The Ruler And The Killer escrita por Marbells


Capítulo 40
Like winners and lovers


Notas iniciais do capítulo

O último capitulo, gente. Sim, este é o último... Vai haver três extras, em vez de dois, mas um deles é a morte da Clove e os outros são surpresa ;)
Eu tentei mesmo fazer este capitulo bem, e torná-lo quase perfeito - porque a perfeição é impossível, na minha opinião. Espero que gostem :)
Boa leitura!



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Onde é que tu estás?

Porque é que não apareces

Só queria que pudesses conhecer-me, mas não me conheces

Só queria que me aliviasses este sofrimento

Tenho sempre a sensação que não aguento isto nem mais por um momento

Não aguento isto dentro de mim

Agarra-te a mim, ou põe-me um fim

Quando acordo, é tudo branco. O teto do quarto é branco. As paredes são brancas. Olhos para as minhas mãos e até elas parecem mais claras. Presto atenção aos detalhes do sítio onde estou e reparo que há uma janela, com vista para um jardim, da altura da parede – de onde entra uma enorme quantidade de luz. A mobília que há é pouca e também de um material claro; um cadeirão ao lado da minha cama e um roupeiro no canto do quarto. Há um cateter no meu braço e eu o arranco assim que os meus dedos deixam de tremer. Sento-me na cama e procuro por um botão ou um interruptor para chamar uma enfermeira. Instantes depois, uma mulher vestida de branco e de cabelo preso num coque entra no quarto.

-Bom-dia. – saúda com um sorriso meigo. Não sorrio de volta, limito-me a apontar para a minha garganta, que arde e me impossibilita de falar – Sede? – assinto.

A mulher abre o que eu julgava ser um roupeiro, mas que afinal é uma espécie de estante com várias máquinas no seu interior. Uma delas tem copos de plástico, que a enfermeira trata de encher com água fresca.

Bebo quatro copos de água gelada, estremecendo quando sinto a mesma descer pela minha garganta. Todo o meu corpo está seco, a minha pele, os lábios e até o cabelo está desidratado. Fecho os olhos e estendo o copo na direção da enfermeira. A minha cabeça não doía, mas havia algo que estava baralhando os meus pensamentos. Suspirei e me deitei de novo cama. Até deixei que a enfermeira recolocasse o cateter no meu braço e me administrasse uma droga qualquer para eu adormecer.

*

Não te escondas mais por favor

Tira-me deste círculo em que nada é animador

Salva-me disto

Tira-me este quisto

-É como se as minhas memórias estivessem jogando de esconde-esconde comigo.

-Isso é perfeitamente normal numa situação destas. – explicou o médico. Enobaria estava comigo hoje, para ouvir uma segunda opinião médica. Até agora, o médico não tinha sido capaz de chegar a uma conclusão definitiva – As lembranças se tornarão mais claras com o tempo, não tem de se preocupar com isso.

-Claro que não. – resmunguei com acidez – Eu me esqueço de metade da minha vida e isso não tem problema nenhum!

-Clove. – a minha mentora me chama á atenção. Rolo os olhos e me deito de novo. Tapo a cabeça com a almofada, abafando as vozes de Enobaria e do médico.

*

Dá um rumo à minha vida

Faz dela a minha história preferida

Dá-lhe um sentido

Diz-me que sim ao ouvido

Duas semanas depois, as minhas memórias voltaram completamente. Cato está internado na ala de psiquiatria e insistem que não o devo ver ainda, que não é seguro. A enfermeira, Mira, traz-me notícias dele todos os dias. Não precisei ameaça-la nem nada do género, ela pareceu simpatizar com o meu “romance” logo e decidiu ajudar. Pelo que Mira me contou, Cato estava num estado depressivo grave. Ele achava que eu estava morta e até agora nenhuma tentativa de o alertar do “milagre” da minha sobrevivência tinha tido sucesso. Pelo que ouvi, ele tem tido alucinações…

-Quando o posso ver? – perguntei a Enobaria. É hora de almoço e ela veio me fazer companhia enquanto como. É uma sopa qualquer com legumes e o segundo prato é massa com atum e uma salada ligeira.

-Não hoje.

-Mas estou melhor.

-Clove, faça o que eu digo. Não é seguro para você ver o Cato agora.

-E quando é que vai ser, uh? – levanto uma sobrancelha – Estive longe dele durante dois meses, sem saber se o meu namorado estava vivo, e agora não me deixam vê-lo? Que merda, Enobaria!

-Cuidado com a linguagem, hein. – a minha mentora suspirou. Ela parecia cansada – Eu sei que está sendo difícil para você, mas precisamos que fique completamente bem para a podermos apresentar a Panem como uma líder recuperada.

-Não sou líder de nada, nem vou ser. – rosnei.

-Clove, você começou a rebelião e agora os Distritos te vêm como uma salvadora. Não importa quem seja o novo presidente, a sua opinião conta mais para Panem do que qualquer outra.

-Ugh. – passei a mão pelo rosto e massageei as têmporas– Eu não pedi isso, eu não pedi nada disto! Eu só quero viver em paz com o Cato, porque não me deixam?

-Deixaremos, - ela se levantou e sorriu torto para mim – quando você cumprir as suas obrigações. Voltarei amanhã de manhã, não faça nada estúpido. – Enobaria deu as costas e deixou o quarto.

Assim que a porta se fechou, joguei o tabuleiro para o chão. Os pratos e os talheres eram de plástico, portanto não se partiram, mas os restos de comida formaram uma poça á volta do tabuleiro quebrado. Afastei os cobertores e pus as pernas para fora da cama. Fazia três dias que não me deixavam andar, achavam que eu ainda estava muito fraca. Depois de uma tentativa falhada, em que fiquei estatelada no chão por as minhas pernas não conseguirem aguentar o peso do meu corpo, fiquei cativa no meu próprio quarto – mesmo que esse quarto seja num Hospital.

Já não havia cateter no meu braço, eu estava livre de qualquer aparelho. Lentamente, encaminhei-me até á porta do quarto, desequilibrando-me uma vez ou outra. Assim que lá cheguei, abri a porta e entrei no corredor. Eu já tinha estado naquele corredor antes, e até achava que era um lugar agradável. Não era como os corredores da antiga Capital; as paredes eram pintadas de cores suaves e alegres, não aquele branco ou cinzento deprimentes que fazem lembrar os manicómios.

Psiquiatria. Era para aí que eu tinha de ir. A hora das visitas tinha terminado e eu sabia, já por hábito, que só viria alguém verificar se eu estava bem – ou mesmo se eu não tinha tentando fugir – dali a umas duas horas. Sabia em que andar o quarto de Cato ficava, Mira havia me contado isso. Ela também me tinha dito que tinham colocado uma espécie de algemas – ela disse o nome, eu é que não me dei ao trabalho de o decorar – a prender os pulsos do meu namorado, visto que ele já tinha atacado algumas enfermeiras que tentaram dar-lhe comida ou simplesmente mudar-lhe o soro.

Tive a sorte de o elevador estar vazio, mas mesmo que não tivesse duvido que alguém se apercebesse de quem eu era e que eu não devia estar. Não tinha andando propriamente preocupada com a minha aparência e raramente me via ao espelho, sendo a exceção apenas quando tinha de tomar banho no banheiro do meu quarto no Hospital – não que eu tivesse outro quarto. Tudo o que eu tinha fora tirado de mim; o meu Distrito, a minha liberdade, os meus pais, parte da minha dignidade e, agora, até Cato. Mas eu recusava-me a perdê-lo a ele também. Não ia deixar que isso acontecesse, não depois de obrigar o meu corpo a sobreviver a condições semelhantes – e ainda piores – ás dos Jogos Vorazes apenas porque não conseguia sequer suportar a ideia de o deixar sozinho. E se Cato estivesse realmente morto e eu não, então acho que teria ido encontra-lo logo na minha primeira semana aqui. Até não era assim tão difícil manter as pessoas afastadas do meu quarto; parece que a minha capacidade de lançar olhares fulminantes tinha vindo a progredir.

Quarto 222, andar 5

Sorri fracamente e abri a porta lentamente. Já me doía o corpo e desde ontem á tarde que me tinha vindo a sentir um pouco febril, mas isso não era nada quando comparado com a necessidade de ver Cato. Eu tinha de saber como ele estava. Eu tinha de o ver.

Um nó se formou na minha garganta quando os meus olhos o encontraram, estendido na cama com os pulsos presos. A expressão dele era perturbada, enquanto olhava fixamente a parede branca á sua frente. Havia suor na testa e rosto dele, que parecia mais magro. Tive de desviar o olhar quando os meus olhos encontraram as olheiras assustadoramente negras debaixo dos olhos de Cato, tão frios e distantes. Não era aquilo que eu esperava encontrar, embora nem eu saiba bem o que esperava ver quando entrasse naquele quarto.

-Cato. – chamei baixinho, dando uns passos em frente e fechando a porta atrás de mim. Ele pareceu não me ouvir e não o chamei outra vez, sabia que não ia adiantar muito.

Peguei na cadeira que estava encostada a uma parede e levei-a para o lado da cama de Cato, onde não estava o suporte do saco do soro. Ele continuava fixado na parede. As suas pestanas fechavam-se lentamente e abriam-se da mesma forma de minuto em minuto, notei isso enquanto o observava em silêncio. Não me atrevi a tocá-lo, mas o aperto que sentia no peito estava mais frouxo agora que tinha visto pelos meus olhos em que estado o meu namorado se encontrava. O meu namorado… Seria ele o mesmo Cato de antes do acidente? Seria ele o mesmo Cato que tantas vezes me prometeu nunca me deixar? Ou teria o garoto da espada sido abalado pela notícia da minha morte de tal forma que até essa promessa ele quebrou?

Não sei quanto tempo fiquei ali, imóvel e respirando com dificuldade, observando o loiro perdido nos seus pensamentos. Só sei é que, a dado momento, não me consegui controlar mais. A minha mão moveu-se do meu colo para a borda da cama, onde descansava a mão dele. Assim que a ponta do meu dedo fez contato com a sua pele, os olhos vidrados de Cato viraram-se na minha direção.

Primeiro, aqueles orbes azuis flamejavam de ódio e por pouco ainda pensei que ele ia agredir-me como tinha feito com as enfermeiras. Mas depois ele contraiu-se, fechou os olhos com um rosnado gutural. Era dor pura, o que ouvi sair da garganta dele.

Imploro para me preencheres este vazio do meu lado esquerdo

Quero deixar de ter medo

Tremo só de pensar que esta solidão pode ser vitalícia

Estou com dificuldade em acreditar que a felicidade não é fictícia

-Cato? – a minha voz estava fraca, vacilante. Levantei-me, ficando tão perto da cama que as pernas tocavam na mesma – Estou aqui. Eu, a Clove.

-Vá embora. – grunhiu. Os meus olhos estavam lacrimejantes e tive de morder o interior da bochecha para impedir as lágrimas de escorrerem – Sai!

-Não. Olha para mim.

-Você é só mais uma alucinação! – gargalhou e um arrepio percorreu a minha coluna, arrepiando os cabelos na minha nuca. Era uma gargalhada insana. Eu nunca o tinha visto assim, nem mesmo nos seus piores momentos – Não tenho de te obedecer! Desaparece! Ela morreu, eu vi! Me deixa sozinho!

-Não! – repeti, abanando a cabeça ligeiramente. Levantei a mão e a estiquei a lhe tocar o ombro – Cato, sou eu de verdade. Eu sobrevivi, garoto da espada. – os seus olhos se abriram e ele me olhou novamente. Mas desta vez era como se ele realmente me visse, como algo mais do que um fantasma, mas menos do que a garota que ele amava.

Ele abanou a cabeça e voltou a gemer de dor. O nó na minha garganta apertava cada vez mais e estava a tornar-se muito difícil resistir ao impulso de o abraçar.

-Desaparece! – gritou. Sacudi a cabeça e apressei-me a limpar as lágrimas que me molharam o rosto.

-Eu vou te ajudar. Vai ficar tudo bem. – sussurrei carinhosamente – Eu prometo, vai ficar tudo bem.

Liberta-me disto, ou então eu desisto

Tenho força, mas a tanto não resisto

Traz-me o meu sorriso de volta...

Por favor aparece antes que todo o meu amor se transforme em revolta...

Cato chorava o meu nome, se debatendo na cama, enquanto eu analisava o instrumento que lhe prendia os pulsos e tentava encontrar uma maneira de o soltar. Eu o conhecia, eu sabia que ele ficava pior quando estava preso. Se lhe mostrasse que não havia nada a temer, se o deixasse ter a certeza de que eu era real, ele ia acalmar. Pelo menos isso funcionava com o Cato que eu conhecia, só não sabia se o que estava naquela cama era o mesmo.

Assim que soltei as “algemas”, as mãos de Cato apertaram o meu pescoço. Ele estava sentado á minha frente, com uma expressão que eu nunca tinha visto antes. Ele estava completamente perdido, tal como o ar que fugira dos meus pulmões.

-Cato, me solta! – a tentativa de gritar foi em vão, não se ouviu mais do que um murmúrio desesperado. Eu esperneava e batia com os pés nas pernas dele, mas Cato parecia feito de pedra, com os olhos de um inimigo e não mais o garoto que eu amava. A dor que essa realização me provocou era superior a qualquer dor física – Ca-ato!

-Eu disse para desaparecer! – berrou na minha cara. Ambos chorávamos, e a minha visão estava se tornando negra, com pontinhos saltitando de um lado para o outro.

-P-or fa-avor… - um lampejo de reconhecimento percorreu seus olhos, mas o aperto de pedra á volta do meu pescoço não tinha desaparecido.

Agarrei as mãos dele e finquei as unhas nas costas das mesmas. Um grunhido de dor escapou dos seus lábios e ele me soltou. Cai de costas no chão, ofegando e tentando desesperadamente respirar. Os meus olhos estão pregados ao chão e as minhas mãos tocam o meu pescoço levemente. Dói e rango os dentes para não chorar.

-Clove? – o chamamento é suave, quase assustado e muito hesitante. Talvez ele tenha medo de ter a confirmação de que realmente me magoou.

 Nunca tínhamos chegado a este ponto. A culpa é minha, eu sei, por libertar Cato das algemas que o protegiam a ele e a mim, mas eu tinha de o fazer.... Ele chora, ainda sentado na cama e com as mãos no rosto. Vejo-lhe as mãos a tremer; as minhas tremem da mesma forma, tremenda e violenta.

Tento levantar-me, mas falho pateticamente e caio novamente no chão. Surpreendendo-me, Cato me agarra antes de o meu corpo bater no solo. O toque dele envia arrepios por todo o meu corpo e, mesmo depois de tudo, aquela sensação de segurança, de finalmente não ter nada que temer, me envolve pela primeira vez em meses.

-Me desculpa. – pede numa mistura de lágrimas e soluços. Os seus braços voltam a apertar meu corpo, mas desta vez é num abraço desesperado – Me desculpa, me desculpa, me desculpa.

A minha voz desapareceu, não a encontro em lado nenhum. Quando o sinto cheirar o meu cabelo, inspirando profundamente o aroma, devolvo o abraço – enlaçando os meus braços á volta da sua cintura com tanta força quanto me é possível. Ainda tremo, e a garganta dói-me, mas aquilo que eu tanto queria, já tenho.

“Eu te amo” ele sussurra.

Agora já percebo porque é que os carreiristas são ensinados a temerem o amor, a afastarem-no das duas vidas. Porque esse sentimento nos torna fracos nos momentos em que devíamos ser fortes; embora também nos dê forças quando estamos prestes a desistir. Os carreiristas nunca devem pôr nada acima das suas vidas; quero dizer, se eles morrerem, já não podem atingir a vitória, e a vitória é o objectivo principal de qualquer carreirista. Mas se formos atingidos pelo amor, isso significa que alguém se torna mais importante, não importa se queremos isso ou não. O amor nos faz cometer sacrifícios, e fico contente por dizer que aquele valeu a pena.

*

-Estão prontos?

-Sim, estamos. Também, com você sempre a perguntar isso seria meio estranho se a gente se esquecesse, né? – Enobaria deu de ombros, verificando o meu penteado. Tudo tinha de estar perfeito.

-Sei lá. Eu também te tinha pedido inúmeras vezes para não fugir do quarto e ir ver o Cato, mas você foi na mesma. – ela tirou um gancho do meu cabelo e uma madeixa me caiu em frente do olho – Assim está melhor.

-Você desfez o penteado, como pode estar melhor? – riu, e ao meu lado Cato fez o mesmo.

-Pode até ser muito talentosa com facas, pequena, mas penteados não são o seu forte. – o loiro afirmou. Virei o rosto para ele e lhe mostrei a língua.

-Quem te mandou assustar o meu cabeleireiro, hein? – voltaram a rir. Admito que talvez o coitado do homem não tenha sido apenas assustado por Cato. O meu humor tem andado um pouco instável nestes dias – Ugh. Não temos um casamento para ir?

-Temos sim, obrigada por lembrar.

O Distrito 4 não mudou muito, embora agora já não haja nenhum símbolo da Capital nas ruas. O ar é fresco, sinto-o assim que saio do carro. Depois de o trem nos trazer ao Distrito do cabeça de peixe, um táxi – pelo menos acho que é esse o nome que deram a esse tipo de carro, que vai buscar pessoas a lugares e levá-las onde querem – nos foi buscar á estação. O caminho até á praia não era muito longe, mas nem eu nem Cato ou a minha mentora conhecíamos estas ruas. Não penso que corrêssemos algum risco senão o de alguém nos vir e chamar todo o resto da população daquela área para ver e talvez até falar connosco.

Toda a viagem, o braço de Cato esteve á volta da minha cintura, comigo no colo dele. Íamos falando um pouco, sobre o casamento e o Finnick e a Annie. Devido á Guerra, os dois pombinhos do 4 tiveram de adiar o casamento, mas agora que eramos um país livre, não perderam tempo para dar o nó. O cara de peixe me disse, numa das vezes em que nos foi visitar ao Hospital, que ele tinha esperado para Panem estar minimamente recuperada para voltar a sugerir o matrimónio a Annie; mas quando ele soube que eu estava viva, decidiu voltar a esperar até eu estar saudável o suficiente para ir “arruinar” o ambiente. Depois de um tapa na cara dele, acabei por aceitar.

Foi difícil escolher algo para usar naquele casamento, era o primeiro a que eu ia e não fazia ideia do que as pessoas vestiam no Distrito 4. No final, acabei por escolher um vestido até aos joelhos, muito semelhante ao que usei na Colheita. Consequência de não ter mais cabeleireiro, fui obrigada a tentar fazer algo com o meu cabelo. Prendi-o num rabo de cavalo com uma fita verde azulado a tapar o elástico, e a franja presa por um gancho – até ao momento em que Enobaria o tirou. Cato estava desconfortável naquele fato, pelo simples facto de Finnick lhe ter emprestado um e aquele estar um pouco apertado. Mas eu até gostava da forma como a camisa justa expunha os músculos do meu namorado. Até a minha mentora estava produzida hoje, com o cabelo caindo pelos ombros e um vestido cinzento claro elegante.

Chegámos á praia por volta de quinze minutos depois de entrarmos no carro. Cato pagou ao condutor e o táxi afastou-se de nós, descendo a rua no sentido contrário àquele pelo que tínhamos vindo. Estava um dia bonito, com o sol a brilhar no topo do céu, sem nuvens, apenas andorinhas e gaivotas. Sorri. Aquele lugar era calmo, mesmo com o som da música ao longe. Estávamos numa rua cujo chão era coberto de areia, com umas escadinhas de madeira á nossa frente que nos levavam para as dunas. Subimos com os pés descalços e os sapatos nas mãos. Annie já nos tinha avisado para não levarmos sapatos caros ou especiais para nós, pois ficariam cheios de areia.

Havia um conjunto esplendoroso de tendas brancas suportadas por estacas de quatro metros espetadas na areia, mesmo no topo das dunas. De onde estávamos, víamos quase toda a praia, que nos meus olhos parecia um quadro pintada pelo mais talentoso pintor. A maré estava a vazar e as ondas vinham carregadas de brilho e espuma branca. Crianças brincavam á beira, montando castelos de areia e cavando na mesma. Depois havia os adultos, que ora se estendiam nas toalhas a apanhar sol ou corriam para as ondas e mergulhavam, para voltarem á superfície como quem volta de uma fonte da juventude. Não é necessário dizer que todo o meu corpo gritava para eu ir para a água também. No entanto, havia um casamento mesmo ali ao lado e eu não podia voltar.

-A gente pode ir lá depois. – Cato murmurou com um sorriso, entrelaçando os dedos nos meus. Assenti.

As coisas estavam bem agora, entre mim e Cato. Já tinham passado quase três meses desde que o vi na ala da Psiquiatria, e o meu loirinho estava ainda a recuperar. Os médicos ficaram atónitos com a rapidez da sua evolução, mas sabiam que isso se devia a mim. Se ficássemos afastados durante mais do que um dia, eu entrava num estado de nervosismo que beirava a loucura e Cato tinha um colapso. Não tentaram separar-nos mais vez nenhuma, sabiam que se o fizessem ambos os faríamos arrependerem-se disso.

Ainda me lembro de como nos primeiros dias ele achava que eu agora tinha medo dele, por me ter atacado daquela vez. Depois de muita fala melosa, lá consegui convencê-lo de que estava bem, de que ambos estávamos bem e que continuaríamos assim.

-Estão atrasados! – gritou Finnick, assim que entrámos na tenda. Ele dançava com Annie, que sorria mais do que alguma vez a vira fazer – Deviam ter chegado antes de a dança começar!

-Parabéns, cara de peixe. – lancei-lhe um sorriso dócil, que fez Finnick rir. Este seria o primeiro e último dia em que ele me veria assim, sem comentários sarcásticos ou olhares fulminantes. Até Finnick Odair merecia um dia livre do meu mau humor – Parabéns, Annie!

Depois de muita conversa de conveniência com convidados que eu não fazia ideia de quem eram, Cato lá me levou para o centro daquela tenda, onde os casais estavam a dançar. Encosto a cabeça no ombro dele, escutando os cânticos do 4.

-Um dia vamos ser nós.

-O quê? – pergunto contra o ombro dele, ambos movendo os pés de acordo com o ritmo. Cato beija o topo da minha cabeça.

-Numa igreja. Um dia seremos nós. – um sorriso cresce no meu rosto, de uma orelha á outra. Levanto o rosto e olho para ele. O loiro tem os olhos brilhando, tão claros como o céu naquele Distrito.

-Eu te amo, garoto da espada.

-E eu te amo também, garota das facas.

Afinal, até os monstros têm direito a finais felizes.

Fim.


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Notas finais do capítulo

E é isso, gente. O último capítulo de "The ruler and the killer". Espero que tenham gostado e que comentem, pois os comentários são a única forma de eu saber como melhor. Vou tentar postar um dos extras amanhã e os outros dois durante a semana. Só posto se hoje tiver pelo menos 4 comentários, então já sabem :p
Bjs!