Going Back In Time Party escrita por Rennan Oliveira


Capítulo 8
Por Bebidas de Nome Desconhecido




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Quinn só estava ali para curtir o momento e nunca havia pensado em levá-lo adiante. Voltara a Lima porque queria reencontrar os amigos e relembrar os bons momentos, o mesmo motivo pelo qual aceitara presenciar aquele encontro proposto por Finn. Tinha uma vida para dar atenção longe dali, uma que envolvia todo um planejamento que ela andara fazendo desde que deixara o McKinley. As provas disso estavam em seus cadernos de anotações e espalhados em post-its ao redor do computador que ela usava em seu quarto de república próxima a Yale.

Por isso, quando Sam começou a se aproximar, ela preferiu não imaginar que ele quisesse algo além de uma conversa. Para ela, eles eram amigos como sempre foram, desde a época em que ele surgiu na escola cantando uma canção sobre como seu romance de verão tinha sido incrível com uma garota misteriosa. Uma garota que, depois todos foram descobrir, era Mercedes. Se ele havia aceitado voltar para ela, era bem provável que estivesse muito bem resolvido e que não via problema nenhum em começar um novo romance – o que, consequentemente, significava que o que ele um dia sentiu por ela, Quinn, já não existia mais.

Sustentada por pensamentos assim foi que a garota decidiu apagar o garoto de sua mente e seguir em frente. O acidente de carro também teve grande importância nisso, porque a obrigou a direcionar os pensamentos para coisas mais importantes do que romances de escola. Levando tudo isso em conta, não foi difícil esquecer que beijar os lábios carnudos de Sam foi muito bom um dia. Quando menos esperou, percebeu que estava bem consigo mesma e que poderia seguir com sua vida assim, sem nenhum problema.

Mas era óbvio que Sam não pensava assim. Quando Quinn o percebeu se aproximar enquanto ela se mantinha sentada ao balcão do bar da casa dos Hummel, um copo de bebida nas mãos, cantarolando a música que estava tocando, percebeu que estava prestes a presenciar uma conversa que não seria sobre interesses ou sobre escolhas do futuro, e sim sobre uma caixa velha chamada Passado, onde milhares de lembranças, boas e ruins, estavam acumuladas aos montes. Quinn revirou os olhos e abaixou a cabeça, contida, mas nem isso foi capaz de afastar o garoto.

– Vou te incomodar se me sentar aqui? – Sam perguntou e não esperou a resposta para puxar um banco alto e tomar o lugar ao lado da garota. Por algum motivo, ele estava carregando seu violão, como se fosse um acessório da moda, e não um instrumento musical.

– Sinta-se à vontade – Quinn disse mesmo assim.

– Não é preciso ler pensamentos pra perceber que você está longe agora. Pensando em uma vida que deixou para trás?

– Não – Quinn respondeu, bebericou do próprio copo e franziu o cenho. O olhar de Sam acompanhou cada um desses gestos. Acontece que ela percebeu a ambiguidade na frase do amigo – que tanto podia dizer respeito à vida que ela deixou em Yale quanto à que deixou no McKinley – e se sentiu incomodada.

Vamos com calma, rapaz!, pensou e pousou o copo no balcão.

– O que acontece em Yale fica em Yale – ela respondeu e procurou sorrir. Sam sorriu também, embora a contragosto. – Mas, sim, eu estava pensando em algumas coisas. Assuntos secretos, por assim dizer.

– Hum... – Sam sorriu ainda mais. Quinn conseguira criar a atmosfera de simpatia que almejara, mas agora percebia que ele estava entendendo tudo errado. – Você não quer dividir esses pensamentos comigo?

– Não! – ela respondeu, balançando a cabeça em negativa. – Se eu os dissesse a você, deixariam de ser segredos, você não acha?

– Você tem razão.

Houve uma pausa antes de Sam dizer:

– Senti saudade de você, Quinn.

– Eu também.

– E foi só agora que percebi, depois de seis anos, que cometi um dos maiores erros da minha vida.

– Você não fez nada de errado, Sam. Só fazemos coisas erradas quando prejudicamos outra pessoa ao fazer uma escolha. Se você sempre achou que fazer o que fez estava certo, não sei por que devia encarar isso como um erro.

– Eu magoei uma pessoa.

– Não, você não magoou! – Quinn ria com desgosto enquanto falava. – Céus, Sam, será que quer mesmo ressuscitar essa história agora? A festa está tão boa!

– Claro que está – Sam disse dando de ombros.

Ele sorriu e encarou Quinn. Recebeu um sorriso de volta, mas não do jeito que esperava. Tocou a mão da garota com carinho e partiu com seu violão.

Quinn sentiu o coração ser apertado ao vê-lo fazer isso, mas não tinha como controlar. Ou ela saía magoada daquela situação, ou ele, e, a julgar por como estava bem naquele momento, ela não tinha vontade nenhuma de ser a magoada da vez.

~//~

Finn estava a um canto com uma garrafa de cerveja cuja marca ele não conhecia – obra do Kurt, que ainda não tinha chegado. Não conhecia a bebida, mas a estava achando muito boa, apesar disso. Talvez anotasse a marca num caderno para não se esquecer de sua existência quando estivesse sóbrio. Coisas boas nós temos que eternizar, nem que seja através de lembranças, ele pensou e o pensamento foi tão forte que o homem, agora já bêbado, chegou a mover os lábios como se pronunciasse as palavras.

Finn estava cabisbaixo, mas não fora nada do que vira durante o encontro que ele mesmo programara que o fizera se sentir assim. Na verdade, assim que recebeu a cara de Artie, ele percebeu que essa sensação viria. Era a falta que sentia de Rachel, de tê-la ao seu lado, de compartilhar suas futilidades com a garota que amava. Porém, como estava para encontrar tanta gente ao mesmo tempo, ele não podia simplesmente andar por aí com esse semblante, como se encontrar os amigos do passado não fosse o bastante para fazê-lo esquecer-se dos problemas, e por isso que parecia tão bem aos olhos dos outros.

Mas a bebida geralmente tem a habilidade de mostrar nossos pensamentos mais profundos e como realmente estamos, por isso, enquanto observava Santana dançar perfeitamente bem uma música pop que tocava no rádio na companhia de sua garota, que parecia tímida demais para trocar pelo menos duas palavras com qualquer outra pessoa, ele percebeu que não estava feliz realmente. Na verdade, ao sugerir a ideia de dar uma festa, o que Finn queria era fazer renascer uma felicidade que ele costumava sentir antigamente, algo que só era possível na companhia daquelas pessoas. Imaginou que, se recriasse aquele ambiente, voltaria a ficar bem e talvez até conseguisse sorrir de forma verdadeira.

Mas agora percebia que, por mais que todos estivessem ao redor – e isso já era bastante coisa -, ele ainda sentia falta de Rachel, e era por ela não estar ali que ele se sentiu tão entristecido. Ele sabia que era um garoto tolo na maioria das vezes, mas tinha uma cabeça suficientemente boa para perceber quando alguém só estava fugindo de um encontro. Rachel não estava gripada, ela só não queria voltar a vê-lo tão cedo, e ele podia imaginar o porquê. Remexer no passado nunca foi uma coisa fácil, e ela certamente sabia disso e temia o que poderia vir a surgir decorrente dessa atitude. Era uma escolha que ele entendia, mas que não aceitava completamente. No final, tudo o que ele queria era ver a Rachel e, na melhor das hipóteses, beijá-la novamente.

E foi por isso que bebeu. Pensou que fosse se sentir melhor assim que a mente não estivesse no lugar, mas nunca esteve tão enganado.

~//~

Duas horas eram suficientes para Quinn beber o suficiente para perder o controle do próprio corpo. Depois de beber tanto que até perdeu a conta de quantos copos entornou, Quinn sentiu vontade de dançar, muito embora não fosse tão apegada a músicas de Dance. Descalçou os sapatos, deixando-os próximos ao banco em que estivera sentada, e correu para o centro da sala, região onde Santana e seu enorme ego dividiam espaço com muita dificuldade. Quinn teve que tomar cuidado com a moça para não ser esmurrada entre um passo de dança e outro, mas, mesmo assim, sentiu que ia se divertir.

Porque dançar era uma coisa que Quinn adorava fazer, mesmo que não houvesse ocasião para isso. A sensação era libertadora, boa, chegava a ser uma coisa que viciava. Mover o corpo era algo que ela gostava tanto que, ao sofrer o acidente e perder o movimento das pernas, a perspectiva de nunca mais poder dançar e ter que viver como o Artie, que tinha sonhos de ser um dançarino, mas que jamais conseguiria alcançá-lo, a apavorou totalmente. Que perdesse a vida, mas que jamais perdesse a habilidade de dançar.

Dançar a deixava feliz, no final das contas.

Ao chegar ao centro da sala, Quinn não deu muita atenção para quem estava ao redor, portanto, não percebeu ninguém além de Santana por ali, uma vez que a garota era bastante chamativa. Mas Sam também estava por perto. Não era um garoto que tinha os melhores passos de dança, mas fazia um-passo-para-cada-lado bem o suficiente para que sua presença fosse perfeitamente escondida atrás dos rebolados da latina que dividia espaço com ele.

E foi por isso que Quinn acabou rodopiando demais e acertando-o em cheio com seu corpo. Perdeu o raciocínio, fechou os olhos, aguardou que a dor de cabeça fosse embora e só então percebeu que estava nos braços de Sam. Olhou para cima e encontrou os olhos pedintes do garoto a lhe observar. Sentiu raiva de si própria por ter deixado aquilo acontecer.

– Você não vai desistir, não é mesmo? – falou a agarrou a camiseta do rapaz por entre as unhas.

– Jamais vou desistir de você, Quinn.

Quinn piscou uma ou duas vezes diante da imagem do belo rosto de Sam. Uma fração de segundo depois, seus lábios estavam colados nos dele numa outra dança cujo nome todos conheciam: beijo.

A partir daí, as portas das lembranças do McKinley High estavam todas abertas, e cada um dos ex-membros do Glee Club passaria a ser profundamente influenciado por elas.



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Notas finais do capítulo

E feliz dia do escritor para todos! \o/