(...)

Alec

Ainda desacreditando no que acabara de ouvir, engoli em seco.

Não. Definitivamente, não digeri essa história de que Renesmee ficaria bem depois de ouvir essa. As expressões em seu rosto eram pura confusão e raiva. E isso poderia destruir os meus planos. Eu simplesmente não entendo como tudo que vai andando incrivelmente certo pode ir dando errado, e então de mal a pior. Mas Renesmee também percebera a confusão em meus olhos, enquanto Marie arqueava a sobrancelha. Renesmee finalmente teve a coragem de se pronunciar:


— Ex? — ela questionou, com o cenho franzido. Demoramos minutos inacabáveis para que ela só dissesse uma palavra; ou melhor: uma sílaba. Sei que ela é humana, mas não consigo ter paciência com o raciocínio dela!

— Sim, mas acabou antes que pudéssemos cometer algum erro. — respondi, cruzando os braços. Marie pareceu concordar, pois não havia se manifestado nesse pequeno espaço de tempo.

— Acho que o pior erro foi nos envolvermos. — finalmente me devolveu, com a expressão carrancuda.

— Você não muda nunca, Marie Santiago. — comentei cinicamente. A morena ao meu lado me encarou com fúria, então sorriu. O mesmo sorriso de antes que encantava todos ao seu redor. Minhas fraquezas pareceram vir à tona quando me peguei imaginando aquelas coisas. Aquelas cenas, aqueles flashbacks... Foi uma época tão maravilhosa.

— Acha que seu peixe ficará fisgado eternamente? — ela provocou, travessa, apontando para Renesmee que fez uma cara de incredulidade. Tão discreta...

— Cala a boca Marie. — reclamei, antes que essa praga em forma de vampira falasse mais que a boca. E lá vamos nós outra vez. Só de pensar no quanto já a amei algo parece despertar. Mas não é tão forte quanto a conexão que sinto com Renesmee.

Marie me olhou nos olhos por alguns segundos. Sua íris estava brilhando firmemente, e por trás da lente castanha eu conseguia ver o sangue fluindo e destruindo o disfarce dela.

— Não faça isso. — rosnei, percebendo o que a vampira estava fazendo. — Não faça isso outra vez.

Então, ela arregalou os olhos, depois sorriu timidamente.

– Você ajudou uma Cullen a fugir... Uau, Alec, estou começando a te respeitar. — ela provocou novamente, agora com um sorriso triste.

— Qual o seu problema? — Renesmee perguntou, visivelmente chateada.

— Nenhum, só achei que não teria mais que ver a cara desse ser novamente. — Marie cruzou os braços e fechou a cara, referindo-se a mim.

— Você não me tratava com tanto desprezo quando estávamos a sós, você sabe... Num colchão. — rebati, já irritado. Eu nunca me irrito. Mas isso é um feitio em que Renesmee e Marie são profissionais.

— Uau, o relacionamento de vocês deve ter sido bom hein... — Renesmee soltou essa gargalhando. Marie e eu nos viramos com raiva. — Opa, desculpa se vocês ficaram nervosos. — completou, limpando uma lágrima de deboche.

— Hey, como você sabe que ele me ajudou a fugir? — Renesmee perguntou, finalmente raciocinando. Ela demora em ligar os fatos às vezes, mas mesmo assim consegue ter as perguntas certas e não deixa ninguém sair ileso em suas mãos.

— Meu dom. Vejo todo o seu passado olhando em seus olhos. — Marie encarou Renesmee por alguns segundos. — É como seus poderes, Renesmee. Não pense que eles são inúteis, você não faz ideia do quanto são utilizáveis e invejáveis. Se orgulhe do que você é.

Renesmee a encarou, perplexa e depois me olhou:

— Você não vai dizer nada? — cobrou, boquiaberta.

— A psicopata está certa. — eei de ombros e a vampira ao meu lado bufou com desdém.

— Vocês vão entrar ou estão esperando convite formal? — um dos seguranças da boate (que também é vampiro) perguntou impaciente, apontando para a porta. — Tem uma fila ali. Vampiros querem passar. E a híbrida só pode passar se assinar um documento.

— Que documento? — Renesmee perguntou com cara de desconfiada.

— O que diz que seu clã não vai processar ninguém daqui se você for morta.

Eu senti a pobre Renesmee gelar com a declaração.

— Podemos ir embora se você quiser. — sussurrei, tocando o braço dela amigavelmente.

Não posso obrigá-la a entrar, e mesmo que a proteja, conheço os riscos e não quero machucá-la. Nunca vou querer machucá-la.

— Não. Eu vou. — ela falou, e tomou a prancheta do segurança, assinando seu nome. Mas que garotinha orgulhosa... Não puxou nem um pouquinho da mãe.

COF... ~SARCASMO~ COF...

Nós entramos na boate, e Marie foi à nossa frente. Vários vampiros estavam na pista. Aliás, todos. As luzes de discoteca atrapalhavam a visão para um híbrido, mas eu conseguia enxergar perfeitamente. Toquei na mão de Renesmee e percebi o quanto ela estava trêmula. Voltei e me virei para ela com um sorriso.

— Vai ficar tudo bem, meu anjo. — falei, e ela automaticamente sorriu.

— Não se preocupe, Renesmee. Nem um deles vai tocar em você. — Marie falou, e puxou minha garota de mim.

Marie, sua idiota. Estragando o momento romântico entre um Volturi e uma Cullen.

Isso faz tudo soar como se eu fosse uma adolescente. Eu, definitivamente, preciso relaxar. Mas eu não posso fazer isso agora. Preciso manter o foco e correr atrás da minha híbrida. Tudo por causa daquela malditinha da Jane... Argh, se não fosse minha irmã eu teria degolado aquele capeta em forma de vampiro há séculos. Mentira, teria matado ela, mas Aro não permitiria. Eu até gosto da loirinha, mas ela só tem a agradecer a Aro mesmo...

Peguei uns drinks com o barman, dois copos de sangue humano com vodka para mim e Marie, e um só com aquele sangue nojento de animais para Renesmee.

Fui até a mesa onde elas estavam sentadas. Riam como se fossem conhecidas desde crianças. Pareciam até melhores amigas.

— Atrapalho? — deixei escapar um pigarro e entreguei as bebidas das duas.

— Senta aí. — Ree deu uma batidinha no banco ao lado dela.

— Tudo bem.

— Quando se conheceram? — Renesmee e Marie perguntaram ao mesmo tempo. Depois se entreolharam e riram.

— Nós nos envolvemos há uns cinco anos, mas deu errado. — Marie soltou um suspiro frustrado.

— Hey Alec, pega a câmera pra mim. — pediu.

Naquele verão ela estava mais bonita que o normal, se é que isso é possível. O sol escaldante a fazia sorrir. Incrivelmente, ela não reclamava de nada. Como se tudo estivesse perfeito. Ela desceu da Ferrari e foi para a entrada da casa de praia.

Peguei a câmera, cheguei perto dela e beijei seus lábios suavemente.

— Para sempre? — perguntei.

— Sempre. — garantiu.

Naquela mesma noite, nós brigamos por um motivo bobo e acabamos lutando — como se estivéssemos em uma guerra — ela jurou que nunca voltaríamos, e eu apenas sorri ironicamente, engolindo a vontade de pedir perdão, sucumbindo ao meu orgulho, e a deixei ir.

Esse é um erro que eu não quero cometer com Renesmee nunca. Nunca mesmo, pois eu sei que o que é sentir um vazio e saber que nunca mais será substituído. Antes de “sequestrar” a Renesmee, eu ainda estava ferido. E isso é tão... Idiota. Mas Marie conseguiu me fazer sentir um humano. Assim como eu me sinto quando olho para Ree. E ela não se tornou um mero prêmio de consolação, eu realmente gosto dela. Assim que a olhei pela primeira vez, percebi que Marie não era mais que um simples passado.

Mas eu tenho medo de me magoar novamente. Por que o amor tem que ser tão bom, ruim, confuso, complicado e perfeito ao mesmo tempo?