O aeroporto estava cheio de turistas loucos por conhecer a Itália.

-O.K. - falou Amy tremendo ao observar a chuva do lado de fora do aeroporto. - Aqui estão as passagens. Vai mesmo fazer isso, Mila?

A Ekat fez um sim com a cabeça, mas não disse nada.

-Tome - disse Ian estendendo o braço para entregar o rastreador para Mila. - É só você apertar esse botão quando descer do avião. Eu e Amy vamos monitorar seu caminho com esse GPS.

-Certo. - ela falou guardando o pequeno aparelho dentro da bolsa tira-colo. - Vocês vão ter que esperar até que eu chegue na Noruega, aí vocês arrumam um carro e seguem os Vesper. Até lá, não tem muita coisa para fazer.

-O.K. - Amy repetiu.

A voz de uma mulher chamou os passageiros do voo 787 para embarcarem.

-Temos que ir. - falou Ian erguendo a bagagem de mão do chão. A arma dos Vesper, a arminha de dardos tranquilizantes, o GPS e vários frascos de perigosos venenos chocoalharam dentro da bolsa.

O raio-X não detectou nada além de uma garrafinha de água, um celular, uma bolsinha de moedas e um guarda-chuva pequeno. Tudo isso graças ao poderoso equipamento dos Lucian.

-Mila, tem certeza de que você vai ficar bem? - Amy perguntou pela última vez.

-Sim! Agora vão! Vocês não podem perder esse voo.

-Última chamada para o voo 787, passageiros, por favor, digiram-se a plataforma de embarque quatro. Plataforma de embarque quatro. - repetiu a voz eletrônica.

-Última coisa. - falou Ian. - Não sei se vocês sabem, mas o GPS também escala a velocidade que estiver em movimento para o tamanho da tela de observação. Conseguem entender? É, na verdade, algo bem simples, uma conta de escala. Se Mila estiver andando rápido demais saberemos que ela está em algum carro ou no avião.

-Só vou ligar o rastreador do GPS quando eu sair do avião. - Mila os lembrou. - Se me virem me movimentando rapidamente é porque eu estou no avião dos Vesper, não o do aeroporto.

-Tá bom, então. - Amy desistiu. - Boa sorte.

-Tchau! - falou Ian com um aceno já seguindo Amy para a plataforma.

Antes disso, Mila o segurou pelo braço.

-Ian, - ela falou. - É agora.

Ela não estava falando do plano de salvar os Cahill, e ele entendeu. Estavam falando de Amy.

-Valeu, Ekat. - ele não pode deixar de agradecer com um sorriso.

*****

-Terceira classe. - bufou Ian quando o avião pousou no aeroporto da Noruega.

-O que disse? - perguntou Amy desatenta já que estava a procura das malas na esteira.

-Nada. - ele resmungou e ajudou-a a puxar a mala de cima da esteira para o carrinho.

Pegaram um taxi e se hospedaram em um hotel simples onde não ficariam. Colocaram as malas em cima da escrivaninha e ligaram o GPS. Uma mensagem apareceu na tela avisando-os que o sinal não estava funcionando.

-Mila ainda está no avião. - Ian suspirou e se jogou na cama. - O que fazemos? Esperamos?

-Bem, não podemos ser vistos. Vamos ter que ficar aqui. - Amy respondeu sentando na outra cama. - Ethan, você acha que a base dos Vesper aqui na Noruega é um lugar bem escondido?

-Acho. - ele respondeu. - Ou algum lugar bem disfarçado. Os Vesper não são como os Lucian, sabe? Quanto menos souberem deles... melhor. Um pouco estranho para minha filosofia, eu diria. - ele falou encarando o teto.

-Na verdade, faz todo sentido. - Amy respondeu o observando. - Eles não querem ser pegos, não podem mostrar para nós, Cahill, que não são bons no que fazem. Vai ser muito difícil encontrarmos eles aqui, na Noruega.

Ian deu de ombros.

-Acha que devemos começar a procurar? - ela perguntou com uma nota histérica na voz.

-Amy... - chamou devagar, com medo de suas próprias palavras não forem adequadas. Quando um Lucian não sabia dizer as palavras adequadas? Ian sentiu um calafrio percorrer a sua espinha. Ele não tinha ideia do que falar. - Fique calma.

Ela ouviu-o, portanto respirou fundo e fechou os olhos por um instante.

-Amy, - ele chamou delicadamente, se sentando na cama. - Você ainda sente algo por Ian Kabra?

Ela abriu os olhos e o encarou por um momento, confusa com a pergunta que a fez ruborizar.

-Não gostei do que ele disse. - ela confessou baixinho. - Achei preconceituoso. Ele não é melhor do que ninguém, sabe? Mas eu acho que isso é uma característica dos Lucian, não?

Ele cofirmou com a cabeça, inofensivamente.

-Mas você não respondeu a minha pergunta... Ainda sente algo por ele?

-É... - ela se levatou e encarou a porta do quarto. - Difícil esquecer o que tivemos.

-Amy... - ele a chamou de novo. Agora, já estava de pé atrás dela.

A garota se virou na hora.

-Mas não pense que o que tivemos não foi nada. - ela falou rápido. - Aquele beijo foi... bem, foi bom, Ethan. Não me esqueci dele.

Ian gelou.

-E com isso você quer dizer que...

-Eu consiga esquecer o Ian mais rápidamente. - ela completou com um sorriso.

Outro calafrio percorreu o coração do garoto.

-Amy, eu...

-Não precisa dizer nada. - ela falou tentando soar gentil. - Não estou te usando, eu realmente sinto algo por você, Ethan, e acho que esse "algo" pode apagar o que existia entre mim e Ian.

Ian Kabra visualizou em sua cabeça uma cena terrível: Ele mentindo para Amy o resto da vida... e usando uma peruca.

-Amy, você precisa me escutar.

Ela colocou a ponta dos dedos no rosto dele.

Ian não soube dizer porque fez aquilo, mas a puxou para outro beijo assim que sentiu a pele dela na sua. Também não soube dizer quanto tempo durou o beijo, para quem assistisse diria que durou demais, mas para ele aquilo parecia ter se passado em milésimos de segundos. Beijou Amy com tanta sede dos lábios dela como se não fossem se ver nunca mais. Sentindo-se culpa, separou-se de repente.

-Ethan... - ela sussurrou ainda de olhos fechados.

-Ian. - ele corrigiu-a ignorando o nó que se formava na garganta. Não podia mais mentir. Levou as próprias mãos a raiz do cabelo e arrancou a peruca que desfarçava.

*****

Quando o avião começou a abaixar gradativamente Mila encehu-se de agonia. Sabia o que tinha que fazer, mas tinha um certo receio. Um receio que cresceu ainda mais quando a pista de pouso foi localizada visualmente. A adrenalina corria em suas veias loucamente.

Num impulso, agarrou o mapa mundi já amassado. Já tinha conferido mais de oito vezes aquele mapa para saber se tinha feito tudo certo. Passou o dedo pela linha traçada por sua caneta vermelha. A linha ligava a Noruega até Níger, passando pela Itália. Os trópicos - Círculo Polar Ártico e Trópico de Câncer - estavam circulados.

O avião pousou na pista grasiosamente.

Mila voltou a agarrar a caneta com força e continuou o segmento de reta até o final da África.

-Atenção, passageiros, preparem-se para descer do avião, mas permaneçam sentados, por favor. - a aeromoça deu o recado pelo microfone e tratou de repeti-lo em várias outras linguas.

Mila precisava rasgar o mapa em milhões de pedacinhos e se preparar para descer, mas deteve-se por um momento. Ao continuar a linha que havia feito ela cruxou com a linha do Trópico de Câncer bem em cima de um país... também com a letra N.

-Namíbia. - ela sussurrou assombrada com a novidade. - O mais longe possível de Ravena e que também passa por um trópico. N.

Mila Dragão engoliu em seco.

-Amy e Ian estão no lugar errado.