El Beso Del Final escrita por Ms Holloway


Capítulo 16
Jogo de gato e rato




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Vince sentiu o cheiro delicioso do churrasco sobre a mesa quando Mia terminou de servir. Nem todos estavam sentados ainda. Bryan estava na cozinha falando ao celular outra vez com sua parceira e Letty estava no quarto alimentando Nina, mas nem por isso Vince se importou em meter a mão em uma generosa porção de frango grelhado servida em uma das travessas de alumínio.
No entanto, ele mal pôde tocar o tenro pedaço de carne porque sentiu a mão de Mia que supostamente deveria ser delicada, batendo forte contra a dele, causando um pequeno estalo.
- Ai!- Vince resmungou retirando a mão e a sacudindo no ar. – Por que você fez isso?
- Aposto que ainda não lavou as mãos.- resmungou Mia, contrariada.
Vince deu de ombros e Mia apontou o dedo em direção a casa.
- Vá lavar as mãos, Vince. Agora mesmo! E quando você voltar fará a oração porque foi o primeiro a mexer na comida.
Ele levantou-se resmungando palavrões em alto e bom som, mas Mia apenas sorriu, enquanto assistia Vince entrar na casa em direção ao lavabo. Bryan passou por ele e riu compreendendo o possível motivo dele estar tão zangado.
- Sabe, às vezes eu fico impressionado com o poder que você tem sobre os homens.- Bryan comentou charmoso, mas Dom e Leon passaram por ele nesse momento e sorriram porque escutaram o comentário dele. Mia limitou-se a sorrir também e disse:
- Vou avisar à Letty que a comida já está pronta. Com licença!
Assim que Mia se afastou, Dom se aproximou de Bryan e falou para ele:
- Cara, se você pretende reconquistar a minha irmã com essa conversa...
- Por quê?- retrucou Bryan dando um soquinho no ombro dele. – Você acha que sabe fazer melhor do que eu? É, eu vi quando a Letty te deixou sozinho a pouco no quintal, com cara de tacho.
Dom não se abalou com a provocação e respondeu:
- Veremos quem estará com cara de tacho daqui a alguns dias.
- È isso aí!- disse Leon.
- Dom, vai chamar a Letty para almoçarmos.- pediu Mia.
Ele assentiu e entrou na casa, voltando alguns minutos depois acompanhado por Letty que carregava Nina. Dom trazia nas mãos a cadeirinha da filha e quando Letty sentou-se à mesa, ele se sentou ao lado dela, colocando uma cadeira entre eles e pousando a cadeirinha da nenê nessa cadeira para que ela pudesse aconchegar a criança ali. Vince retornou do lavabo e sentou-se ao lado de Dom. Ele lançou um olhar hostil à Bryan que estava sentado de frente para ele ao lado de Mia e Leon. O policial não se sentiu ameaçado e calmamente tomou um gole de sua cerveja. Vince bufou e já ia meter a mão no churrasco servido na travessa sobre a mesa novamente quando Mia pigarreou.
- O quê?- Vince disse e Letty não conteve uma risadinha. Tudo parecia como nos velhos tempos e de repente ela sentiu como se nunca tivesse saído de lá. Era uma sensação muito boa sentir que ainda pertencia ao time.
- A oração, Vince!- Mia respondeu com impaciência.
- Ah, certo!- falou Vince fechando os olhos e unindo as mãos. Os demais o imitaram, mas havia divertimento em seus rostos. – Senhor, abençoe esta refeição preparada pela Mia. Há muito tempo que não como um bom churrasco como esse, e ela não me deixa provar nada sem que eu faça esta oração...
- Vince!- ela ralhou.
- Ok, ok!- disse ele, demonstrando irritação, mas ainda assim continuou com sua prece: - Além da comida, Senhor, abençoe este dia em que nos reunimos de novo como um time à exceção desse policial almofadinha intrometido...
Ele olhou para Mia, mas dessa vez ela apenas meneou a cabeça em negativa.
- Ah, tá bom, abençoe o policial almofadinha também. Abençoe o Dom e a Letty porque eles estão finalmente de volta à LA e abençoe a pequena Nina, nosso membro mais novo no time...
Letty sorriu e acariciou os cabelos da filha.
- ...eu espero que o Senhor possa fazer com que esses dois cabeças duras façam as pazes na cama como deve ser...- ele fez um gesto envolvendo Dom e Letty.
- Oh, Senhor!- Dom exclamou rindo e deu uma boa golada em sua cerveja. Letty trocou um olhar com ele e ergueu uma sobrancelha.
- E por último...- Vince continuou.
- Amém!- disse Leon já com o garfo preparado para atacar um pedaço de frango da travessa.
- Eu peço que façamos um minuto de silêncio pelo Jesse.- ele fez uma pausa e então continuou: - Onde quer que ele esteja, sei que está feliz em nos ver reunidos novamente.
O pedido de Vince pegou todos de surpresa e durante sessenta segundos ninguém fez ou disse nada. Quando o minuto de silêncio acabou, Vince disse:
- É isso aí, vamos comer!
Dom deu um tapinha no ombro dele, aprovando a prece em favor de seu velho amigo Jesse que tinha sido morto injustamente por Johnny Tran há cinco anos atrás.
- Isso foi profundo, V!- disse Mia, mas Vince apenas deu de ombros e começou a comer o churrasco. O momento sentimental dele já tinha passado.
Depois que todos terminaram de comer, Mia começou a recolher a louça suja.
- Deixa que eu te ajudo.- disse Letty. Ela pegou alguns pratos e olhou para Dom que ainda estava sentado. – Você pode olhar ela um pouco enquanto eu ajudo a Mia?- ela pediu.
- Claro.- Dom respondeu, mas sentia-se um pouco preocupado em tomar conta da filha sozinho mesmo que Letty estivesse por perto. Porém, ele não era nem louco de dizer não. As coisas entre eles já não andavam às mil maravilhas e ele não queria fazer nada que pudesse piorar tudo.
Vince e Leon deixaram a mesa dizendo que iriam procurar um bom filme para eles assistirem como era tradição após os churrascos da equipe. Assim que todos entraram, Bryan aproveitou para conversar em particular com Dom. Precisava expor a ele seu novo plano para ajudá-lo a se livrar da polícia e ao mesmo tempo resolver o assunto “Braga.”
- Sempre gostei de crianças.- Dom disse olhando para a filha ainda adormecida na cadeirinha. – Mas nunca tive que lidar com crianças tão pequenas. Elas sempre me pareceram tão frágeis.
Bryan meneou a cabeça, assentindo. Dom tocou delicadamente uma das mãozinhas de Nina onde havia uma pulseirinha de ouro com o nome Caterina gravado. Tinha sido presente de sua madrinha Consuelo.
- Desde que o meu pai morreu o mundo sempre me pareceu muito simples. Tudo o que me importava era manter Mia e Letty seguras e ganhar uma boa grana nas pistas, mas agora eu sinto que com a chegada dela o meu mundo tornou-se muito maior. Preciso começar a fazer coisa certa por ela, entende?
Bryan assentiu e perguntou:
- E o que seria fazer a coisa certa pra você? Quais são seus planos?
- A longo ou a curto prazo?- Dom indagou.
- O que você quiser me contar.
Ele olhou para a janela da cozinha que dava para o quintal e viu Letty conversando com Mia enquanto sua irmã ensaboava os pratos sujos com uma esponja.
- Primeiro de tudo eu preciso fazer a Letty confiar em mim novamente.
- Acha que ela não confia mais em você?
- Ela está zangada.- disse Dom. – Mais do que já a vi zangada alguma vez desde que a conheci. E olha que isso tem muito tempo.
- Mas ela ainda se importa com você, e muito. Eu tenho certeza.
- Quando foi que virou psicólogo O’Conner?- Dom indagou com uma risadinha.
Bryan sorriu.
- Não estou dando uma de psicólogo pra cima de você. Eu só quero dizer que tudo o que a Letty queria quando me procurou era trazer você de volta pra LA com a ficha limpa.
Dom balançou a cabeça negativamente.
- Ela me disse isso, mas a Letty já devia saber que isso seria impossível, que só lhe traria problemas.
- Dom, ainda podemos fazer isso.- Bryan falou. – Pra que você e a Letty possam viver em paz com a Nina. Você acabou de me dizer que a Nina é a coisa mais importante agora.
- Onde você quer chegar, Bryan?- questionou Dom com desconfiança.
- O problema “Braga” ainda existe.- Bryan explicou. – Letty voltou pra LA mas está com medo de que algo aconteça com ela e a Nina porque ela testemunhou muita coisa enquanto esteve trabalhando pra ele.
- Merda, Bryan!- Dom exclamou. – O que você quer? Que a Letty testemunhe contra o Braga e ponha em risco a vida dela e a da Nina? Você sabe que não importa o quão eficiente esses programas de proteção à testemunha pareçam ser. Para traficantes do alto escalão como Braga não existe muralha que não possa ser transposta. Ele encontrará a Letty aonde ela estiver. Mas eu ao contrário dessa polícia de merda posso proteger minha família! No entanto, se ela testemunhar aí as coisas ficarão bem complicadas.
- Dom, eu não estava falando sobre a Letty testemunhar...
Nina escolheu esse momento em particular para começar a choramingar.
- Shiiii...calmate chiquita... (Calma, pequenina) – falou Dom, mas o chorinho dela começou a ficar mais alto. Letty o ouviu da cozinha e lançou um olhar acusador a Dom. A versão materna de Letty era como a de uma leoa sempre pronta a atacar para defender seus filhotes. Ele imediatamente tirou a menina da cadeirinha e desajeitadamente a aconchegou em seus braços fortes. Letty ficou observando de longe como ele se virava com a situação e então lhe deu um olhar de aprovação. Alheio às trocas de olhares dos dois, Bryan continuou falando:
- Você recebeu aquele pacote estranho no Panamá com o ursinho de pelúcia que a Mia comprou pra sua filha antes dela nascer. Acha que isso tudo é coincidência? Esses caras não vão descansar enquanto não pegarem a Letty. Talvez já estejam usando você para chegar até ela.
- Eu vou tirar a Letty e a minha filha do país!
- E acha que pode viver fugindo pra sempre?- Bryan retrucou. - Dominic, a Letty não quer mais fugir!
Dom ficou em silêncio por alguns minutos refletindo as palavras dele enquanto balançava a filha suavemente em seu colo de um lado para o outro. Bryan tinha razão. Letty tinha deixado claro para ele que não queria mais fugir.
- Tá legal, O’Conner. Você conseguiu minha atenção. O que você tem em mente?- perguntou.
- Vamos jogar o jogo deles.- disse Bryan. – Eles estão querendo fazer um jogo de gato e rato com você e a Letty, mas nós podemos ser “o gato”. Letty conseguiu se infiltrar com facilidade no cartel do Braga. Você poderia fazer o mesmo. Entrar lá e conseguir as provas de que precisamos para destruir o Braga. Em troca, eu negociaria um acordo com o FBI para limpar a sua ficha.
Dom riu e disse, sarcástico:
- Ah é claro, e além de limpar a minha ficha o FBI vai me dar de presente um lamborghini biturbo negro mais dois milhões de dólares em cash pra eu comprar uma mansão em Hollywood.
- Dom, eu tô falando sério!- insistiu Bryan. – Você acha que a Letty e a Nina estão seguras aqui na casa do Vince? Eu posso arranjar um lugar seguro pra elas onde você mesmo poderá protegê-las. E como sei que você não apreciaria tiras na sua porta, eu sei de alguém que pode tomar conta delas enquanto você estiver em campo.
- Eu não sei não, O’Conner.
- Vou te dar algumas horas pra pensar. Sabe que temos que agir depressa. Falei com a minha parceira a pouco e ela me contou que o sujeito que prendemos na sua casa, um coreano chamado David Park nos contou que estava atrás de você a mando do Braga para convencê-lo a participar de uma corrida amanhã à noite que selecionará novos pilotos para trabalhar para ele. Dom, se você aceitar, ainda esta tarde podemos levar a Letty e a Nina para o lugar seguro que eu prometi.
- E o cara que tomaria conta dela?- Dominic inquiriu. – Quem é esse sujeito e como saberei se posso confiar nele?
- Posso contatá-lo ainda hoje e tem a minha palavra de que pode confiar nele. Eu prometo proteger a Mia também. A falsa enfermeira que nós prendemos no hospital tentou matá-la. Para pegar a Letty, o Braga está tentando apagar todas as pessoas que são próximas a ela.
- Como esse Braga saberia do envolvimento da Letty comigo? Eu e ela estivemos fora do país por cinco anos. Já faz muito tempo que deixei as pistas de Los Angeles. A corrida de ontem à noite foi a primeira vez em muito tempo.
- Dom, você reinou nas pistas por muito tempo. As histórias ainda são contadas nas corridas. O Braga tem informantes. Não deve ter sido tão difícil descobrir a que pessoas Letty era ligada na cidade enquanto vivia aqui.
- Certo. É um ponto interessante.- disse Dom. – Mas isso ainda não explica como ele descobriu meu endereço no Panamá para me enviar aquele pacote.
Bryan balançou a cabeça negativamente.
- Isso eu não sei. Mas nós podemos descobrir. O Braga é o único elo que temos no momento. É o nome dele naquele bilhete que estava dentro do pacote. David Park confessou que trabalhava para ele e nos informou o que pretendia.
- E quanto à enfermeira?
- Ela ainda não abriu a boca, mas é só questão de tempo. Tenho certeza que a Mônica conseguirá arrancar alguma coisa dela. Então, o que me diz?
Dom olhou para o bebê frágil em seus braços. Se não fizesse alguma coisa, Braga poderia pôr as mãos nela e em Letty, e ele não queria nunca mais ter que reviver o pesadelo de ir reconhecer o corpo de sua amada em um necrotério outra vez.
- Preciso conversar com a Letty.- Dom respondeu por fim. – Isso não se trata mais apenas de mim.
- Está certo.- Bryan concordou. – Converse com ela. Estarei esperando por sua resposta.
Letty abriu a porta e caminhou pelo quintal até eles. Sorriu ao ver Nina bem quietinha no colo de Dom.
- Parece que você gostou do colo do papai, não foi, pequena?
A menina emitiu um barulinho em resposta e colocou o dedinho na boca. Letty pegou a chupeta branca dela que estava presa à cadeirinha e ofereceu à criança.
- Tome, meu amor. Tome...
Nina aceitou a chupeta e Letty estendeu os braços para pegá-la.
- Eu queria conversar com você, Let...- Dom falou timidamente.
Letty olhou para o céu. Uma chuva estava se formando para logo.
- Parece que vai chover... – disse ela. – Vamos conversar no quarto. Traga a cadeirinha da Nina!
Dom assentiu e levantou-se, levando a cadeirinha consigo.
- Boa sorte!- Bryan sussurrou para ele.
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- Isso pode levar o dia todo. Só depende de você porque eu não estou com pressa.- disse Mônica lixando as unhas pacientemente na sala de interrogatório, sentada de frente para a falsa enfermeira que atacara Mia no hospital. – Já sabemos seu nome, telefone, endereço, o nome de solteira da sua mãe e até o nome do seu cachorro.- a policial provocou, mas a suspeita sentada do lado oposto mantinha sua cabeça abaixada. Os cabelos negros e muito lisos praticamente cobrindo-lhe o rosto. – Maria Teresa Muñoz. Você não possui ficha na polícia e de acordo com o que andei pesquisando sobre você, até ter atacado Mia Toretto no Pronto-Socorro Municipal de Los Angeles, você nunca tinha feito absolutamente nada de errado. Imigrou legalmente de seu país ainda criança, portanto sem problemas com a Imigração, moça de família, boas notas na escola, um emprego regular de garçonete no Today’s em frente ao Píer de Santa Mônica e um filho de três anos. O nome dele é Roberto, não é? Onde ele está agora?
- Deixa o meu filho fora disso!- Teresa gritou, parecendo muito nervosa.
- Ah, então agora você resolveu falar? Ótimo!- disse Mônica deixando a lixa de unha de lado. – Começamos a nos entender. Diga-me Teresa, onde está o seu filho? Ele está seguro agora? Porque você deveria saber que quem se mete com traficantes jamais estará seguro.
Teresa voltou a baixar a cabeça e quando ergueu o rosto novamente, este estava tomado por lágrimas.
- Ele disse que ia me ajudar se eu fizesse tudo o que me pedisse...
- Quem disse, Teresa? Foi o Braga?
Ela balançou a cabeça negativamente.
- Eu não sei o nome dele. Ele se aproximou de mim quando fui às corridas há alguns dias atrás. Fui procurar o meu irmão. Se estivesse mesmo tão bem informada sobre mim como disse saberia que não trabalho mais no Today’s. O dinheiro estava acabando e eu preciso sustentar meu filho. Meu irmão cuidou de mim depois que nossos pais morreram e também me ajudava a cuidar do meu filho. Mas ele desapareceu!
- Desapareceu como?- perguntou Mônica, muito interessada.
- Ele era muito bom com carros. De vez em quando ele ia às corridas e ganhava um bom dinheiro pra nós. Mas então ele ouviu falar sobre uma vaga no time do Braga. Eu disse a ele que era perigoso, que não sabíamos com que tipo de pessoas estávamos lidando. Mas o meu irmão sempre foi muito teimoso, fez o teste para entrar na equipe e conseguiu.
- Quando foi isso?
- Há um ano atrás. Ele voltou pra casa e me contou que tinha conseguido. Ele estava muito feliz. Disse que ia ficar trabalhando para o Braga por um tempo e que depois poderíamos voltar pro México e comprar uma casa nova. Só que no dia seguinte ele foi chamado pra um serviço e nunca mais voltou. Eu o procurei por muitos meses, fui a várias corridas e ninguém sabia me dizer o paradeiro do meu irmão até alguns dias atrás quando conheci esse homem.
- Como o conheceu?
- Eu estava fazendo perguntas sobre o meu irmão às pessoas como sempre e esse homem veio falar comigo. Disse que tinha ouvido falar que eu estava procurando por um piloto desaparecido. Repeti minha história a ele e ele garantiu que poderia me ajudar.
- Como era esse homem? Pode descrevê-lo?
Teresa hesitou. Mônica olhou nos olhos dela, tentando lhe passar confiança.
- Você pode me contar, Teresa. Pode confiar em mim. Estou aqui para ajudá-la. Você não faz ideia mas eu sei como ninguém o que é cometer um erro, acredite em mim.
A mulher finalmente respondeu.
- Sim, eu posso descrevê-lo.
Mônica levantou-se da cadeira e fez um sinal através das portas de vidro para que um policial viesse fazer o retrato falado. Um rapaz alto e franzino entrou na sala de interrogatório alguns minutos depois carregando um pacote de giz de cera e uma prancheta.
- Pode nos contar agora, Teresa.- disse Mônica.
Teresa começou a falar:
- Ele é alto, muito alto, e musculoso também.
O policial começou a trabalhar depressa com o giz de cera.
- Seu cabelo tinha um corte estranho, quase como um moicano e os olhos escuros são ameaçadores, tem muitas cicatrizes pelo rosto...
- Cor da pele?- indagou o policial.
- Escura.- respondeu Teresa. – E eu reconheci o sotaque dele. Mexicano como o dos meus pais...
Enquanto o rapaz terminava de fazer o desenho com as informações que Teresa tinha cedido para ele, Mônica continuou conversando com ela.
- Esse homem disse o nome dele?
- Não. Mas quando eu pronunciei o nome do meu irmão, ele falou que o tinha conhecido porque também tinha trabalhado com o Braga e que iria me ajudar a descobrir o paradeiro dele se eu fizesse algo de que o chefe dele precisava muito.
- Perguntei do que se tratava e como era o nome do chefe dele. Você sabe, eu não queria me envolver em nada ilegal.
- E o que ele disse?
- Falou que o nome do chefe dele era sigiloso e que o favor que ele precisava não era nada demais. Contou que a namorada do chefe dele, Mia Toretto estava saindo com outro cara e que ele precisava dar um bom susto nela em alguns dias. Achei aquilo estranho demais e decidi não me envolver, mas poucos dias depois quando fui buscar meu bebê na escola ele estava lá com o Roberto no colo e me disse que se eu não o ajudasse, algo muito ruim poderia acontecer com ele.
Mais lágrimas inundaram o rosto da mulher e ela começou a tossir. Mônica deu um copo de água a ela e pediu que continuasse. Teresa enxugou as lágrimas e deu seguimento a seu relato:
- Eu tive que fazer o que ele pedia e ele continuou prometendo me dizer onde estava o meu irmão. Então eu fui pra aquele hospital e fiz o que tive de fazer. Ele jurou que o que havia na seringa não a mataria, mas eu estava tão preocupada com o meu filho e queria tanto saber onde está o meu irmão, o que aconteceu com ele...
- Acho que terminei.- anunciou o policial que desenhava o retrato falado, exibindo o resultado de seu trabalho para as duas mulheres.
- E então, Teresa, esse é o homem que a abordou na corrida?
- Sim, é ele.- Teresa respondeu sem hesitar.
- Nigel, leve esse desenho para a agente Thrinh checar nas fichas criminais.
- Sim, agente Fuentes.- disse o rapaz, retirando-se.
- Teresa, eu compreendo tudo o que me contou, mas preciso que saiba que estamos lidando com algo grande. Muito maior do você imagina. Eu posso ajudá-la se você me ajudar, me entende?
Ela assentiu.
- Onde está o seu filho?
- Com uma amiga que trabalhava comigo no Today’s. Eu posso dar o endereço dela.
- Òtimo. Nós iremos buscá-lo e garanto a você que seu filho ficará seguro. Agora me diga, qual é o nome do seu irmão?
- Diogo Muñoz.- Teresa respondeu.
- Agente Fuentes?- um agente da recepção a chamou entreabrindo a porta da sala de interrogatórios.
- Yeah?- disse ela.
- Tem um homem chamado Carlos Ortiz na recepção dizendo que precisa falar urgente com alguém sobre o desaparecimento de uma mulher chamada Letícia Ortiz, sobrinha dele.
Mônica ergueu uma sobrancelha.
- Ele disse que veio ao FBI porque recebeu um documento sobre as investigações do desaparecimento da sobrinha dele, o qual ele desconhecia, e que o caso foi fechado. O Sr. Ortiz pretende entrar com a contestação, mas já que a investigação foi de nível federal ele deseja conversar com alguém a respeito antes de procurar o tribunal. Eu disse a ele que não resolvemos assuntos burocráticos aqui, mas ele insistiu e como eu li nos documentos que ele trouxe que o desaparecimento da sobrinha dele está relacionado ao caso Braga, resolvi chamá-la.
- Fez muito bem.- disse Mônica. – Diga a ele que irei atendê-lo em dez minutos.
Assim que o agente se foi, Mônica trocou mais algumas palavras com Teresa e seguiu para conversar com Carlos Ortiz.
- Isso está ficando cada vez mais divertido.- ela disse consigo mesma. – Onde raios o Bryan se meteu que não aparece para descascar esse abacaxi comigo?
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Dominic observou Letty acomodar Nina na cadeirinha logo depois que eles entraram no quarto. A chuva começou a cair quase que imediatamente e da janela ele assistiu Bryan e Leon colocando o som e outras coisas depressa para dentro da cozinha para que não molhassem.
A porta do quarto estava entreaberta e ele viu Vince no corredor fazendo gestos infantis com os dedos e lábios de que ele deveria agarrar Letty e beijá-la. Revirando os olhos, Dom fechou a porta na cara do amigo.
Letty que estava abaixando sobre a cadeirinha de Nina, ergueu-se e o olhou. Depois que eles tinham dançado juntos no quintal, uma tensão agradável instalou-se entre eles. Dom sentiu vontade de deitar-se com ela na cama para descansar e abraçá-la como costumavam fazer nos velhos tempos, mas limitou-se a sentar-se em uma poltrona gasta que ficava perto da cama, enquanto Letty sentava-se ao lado da cadeirinha da filha, apoiando o corpo na cama com os braços. Os cabelos dela estavam soltos e uma parte da franja caía em seu rosto. Dominic sorriu. Com os cabelos daquele jeito ela lembrava muito a menina magricela e atrevida que um dia ele conhecera.
- Por que está sorrindo?- ela perguntou.
- Gosto de olhar pra você.- ele respondeu.
Letty sentiu o coração batendo forte, mas mais uma vez não deu o braço a torcer.
- Sobre o que queria falar?
Dominic suspirou e respondeu:
- Sobre o futuro.
- Você querendo falar sobre o futuro?- ela provocou. – Será que você ainda é o mesmo Dominic Toretto que eu conheci?
- Letty... – ele falou com seriedade. – Precisamos tomar uma decisão sobre o que vamos fazer agora. Você sabe disso. Precisamos fazer isso pela Nina. É sobre o futuro dela que estou falando.
Letty assentiu.
- Você disse que não esperava me encontrar quando resolveu voltar pra Los Angeles. O que pretendia fazer então?
A resposta dela foi honesta.
- Eu não sabia ao certo. Cheguei a pensar em procurar meus tios e pedir ajuda, mas aí quando eu cheguei aqui e encontrei aquela mulher no banheiro do aeroporto...
Dominic alargou os olhos. Aquela era uma informação nova.
- Que mulher? Do que está falando?
- Uma mulher me abordou no banheiro do aeroporto enquanto eu trocava a Nina. Disse que ela tinha os olhos do pai. Eu entrei em pânico. Senti tanto medo que tudo o que consegui pensar foi em vir até a casa do Vince. Não pensei em mais nada.
- Letty, eu voltei pra cá porque recebi aquele pacote no Panamá com o brinquedo que Mia tinha te dado de presente, embora eu não soubesse que se tratava disso. Algo dentro de mim me disse que você não estava bem, que eu tinha de voltar e te encontrar e muita coisa aconteceu desde então. Esse homem, Braga, ele é muito perigoso e sabe o que está fazendo. Ele forjou sua morte quando fez com que os tiras encontrassem aquele corpo no lago.
Letty assentiu. Pouco antes do almoço Bryan a tinha colocado a par dos últimos acontecimentos e do quanto a situação estava ficando perigosa.
- A casa do meu pai foi atacada e uma enfermeira maluca tentou matar a minha irmã. Eles estão nos dando um aviso de que muito em breve tentarão fazer algo com você ou com a Nina e eu não posso deixar isso acontecer!
Ela olhou para a filha adormecida e sentiu muito medo por ela.
- Letty, você tem que confiar em mim outra vez.- Dominic pediu. – Eu posso cuidar de você e da Nina.
- Eu sempre soube me cuidar, Dom.- ela enfatizou.
- Eu sei!- disse ele. – Mas nós ainda somos uma equipe, baby. Isso não mudou!
- O que você sugere que façamos então?- Letty indagou, objetiva.
- O`Conner tem um plano.
Ela deu uma risadinha.
- Achei que você odiasse os planos do Bryan.
- Bem, dessa vez ele me propôs algo realmente interessante, mas arriscado.
- E quando não é arriscado?- Letty retrucou.
- Você disse que não quer mais fugir.
Letty balançou a cabeça, concordando.
- E eu não quero mais ficar longe de você. Nunca mais.
- O que o Bryan acha que devemos fazer?
- Ele diz que precisamos levar o Braga à justiça, assim você ficará livre dele e ele poderá conseguir anistia policial pra mim. Logicamente eu não acreditei na última parte, mas se você puder ficar livre desse homem, é a única coisa que importa pra mim.
- Como o Bryan pretende pegar o Braga? Eu tentei uma vez e ambos sabemos o que aconteceu. Eu não pretendo testemunhar contra ele, não vou pôr a vida da minha filha em risco.
- Você não testemunhará, Letty, eu me infiltrarei na organização do Braga como você fez.
- O quê?- ela questionou, incrédula. – Papi, isso não faz sentido. Depois de tudo o que aconteceu você não acha que eles sabem que você tem ligação comigo?
- Eles podem até saber disso, mas não sabem que nos reencontramos. Eles não fazem ideia de onde você está, mami. Mas se continuarmos de braços cruzados, eles saberão.
- Como você vai se infiltrar na organização do Braga?
- O cara que o Bryan prendeu na casa do meu pai confessou que trabalha para o Braga. Vai haver uma corrida amanhã à noite para escolher novos pilotos para traficar. Vou participar da corrida.
Letty balançou a cabeça negativamente.
- Dom, eu sei o que eles fazem com os pilotos depois que o serviço é terminado.- ela se levantou e foi até ele, abaixando-se em frente a ele e colocando ambas as mãos em seu rosto. – Não vou suportar se algo acontecer com você!
- Eu preciso fazer isso, Letty! Preciso conseguir as malditas provas pro O`Conner e então poderemos ficar juntos de novo, como era antes. Se lembra como costumava ser?
A resposta dela foi um olhar de cumplicidade amorosa que agradou a Dom e muito.
- E quanto a mim e a nenê? Ficaremos aqui na casa do Vince enquanto as coisas acontecem lá fora?
- Não, baby. O Bryan disse que pode colocar vocês duas num lugar seguro juntamente com alguém para protegê-las quando eu estiver fora. Vai dar tudo certo! Você confia em mim, Letty?
Ela o surpreendeu colocando a boca na dele, num beijo molhado que fez Dom suspirar de prazer. Ele passara o dia inteiro ansiando por um beijo como aquele e Letty finalmente satisfazia sua louca vontade.
- Opa, desculpa aí!- disse Vince entrando no quarto de repente fazendo com que eles se separassem e o momento romântico mais uma vez fosse quebrado.
Letty se levantou e virou de costas para Dom, olhando para a janela. Dom ergueu-se da poltrona também e encarou Vince com um olhar mortal.
- É que a Mia comentou que a minha camisa tava muito fedida e eu vim trocar, esqueci que vocês dois estavam...
- Tudo bem, Vince.- Letty disse escondendo seu desapontamento.
- Onde está o Bryan?- Dom perguntou para desfazer o mal estar que tinha se formado.
- Na cozinha.- Vince respondeu.
Dom trocou um olhar com Letty que dizia que ele diria à Bryan que eles aceitavam a proposta dele. Os olhos dela apenas assentiram. Nenhuma palavra foi trocada.
Quando ele saiu, Vince olhou para Letty e disse:
- Dei uma mancada feia, não dei? Desculpa aí! Se eu soubesse que vocês estavam se amassando gostoso, eu não teria entrado no quarto.
- Obrigada, Vince. – Letty disse com um sorriso perigoso no olhar.
- Obrigado pelo quê?
- Por adiar o inadiável.- respondeu ela. – Dominic merece sofrer um pouco mais!
- Você é uma mulher má!- exclamou Vince, mas estava rindo.
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Bryan viu Dom entrar na cozinha e ergueu-se da cadeira olhando para ele. Esperava ansiosamente por uma resposta para pôr seu plano em ação.
- E então?
- Nós aceitamos.- Dom respondeu. – Mas eu espero não me arrepender da minha decisão depois, porque se algo acontecer com as minhas garotas, você sabe que eu te matarei O`Conner.- ele acrescentou com um sorriso frio e sarcástico.

Continua...

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