No relógio as horas passaram apressadas, a escuridão dominou os céus lá fora, e a chuva caía sem dar trégua a nada nem ninguém. As lufadas de ar gelado cortavam o seu rosto aos poucos, mas ele não fecharia a janela por isso. Raios desenhados cortavam o negro céu daquela noite. A tempestade rugia raivosa através das montanhas. Há àquela hora as luzes do castelo já haviam sido apagadas, ninguém mais deveria estar perambulando pelos corredores escuros.

Os olhos azuis acinzentados de Draco percorriam cada canto daquela deserta sala de aula, já era tarde devia estar dormindo como todos os outros, mas o bater descontrolado de seu coração o incomodava e já fazia dias que se sentia assim. Bastava ouvir aquela voz por perto, ou o seu perfume, a simples menção ao seu nome o fazia se sentir ansioso. Não sabia explicar como, ou quando, nem porque, sabia apenas que não poderia continuar assim, as pessoas já começavam a notar seu estranho comportamento próximo dela.

Seus olhos pousaram sobre a carteira em que ela sempre costumava se sentar durante as aulas de poções. Era tão estranho se pegar a imaginando, ele jamais se acostumaria com essa idéia. Precisava resolver esse problema de uma vez...

- E então quem poderia me dizer o nome desta poção? – O professor Slugorn perguntou a classe. Prontamente ela levantou sua mão com a resposta pulando para fora da boca. E assim o fez e como sempre, ela estava certa. – Dez pontos para a Grifinória. – O professor dava aquele seu sorrisinho feliz apreciando a inteligência inabalável daquela garota.

Ela fazia suas anotações em um pergaminho, mas podia sentir aquele par de olhos frios a observando, já sentia isso há dias, suas mãos suavam frias apenas em pensar que ele poderia estar a observando. Não apoiava de maneira alguma esse tipo de comportamento por parte dela, não queria sentir nada por ele. Não parecia correto pra ela, não parecia certo. Mas como mandar no coração? Afinal o coração entende aquilo que a mente custa a entender, ela poderia jamais entender o porquê, mas entendia que não poderia viver assim, apenas sentindo em silêncio. Hermione precisava resolver esse problema de uma vez...

Os dias foram passando tão rápidos quantos os segundos do relógio, era a estação das chuvas, quase não havia um dia em que não chovesse, quase não havia um dia em que ela não pensasse nele, ou ele pensasse nela...

Em certa noite enquanto todos estavam no jantar, ela subiu a torre de astronomia, apenas queria se isolar das pessoas por uma hora ou duas, sabia que jamais poderia afastá-las de sua vida, ela nem mesmo queria isso... Draco estava enjoado da comida do jantar, de suas companhias, enjoado de estar só, subiu para a torre de astronomia para sentir o frio da tempestade, o ar gelado penetrando seus pulmões de uma só vez...

Eles se encontraram no mesmo instante em que o clarão de um raio encontrava a escuridão dos céus, um encontro destinado, quem sabe marcado...

Permitiram-se manter o silêncio, sem insultos, ou simplesmente sem se falar, uma vez ou outra os olhares se cruzavam iluminados pelo clarão que os raios causavam de tempo em tempo.

O coração dele pulava violentamente dentro de seu peito, a respiração acelerada e irregular, os primeiros sinais de que não aguentaria ficar calado por muito mais tempo.

Hermione sentia um frio na barriga, suas mãos suavam frias, e ela mal respirava. Abriu a boca para dizer algo, mas foi interrompida pela voz dele:

- Não tenho muito pra te oferecer.

O coração dela iria responder por si, mas sua consciência em alerta tomou sua razão.

- O que você tem se você não tem amor?

Ele recuou com as palavras dela.

- Não posso amar.

- Então não pode viver. – Ela prontamente respondeu sem deixar-se abalar.

- Talvez não possa mesmo. – Ele sorriu fracamente, a luz de seus olhos quase podia brilhar, mas ele a impedia.

- Não há nada de errado em se abrir. Vá em frente e deixe a luz brilhar através de você. Eu sei que é difícil nos dias chuvosos, você tem vontade de gritar com o mundo e ficar sozinho, mas não desista da sua fé.

- Talvez pudesse me ajudar.

- Parece-me errado estar aqui com você.

Ele podia lê-la, parecia estar em sua mente vendo tudo o que ela pensava naquele instante, mas era apenas um palpite.

- Por que você fica aí parada pensando naquilo que você não pode mudar

e se preocupando com as coisas erradas ?

- Por que acha que eu não posso mudar estar aqui com você?

- Simplesmente porque não é o que você quer. Quer estar aqui comigo, tanto quanto eu quero estar aqui com você.

- Não acha muita presunção da sua parte achar isso?

- Prefiro achar que isso é apenas bom.

Draco não perdeu tempo em seu ato de coragem e se aproximou dela, tão proximo que podia sentir seu halito quente, Hermione ficou um pouco desconcertada pela aproximaçao repentina dele e murmurou antes dele completar o que queria.

- É melhor que você faça isso valer a pena pois você não pode voltar atrás.

Foi o beijo mais profundo que eles podiam um dia imaginar, foi tão inesperado. Tinha um tom de medo e coragem, certeza e duvidas amor e ódio. Foi como se o tempo parasse de andar. Aquele momento seria relembrado inúmeras e inúmeras vezes por eles. Não pelo fato de ser um beijo, mas sim porque ali foi selado o amor impossível deles.

Eles se separaram o que parecia ter sido um sonho para eles, comprovou-se real, real até demais. Hermione apenas murmurou algo, quase inaudível aos ouvidos do garoto.

- Com certeza isso faz com que todo o resto pareça pequeno. Quando foi que poderia maginar estarmos aqui?

- Nunca. Se levarmos em consideração o passado, mas quando você percebe que o amor é o que importa depois de tudo, até que dá pra imaginar. – Ele sorriu brilhando finalmente a luz de seus olhos.

- O passado nós conhecemos muito bem, o dificil é saber do futuro.

- Em pensar que temos tudo para dar certo.

- E também tudo para dar errado.

- Daremos errado se continuar pensando assim. É muito fácil de se perder dentro de um problema que parece tão grande.

- Mas temos momentos assim para nos lembrar de que aquela montanha que você tem escalado é apenas um grão de areia.