Eu estava tão cansado.

Os montes de pergaminhos a espera de minha avaliação pareciam gritar, me apressando, me oprimindo, me julgando. Eles se amontoam em cima da minha mesa desafiando a gravidade e minha conhecidamente rasa paciência.

O cheiro deles me irritava. O barulho deles se abrindo me irritava, mas as pessoas desesperadas chegando com mais deles em mãos me irritava mais do que tudo. Tantas pessoas esperando minhas decisões e o mais estranho de tudo é ter tão poucas pessoas me questionando agora. Isso não era o que eu imaginava.

Apesar de cansado e de odiar pergaminhos, existe um que eu abro todos os dias. Mesmo sabendo o que está escrito nele e de saber que seu conteúdo não vai se alterar magicamente, eu o abro e leio como um ritual. Todos os dias. Sozinho. Sempre sozinho.

Seria ingratidão de minha parte verbalizar ou demonstrar qualquer tipo de insatisfação com a minha solidão. Minha doce e amada esposa era ainda mais adorável quando tentava me confortar. Meus amigos. Meus senseis. Todos eles se esforçaram (e conseguiram) encher de amor o buraco que eles deixaram. Então esse vazio teimoso, essa solidãozinha seria só minha.

Essa é uma daquelas manhãs esplendorosas em Konoha. Aqui da montanha dos Hokages, o Sol nascendo era como a esperança tocando no rosto e o vento carregava consigo pétalas de cerejeiras como um cardume cor de rosa no céu.

Uma pétala - irônica ou sabia, não sei dizer – caiu preguiçosamente em cima do surrado pergaminho que eu acabara de abrir, como se quisesse me lembrar (mais) dela.

"Querido Naruto,

Nosso sonho sempre foi trazer Sasuke-kun de volta. Talvez por isso eu sinto que estou traindo você e não a vila e nem mais ninguém. Ele nunca poderia ser feliz me Konoha e acho que você já sabia disso. Mas sinto que só seu imenso coração entenderá que eu não podia deixa-lo ir embora novamente. Eu lamento muito por não estar ao seu lado. Espero encontrá-lo um dia meu amigo. Por favor, por favor nos perdoe.

Sakura."

Já fazem 15 anos que eu leio essa carta na esperança de que a Sakura apareça magicamente, sorrindo e com seus cabelos exóticos ao vento, com um teme sisudo ao seu lado. Eu sei que isso não vai acontecer porque... Bem, eu apenas sei.

O que me conforta, um pouco, é saber que Sasuke finalmente aceitou o amor da minha querida amiga e preencheu o buraco que a vida lhe causou. Eu sei que eles estão bem de alguma forma, eu apenas sinto. Mesmo quando a saudade bate em meu peito, minha única vontade é de sorrir.

Escuto uma gritaria ao longe e sei que meu momento de nostalgia acabou. Agora, como líder da vila, me sobra pouco tempo para pensar onde poderiam estar meus queridos amigos. Hoje, em especial, tenho mais motivos para sorrir para a saudade.

Hoje é o dia em que meu filho volta de sua primeira missão. Para minha sorte ou meu azar, ele não puxou o temperamento meigo e tímido da mãe, seu comportamento explosivo tem sido uma verdadeira provação para Hizashi Hyuuga. E é por isso eu amo meu filho. Sim, eu não presto.

-Pai, pai , pai, pai, pai! - Jiraya se jogou em meus braços disparando a falar cada detalhe de sua missão como se estivesse numa competição de locutores. Mas o que me tira do meu momento de nostalgia foi quando ele falou sobre misteriosos salvadores que ele encontrou durante a missão.

– Pai! Você não sabe o que aconteceu pai! Foi tãaaaao legal! A gente tava lá e um monte de ninjas atacaram a gente, e Shikamaru-sensei tava lutando com vários ninjas todo machucado e sangrando, e ai veio um ninja pra cima de mim e aí eu pensei que ia morrer e ai BAAAAAM! Eles todos foram sumindo! Pai, eu nem conseguia ver eles sumindo, aquele cara de capa preta parecia um fantasma pegando todos eles com uma espada super legal, e aí do nada outro cara de manto preto veio me puxando pro canto, me perguntando se eu tava bem e aí eu disse que "sim, claro, já sou um ninja", e aí eu ví que ela era uma mulher toda bonitona e tinha cabelão rosa. Pai, porque ela tem cabelo rosa? Posso ter uma espada igual aquela?

Meu cérebro já tinha parado quando ele falou 'cabelo rosa'. A pergunta do meu filho me deixou sem fala e obviamente não tinha resposta. Só havia uma mulher de cabelo de cabelo rosa no país do fogo. E ela salvou meu filho. Eles salvaram meu filho.

Meu sorriso bobo aumentou. Meu peito se encheu de alegria porque eu estava certo 'ttebayo! Eu sabia que eles estavam bem.

Isso era bom e me bastava.