As Blue As Love Can Be escrita por Menta


Capítulo 4
Declaração


Notas iniciais do capítulo

Mais uma vez decidi colocar uma epígrafe que creio combinar com o personagem. =D



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I just can't look, it's killing me
And taking control…

Jealousy, turning saints into the sea
Swimming through sick lullabies
Choking on your alibis

But it's just the price I pay
Destiny is calling me
Open up my eager eyes
'Cause I'm Mr. Brightside…


The Killers, Mr Brightside


Petyr se dirigira também aos seus aposentos, depois de virar a festa de celebração do noivado de Catelyn e Brandon de cabeça para baixo. Já a sua própria cabeça estava a mil, com inúmeros pensamentos aflorando, além de seus costumeiros companheiros, seus sentimentos de raiva, ciúmes e inveja, além da paixão que o consumia. Porém, ainda estava em choque com a maneira que Cat o olhara. De tudo, mesmo perante a possibilidade de ser morto no duelo que propôs no dia seguinte, era exatamente isso o que mais temia: ser visto como alguém digno apenas de compaixão aos seus olhos.


Tivera de evitar Lysa no meio do caminho, que se jogara aos seus pés, chorando desenfreadamente, suplicando que fugisse com ela. A garota praticamente se arrastara em sua direção, mas não se importou nem um pouco quando virou as costas para ela, e deixou-a a sós, em prantos, indiferente ao seu sofrimento.


Preocupado com o dia que se seguiria e com o olhar que recebera de Catelyn, chegou a sua porta. Colocou a mão direita na maçaneta de bronze, e abriu-a.


Qual não foi sua surpresa ao ver que, sentado em sua cama, olhando para as próprias botas, estava seu “tio”, Brynden Tully. Ficou por um segundo parado, atônito, enquanto o “tio” levantava o rosto e o olhar para ele. Parecia extremamente preocupado, e inclusive mais velho, como se anos tivessem se passado desde que o vira no jantar desta noite.


“- Agora não se precisa nem mais de permissão para entrar no quarto de um agregado? Não que a hospitalidade aqui seja invejável.”


O tio rapidamente levantou-se e dirigiu-se a um lugar mais próximo dele, que fechava a porta.


“- Petyr, pelos sete deuses, me escute. Que tipo de loucura lhe acometeu para fazer esse absurdo?”


“- Deveria ter-me perguntado que tipo de loucura me acometeu por todos esses anos desde que soube do noivado de Cat, para não ter matado Brandon Stark um quanto antes.” - Sorriu cinicamente.


“- Por favor, isso não é um jogo.” – Brynden tentou se aproximar de Petyr, que se afastou e respondeu. “- Se era isso que tinha a me dizer, poupe seu tempo e saliva com um pobretão dos Dedos e vá cuidar de seus afazeres de irmão de senhor.” – Falou as três últimas palavras com desdém, tentando atingir o “tio”, para que ficasse ferido com sua falta de afeição e fosse embora.


“- Eu o conheço desde que era uma pequena criança, com saudades do pai. Não vai conseguir me provocar. Você é o rapaz mais inteligente que já conheci e, pelos deuses, talvez até o mais esperto de Westeros, portanto não consigo compreender o nível de burrice a que se submeteu hoje. Sabe que não tem chance alguma contra Stark, e, Petyr, não ganhará a benção de ninguém da família, mesmo que Brandon, por algum motivo sem sentido como os rios deixarem de correr, morresse amanhã. Com isso, você escolhe a morte de todas as formas. Eu mesmo tive de conter Hoster com todas as minhas forças mentais e físicas, para que não mandasse seus guardas expulsarem-no do castelo para nunca mais voltar, e quiçá não tivessem feito mais coisas, pelo tamanho da afronta que cometeu hoje àqueles que lhe hospedaram e lhe criaram.”


“- E finalmente o velho caquético teria agido alguma vez honestamente comigo desde que pusera seus olhos em mim, se o fizesse. Como disse, não sou tolo, sempre soube que nunca fui bem-vindo aqui.”


“- Isso não é verdade.” – Tentou se aproximar do rapaz, que, em resposta, levantou uma das mãos para manter-se longe, repugnado. “- Sempre busquei ser próximo de você, embora fosse um menininho arisco e solitário. Só se aproximava de Cat, de resto, todos tinham de correr atrás de você.” – Brynden sorrira, lembrando. “- Ouvi todas as suas queixas, sempre o procurava para conversarmos, brincava com você na mesma medida que dava atenção a todos os meus outros sobrinhos. Quando viajávamos juntos ou fazíamos expedições além do Castelo, era sempre de mim que partia a ideia de convidá-lo, e ai de quem me negasse isso. Amo-o de coração, meu filho. Assim como amo Cat. Realmente acredita que eu não seria muitíssimo feliz se pudesse vê-los unidos? As brincadeiras de vocês dois, o modo como andavam sempre grudados e estavam aprontando por todos os cantos, sorridentes; ou quando Lysa e Edmure também se juntavam a vocês, era o que fazia a minha alegria há alguns anos atrás. Seus sorrisos eram os meus sorrisos. Amo-os como aos filhos que nunca tive. Não sabe como partiu meu coração aquela noite em que tive de levá-lo, inconsciente de tanta bebida, nos meus braços, para seu quarto.Pode me imaginar aceitando perder à toa alguém que amei como um filho?” – Brynden tinha agora lágrimas às faces, olhando Petyr com muita ternura, e desistiu de tentar se aproximar.


Petyr, dessa vez, não conseguiu fingir não se importar. As palavras do “tio” conseguiram acalentar um pedaço de seu coração que julgava já ter sido congelado, e lágrimas também brotaram as suas faces.


“- E o que quer que eu faça, então?” – Petyr tentara fazer com que a frase saísse no mesmo tom cortante e debochado, mas finalmente falou parecendo o pobre menino rejeitado por todos, de coração partido, que era. Suas palavras estavam recheadas de fadiga, frustração e tristeza, buscando consolo. “- Você não sabe, você não faz ideia de como dói.” – Brynden dessa vez se aproximou sem esperar a reação de Petyr e o abraçou como a um filho. “- Eu já não me importo se vou viver ou morrer amanhã.” - Petyr não resistiu e se rendeu as lágrimas. Seus ombros tremiam, enquanto chorava copiosamente nos braços do tio. “- Não é justo. Tudo o que eu amo me é roubado. TUDO! Meu lar, meu pai, minha... Minha Cat.” Lágrimas jorravam de seus olhos, enquanto, na sua mente e coração, só havia espaço para a dor que o comprimira. O jovem impetuoso e astuto de 15 anos dava finalmente lugar ao garotinho desesperado que escondera em seu coração.


“- Eu prometo-lhe, meu filho, que tudo há de melhorar. Mas, para isso, você tem de fazer algo para corrigir o que fez hoje.” Brynden continuava embalando Petyr, que dessa vez, levantou o rosto.


“- Não está propondo...”


“-...Que peça desculpas publicamente e ignore tudo o que fez hoje. Os Stark são até um tanto tolerantes, e, se culpar o vinho ou alguma falta de tento semelhante, imagino que Brandon não vá se importar.”


Petyr subitamente sentiu uma fúria incontrolável aflorar em seu ser, e se desvencilhou com violência súbita.


“- Ela te mandou aqui, não foi? Falou com o noivo nojento dela antes de te mandar aqui? COVARDE. FALSO. Saia. Saia daqui, agora. SAIA! Não preciso da piedade miserável de vocês.” – Brynden recuou, olhando-o desconcertado.


“- Petyr, do que me acusa? Eu jamais faria isso com você! Estou aqui porque não quero vê-lo morto, sequer tive tempo de conversar com Catelyn depois de acalmar o pai dela!”


“- Vai ter coragem de negar que ambos conversaram para ver quem ia tirar o idiota do Mindinho da enrascada que ele se meteu? Como já dissera, “meu tio”, e foi a única verdade que ouvi nesse diálogo miserável, sabe que não sou tolo. Talvez me verá morrer amanhã, mas não se preocupe, suas mãos estão lavadas da responsabilidade, agora que já fez seu teatrinho. Pena que não o comprei. Infelizmente, não se livrará da falsidade com que veio aqui tentar me manipular. Se amanhã eu jazer morto, carregará isso consigo até o dia em que se tornará também um cadáver. Talvez, menos podre do que é como vivo.” – Olhou para o “tio” com olhos repletos de desprezo e, agora, ódio. “- Me diz palavras belas sobre como iria querer me ver casado com ela, mas, certamente, quando Hoster precisou de seus conselhos sobre com quem juntar sua filha, como se quisesse acasalar uma égua com um cavalo de raça superior, você o ajudou de bom grado, não fora? Curioso, tenho certeza de que meu nome não foi mencionado por você uma única vez, quando trataram disso.”


“- Petyr... Por favor, me escute... Eu o amo...” Brynden tentara se aproximar, mas dessa vez Petyr não manteve a fria distância, e empurrou-o com tanta força que sua cabeça bateu contra a parede. “- E eu o odeio. Saia.”


Brynden olhou-o, e agora, parecia, tinha envelhecido mais ainda. Havia rugas profundas ao redor de seus olhos, e seu semblante era um retrato de uma grande tristeza surpreendida. Saiu do quarto, a passos lentos e arrastados, desamparado, como vira antes no curto relance de garoto desesperado, que agora era um rapaz que apenas transparecia ódio a sua frente.


Quando fechou a porta, Petyr pensava em como se prepararia para o duelo do dia seguinte. Sem armaduras, teria maior chance de sucesso, pois nunca fora um primor nas artes da guerra; entretanto, era rápido, embora não fosse forte. Se conseguisse dançar em volta de Brandon até um momento oportuno, tentaria acertá-lo na garganta ou em outras partes sensíveis, em que um golpe só bastasse. Em meio aos pensamentos sobre o dia de amanhã e a melhor forma de ser bem-sucedido, ouvira uma batida leve, quase imperceptível, na porta.


“- O que deseja? O castelo já foi esvaziado, por ordem de Lorde Tully.” – Disse as últimas palavras cheio de desdém.


“- Petyr.” – Seu coração pulou um lance. Era a voz de Cat. Embora a situação com o “tio” tivesse deixado-o repleto de mágoa e ódio, não conseguiu evitá-la. Poderia ser a última vez que estaria a sós com ela, antes de morrer.


“- Entre.” – Convidou-a, impotente.


Catelyn entrou suavemente no quarto e olhou-o, após fechar a porta, estudando-o com seus lindos olhos azuis. Suas mãos estavam apoiadas em seu colo, uma sobre a outra, e parecia ponderar suas palavras por vir.


“- Veio se despedir? Ou me declarar seu campeão?” – Petyr sorriu, ironicamente.


“- Não tem graça. Nada do que você fez hoje teve graça. Ou, sequer, me agradou por um milissegundo.” – A voz de Catelyn estava dura e fria, e seus olhos fixos nos dele.


Petyr sentiu-se enrubescer, ferido novamente. Quanto mais vou suportar?


“- Não fiz nada que seu futuro marido não tenha feito antes. E, ainda assim, a ele você aceita.” – Petyr disse, invejoso.


“- Eu sempre o aceitei, Petyr. Assim como aceitei a você. Ninguém poderá me tomar de você, porque sempre o amarei. Sempre foi e sempre será meu melhor amigo, e uma das pessoas que melhor me compreende. Portanto, deveria prever que isso não me satisfaria.”


“- A compreendo tanto quanto a desejo.” – Petyr estudava agora seu corpo, tão próximo do dele, sozinhos ambos em seus aposentos. Poderia se aproximar dela e tomá-la para si, mas não o faria. A amava, antes de tudo.


“- Você sempre soube que sou de uma linhagem que exige casamento com pessoas de sangue nobre. Será assim para mim, será assim para Lysa, e também para Edmure. Sabe o lema da família Tully. Não escolhi meus pretendentes a casamento, tampouco meu noivado. É apenas um dever que tenho de cumprir, tanto faz se é de minha vontade ou não.”


“- Mas você poderia tê-lo recusado. Isso não violaria essa tal maldita honra.” – Petyr respondera, ríspido.


A resposta estava estampada no olhar dela. Catelyn era inteligente e esperta, mas não era uma boa mentirosa. Em seus olhos via-se que ela acabou por desejar o noivado que estava por se cumprir. Mais uma facada.


“- Petyr, o que quer que eu lhe diga? Eu o amo, mas nunca poderíamos nos casar. Se me ama tanto, por favor, desista desse duelo. Sofreria muito o vendo morto. Quero-o vivo, e feliz. Éramos grudados quando crianças, e meu carinho por você é eterno, mas...”


“...Não me deseja como seu noivo.” – Petyr completara por ela.


Ao olhar novamente revelador de Cat, Petyr dirigiu-se ao seu antigo baú, com a pouca dignidade que lhe restava.


“- Sabe o que eu tenho aqui?” – Sua voz tornara-se novamente fria.


“- Não.” – Catelyn não compreendia o que se passava.


Petyr abriu o baú, e a pequena caixa de madeira velha, onde guardava o lenço, presente de Cat. Colocara-o nas mãos dela, que abriu-o e olhou-o.


“- “Príncipe das Libélulas”. Foi meu presente de aniversário para você, depois da viagem à Pedravelha.” – Cat sorriu levemente ao olhar o lenço, mas depois lembrou-se rápido que precisava manter-se fria e distante.


“- Sim. O que isso significou para você?” – Seus olhos fuzilavam-na.


Ela subitamente compreendeu. “- Mas fora desde... Desde essa época?” – Os olhos dela mostravam-se agora brilhantes e lacrimejantes. Suas lagoas de azul cerúleo pareciam que iriam transbordar, e Petyr sentiu seu coração comprimir-se.


Levantou um polegar e secou o canto dos olhos dela, enquanto confirmava com um meneio de cabeça. “- Antes. Desde que te vi pela primeira vez. Bastou-me o primeiro vislumbre dos seus olhos. Você corria com Lysa...”


“- ...Brincando de monstro e donzela. Depois o vimos e conhecemo-nos. Oh, Petyr... Meu querido... Eu não sabia... Como poderia...” – Uma expressão de grande tristeza preenchia seu rosto, e suas lagoas agora brilhavam como o pálido luar refletido nas águas do rio.


“- O que isso significou para você? Durante esse tempo todo?” – Petyr repetira a pergunta, firme como antes.


“- Petyr... Foram apenas brincadeiras de crianças.” – Cat respondeu, sua voz um fio de som, repleto de tristeza.


“- Não para mim.” Sentia que seu coração se estilhaçava em mil pedaços, e, sem pensar, puxou Cat para si, enquanto a abraçava com força. Beijou-a, mas ela não correspondeu. Abraçou-a mais forte: sentia seu perfume doce, tocava seus cabelos cor de fogo, e agarrava-a, levava-a para perto de si, buscando conseguir tocar a sua alma. Sussurrou aos seus ouvidos:


“- Minha princesa Cat com a Coroa de Flores.”


Eu amei uma donzela linda como o outono, com o pôr-do-sol nos cabelos.


A jovem mulher não respondeu seu abraço, ao contrário: seu corpo manteve-se duro e impassível. Limitou-se a apoiar brevemente a cabeça nos ombros do rapaz, quase sem tocá-los, e derramou lágrimas silenciosas, até que conseguiu se desvencilhar do abraço. Petyr segurou firme sua mão relutante, que dele fugia, e disse:


“- Não há o que possa fazer para me convencer a desistir, a não ser que escolha a mim ao invés de Brandon.”


“- Não, Petyr. Não posso.” – Catelyn falou cansada.


“- Então vá, e saia. Preciso descansar para ter forças para o dia de amanhã.” – Ao ver que a menina relutava em desistir, embora tenha se posicionado a uma distância segura, para que não pudesse puxá-la para si novamente, conseguiu que ela estendesse as mãos ao seu pedido. Colocou assim o lenço que ela lhe dera nas mãos da jovem moça.


“- Se eu morrer... Ao menos chore por mim, e seque suas lágrimas com isso. Eu sentirei. E, se eu vencer, aja como a boa Tully que é, e cumpra seus deveres de me desposar, como merecido campeão da sua mão.”


Catelyn parecia prestes a cair em lágrimas novamente, mas virou-se e estava quase a sair, quando Petyr chamou-a.


“- Cat?” – Sua voz estava novamente diferente. A voz do garoto Petyr Baelish. A voz que ela consolara e que ouvira tantas vezes, com diferentes timbres e volumes, nos momentos bons e ruins. Uma voz agora suave, suplicante, sussurrante; a voz do menino solitário, rejeitado, e sempre apaixonado.


Ela manteve-se silenciosa, segurando a maçaneta, mas esperou para ouvi-lo.


“- Eu te amo. Sempre amei.”


Ele ouviu-a soluçar enquanto fechava a porta, e o quarto escureceu.



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Notas finais do capítulo

E, no próximo capítulo, o tão esperado duelo!!