá se apaixonar. Você sabe como as coisas terminam no final.

Gisele lançou um olhar de "pouco caso" para Fênix e disse:

- Haga su trabajo que yo lo hago el mio. (Faça o seu trabalho que eu faço o meu).

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Aquela corrida tinha um cheiro diferente, Dominic pensou. Embora o cenário fosse o mesmo, uma grande concentração de carros nacionais e importados multicoloridos e caros, os capôs abertos com música de péssima qualidade tocando muito alto e mulheres rebolativas por todos os lados, aquele não era o seu ambiente. Havia algo de muito tendencioso e mal intencionado que tomava conta de todo o lugar. Não que Dominic não conhecesse a criminalidade e a depravação humanas. Ele esteve preso em Lompoc tempo suficiente para saber de tudo aquilo, no entanto, isso não o fazia sentir-se mais confortável.

Tudo o que ele queria era tirar Letty e Nina de Los Angeles e levá-las para um lugar seguro onde poderiam viver como uma família longe de Braga, do FBI e de toda a complicação que a vida dele tinha se tornado. Suas garotas mereciam isso e se ele tinha que passar por tudo aquilo para colocá-las em segurança, Dominic o faria, sem medo, sem remorso e com um sorriso no rosto.

Ele não se deu ao trabalho de caminhar pelo local. Apenas desceu do carro e recostou-se ao capô com os braços cruzados sobre o peito e sua habitual expressão séria no rosto. Observou silenciosamente os candidatos a novo piloto da organização de Braga, a maioria deles muito jovens e ingênuos. Dominic esperava ganhar aquela corrida e impedir que aqueles jovens encontrassem um terrível destino.

Enquanto observava as pessoas ao seu redor, Dom notou a presença de uma morena alta, magra e bonita, fitando-o com curiosidade. Ao lado dela estava um homem muito alto, negro, de cabelo estilo moicano, vestido com roupas pretas apertadas e botas de coturno. O olhar do homem era ameaçador, mas Dominic não estava com medo. Pelo menos não até ver um Sedan 4 portas, azul estacionar perto do carro dele e de lá de dentro sair Bryan O'Conner.

- Mas que porra é essa?- Dominic disse consigo mesmo, irritado. Afinal o que Bryan estava fazendo ali? Isso não fazia parte do combinado.

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Bryan viu o olhar de Dominic para ele, mas fingiu que não o conhecia. Era melhor assim. Braga jamais poderia desconfiar de que eles se conheciam. O policial sabia que Dom devia estar muito zangado com ele naquele momento por estar ali pronto para participar da corrida. Mas ele não tinha outra escolha. Se não seguisse as ordens do FBI, seu Chefe daria um jeito de afastá-lo do caso, o que não seria nada bom para ninguém, principalmente para Dominic.

Dominic engoliu em seco querendo esganar Bryan naquele momento. Mas não podia confrontá-lo ali na frente de todo mundo, levantaria muitas suspeitas e arruinaria o plano. Por isso, ele se manteve quieto e fingiu não conhecer Bryan.

Gisele observou o recém-chegado com interesse. O sujeito parecia certinho demais para estar ali naquele ambiente.

- Quem é aquele?- indagou Fênix como se adivinhasse os pensamentos dela.

- Eu não sei.- respondeu Gisele concentrando toda sua atenção em Bryan e no carro que ele dirigia. Deve ser algum filhinho de papai a fim de emoções fortes.

- Então o mauricinho quer correr?- Fênix debochou. – Aposto toda minha grana desse trabalho que o Toretto acaba com ele na pista!

- Mesmo depois do Toretto ter perdido pra uma mulher na última corrida?- Gisele questionou com um sorriso irônico.

- Ah, ele deixou ela ganhar!- disse Fênix. – O cara estava distraído demais por causa de um traseiro empinado. Imagino que a vitória dela tenha valido a pena para ele!- completou fazendo um gesto obsceno com ambos os braços.

Gisele revirou os olhos e disse:

- Bem, se você aposta a grana do trabalho de hoje também vou apostar a minha, mas no loirinho.

- Por quê?- perguntou Fênix, surpreso. – Você sabe que el jefe (o chefe) está interessado no Toretto, por que iria querer esse maricón?

Dessa vez ela sorriu.

- O Braga faria bom uso de dois pilotos a mais, e algo me diz que o loirinho ali não vai deixar o Toretto ganhar assim tão fácil.

Ela então se afastou de Fênix e sussurrou consigo mesma:

- O show vai começar!

Gisele se aproximou de Bryan que estava parado ao lado de seu carro. Algumas garotas tinham vindo falar com ele porque o carro dele chamava muito a atenção. Ele sorria e respondia às perguntas delas, flertando. Fingir ser mais um corredor interessado em ganhar uma boa grana trabalhando para o Braga fazia parte de todo o teatro.

- Ei, loirinho!- Gisele chamou.

Bryan não se voltou para ela. Continuou falando com as garotas. Gisele franziu o cenho e perguntou em voz alta, finalmente chamando a atenção dele:

- Acha que pode ganhar a corrida com essa máquina?

Ele parou de falar com uma loira de seios fartos que estava quase se deitando no capô do carro dele enquanto falava e sorriu para Gisele ao responder:

- Tem alguma dúvida?

- Eu não.- respondeu ela. – Mas meu chefe tem muitas, por isso é meu trabalho tirar todas as dúvidas dele quando escolho os pilotos. Quem foi que te mandou aqui?

- Park!- Bryan respondeu de imediato.

Gisele franziu o cenho e disse:

- Há muito tempo que o Park não nos enviava pilotos, desde que soubemos que o FBI anda atrás dele.

Bryan gelou por um segundo. Esquecera-se completamente de que Park já não era um nome muito popular na organização de Braga. No entanto, o instinto de sobrevivência falou alto e ele acrescentou antes que a garota fizesse mais perguntas:

- Eu quis dizer, Camila Park!

- Oh, Camila!- disse Gisele concordando com um sorriso. – Ela só nos arranja pilotos dos bons.

Camila Park era a irmã de David Park, e assim como o irmão também estava envolvida no negócio de arrumar pilotos para Braga entre outros serviços escusos, porém, ao contrário do irmão ela ainda não havia sido encontrada. Foi Park quem a delatou quando foi preso por Bryan há um ano atrás, no entanto, Camila fora mais esperta que o FBI e conseguira fugir antes que a equipe enviada para prendê-la conseguisse cumprir sua missão. Bryan estava aliviado de ter se lembrado do nome dela.

- O que eu preciso fazer pra entrar nessa?- Bryan indagou à Gisele prestando bastante atenção ao seu tipo e feições. Pediria a Trinh para fazer uma busca por essa mulher nos arquivos federais assim que fosse possível.

As garotas vibraram com a pergunta dele para Gisele. Elas estavam muito interessadas em ver o novato correr.

- É só me seguir, loirinho!- disse Gisele com seriedade.

Bryan então a seguiu. Carregava sua arma consigo. Sabia que seria revistado na entrada do clube noturno onde os encontros pré-corridas eram feitos, mas queria que encontrassem sua arma. Isso daria a ele um ar de perigoso e conseqüentemente aceito pelo cartel se comportando como eles. Todos os integrantes do cartel andavam armados afinal.

Outros pilotos também interessados em correr esperavam por Gisele à porta do clube noturno, Fênix também estava lá. Dom era um desses pilotos, mas ao contrário de Bryan não possuía arma alguma. Ele não precisava. Sabia que seria aceito na corrida já que Braga sabia sobre ele e sua história nas pistas. Dominic só queria entender que conexão havia entre o pacote que ele recebera no Panamá, Letty e o interesse de Braga neles. Era principalmente por isso que estava ali.

Bryan passou em frente a ele, mas Dominic sequer o olhou quando seguiu os outros pilotos para dentro do clube com aquela mulher que os guiava. A garota deu um olhar interessado a ele, mas Dom a ignorou por completo. Ele já a tinha visto encarando-o assim que chegara ao local. O sujeito que estava ao lado dela parecia-se exatamente com o homem descrito por Letty como seu agressor. Dom queria matá-lo ali mesmo, mas precisava controlar-se e se manter frio até que a oportunidade de vingança chegasse. Não podia colocar o plano a perder.

Assim que eles foram entrando no clube, Fênix foi revistando-os um a um. Achou um vidro de esmalte de unhas vermelho no bolso de um dos candidatos e mandou que o sujeito fosse embora alegando que Braga não estava interessado em contratar manicures.

Quando chegou a vez de Bryan, Fênix tocou-o rapidamente, batendo em seus ombros e checando seus sapatos. Encontrou a arma dele e experimentou-a por alguns segundos.

- Está travada.- falou Bryan.

Fênix sorriu cinicamente.

- Hermano, se quer trabalhar para o Braga, não pode andar com uma sig sauer travada.

- Não quero atirar nos meus bens, Hermano!- respondeu Bryan com um sorriso ainda mais cínico e Gisele deu uma risadinha, dizendo:

- Esperto!

Dominic foi o último a ser revistado. Sua expressão facial foi indiferente durante os poucos segundos em que Fênix fez seu trabalho. Ao final, o homem disse a ele:

- Sem armas?

- Não preciso de armas.- Dom respondeu.

- Certo, a sua cara feia é o bastante.- Fênix comentou, rindo da própria piada em seguida. A expressão de Dom não se alterou nem por um segundo quando ele respondeu à provocação:

- Sendo assim você também não precisaria andar armado.

Alguns dos pilotos presentes sentiram vontade de rir das palavras de Dom, mas ao ver a expressão nada amigável de Fênix desistiram do intento. Gisele apenas sorriu e pediu que os pilotos agora já revistados a acompanhassem.

Bryan acabou tendo que caminhar ao lado de Dom, mas fingiu não conhecê-lo. Sequer olhou para ele, o que Dominic achou excelente. Ele tinha medo que Bryan desse alguma mancada e colocasse tudo a perder.

Gisele os guiou através de um corredor escuro que levava à pista de dança e ao bar da boate. Após passarem por um monte de pessoas dançando e se embebedando, ela os levou através de um corredor mais estreito onde havia uma escada que levava ao andar de cima.

Já no patamar superior, ela abriu uma porta de metal e permitiu que os pilotos entrassem na sala um a um. Lá dentro havia um homem jogando golfe, de costas para a porta e de frente para uma parede de vidro que permitia a ele observar a tudo e a todos lá de cima. Bryan olhou para ele e imaginou que não deveria se tratar de Braga. O homem não iria se expor assim, deveria haver muitos capangas trabalhando para ele.

A sala era ampla e parecia-se a um grande escritório, fora o fato de haver um mini campo de golfe e uma loja de conveniências particular lá dentro. Os pilotos se enfileiraram um ao lado do outro, alguns se sentaram em cadeiras espalhadas pelo recinto. Bryan viu-se ao lado de Dom, mas manteve sua atenção no homem que jogava golfe. O sujeito parecia muito entretido com seu joguinho, no entanto, assim que todos se acomodaram, ele disse:

- Vocês sabem porque estão aqui.

Ninguém disse nada, apenas ficaram ouvindo atentamente o que aquele homem dizia. Dom focou no rosto daquele sujeito e ficou imaginando se quando Letty estivera ali há um ano atrás tinha sido da mesma maneira. E de fato, Campos repetia para aqueles candidatos a piloto, o mesmo discurso que fizera quando Letty estivera ali há um ano atrás, o mesmo que fizera tantas vezes para tantos outros.

Enquanto falava, ele continuou jogando, sem se incomodar em encarar seus convidados ainda.

- Bons pilotos... – ele começou enquanto se preparava para dar outra tacada. - ...a gente encontra por aí de dúzias!- acrescentou assim que executou sua jogada. – Em cada esquina tem um tunador chingadera atrás de carros. Mas não é isso o que o Braga quer que eu ache!

Ele deu mais uma tacada e a bolinha de golfe voou longe, passando pelas amplas janelas abertas da sala. O sujeito continuou com seu discurso:

- O Braga quer alguém que venda a própria abuelita para pilotar.- ele voltou-se para os presentes. – Um carro de dez segundos, não em linha reta. Mas para forçá-lo a ir aonde ninguém mais chegaria. Pilotos de verdade. Entiendes?(Entendes?)- ele parou junto de Dom que meneou a cabeça.

- O que vamos transportar?- Dom ousou perguntar, embora já soubesse a resposta.

- Pela grana que o Braga paga, não precisa saber.- respondeu o homem. Bryan exclamou em pensamento: "Mas que desgraçado!".

- Disse que queria pilotos de verdade.- falou Dom. – Pois um piloto de verdade sabe exatamente o que está carregando em seu carro.

Gisele deu um meio sorriso. Então o tal Dominic Toretto era mesmo muito esperto. Isso o fazia ainda mais interessante para ela. O homem que fazia seu discurso a respeito do que Braga queria, o qual Bryan sabia se chamar Ramon Campos de acordo com as informações fornecidas por Letty, colocou seu taco de golfe de lado e deu uma longa golada em uma cerveja trazida por uma de suas empregadas particulares.

Fênix, o sujeito alto, tatuado e cheio de cicatrizes, responsável por perseguir Letty e deixá-la quase morta, olhou para Dom e falou cheia de arrogância:

- Mira, (Olha) piloto de verdade...você não vai correr forçado.

- Você é o Chefe?- Dom indagou fazendo pouco caso dele. – Ou eu estava falando com o Chefe?

Fênix aproximou-se de Dom com olhar ameaçador e rebateu:

- Por acaso tenho cara de Chefe?

Campos explicou-se sem se ofender com a arrogância de Dom:

- Papi, o meu trabalho é achar os melhores pilotos, e ponto final. Quem ganhar a corrida tem a informação, entendido?

Gisele começou a entregar aparelhos de GPS a cada um dos candidatos a piloto. Fênix continuou olhando para Dom, mas dessa vez com expressão de deboche. Assim que Gisele se aproximou de Dom para entregar-lhe seu GPS, Campos perguntou a ele:

- Estamos entendidos?

Dom olhou para Gisele atentamente, então respondeu, pegando o GPS das mãos dela: - É, estamos sim.

- Ninguém!- Campos respondeu como se fosse a coisa mais natural do mundo fazer uma corrida em meio ao trânsito das ruas de Los Angeles. – Esse é o lance!

- Não estamos entendidos, não.- disse um outro candidato a piloto, segurando seu GPS. – Eu quero saber quem vai fechar as ruas para a corrida?

Campos e Gisele sorriram abertamente.

- Ninguém!- Campos respondeu como se fosse a coisa mais natural do mundo fazer uma corrida em meio ao trânsito das ruas de Los Angeles. – Esse é o lance!

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Letty olhava no relógio de cinco em cinco minutos. Estava se sentindo muito nervosa. Ela não duvidava de que Dom venceria a corrida. No entanto, o que a preocupava era a segurança dele. Ela sabia do que Braga era capaz, e se ele estava atrás de Dom por causa dela, não demoraria a fazer algo contra ele para atingi-la e fazer com que ela se entregasse. Mas havia Nina. Letty olhou para a filhinha dormindo em sua cadeirinha, tão tranqüila e alheia a tudo o que estava acontecendo ao seu redor. Nada era mais importante do que Nina agora.

Se as coisas dessem errado com Dom na corrida, ela teria que fugir novamente, mas esperava que não chegasse a esse ponto. Mesmo assim, Letty estava preparada. Ainda tinha boa parte do dinheiro que ganhara trabalhando como mecânica na República Dominicana e o estava guardando para uma fuga rápida com Nina.

Sentindo-se cansada, ela resolveu parar de pensar no pior e deitou-se na cama completamente relaxada. Fechou os olhos e procurou pensar em coisas boas. Pensou em como seria seu futuro com Nina se Dom conseguisse a anistia do FBI. Imaginou a ambos na praia com a filha, a menina pisando na areia pela primeira vez e brincando na água. Seria uma imagem maravilhosa de se ver.

De repente, ela ouviu passos no assoalho de madeira do corredor que dava pra o quarto e sorriu. Dom estava de volta e ela estava louca para celebrar a vitória com ele. Levantou-se de súbito e sentou-se na cama, dizendo:

- Dom?

Não houve resposta.

- Roman?- ela fez uma segunda tentativa imaginando se o novo amigo estava indo perguntar se ela precisava de alguma coisa. Novamente sem resposta. Letty sentiu um calafrio na espinha e deixou a cama de imediato. Pensou na arma que Dom tinha lhe dado ainda na casa de Vince sem ninguém saber para que ela protegesse Nina e a si mesma quando ele estivesse longe.

Porém, Letty não teve tempo de pegar a arma escondida em sua valise, pois uma mulher alta e loira entrou no quarto e sem nenhum aviso partiu para cima dela, atirando-a contra a cama em um golpe rápido e certeiro de braços e pernas. Letty nem soube dizer o que a tinha atingido.

A mulher olhou direto para os olhos de Letty, tinha expressivos olhos azuis e usava óculos de grau de armação delicada. Letty tentou se soltar e olhou com ódio para a mulher que a segurava, mas antes que ela falasse, a outra falou primeiro:

- Quem é você? E o que está fazendo no quarto do Roman?

Nesse momento, Nina acordou com o barulho das duas no quarto e começou a chorar desesperadamente.

- Mas o que é isso?- a mulher por cima de Letty indagou, a distração dela foi o suficiente para que Letty a empurrasse de cima dela e a jogasse quase contra a parede do quarto.

- Se chegar perto de mim de novo você será uma mulher morta!- Letty sussurrou as palavras ameaçadoramente e rolou para o lado da cama, indo para perto da filha, porém mantendo-se em posição de ataque, se ao menos pudesse pegar a arma escondida debaixo do criado-mudo, estava tão perto.

- Deus!- exclamou a mulher loira, agora parecendo assustada. – No que foi que o Roman se meteu agora?- ela disse como se conversasse consigo mesma.

Nina berrava sem parar e a mulher loira dirigiu seu olhar a ela, mas Letty finalmente conseguiu pôr as mãos na arma apontou-lhe:

- Não chega perto da minha filha! Não ouse! Foi o Braga quem mandou você?

- Quem é Braga?- a loira questionou com olhar confuso. – E quem é você? Por que está aqui? E essa criança?

- Sou eu quem faço as perguntas aqui!- disse Letty mantendo-se ao lado de Nina. Ela queria acalentar a filha no colo e acalmá-la, mas precisava primeiro descobrir o que aquela mulher queria ali. – Quem é você? Esta é a última vez que eu pergunto. Na próxima, eu vou atirar.

A loira levantou as mãos para o alto em um gesto de rendição, mas antes que pudesse dizer alguma coisa ambas ouviram novos passos no corredor e Letty acabou se distraindo, imaginando que seria mais alguém que estava ali com aquela mulher para machucar a ela e a Nina. Porém, desta vez foi a loira quem se aproveitou da distração de Letty e num gesto muito rápido, ela deu uma rasteira nela, conseguindo pegar a arma.

Letty se arrastou para perto da filha e a protegeu com os braços dizendo exasperada:

- Porra! Quem é você? Vai ter coragem de me matar na frente da minha filha? Ou vai matar a nós duas juntas?

A mulher balançou a cabeça negativamente.

- Mas do que você está falando, sua louca? Eu nem sei usar isso. – ela mostrou a arma. Só quero saber o que você está fazendo no quarto do Roman! É uma das amantes dele? Eu sabia!- ela abaixou a arma antes de dizer com a voz quase chorosa: - Essa menina é dele?

- O quê?- Letty questionou com o cenho franzido.

- Letty, está tudo bem? Com quem está falando?- perguntou Roman de repente vindo pelo corredor e entrando no quarto. Mas ao ver sua namorada Pitty praticamente apontando uma arma para Letty, ele deu um suspiro assustado. – Opa, peraê! Que é isso, gata? Cuidado com esse revólver! Você não sabe nem mexer nisso. O que cê tá fazendo?

Ela se voltou para ele com fúria, mas manteve a arma abaixada.

- Roman, quem é essa mulher? Essa criança que está com ela é sua filha?

- Uou!- exclamou ele. – Não mesmo, Pitty, você está entendendo tudo errado. Eu não tenho nada com a Letty e a garotinha não é minha. Da onde você tirou isso?

- Pitty?- Letty exclamou compreendendo de repente quem era aquela mulher. – Então esta é sua namorada?- ela indagou se levantando do chão e tomando Nina nos braços, balançando-a suavemente junto ao peito para que o bebê se acalmasse.

- É, a Pitty é a minha namorada. Desculpa aí, Letty! Eu não tinha tido tempo de contar para ela que estava ajudando vocês.

Letty olhou para a mulher com ressentimento e disse:

- Vou esperar lá fora, e depois, faça o favor de devolver a minha arma!

Assim que Letty saiu, Pitty colocou a arma sobre a cama e encarou Roman.

- Tá legal, agora me explica o que diabos está acontecendo aqui, Roman Pierce. Quer dizer que eu passo dois dias fora e já encontro você numa encrenca? Por que essa mulher está aqui na sua casa, armada e com uma criança indefesa? Se ela não é sua amante, quem é ela?

- É uma longa história e eu vou te contar tudinho.- disse ele segurando-a pela mão e sentando-se com ela na cama.

- Sou toda ouvidos.

- Bem, tudo começou quando o Bryan veio aqui ontem à noite...

- Bryan O`Connor?- ela retrucou.

Roman assistiu. Pitty balançou a cabeça em negativo.

- O Bryan só consegue te meter em encrencas pelo que você já me contou a respeito dele. Então, o que ele está aprontando dessa vez?

- Sim, ele veio aqui e trouxe uns chapas dele que estão sendo procurados pelo FBI...aí...

Então ele contou tudo à namorada que no final da história sentiu-se muito envergonhada pela maneira como tinha tratado Letty. Mas como ela poderia saber no que seu namorado estava metido? Decidiu que pediria desculpas à Letty. Esperava que ela as aceitasse.

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Dom não estava surpreso com as regras da corrida. Letty tinha explicado tudo a ele durante o tempo que passaram juntos na garagem de Roman preparando o carro.

- Os que quiserem ainda podem desistir!- frisou Campos como era de praxe.

Mas ninguém desistiu como era de se esperar. Braga prometia aos seus pilotos dinheiro e fama, mas tudo o que encontravam no fim era a morte certa. Bryan precisava acabar com aquilo. Ramon Campos tinha que escolhê-lo!

- Isso é tudo!- disse ele dispensando os pilotos logo após explicar todas as regras da corrida, o que na verdade era irônico, pois se tratava de uma corrida sem regras.

- Acompanhem-me, por favor.- pediu Gisele conduzindo-os para fora da sala e então para fora da boate. Em alguns minutos a corrida teria início.

- Se acontecer alguma coisa com a gente... – disse um dos pilotos com o semblante preocupado, tocando o braço de Gisele gentilmente quando eles estavam saindo da boate. Fênix mantinha-se próximo dela, pronto a defendê-la caso o homem tentasse algo. - ...receberemos socorro médico, certo?- acrescentou o homem. Gisele deu um sorriso cheio de escárnio.

- Sem socorro médico, amigo. Estão aqui por sua conta e risco.- ela completou olhando para Dom e então para Bryan, como se pressentisse algo neles em relação ao sucesso daquela corrida.

Logo todos estavam do lado de fora e entrando em seus carros, preparados para correr. Dom também entrou em seu carro, instalou o GPS e então tocou o crucifixo que pendia do espelho retrovisor central. Letty guardara aquele crucifixo que ele deixara para ela quando partira na República Dominicana. Agora a joia voltava para o lugar onde pertencia.

Ele ligou o carro e deu uma boa arrancada no motor. Os carros foram se alinhando lado a lado apenas esperando o GPS dar a largada. Dentro de cada carro, o aparelho recém instalado mostrou em seu visor colorido algumas imagens computadorizadas do trajeto da corrida. Uma voz feminina eletrônica soou então do GPS: "Por favor, aguarde as direções serem baixadas."

No visor, Dom podia acompanhar a posição em que cada carro se encontrava e os visualizava em suas devidas cores.

"Siga pela rota demarcada."- a voz eletrônica continuou, enumerando os concorrentes e mostrando a direção a seguir na tela. Uma contagem regressiva iniciou-se:

"10, 9...8...7..."

O carro de Bryan estava parado ao lado do carro de Dom e ele olhou para o amigo que finalmente se manifestou a respeito da presença dele ali.

- Que diabos pensa que está fazendo aqui, O`Conner?- Dominic indagou sem se abalar.

- Estou tentando tirar o seu da reta.- respondeu Bryan sem olhar para ele. – Mas o jogo pode mudar de uma hora para outra sem que tenhamos controle sobre isso.

- É o que você diz- disse Dominic agora totalmente concentrado na corrida que tinha para vencer. – Mas só um piloto será escolhido esta noite!

- Isso mesmo!- disse Bryan com um sorriso irônico, também concentrado.

"...4, 3, 2, 1!"- várias imagens de mulheres em trajes sumários apareceram na tela do GPS. "Vá!"- as letras coloridas piscaram na tela indicando que a corrida começara.

Dominic saiu na frente, forçando o carro ao máximo e dando um cavalo de pau. As pessoas que assistiam à corrida vibraram. Gisele, Campos e Fênix ficaram assistindo a corrida de uma distância segura. Dom continuou mantendo a liderança por longos minutos, seu GPS o guiava: "Curva à direita adiante. Está a oito quilômetros do seu destino."

Os carros iam a toda velocidade, driblando o trânsito das ruas, ultrapassando sinais vermelhos e mantendo-se próximos uns aos outros. Bryan foi empurrado por um dos competidores e seu carro acabou derrapando no meio da pista, logo ele viu-se preso entre cerca de 4 ou 5 carros de passeio, o que o atrasou bastante. Porém, ele conseguiu acelerar e se aproximar de novo de Dom. Ao ver Bryan chegando, Dominic pisou fundo no acelerador e sumiu do campo de visão de Bryan.

Dom foi se livrando de todos os competidores, um a um, confundindo-os e os fazendo pegarem direções erradas, mas Bryan O`Connor continuava em seu encalço. Ao tentar chegar perto de Dom outra vez, por pouco Bryan não bateu na traseira de um caminhão enorme. Seu coração bateu acelerado e ele segurou firme no volante.

Enquanto isso, os outros pilotos brigavam entre si pela liderança para que tivessem a oportunidade de tentar vencer Dom que continuava à frente de todos. O empurra-empurra provocado por dois motoristas acabou resultando em tragédia, um dos carros capotou três vezes e quase atingiu o carro de Bryan. Ele freou com força e escapou de ser tirado da pista, passando por baixo do carro do outro piloto antes que este se espatifasse no chão.

- Fala sério!- Bryan exclamou, aliviado por não ter sido atingido pelo carro.

Todas as vezes em que fora obrigado a desviar fizeram com que Bryan saísse muito da rota. A voz no GPS falou: "Recalculando a rota." Bryan fez uma manobra rápida, virando com tudo na pista, tentando pegar sua rota de volta. O GPS continuava insistindo: "Recalculando a rota."

Mas Bryan estava mesmo muito longe dos outros e teve que pegar um atalho em um beco, sair entre os pedestres que correram assustados pela calçada. Dessa maneira ele conseguiu recuperar um pouco de seu tempo. O GPS disse mais uma vez: "Recalculando a rota."

- Ah, cala a boca!- Bryan exclamou, sem paciência.

"Está a 7,2 km do seu destino."- anunciou o GPS.

Agora ele dirigia sobre uma pista alta da onde podia ver logo abaixo Dominic e mais um carro que o perseguia. Os outros pilotos já tinham ficado para trás. Bryan precisava achar um jeito de descer daquela pista.

"Retorne se possível".- sugeriu o GPS.

- Tá brincando, né?- protestou Bryan.

"Está a 6,7 km do seu destino."

Bryan respirou fundo. Tinha acabado de ter uma ideia maluca que poderia funcionar.

- Desculpe, carro.- ele falou quando colocou o pé no acelerador e pisou com força. Então de repente, ele estava descendo para pista através de um gramado que lhe servia de apoio, quebrando todas cercas de proteção. Mas ele logo estaria lá embaixo.

Quando Bryan estava finalmente de volta à pista de competição, o GPS anunciou com orgulho: "Está a 1,6 km do seu destino."

- Adivinha quem voltou? - ele gritou, empolgado.

O outro piloto que competia ferozmente contra Dom jogou seu carro diversas vezes contra o carro dele.

- Carro maneiro, amor!- disse o homem, debochado.

Dom procurou se desviar dele e o sujeito logo se atrapalhou todo, batendo contra um carro de passeio e capotando na pista. Dominic acelerou e seguiu em frente. Agora só restavam ele e Bryan na competição que continuou muito acirrada. Dom bateu de propósito com seu carro no carro de Bryan afastando-o da liderança mais uma vez. O'Conner gritou:

- Babaca!

"Está a 400 metros do seu destino."- o GPS no carro de Dom anunciou.

Bryan não desistiu e conseguiu chegar perto de Dom outra vez, emparelhando seu carro com o dele. Já estavam muito perto da linha de chegada e Dom resolveu acionar o botão de NOS do carro e vencer a corrida. Mas Bryan não abalou-se com isso.

- Muito cedo, Dom.- disse ele fazendo pouco do amigo antes de acionar o próprio booster do seu carro.

No entanto, quando Bryan estava prestes a ultrapassá-lo, Dominic jogou seu carro contra o dele com tanta força que o fez dar círculos na pista. Bryan gritou, indignado:

- Nãoooooo!

- Continua um principiante.- comentou Dom rindo consigo mesmo pouco antes de chegar à linha de chegada onde Campos, Gisele e Fênix os esperavam.

"Você chegou ao seu destino."- finalizou o GPS para Dom exibindo novamente várias imagens de mulheres bonitas e seminuas.

Dom desceu do carro com a mesma postura arrogante e séria de antes. Bryan desceu de seu carro logo em seguida e caminhou até ele, petulante, dizendo:

- Agora sabemos que não me vence honestamente.

- Não sabia que a honestidade era uma regra.- Dom respondeu calmamente.

Fênix aplaudiu Dominic com entusiasmo:

- Así me gusta! (É assim que eu gosto). Isso é que é um piloto de verdade!

- É ridículo!- protestou Bryan.

- Vai chorar pra mamãezinha!- disse Fênix, debochando dele.

- Não precisa chorar não!- disse Gisele, também debochando. – Na verdade Braga nos pediu para encontrar dois pilotos para a equipe, mas eu realmente não achava que fôssemos conseguir dois tão bons. Portanto, você também pode ficar.

Bryan que tinha se afastado um pouco para ir embora, caminhou de volta para junto deles. Campos apertou a mão de Dom.

- Você trabalha para o Braga agora. Onde o GPS mandar você vai!

Em seguida ele deu um sorriso à Bryan e acrescentou antes de se afastar:

- Você também!

Gisele se aproximou de Dom lançando-lhe um inegável olhar sedutor.

- Carteira de habilitação, por favor.

- Que carteira de habilitação?- perguntou Dom.

- Polegar.- Gisele respondeu mostrando a ele uma pequena máquina de tirar impressões digitais.

Dom fez o que ela pedia. Bryan ficou aguardando.

- Agora preciso do número do seu celular.

Dominic não respondeu, apenas ficou olhando para ela. Gisele explicou-se:

- A impressão digital é para o Campos, o número do telefone é pra mim.

Ele deu um meio sorriso, mas manteve o número de seu telefone um mistério.

- Vai ter uma festa no clube para os pilotos agora.- Fênix anunciou. – Estão convidados!

- Te vejo na festa!- disse Dom se afastando enquanto Bryan se aproximava para dar a Gisele sua digital.

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- Para onde está me levando?- era a terceira vez que Maria Teresa Muñoz questionava a agente Mônica Fuentes sobre para onde estavam indo desde que ambas deixaram a Sede Regional do FBI em Los Angeles. Teresa ainda estava sob custódia, mas Mônica conseguira convencer o chefe de que seria menos aparente se as duas deixassem o FBI no carro dela ao invés de usar uma viatura de polícia. Era óbvio que Braga já deveria saber que Teresa estava sob custódia da polícia, por isso armara o acidente na lanchonete. No entanto, uma vez que ela entrasse no programa de proteção à testemunha juntamente com o filho, ele não teria mais nenhuma ideia de seu paradeiro, portanto quanto menos chamassem a atenção para a localização dela melhor.

- Estamos indo ver o seu filho.- Mônica respondeu.

Teresa ficou agitada.

- O meu filho? Estamos indo ao Today`s? Eu não posso ir até lá, se estiverem me vigiando vão descobrir onde o meu filho está!

- Teresa, seu filho não está mais no Today`s.- Mônica disse com cuidado estacionando em frente ao hospital onde o filho de Teresa estava internado em observação.

- Como assim não está?- Teresa retrucou.

- Houve um acidente no Today`s.- Mônica começou a explicar. – Um incêndio...

- Oh, meu Deus!- exclamou Teresa, muito nervosa. – O que houve com o Robbie? Ele está bem?

- O Roberto está bem.- respondeu Mônica. – Houve uma explosão seguida de incêndio no Today`s, mas seu filho escapou apenas com alguns arranhões. Ele é um menino esperto. Soube se esconder muito bem.

- E a Suzie?- indagou Teresa também preocupada com a amiga que estava cuidando de seu filho.

Mônica respirou fundo. Essa era uma das coisas que odiava em seu trabalho, ter que dar notícia de morte a alguém.

- Infelizmente sua amiga, Suzana Larson foi a única vítima fatal do incidente no Today`s. Eu tinha planejado ir buscar seu filho e a sua amiga para deixá-los em segurança mas não houve tempo. Eu sinto muito.

Lágrimas começaram a deslizar em abundância pelo rosto de Teresa, e ela indagava a si mesma por que a vida não parava de castigá-la? Já havia perdido tanto. Mas ainda tinha Roberto, e não deixaria que ninguém o tirasse dela.

- Eu quero ver o meu filho!- ela exigiu a Mônica.

- Foi por isso que eu a trouxe aqui.- disse a policial.

Poucos minutos depois elas caminhavam pela ala infantil do Hospital Municipal. Roberto Muñoz estava em uma enfermaria com mais outras três crianças. Mônica abriu a porta da enfermaria devagar. Era tarde e ela não queria acordá-las. Roberto dormia em uma cama perto da janela. Uma enfermeira de plantão lia alguns prontuários perto da cama dele. Mônica mostrou a ela seu distintivo e a mulher assentiu já sabendo do que se tratava.

Teresa aproximou-se do filho e sentou-se em uma poltrona junto à cama dele. O menino estava um pouco pálido e possuía alguns arranhões pelo rosto, pescoço e braços, além de hematomas nos joelhos que ela não podia ver, pois a criança estava coberta com um lençol.

- Eu tenho sido uma péssima mãe para ele.- Teresa sussurrou. – Eu prometi ao Robbie que iríamos para casa em Guadalajara e que Diogo e eu faríamos uma casa na árvore para ele.

- Você ainda pode cumprir sua promessa.- disse Mônica, puxando uma cadeira dobrável que estava encostada ao lado da porta do banheiro da enfermaria e a posicionando ao lado de Teresa. – Maria Teresa, eu soube que após meu interrogatório com você, você negou-se a testemunhar contra Arturo Braga e o homem responsável por você estar metida até o pescoço nesta situação. Por quê?

Teresa voltou-se para ela. Havia ódio e frustração em seu olhar.

- Você ainda me pergunta por quê? Suzie está morta e meu filho quase morreu por causa desse Braga. Eu estou presa! Onde mais essa situação ainda pode parar? Eu quero um futuro melhor pro meu filho, não posso permitir que isso continue! Meu irmão ainda está desaparecido...

- Seu irmão está morto, Teresa!- Mônica disse de uma vez, mas havia um pesar sincero em sua voz.

- O quê?- a mulher alteou a voz e Mônica fez um gesto para que ela se acalmasse e não acordasse as crianças. Teresa procurou se controlar. – Como sabe disso? Encontraram o corpo dele?

Mônica balançou a cabeça negativamente.

- Não, não encontramos o corpo dele, mas eu conheci uma pessoa que estava presente quando ele foi morto.

- Quem é essa pessoa?- Teresa indagou tentando conter o nó que se formava em sua garganta.

- Não posso informar o nome desta pessoa por razões de segurança, mas ela também era um dos pilotos do Braga juntamente com o seu irmão e na mesma missão, no entanto ela conseguiu fugir.

- O que aconteceu com ele?

- Segundo ela, todos os pilotos foram levados ao deserto transportando drogas no porta-malas do carro para o cartel de Braga. Uma vez que o carregamento estava em um local seguro da fronteira, os pilotos começaram a ser mortos um a um e foi isso o que aconteceu com o Diogo!

- Oh, Deus!- Teresa murmurou baixinho num soluço. Mais lágrimas deslizavam por seu rosto.

- Agora, testemunhar ou não é uma escolha sua, Maria Teresa.- afirmou Mônica. – Mas saiba que você será indiciada pelo seu ataque à Mia Toretto e pelo seu envolvimento com o Cartel do Braga. Você cumprirá pena e o Roberto irá para lares adotivos, então eu te pergunto, é isso o que você quer? É esse o futuro que dará ao seu filho?

Teresa abaixou a cabeça e ficou quieta durante alguns minutos em um choro silencioso e sofrido. Ela não tinha saída. Se fosse presa poderia perder seu filho, mas se testemunhasse haveria a possibilidade de obter uma condicional e continuar vivendo em Los Angeles com Robbie e dar um futuro melhor para ele.

Assim, quando ela voltou a erguer a cabeça e encarou a agente Mônica Fuentes novamente, seus olhos transmitiam além de ódio e tristeza, resignação.

- Está bem, eu testemunharei contra Braga. Mas o FBI terá que dar a mim e a Roberto proteção total até que este homem esteja preso, caso contrário ele nos matará como fez com meu irmão e com Suzie, e quem sabe com quantos outros mais.

- Você tem a minha palavra de que ficará em total segurança até que Braga seja condenado.

Teresa assentiu. Mônica sentiu-se vitoriosa, afinal tinha ganhado um voto de confiança de uma das principais testemunhas naquele caso. Ela deixou que Teresa ficasse um pouco a sós com o filho e foi esperar por ela no corredor. Sentou-se em uma poltrona ao lado da enfermaria e mandou uma mensagem de texto para o celular de Bryan, dizendo:

"Eu consegui! Maria Tereza Muñoz vai testemunhar! E você? Venceu a corrida?"

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Bryan não podia acreditar que Dominic o tinha vencido novamente. Por mais que ele tivesse conseguido entrar para a equipe de Braga com a ajuda daquela garota, Gisele, ele se sentia derrotado. Sabia que estava sendo infantil, mas prometera a si mesmo que um dia venceria Dom em uma corrida. A mensagem que recebera de Mônica só serviu para deixá-lo mais chateado. No entanto, ele precisava deixar aquele sentimento de lado naquele momento e se concentrar no caso. Mônica tinha conseguido a cooperação de uma testemunha e isso era ótimo. Letty era a testemunha principal deles e se ele conseguisse qualquer tipo de garantia do FBI de que Dom teria sua ficha limpa após aquele caso, ela não faria nenhuma objeção em testemunhar também.

Após a corrida, ele tinha seguido para a boate para uma espécie de comemoração em honra dos novos pilotos do Cartel aceitando o convite de Campos juntamente com Dom. Aquela corrida tinha sido a última para formar uma nova equipe e Braga distribuía aos pilotos álcool, drogas e sexo de graça e em excesso.

Dominic não queria estar ali, ansiava voltar para junto de Letty, porém era preciso continuar fingindo. Ele viu Bryan sentado junto ao bar bebendo uma cerveja Corona. O`Connor estava certo, a única coisa segura de se beber ali era cerveja, no resto não dava para confiar. Dom ainda se perguntava o que Bryan estava pretendendo ao competir com ele na corrida e o que fora aquela cena que ele fizera na linha chegada. Se aquilo havia sido parte do plano, era uma parte que Dom desconhecia.

Bryan viu quando Dominic caminhava em direção a ele no bar, mas manteve o disfarce, não estava mais sendo tão difícil já que ele se sentia melindroso por seu amigo mais uma vez tê-lo vencido na pista.

"Eu quase ganhei de você!"- Bryan recordou-se de ter dito isso a Dom na primeira vez em que competiram na pista, desde então a realidade ainda era a mesma, ele "quase" ganhava, mas nunca ganhava de fato. Estava ficando difícil conviver com aquilo.

Dom podia perceber o quanto seu amigo estava aborrecido por ter perdido a corrida, isso o divertia e ele resolveu provocá-lo:

- Chorando sua derrota?- indagou à Bryan logo depois de pedir uma cerveja ao barman.

- Derrota?- retrucou Bryan. – Depende do ponto de vista. – Eu entrei pra equipe também, não entrei?

- É, graças à intervenção daquela garota, mas o que estava pensando?- Dom indagou calmamente, tomando um longo gole de sua cerveja em seguida. – Eu pensei que o objetivo de estar aqui fosse outro.

- As coisas mudam o tempo todo, devia saber disso.- Bryan respondeu malcriado.

- Eu saberia se alguém tivesse me contado.- devolveu Dom.

- Ainda estamos do mesmo lado.- Bryan sussurrou discretamente antes de tomar mais um gole de sua cerveja.

Nesse momento, Campos veio falar com eles. Muito bem humorado, colocou suas mãos nos ombros de ambos e chamou-os para beber com ele. Sentaram-se em um pequeno conjunto de poltronas que ficava em um recanto escondido da boate, obviamente um local reservado aos freqüentadores vip`s do clube.

Uma garçonete morena, muito bonita, de longos cabelos e usando pouca roupa se aproximou deles com uma bandeja contendo três doses de tequila. Campos sorriu para a moça e serviu-se, Dom e Bryan fizeram o mesmo.

- E então, estão gostando da festa?- Campos perguntou.

- Está ótima!- apenas Bryan respondeu. Dom manteve-se calado olhando as pessoas ao seu redor e segurando seu copo de tequila. A garçonete tinha acabado de deixar a garrafa na mesinha de centro e se retirado, mas permaneceu por perto caso Campos a chamasse.

- Andei averiguando algumas coisas sobre vocês, amigos.- Campos informou. – Você!- ele apontou para Dominic. – O FBI está atrás de você! Coisa pesada. E você!- dessa vez ele apontou para Bryan. – Cumpriu pena de dois anos por roubar carros. Duas figuras interessantes vocês dois. Mas o que eu quero saber é se realmente estão dispostos a fazer tudo pelo Braga.

- Você faria tudo pelo Braga?- Dom indagou sem delongas.

- Mas é claro que eu faria, hombre!- disse Campos com um largo sorriso no rosto, para ficar sério em seguida ao dizer fazendo um gesto com as mãos, incluindo todos ao seu redor: - Não apenas eu, todos aqui dariam sua vida pela Braga porque o Braga é fiel a esta comunidade.

- Fidelidade é uma coisa importante.- comentou Dom. – Difícil ter em quem confiar hoje em dia.- acrescentou olhando para Bryan de soslaio.

Bryan devolveu o olhar dele com um pouco de hostilidade. Campos olhou de um para o outro e em seguida perguntou:

- Vocês se conhecem?

- Eu costumava namorar a irmã dele.- Bryan respondeu.

- Você tem sorte então.- disse Campos. – Ainda está respirando.

Dom deu uma risadinha.

- Vamos brindar!- Campos sugeriu e os três ergueram seus copos de tequila.

- Às mulheres que amamos...e às mulheres que perdemos!- falou Campos. Dominic sentiu uma pontada no peito. Por culpa daquele homem, quase perdera Letty e sua filha. Sentiu vontade de estrangulá-lo junto com o tal de Fênix, mas precisava ser paciente e esperar o momento certo de agir. – Bom, meus amigos, a festa é de vocês! Eu preciso ir agora. Mas peguem o que quiserem, bebida, drogas, mulheres, fiquem à vontade!

- Até mais!- disse Bryan. Dom apenas meneou a cabeça.

Quando Campos se afastou, Bryan disse à Dom:

- Vou dar uma olhada por aí.

- Não vai encontrar nada de interessante. Não hoje!

- Nunca se sabe!- Bryan rebateu.

- Sabe que para um...tira... – Dom sussurrou a última palavra. – Você às vezes é meio lento, O`Conner.

Bryan ignorou o comentário dele e se enveredou entre as pessoas dançando no meio do salão. Queria ver se encontrava algo interessante para a investigação. Duas mulheres se aproximaram de Dom, sedutoras. Ele sorriu para elas e disse:

- Me desculpem, meninas. Mas eu já estava de saída.

- Ahhhhhh!- fizeram as duas fazendo beicinho.

- Fica pra uma próxima.- disse Dom largando seu copo de bebida vazio sobre a mesinha de centro, de frente para as três poltronas Vips.

Quando ele estava deixando a boate, viu Gisele perto do bar tomando uma bebida. Ela deu um sorriso sensual para ele, mas Dom, porém, apenas acenou deixando o local. Ele precisava voltar para a casa de Roman e ver Letty.

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Letty tinha finalmente conseguido acalmar Nina novamente depois da confusão com a namorada de Roman e agora a menina dormia tranqüila em seus braços depois de a mãe muito cantarolar e balançá-la nos braços. Estava ainda muito aborrecida com o que tinha acontecido e se aquela garota não fosse a namorada de Roman, Letty voltaria lá dentro agora mesmo e mostraria a ela com quem estava lidando, no entanto, era melhor que se acalmasse. Roman os estava ajudando e mesmo que depois daquele incidente eles tivessem que ir embora e buscar abrigo em outro lugar, ela tinha que esperar por Dom. Olhou no relógio. Quase uma e meia da manhã e ele ainda não tinha voltado. Seu coração estava apertado.

Ela aninhou a filha com cuidado nos braços, a menina estava envolta em sua manta branca, dormindo confortavelmente, sugando delicada a chupeta da mesma cor. Letty olhou para o céu e viu alguns raios cortarem a escuridão. Um nó formou-se em sua garganta e ela sentiu vontade de chorar. Até quando mais agüentaria viver naquela situação sem ter onde morar, fugindo da polícia? Sentia falta da época em que não precisava viver assim. Sua vida se resumia à antiga oficina do Sr. Toretto, consertando carros com Dom ou deslizando pelas pistas com seu carro turbinado, e quando chegava a noite e a lua se erguia majestosa no céu, ele dirigia com ela até a praia e eles namoravam e bebiam até o nascer do sol. Tudo parecia perfeito. A partir de quando viver tinha se tornado tão perigoso?

A porta de entrada da casa de Roman rangeu e Pitty desceu os dois degraus que davam para o canteiro de violetas. Quando Letty a viu, deu um passo atrás, protegendo instintivamente Nina com os braços, o olhar cheio de fúria. Pitty deu um sorriso sem graça e falou:

- Por favor, será que eu posso falar com você, Letícia? Gostaria de lhe pedir desculpas. Roman já me explicou tudo.

Letty olhou a outra mulher com desconfiança e não se aproximou. Pitty sentiu-se péssima. Desta vez sua cena de ciúme por causa de Roman tinha ido longe demais, porém, qual mulher não teria uma crise de ciúmes ao chegar à casa do namorado no meio da noite e encontrar outra mulher na cama dele, principalmente com um bebê? Qualquer uma pensaria o pior.

- Olha, eu quero mesmo me desculpar. Eu não tinha a intenção de machucar você ou assustar a sua filha.

- Não tinha a intenção de me machucar?- Letty inquiriu com uma sobrancelha erguida.

Pitty corou levemente.

- É, eu tinha a intenção de te machucar sim.- falou com sinceridade. – Mas só porque eu pensei que você fosse amante do Roman, só isso!

Roman surgiu à porta nesse momento.

- Amante do Roman?- Letty indagou em voz alta. – Então ele costuma de te dar motivo para pensar assim?

Pitty dirigiu o olhar ao namorado, ele fez cara de pânico e voltou novamente para dentro.

- Bem, ele não é nenhum santo.- Pitty respondeu. – Mas confesso que exagerei. Ele não iria tão longe ao ponto de ter um filho com outra mulher e trazê-la para cá.- ela fez uma pausa, como se estivesse pensando no que dizer, até que desculpou-se novamente da melhor maneira que conseguiu: - Eu sinto muito. Roman me contou tudo, deve estar sendo muito difícil pra você com o bebê, e o seu companheiro estar sendo procurado pelo FBI...

Letty nada disse, apenas assentiu e voltou a olhar o céu. A brisa antes amena se transformou em um vento forte e gélido vindo do sul. Pitty a convidou a entrar na casa:

- Vai cair uma tempestade logo, por que não entramos, Letícia?

- Pode me chamar de Letty.- disse ela acompanhando Pitty para dentro da casa. Não adiantava nada ficar lá fora com Nina e expô-la ao sereno e à chuva. A garota já tinha se desculpado e Letty achou as palavras dela sinceras. – Onde foi que aprendeu a fazer aquilo?- ela perguntou quando Pitty fechou a porta atrás delas, referindo-se ao golpe que a imobilizara no quarto de Roman.

- Pratiquei kung fu por muito tempo quando estava no colégio.- respondeu Pitty cheia de orgulho.

- Quem olha pra você jamais diria.- brincou Letty avaliando pela primeira vez o visual da namorada de Roman, o verdadeiro estereótipo da garota nerd da escola, mas ainda assim com estilo, botas pretas, saia xadrez vermelha, casaco preto e camiseta de botões branca.

- Isso foi um elogio?- Pitty devolveu a provocação. Letty sorriu. – Sua filha é uma gracinha. O Roman disse que ela se chama Nina.

- Na verdade, Anna Caterina, Nina é um apelido.

- É um lindo nome. – comentou Pitty. – O Roman também me contou sobre a corrida de hoje à noite. Eu espero que o seu namorado vença.

- Ele vai vencer. – Letty falou com confiança.

- Está tudo calmo por aqui agora?- Roman indagou com um sorriso amarelo, adentrando a sala e sentando-se ao lado de Pitty no sofá. Ele olhou para Letty e assegurou: - Olha, gata, a Pitty aqui é de extrema confiança, por isso eu contei tudo para ela. Não precisa se preocupar com nada não.

Pitty sorriu e ofereceu:

- Você e Dom podem contar comigo pra qualquer coisa, Letty. Eu realmente sinto muito pelo que aconteceu.

Letty sorriu para ela aceitando as desculpas. Era sempre bom ter novos aliados, principalmente num momento difícil como aquele. Lá fora, a chuva começou a cair depressa em pingos grossos para logo se transformar em uma tempestade.

Dom conseguiu voltar à casa de Roman no exato momento em que a tempestade começou a cair. Ele viu através do vidro da janela da frente que as luzes estavam acesas. Apesar de ser muito tarde, Letty estava acordada, esperando-o. Aquela constatação encheu-o de expectativas. Ele vencera a corrida e conforme prometera, Letty seria dele novamente. Como nos velhos tempos. Tudo aconteceria naturalmente, uma vez que eles começassem seria impossível parar. A paixão entre eles ainda era forte demais. Então por que se sentia tão nervoso diante da perspectiva de fazer amor outra vez com a mulher que amava?

As coisas não tinham mudado tanto assim em 1 ano. Ou tinham? Dom suspirou resignado. Sua Letty definitivamente tinha mudado. Ele podia tentar, mas jamais conseguiria compreender de verdade tudo o que ela tinha passado e sentido ao ficar grávida e ter que lidar com isso sozinha, longe de tudo e de todos que ela conhecia.

Naquela noite ele a queria mais do que tudo, e ela lhe prometera que seria dele. Mas se Letty quisesse dar um passo atrás, ele respeitaria e esperaria até que ela estivesse pronta para estar com ele novamente.

Os pingos fortes de chuva batiam nos vidros e a água se espalhava abundante pelo retrovisor do carro, mas Dom não se preocupou com isso. Abriu a porta e desceu na chuva, deixando que a água lavasse seu corpo e sua alma. Ele vencera a corrida, mas o jogo acabava de começar. Havia muitos obstáculos no caminho, mas ele venceria todos por sua família, especialmente Letty e Nina.

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Roman, Pitty e Letty ouviram quando o carro de Dom estacionou em frente à casa. Letty sentiu seu coração pular dentro do peito. Aquele era o momento que ela mais esperava, mas descobriu que não sabia como agir quanto a isso. Esperaria que ele tomasse a iniciativa? Ou o provocaria até que ele não agüentasse mais e a agarrasse como costumava fazer no passado. Ela não tinha nenhuma dúvida de que ele vencera a corrida. Sabia disso por instinto.

- Parece que o seu namorado retornou.- disse Pitty arredando a cortina e dando uma espiada pela janela. – Uau! Ele é um gato!- exclamou.

- Toma tento, mulher!- repreendeu Roman, puxando-a pela mão.

- Mas ele é mesmo... – Pitty insistiu.

Letty deu um meio sorriso. Roman abriu a porta para Dom sem largar a mão de Pitty. Ela deu um sorriso para ele.

- E aí, meu camarada! Tudo certo?- falou Roman tentando ser simpático.

Dom apenas assentiu com a cabeça.

- É isso aí então!- disse Roman. – Olha, essa aqui é a minha gata, a Pitty! Nós já estávamos de saída pro meu trailer, né amor?

Roman continuava falando, mas Dom não o ouvia. Ele trocou olhares com Letty que ainda estava sentada no sofá e segurava Nina adormecida nos braços.

- Vambora, Pitty, que a gente tá sobrando aqui!

- Mas eu queria saber como foi a corrida...

- Boa noite, pessoal!- disse Roman sem ligar para o protesto da namorada, levando-a consigo pela porta dos fundos da casa para o trailer dele.

- Boa noite.- disse Letty levantando-se do sofá com cuidado, ajeitando Nina em seu colo. Dom aproximou-se dela com um sorriso. Ela retribuiu com um sorriso preguiçoso, mordiscando de leve os lábios inferiores enquanto o observava. – Você está ensopado!- comentou.

- É o que parece.- disse ele sacudindo levemente as mãos. Suas roupas estavam grudadas ao corpo delineando-lhe os músculos fortes e bem definidos. Letty não deixou de apreciar o conjunto da obra. – A bambina (pequena) deu trabalho para dormir?

Letty balançou a cabeça em negativo.

- É uma longa história. E a corrida?- indagou, como se não soubesse.

- Eu venci.- Dom respondeu simplesmente, achando melhor não comentar no momento a parte em que Bryan aparecera para competir com ele. – Onde está meu troféu?- perguntou, presunçoso deslizando o olhar pelo corpo de Letty. Ela vestia apenas camiseta branca e short jeans curto, os pés estavam calçados em um par de chinelos. Seus cabelos negros estavam soltos, emoldurando-lhe o olhar.

- Depende de que tipo de troféu esteja procurando.- respondeu ela dando as costas a ele, mas estava sorrindo. – Está com fome?

Dom tinha muitas respostas para aquela mesma pergunta.

- Roman e eu comemos pizza. Guardei um pouco pra você. Posso esquentar no microondas.

- Bem, eu...

- Ah... – ela virou-se de volta para ele. – E você devia tirar essas roupas molhadas e tomar um banho quente antes que pegue uma gripe.

Dominic franziu o cenho.

- Quando foi que se tornou assim tão maternal?

Letty baixou os olhos para a filha em seu braços.

- Quando essa coisinha linda veio ao mundo.- Letty respondeu com expressão indecifrável. Agora Dom estava confuso. Ela queria ou não queria? Tinha uma espécie de fogo familiar em seus olhos que dizia que ela estava esperando que ele a agarrasse e mostrasse a ela do que era feito. Mas ao mesmo tempo havia algo que dizia, fique longe porque eu ainda não perdoei você, especialmente porque Letty ainda segurava Nina. E agora? O que ele faria?

- Tem toalhas limpas no banheiro. – ela disse. – Vou pôr a Nina na cama e esquentar a pizza pra você.

Dom assentiu sem saber mais o que dizer. Ele seguiu até o banheiro, despiu-se das roupas molhadas e tomou um rápido banho quente. Depois enrolou-se em uma confortável toalha felpuda branca e deixou o banheiro. Suas roupas molhadas ficaram no chão, depois lidaria com elas.

Caminhou até o quarto e sorriu ao ver Nina dormindo tranqüila em sua cadeirinha regulável que mais se parecia a um berço. A valise com suas roupas limpas estava no chão ao lado da cama. Ele desenrolou a toalha da cintura e colocou-a em cima da cama.

Ele não notou quando Letty entrou no quarto e encostou a porta atrás de si. Os olhos dela brilharam de desejo ao ver o corpo nu de Dom na penumbra, de costas para ela.

- Papi... – ela murmurou baixinho, mas foi o suficiente para que Dom ouvisse. O corpo dele reagiu de imediato ao som rouco da voz dela, tornando sua pele arrepiada. Letty chegou bem perto dele e envolveu seus braços ao redor do homem que tanto amava.

Continua...


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