Notas Suicidas escrita por Pu_din


Capítulo 5
Anotação n°4




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O trabalho era simples: montar uma redação. Porém, quando iríamos começar a fazer, o sinal do intervalo toca, e essa é a segunda parte mais engraçada de todos os dias letivos: a primeira são as comemorações natalinas (eu nem vou comentar sobre isso, é muito idiota), e a outra é o intervalo, pois os alunos se atropelam e se matam para sair da sala mais rápido. Eu nunca entendi isso.
Hayley é como eu, não tem uma alma viva que seja amiga dela, só colega, em quem não dá pra confiar. Sem querer me gabar, mas eu sou seu único amigo de verdade, e ela sempre senta comigo no intervalo, e com certeza esse dia não seria diferente.
- Vamos, Gerard! – ela grita da porta da sala.
- Estou indo! – respondi enquanto andava em sua direção, no entanto percebi que Frank ficara sentado, ainda com os olhos pousados em sua mochilinha de vinte anos.
Confesso que essa hora eu fiquei com dó dele. Eu sei como é ser rejeitado pela sociedade, e eu tenho um maldito coração bondoso, tem hora que ele me enche. Não tive como deixá-lo sozinho, plantado na cadeira. Então disse-lhe de modo amigável:
- Não vai descer com a gente?
Ele levantou o olhar para o meu rosto, e percebi que seus olhos desbotados começaram a brilhar. Aquilo me comoveu, sem brincadeira.
- Vamos, então...
Frank e eu caminhamos até Hayley, e eu o apresentei a ela, que o abraçou toda risonha. Ela é um tanto simpática, quando quer.

Nós três sentamos todos juntos, e eu fui comprar algo na única cantina que tem na escola, e ela é tão cara que chega a doer a alma. Hayley ficou com Frank, conversando. Ela é muito receptiva, não dá pra não rir com ela. Nem ela e nem o Frank comeram, só eu comi. Cheguei a me sentir mal e nem sei direito o porquê.
Voltamos à sala de aula e o tempo voou. Como o trabalho era para ser entregue no outro dia, no final da aula, eu falei com o Frank, pra combinarmos como iríamos fazê-lo.
- Eu só posso fazer no final do meu trabalho, às seis... – eu disse.
- Tudo bem, Gerard. A gente se encontra depois que você sair de lá, então. É na lanchonete, não é?
- Isso mesmo. Eu passo na sua casa, se quiser...
Nesse momento, ele gaguejou, aflito.
- É melhor não... Hoje não. Pode ser em outro lugar? – sugeriu um pouco inquieto.
- Ah, na minha casa, então?
- Beleza, eu passo no seu trabalho, depois. Tchau.
Após isso, ele sumiu da minha frente com uma velocidade incrível, um pouco exagerada, até. E só depois pude perceber a besteira que havia cometido. Como tive a coragem de chamá-lo para ir à minha casa, sendo que ele quase matou a Tracy? E por que ele ficou tão angustiado quando sugeri que eu fosse à sua casa? Eu não sabia onde meu senso estava na hora em que o convidei, mas, infelizmente, o que está feito, está feito.

Hayley e eu trabalhamos normalmente nesse dia, sem nenhum safado metido a esperto aparecer. Depois me despedi dela, e percebi que Frank estava encostado no muro em frente à lanchonete, de braços cruzados, para tentar conter o vento gelado que soprava ao oeste.
- Hey, Frank! – gritei com uma brisa gelada a cortar minha pele. O tempo estava realmente frio – Vamos?
Caminhávamos calados entre as ruas desertas e escuras, e o frio obrigou-me a encolher meus braços cada vez mais em minha velha jaqueta rasgada. Frank ainda estava com o mesmo moletom negro, o qual invejei por não conter furo algum. Malditos ambientes arejados...
- Gostei da jaqueta – ele murmurou, tímido.
- Sério? – perguntei um pouco incrédulo.
- Sério. Eu curto rasgos.
Eu ri, e não pude evitar a pergunta:
- Você lê mentes?
Agora é ele que ri.
- Às vezes. Depende do meu humor, sabe?
Sorrio silenciosamente, e continuamos a andar, até que finalmente chegamos à minha casa.


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Notas finais do capítulo

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