The Ruler And The Killer escrita por Marbells


Capítulo 2
Pride and Horror


Notas iniciais do capítulo

Oi! Então, não houve nenhum comentário no capítulo passado, mas eu espero que isso mude porque estou realmente entusiasmada com esta fic.

Espero que gostem.



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A Colheita começaria em poucos minutos. A praça estava cheia e enfeitada, o que, para mim, era totalmente indiferente. Também as pessoas pareciam estar enfeitadas, usando as suas melhores roupas e com penteados quase tão ridículos quanto os da Capital.

Eu usava um vestido branco até aos joelhos com algumas flores em miniatura estampadas. Obviamente, fora obrigada a vesti-lo, pois parecia demasiado inocente e inofensiva com aquilo. O meu cabelo estava solto, caindo em madeixas lisas sobre os meus ombros. A minha mãe insistira em me vestir e maquiar; ela sempre fazia isso no Dia da Colheita, para que se eu fosse selecionada estivesse no meu melhor. E isso era algo que eu achava totalmente desnecessário. Pois para estar no meu melhor só precisava de uma faca e de um alvo. A ideia de ver sangue me fez sorrir de uma maneira que muitos achariam assustadora, mas eu nem ligava para isso.

A maioria das pessoas entre 12 e 18 anos estavam exaltadas, todos queriam ser escolhidos. Mais uma vez, eu estava totalmente indiferente. Cato me prometera que não iria se voluntariar, então estava tudo bem.

Uma mulher com o aspeto típico das pessoas da Capital subiu ao palco. As suas roupas eram demasiado coloridas e quase faziam os meus olhos doer só de as olhar. O seu cabelo parecia uma nuvem branca enorme com manchas azuis, estava todo no ar e tinha um chapéu cor-de-rosa no topo.

Ela parecia realmente entusiasmada com aquilo, enquanto eu estava totalmente entediada. A mulher da Capital começou a falar sobre a históra dos Distritos e sobre a origem dos Jogos Vorazes. Era a mesma história que sempre ouvíamos no Dia do Colheita, por isso nem me dei ao trabalho de prestar atenção.

Olhei À minha volta e o encontrei. Ele estava vestido de uma forma bem mais formal do que era costume, mas eu sabia que era o seu pai que o fazia se vestir assim, fazendo-o parecer mais sério e lhe dando um maior ar de vencedor. Os cabelos loiros estavam demasiado penteados e a camisa que ele usava, embora fosse formal, não escondia em nada os músculos dos seus braços e, muito provavelmente, era mesmo essa a intenção. Cato acenou e sorriu, eu retribuí o sorriso e voltei minha atenção para a mulher da Capital, agora ela estava mostrando um pequeno filme de introdução aos Jogos.

Alguns minutos se passaram e os nomes iriam ser selecionados. Tremi de ansiedade. Eu tinha um pressentimento estranho, só não sabia se ele era bom ou mau.

Flashback On:

Eu estava nos longos e frios corredores do Centro de Treinamento do nosso Distrito. Era ali que os carreiristas passavam a viver quando eram inscritos, muitas vezes não por vontade própria, mas sim por vontade dos próprios pais.

O Centro de Treinamento era simples, havia uma andar para os dormitórios e para a cantina e outro andar para os treinos. Além disso, também havia um lugar específico atrás do Centro de Treinamento onde eram simuladas arenas e para onde os carreiristas eram enviados com o objetivo de simularem duas semanas na arena. Eu já tinha exprimentado esse lugar de simulação, juntamente com mais 12 carreiristas.

Durante aproximadamente duas semanas nós estivemos sozinhos, os treinadores não nos permitiam fazer alianças e alguns carreiristas acabaram gravemente lesionados, houve até três deles que acabaram por morrer devido a lesões internas não identificadas a tempo. Lembro-me que ganhei essa simulação em ambas as duas vezes em que participei. Sempre que a simulação acabava a minha reputação melhorava, eu era temida por todos os carreiristas e ninguém se atrevia sequer a olhar diretamente nos meus olhos. A sensação de glória era cada vez era melhor. Às vezes eu me sentia tão feliz com isso que me sentia como uma criança que recebe um brinquedo novo, embora isso não aconteça muitas vezes às crianças de alguns dos outros Distritos.

Também me recordo da sensação que me dominava cada vez que, depois de algum treino bem sucedido - o que era muito comum para mim - ou de alguma batalha que eu ganhava, Cato vinha ter comigo e me elogiava. Não valia a pena vencer o quer que fosse se eu não pudesse partilhar a sensação das vitória com Cato.

Nós dois não tínhamos uma forma de ser uma afetuosa nem sensível, mas eramos uma exceção um para o outro. Eu era o ponto fraco de Cato e, infelizmente, ele era o meu.

Ia completar 15 anos dali a alguns meses e isso apenas me fazia lembrar de que eu estava cada vez mais perto dos 18 anos e que, mais ou mais cedo, teria de me voluntariar. Essa ideia de me voluntariar não pertencia a mim, mas sim à minha treinadora (que, por nosso pedido, eu dividia com Cato). Enobaria acreditava que eu era a melhor carreirista que o Distrito Dois já tinha visto em muitos anos, mas, mesmo assim, ela queria que esperasse até à idade limite para me voluntariar, pois teria mais tempo para treinar e estaria mais apta para ganhar os Jogos Vorazes.

Mas não era a cada vez mais frequente pressão que Enobaria me fazia sentir que me preocupava. Era Cato. Ele estava mais distante e frio, e por vezes eu o encontrava olhando fixamente para um lugar, totalmente alheio do que acontecia à sua volta. E isso começava a preocupar-me, porque nós eramos amigos, sempre tínhamos sido e, além disso, eu não tinha mais ninguém em que pudesse confiar além de Cato, tal como ele.

Continuei a andar pelos corredores e parei em frente á porta do quarto de Cato. Estranhei o fato de a porta estar aberta. Cato nunca deixava a porta do quarto aberta, ele era demasiado desconfiado para isso. Além disso, só eu e Enobaria tínhamos uma cópia da chave do quarto de Cato.

Intrigada, coloquei-me atrás da porta, com o ouvido encostado à mesma, com a esperança de puder ouvir alguma coisa.

Rapidamente percebi que alguns sons vinham do outro lado da porta, pareciam vozes e não esatvam nada satisfeitas. Apenas consegui ouvir alguns gritos e talvez tivesse sido melhor se eu não tivesse ouvido nada.

–Mais um ano, lhe dê apenas mais um ano! – reconheci a voz da mãe de Cato, eles raramente se viam mas ela parecia importar-se minimamente com ele – Ele pode esperar mais um ano para se voluntariar!

–Não há mais um ano! – gritou a voz que percebi pertencer a Enobaria. O que aquelas duas estariam discutindo com tanto fervor? – Ele tem 18 anos, Lea, e o Cato é o melhor carreirista masculino deste Distrito!

–Tenho a certeza que há alguém tão bom como ele.

–E há, - Enobaria disse, um pouco mais calma, enquanto eu fechava os punhos e cerrava os maxilares. Ela queria que Cato se voluntariasse, mas não, ele não podia fazer isso. Eu não deixaria! – mas ela é nova demais ainda e, mesmo que quisessemos, é proibido alguém do sexo feminino ir no lugar de um tributo masculino, mesmo que ela se voluntarie.

–Quem é ela? – encostei ainda mais o ouvido á porta, afinal, isso era algo que também me interessava. Eu não sabia que havia uma carreirista tão boa como Cato, eu sempre tinha ouvido que ele era o melhor dos carreiristas e eu era… Oh!

–Clove Breil.

–Clove? – Enobaria respondeu com um “Humhum” – Clove, a garota das facas? A amiga do meu filho?

–Sim, essa mesma Clove que, neste preciso momento, está atrás da porta a ouvir a nossa conversa. – ouvi a mãe de Cato fazer uma exclamação de surpresa e saí dali, andando novamente pelos corredores mas, deste vez, com um destino e um humor totalmente diferentes do que á alguns minutos atrás.

Não estava minimamente preocupada que Enobaria e Lea soubessem que eu tinha ouvido a conversa. A minha preocupação, e também a razão da minha raiva, era outra.

Cato e eu nos conhecíamos desde pequenos e sempre treinávamos juntos. Ele era bastante bom com a espada e eu com as facas. Juntos nós eramos invencíveis, pelo menos era isso que Enobaria e os restantes habitantes do Distrito 2 diziam.

Eu não era uma garota popular e sociável, totalmente pelo contrário. Eu era temida por ser fria e não ter pena de machucar alguém… desde que não fosse Cato. Acho que até posso dizer que sou um pouco sádica. Não, um pouco não, eu sou sádica mesmo.

Eu tremia naquele momento, enquanto corria pelo mato que havia perto dali. Nós sempre nos encontrávamos naquele lugar quando queríamos estar sozinhos, aproveitando o pouquissímo tempo que tinhamos livre no Centro, falando de banalidades e descansado da monotomia do Distrito.

Me encostei a uma árvore e deixei o meu corpo escorregar até chegar ao chão. Envolvi as pernas com os braços e soluçei, mordendo os lábios com força para não chorar. Eu não podia chorar, isso seria sinal de fraqueza. E eu era tudo menos fraca. Exceto quando se tratava do idiota e convencido do meu melhor e único amigo.

Merda! Ele não podia se voluntariar! Eu sabia que ele era muito bom em luta e que sabia manejar uma espada melhor que ninguém e que tinha muitas hipóteses de sobreviver, mas algo podia dar errado e ele poderia… “Não, Clove não pense nisso. Cato não vai se voluntariar, ele não pode fazer isso!” repeti mentalmente para mim mesma, enquanto, de olhos fechados, esperava que o meu corpo parasse de tremer de raiva e que os meus soluços cessassem.

Alguns minutos passaram e eu ouvia um som que parecia o de um pequeno animal andando sobre as folhas caídas sobre o solo. Abri os olhos e vi um esquilo de pelagem castanha brilhante e olhos curiosos que, por acaso, estavam fixos em mim. Com a raiva ainda a borbulhar dentro de mim e a minha cabeça cheia de pensamentos confusos, a minha mão se moveu automaticamente para o meu cinto de facas e tirou uma para, em seguida, a lançar no ar contra o pequeno esquilo. O animal não teve tempo de fugir, a faca cravou-se no seu tronco e o esquilo caiu imóvel para a lado, ainda com os olhos cor de avelã abertos de uma forma que muita gente consideraria adorável.

Sorri com aquela imagem, eu sempre ficava melhor quando descontava a minha raiva em algo ou em alguém. A violência parecia me acalmar de uma maneira única, e apenas era vencida por Cato. Só de pensar em seu nome a raiva voltou ainda com mais força e as lágrimas também, enquanto eu lutava para que elas não caissem sobre o meu rosto. Eu sempre fora demasiado orgulhosa para chorar e isso era algo que eu tinha em comum com Cato.

Fui até ao esquilo morto e retirei a minha faca do corpo sem vida. Limpei-a e, em seguida, a lançei repetidamente, juntamente com as outras cinco que tinha no meu cinto, contra o tronco de uma árvore que estava a uns 10 metros de mim.

Talvez fosse coincidência, ou talvez não, mas aquela era a única tarde livre que eu tinha durante a semana e talvez por isso mesmo eu não me importei com o passar do tempo. Penso que se passaram duas horas desde que entrara no mato e, mesmo assim, eu continuava a torturar a pobre árvore com golpes fortes e repetidos. Não me importava com o suor que brotava dos meus poros e parecia cobrir cada milímetro da minha pele e muito menos me importava com o cansanço que, naquele momento, eu devia supostamente sentir. Mas sabia que não me cansaria até resolver o assunto que me perseguia desde que, naquela mesma tarde, eu ouvira a conversa entre Enobaria e a mãe de Cato.

Sempre tive cosnciência de que Cato era um grande fã dos Jogos Vorazes, tal como eu, mas eu nunca pensei em me voluntariar de livre vontade para isso. Quero dizer, quando entrei no Centro de Treinamento eu era apenas uma criança e não fazia ideia daquilo que os Jogos Vorazes envoviam. Porém, com o passar do tempo, passei a ver o verdadeiro lado dos Jogos Vorazes e, em consequência, a minha empolgação para participar neles apenas diminuiu, e diminuiu drásticamente. De qualquer forma, se calhasse o meu nome eu aceitaria e venceria, honrando o meu Distrito. Se, pelo contrário, fosse o nome de Cato a ser escolhido, então, eu o apoiaria, mas sofreria com a expetativa e com o fato de não poder estar a seu lado. Agora, se Cato se voluntariasse, eu seria capaz de o matar antes de ele pôr os pés na maldita Capital.

–Clove! – ouvi a voz de Cato e guardei as facas de volta no meu cinto. Cato apareceu no meio das árvores, com o rosto levemente avermelhado, como sempre ficava quando ele corria muito, e os olhos esbugalhados – Clove, o que aconteceu? – perguntou ao reparar no tronco que estava praticamente desfeito.

–Você sabe como é, sou uma carreirista empenhada. – falei ironicamente e ele fez uma expressão confusa.

–O que você tem? – Cato andou até mim e eu dava um passo para trás á medida que ele se aproximava – Ei! O que se passa, Clove? – a sua expressão estava agora precoupada, embora ele devesse estar preocupado com a hipótese de eu o tentar matar naquele momento e não comigo – Porque você está olhando para mim desse jeito?

–Eu estou olhando para você como sempre olhei. – murmurei.

–Não, você não está. – ele deu mais um passo para á frente e eu fiz o mesmo para trás, ficando encurralada entre o corpo de Cato e árvore atrás de mim.

–Você vai se voluntariar? – a minha voz saiu quase que um sussurro e demasiado fraca e triste do que o que eu pretendia.

Cato pareceu finalmente entender o motivo de eu estar daquele jeito. Um sorriso torto se formou no seu rosto e ele se aproximou ainda mais de mim, nossos corpos se tocando.

–Onde você ouviu isso? – perguntou franzindo o sobreolho.

–Isso não interessa! – quase gritei – Você vai se voluntariar ou não? – perguntei num tom ameaçador.

Cato não respondeu logo, o que aumentou meu desespero. Mas, passados alguns minutos, o seu sorriso se alargou, ele estava zombando comigo!

–Porquê? Está com medo que se eu for não volte?

–Medo? – gargalhei forçada e nervosamente – Eu não tenho medo, Cato. – ele continuou sorrindo, ambos sabíamos que era mentira, mas apenas eu sabia qual era o meu verdadeiro e único medo – Agora, Cato, responda á minha pergunta: você vai voluntariar-se ou não?

–Não, eu não vou me voluntariar.

–Prometa. – ele gargalhou e eu bufei, levando a mão ao cinto e tirando uma faca. Apontei-a ao seu rosto, mas ele não se afastou. Cato não tinha medo de mim. Ele era o único – Prometa que não se vai voluntariar ou eu juro que espeto esta faca no seu rosto, Cato Ruthless*.

Cato gargalhou mais uma vez e tirou a faca da minha mão. Mais ninguém se atrevia a fazer aquele gesto. Qualquer um que tentasse tocar minhas facas ficava, no mínimo, magoado o suficiente para não conseguir se mover durante alguns dias. Mas não Cato, ele era o meu melhor amigo.

Ele sempre o fora, e isso iria ser posto á prova de uma maneira que eu nunca poderia imaginar.

–Eu prometo.


Flashback Of


Seguro entre dois dedos esguios, o papel onde estava o nome da garota selecionada como tributo era balançado no ar. A mulher sorriu de uma forma estranha e se preparou para o abrir. Apertei as mãos uma na outra e foquei minha atenção na sua voz com sotaque da Capital.

–E a garota selecionada para os 74º Jogos Vorazes é… - o silêncio reinou durante alguns segundos. A maldita mulher estava fazendo suspense e, com isso, apenas aumentava a minha vontade de a matar – …Clove Breil!

Os meus passos eram longos e rápidos enquanto eu em dirigia ao palco. Ninguém se voluntariara para ficar no meu lugar. Eu era a melhor carreirista do Distrito 2 e todos sabiam disso.

A ansiedade passara completamente, agora eu estava com um sorriso no rosto. Eu fora selecionada para os Jogos Vorazes e venceria. Lutaria até a exaustão, mataria sem dó qualquer um que se metesse no meu caminho. Pensando bem, aquilo seria bem divertido. Eu poderia fazer o que mais gostava: matar. O meu sorriso se tornou malicioso enquanto eu imaginava as inúmeras formas de matar meus adversários.

Depois de me saudarem e de todos baterem palmas e a mulher da Capital dizer o quanto eu devia me sentir honrada, estava na hora de selecionar o tributo masculino.

E aí eu olhei para ele. Cato estava ainda no mesmo lugar, mas tinha os punhos fechados e o maxilar cerrado. Os seus olhos estavam mais frios que nunca e a sua expressão era determinada. O seu rosto estava vermelho e quase que saía fumo pelas narinas dilatadas de Cato. Cato fechou os olhos e, depois de os abrir novamente, os meus olhos contactaram com os seus. Apenas alguém que o conhecia tão bem como eu poderia ter visto o desespero a tomar conta de Cato, ele estava com medo e angustiado. Cato era o único que não aplaudira, mas, no lugar dele, eu também não aplaudiria. Lancei-lhe um olhar tranquilizador mas isso pareceu piorar ainda mais o seu estado. “Oh, não!” pensei, ele não parecia nada feliz

–E agora, o tributo masculino! – antes que a mulher pudesse colocar a mão dentro da caixa de vidro com os nomes, uma voz gritou:

–Eu me voluntario! – olhei para onde vinha a voz e fiquei petrificada. “Ele não!”.



*Ruthless – impiedoso.



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Notas finais do capítulo

Fiquei desanimada quando vi que não tinha tido nenhum comentário no capítulo anterior e peço que comentem porque isso é muito importante para mim. Como já disse anteriormente, tenho quase todos os capítulos escritos e gostaria de os postar o mais rápido possível, mas só o farei se tiver comentários - nem que seja só um.

Obrigada e até ao próximo capítulo!