As Blue As Love Can Be escrita por Menta


Capítulo 13
A Beleza do Mar


Notas iniciais do capítulo

Gente... Por favor não me batam. Sei que esse capítulo tá gigante, mas A FIC TÁ ACABANDO! E vocês sabem que no fim do terceiro livro acontece COISA PRA CARAMBA com o Petyr.
Juro que tentei resumir os acontecimentos do livro e apenas acrescentar minha visão da história (de acordo com o desenrolar do enredo), mas tem certos pontos que são fundamentais pro final da fic fazer sentido.
Então, peço que sejam pacientes e compreensivos XD me esforcei pro capítulo ficar legal, apesar de grande.
É isso, espero que gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/237447/chapter/13

A noite era escura e triste, assim como a alma de Petyr. Uma aura de expectativa pairava no ar, convidando a névoa que visitava sorrateiramente a galé, banhando-a com seu cheiro quase nauseante de sal e umidade acima do mar, agora, aparentemente calmo. A calmaria antes da tormenta...


Lothor Brune apontou para um pequeno barco a remo chegando na linha do horizonte, próximo a o ancoradouro distante, em um cais abandonado, na periferia de Porto Real. Ela.



Dois indivíduos de capuz de lã grande e pesada se aproximavam lentamente, guiados por um terceiro, mais conhecido como Oswell Kettleback. Ajudados pela correnteza fraca e vento fresco da noite, o barco mansamente se aproximava de seu destino. Não havia som além das ondas suaves do mar beijando a madeira velha da antiga galé em que Petyr agora se encontrava.


E, enfim, seus criados desceram uma escada de cordas para que Sansa pudesse vir a bordo.



À meia-luz do luar, Mindinho ajudou a menina, que tremia de frio e medo, a subir ao deque da galé. Em seguida, a menina despiu seu capuz e levantou os olhos para encará-lo, ao passo que fez-lhe uma expressão de surpresa e consternação, arregalando seus lindos olhos.



Petyr, embora não parecesse, reagiu com a mesma intensidade em seu íntimo.



Lá estava ela, depois de tanto tempo e desencontros, de tantas tramas, artimanhas e falhas em seus planos; com os olhos tão idênticos aos de Cat, fixos nos seus, iluminados pela fraca e breve luz do luar... Havia tal força em seu mistério que o fazia sentir que sua alma desejava mergulhar dentro daquele azul, perder-se em meio ao cerúleo, tal qual um marinheiro que se sente entorpecido pela maresia e imensidão do oceano... A surpresa e a estranha familiaridade envolviam seu ser, e deixavam-no em um estupor quase irremediável. Havia maior infinito e beleza nos olhos de Sansa, os olhos de Cat, do que em todas as maravilhas do mundo.



E assim, sentindo a força inebriante que o tragava, hipnotizava-o indefeso para o azul, tentou com o máximo de suas forças manter o papel necessário para que tudo funcionasse como havia planejado.



Teve de matar Sor Dontos, pois obviamente o homem não era confiável; um homem facilmente comprável não é digno de confiança, nem de real utilidade. Embora, nesse caso, o tolo tenha sido crucial...



Quando viu a expressão horrorizada de Sansa, sabia que precisaria falar palavras belas, ou tomar alguma atitude para acalmá-la; ainda tinha pesadelos com a morte de Cat e sua completa falta de capacidade de salvá-la; seu espírito, quebrado por tal último baque, talvez nunca mais voltasse a se curar. Não aguentaria ver sua filha, sua imagem e semelhança quando menina, na época em que Petyr era nada mais do que um menino irremediavelmente apaixonado, sofrendo desta maneira.



– Ela está com frio. - Disse, irritado com a falta de tato. Tirou seu manto e aconchegou-a nele. – Pronto, está melhor, senhora? Descanse, o pior já passou.



Ao despir o manto e cobrí-la, Petyr pôde sentir a pele quente de Sansa, macia e sensível ao seu toque. Não pôde deixar de reparar também que agora ela estava com seios e corpo de mulher, e inevitavelmente começou a sentir-se excitado. Muito mais bela do que eu me lembrava...



Vendo que a menina estava muito alarmada, vomitando por sobre a amurada, Petyr quase se sentiu culpado. Prontamente, respondeu:



– Minha senhora - murmurou - seu pesar é desperdiçado num homem como aquele. Era um bêbado, e não era amigo de ninguém.



– Mas ele salvou-me. - Sansa aparentava estar atordoada, e Petyr sentia seu coração comprimir, vendo tamanha beleza desamparada desta maneira. Reagia de maneira idêntica a Cat, quando eram jovens e ela ficava preocupada com suas travessuras.



– Ele vendeu a senhora em troca da promessa de dez mil dragões. Seu desaparecimento irá fazê-los suspeitar de seu papel na morte de Joffrey. Os homens de manto dourado irão à caça, e o eunuco fará tinir a sua bolsa. Dontos... Bem, ouviu-o. Vendeu-a por ouro, e, quando o bebesse, teria voltado a vendê-la. Um saco de dragões compra o silêncio de um homem durante algum tempo, mas um dardo bem colocado compra-o para sempre. - Deu um sorriso triste. Não que tivesse algum tipo de consideração por Dontos, mas, enfim, era assim que sobreviveriam. - Tudo o que fez foi às minhas ordens. Não me atrevi a travar abertamente amizade com você. Embora a desejasse quando começou a tornar-se mulher... Quando me contaram como Dontos salvou sua vida no torneio de Joff, soube que ele seria o instrumento perfeito.



A menina ainda aparentava estar aturdida, olhando perplexa o horizonte, no qual o barquinho, em chamas, agora sumia. - Ele disse que era o meu Florian.



Ao ouvir tal frase, Petyr realmente sentiu seu coração apertar. Tão linda, e ainda tão inocente... Como já fui, há muitos e muitos anos atrás. – Por acaso lembra-se do que lhe disse naquele dia em que seu pai se sentou no Trono de Ferro? - Tocou levemente seus ombros e acarinhou-a, para que se sentisse mais calma. Novamente, sentiu um leve arrepio percorrendo sua pele. Como seria sentí-la mais perto de mim?



– Disse-me que a vida não era uma canção. Que um dia eu aprenderia isso, para a minha tristeza. É tudo mentira, desde sempre e para sempre, tudo e todos? - Sansa olhou-o com aqueles olhos azuis, as lindas lagoas de azul cerúleo que sempre o enfeitiçaram no rosto de Cat; estavam marejados de lágrimas, mais tristes que a mais melancólica canção de amor.


Outra vez sentiu como se pisassem em seu coração. Engoliu em seco e respondeu-lhe prontamente, de forma que, se não se sentisse verdadeiramente como se sentia no momento, também surpreso e atordoado como a menina, porém, por outras razões, não acreditaria em si mesmo.



– Quase todos. Menos eu e você, claro. - Sorriu languidamente. - "Venha esta noite ao bosque sagrado, se quiser ir para casa." Lembra-se?



Sansa arregalou mais ainda os olhos, e, se ela não estivesse tão assustada, Petyr poderia ter rido da expressão inimaginavelmente meiga que ela fez. Linda. Linda como a mãe.



– A nota... era você? - Sansa perguntou com a voz esganiçada.



– Tinha de ser o bosque sagrado. Nenhum outro local da Fortaleza Vermelha está a salvo dos passarinhos do eunuco... ou ratazaninhas, como eu os chamo. Afinal, o tejo é o MEU símbolo. No bosque sagrado há árvores em vez de paredes. Céu no lugar de tetos. Raízes, terra e pedras em vez de assoalhos. As ratazanas não têm por onde correr. As ratazanas precisam se esconder, para que os homens não espetem espadas nelas. - Aproximou-se da menina, pegou delicadamente seu braço, levando-a mais para dentro da galé. Sua pele continuava quente e convidativa, e sentiu uma estranha vontade de olhá-la de cima a baixo, estudando seu corpo por inteiro. Virei um moleque de novo?



– Permita que eu lhe mostre a sua cabine. Teve um dia longo e penoso, eu sei. Deve estar cansada.



– Muito cansada. - Sansa bocejou, cobrindo a boca com as mãos, educadamente. Mesmo depois de um dia horrível como hoje, ainda é capaz de manter a elegância. É mais parecida com a mãe do que eu poderia ser capaz de sonhar... Petyr sentiu, agora, aquela profunda tristeza, companheira de seus dias após a morte de Cat, voltar a tomar lugar em seu peito.



– Fale-me do banquete. - Resolveu se distrair de si mesmo. - A rainha dedicou-se tanto. Os cantores, os malabaristas, o urso dançarino... O pequeno senhor seu esposo gostou dos meus anões combatentes?



– Seus? - Ela olhou novamente para ele do mesmo modo perplexo e adorável, e Petyr mais uma vez teve de se controlar para não rir de sua meiguice.



– Tive de mandar buscá-los em Braavos e escondê-los em um bordel até o casamento. A despesa só foi excedida pelo incômodo. É surpreendemente difícil esconder um anão, e Joffrey... Pode-se levar um rei até a água, mas com Joffrey é necessário espalhá-la por toda a parte, antes que entenda que poderia bebê-la. Quando lhe falei de minha pequena surpresa, Sua Graça disse: "- Por que eu iria querer uns anões feios no meu banquete? Detesto anões." Tive de me aproximar e sussurrar: "- Mas não tanto quanto o seu tio os detestará."



A menina agora apresentou uma palidez doentia no rosto. Ficou chocada, pobrezinha. Tem um coração bom demais para este mundo. - Eles pensam que Tyrion envenenou Joffrey. Foi por isso que o prenderam.



Petyr sorriu, e não segurou a piada. - A viuvez cairá bem em você, Sansa. Ainda bem que aquele destroço de homem não ousou deflorá-la. Seria um crime hediondo. Teria de matá-lo lentamente, com minhas próprias mãos.



Abriu a porta da cabine da garota, e deixou-a galantemente entrar na sua frente. Era muito pequena; apenas uma cama e uma arca de cedro, um antigo baú de madeira, aquele baú de madeira que há muito lhe pertencera, onde guardava seus tesouros de menino. Agora, contém tesouros bem mais valiosos... Como roupas íntimas para seu lindo corpo. Imaginou Sansa seminua, lembrando-se das poucas vezes em que a espiara pela janela de seus aposentos de Mestre da Moeda, e sentiu claramente seu membro viril endurecer. Deliciosa.


– É pequeno, eu sei. - Falou, para evitar que a menina percebesse seu claro desejo por ela. - Mas não deverá ficar muito desconfortável. - Apontou para o baú. – Achará roupas lavadas lá dentro. Vestidos, roupas de baixo, meias quentes, um manto. Temo que sejam de lã e linho. Vestuário indigno de uma donzela tão bela, mas servirá para mantê-la seca e limpa até que possamos arranjar-lhe algo melhor.


Sansa parecia um pouco mais tranquila agora. Mindinho viu sua expressão agradecida, e sentiu-se verdadeiramente culpado por tê-la feita passar por tantos riscos e desconfortos. - Senhor, eu... eu não compreendo... Joffrey deu-lhe Harrenhal, fez de você Senhor Supremo do Tridente... por quê? – A menina perguntou-lhe, sem segurar sua curiosidade.



– Por que haveria de querê-lo morto? Primeiro, querida. Ele não fez nada disso, seu avô Tywin que colocou as palavras na boca do reizinho bastardo. O mesmo homem que friamente assassinou sua mãe, mesmo enquanto tentei meu máximo para impedí-lo. Nada mais justo que lhe tirasse o neto, embora duvide que ele nutra qualquer tipo de afeição por algum ser vivente. O que, infelizmente, não posso dizer a meu respeito...



Controlou seus impulsos, e mentiu-lhe de maneira tranquilizadora. De qualquer forma, está na hora de aprender as primeiras lições, Sansa. – Não tive nenhum motivo. Além disso, estou a mil léguas de distância, no Vale. Mantenha sempre seus inimigos confusos. Se nunca estiverem seguros de quem é ou do que quer, não podem saber o que é provável que faça em seguida. Às vezes, a melhor maneira de confundí-los é fazer coisas que não têm nenhum propósito, ou até que parecem prejudicar você. Lembre-se disso, Sansa, quando começar a jogar o jogo.


– Que... que jogo? - Sansa mostrava a expressão confusa e atordoada novamente. Não, querida. Está a salvo agora. Comigo.



– O único jogo. O jogo dos tronos. - Afastou uma madeixa dos cabelos dela, e, sentindo a pele sedosa e levemente rosada de suas bochechas com os dedos, teve de controlar-se para não tomar-lhe um beijo. Linda demais.– Já tem idade para saber que sua mãe e eu éramos mais do que amigos. Não há mentiras nisso. Nunca quis dela apenas amizade, e, para ela, nunca fui um simples amigo. O melhor amigo solitário... Houve uma época em que Cat era tudo o que eu desejava neste mundo. Sempre que estive próximo dela... Atrevi-me a sonhar com a vida que podíamos ter e os filhos que ela me daria... Mas ela era filha de Correrrio, e de Hoster Tully. Família, dever, honra, Sansa. Família, dever, honra significavam que eu nunca poderia obter a Mão dela. Afinal, perdi-a para os Stark... E isso foi o começo do fim. Mas ela deu-me algo melhor, um presente que uma mulher não pode dar mais de uma vez. Como eu poderia dar as costas à filha dela? Num mundo melhor, você poderia ter sido minha, não de Eddard Stark. Minha leal e adorada filha... Afaste Joffrey da cabeça, querida. Dontos. Tyrion, todos. Só pense em mim. Nunca mais a incomodarão. Agora está em segurança, e é isso que importa. Está a salvo comigo, e a caminho de casa.


O mais triste de tudo é que quase não menti ao dizer-lhe tais palavras, minha linda senhora... Apenas seria uma grande pena ser pai de senhora tão bela e não poder apreciar verdadeiramente a sua beleza. Jamais desejaria isso, podendo tê-la ao meu lado.



Deixou Sansa descansando em sua cabine, e subiu a proa por alguns instantes. Curiosamente, a menina despertava um lado dele parecido com o que sentia com Cat. Tinha vontade de cuidar dela, e desejava-a ardentemente; não se lembrava de Sansa ter se tornado uma mulher tão maravilhosa. Porém... Ao mesmo tempo, não tinha isso como um objetivo. Na verdade, era extremamente indesejável que isso acontecesse. Não queria sofrer tudo o que já havia passado novamente por Cat. Não aguentaria outro baque, estava ferido demais para voltar a se recuperar. E, se começasse a sentir sentimentos por Sansa, ela se tornaria sua maior fraqueza, como a mãe uma vez fora... Minha maior fraqueza e meu maior tesouro.



Mas, Petyr sabia em seu íntimo... Não se permitiria falhar mais uma vez, e perder, desta vez para sempre, o único azul que ainda restava no mundo...





***







Dormia, embalado pelas ondas de uma crescente tempestade, e, dentro de sua mente, sonhava um sonho hediondo.



O menino Petyr Baelish corria com sua amada Catelyn pelos jardins de Correrrio. Estavam brincando de entra-no-meu-castelo, mas Cat pediu-lhe que mudassem de brincadeira e passassem agora a brincar de pique. Cat aproximou-se dele, deixando seu rosto a centímetros da face do garoto, este surpreendido e acabrunhado; Petyr olhou-a aturdido, sem saber se a beijava ou esperava alguma ação por parte dela. Rapidamente, Cat deu-lhe um beijo na bochecha, seguido de um sorriso travesso; em seguida, virou as costas e pôs-se a correr.


– Está com você, Petyr! Você não me pega! Ahahahah!



Sentiu seu rosto enrubescer fortemente, queimando na bochecha que Cat beijara; sorrindo também, pôs-se a correr atrás dela.



Saíram das muralhas do Castelo e, ao invés dos terrenos das aldeias próximas do Tridente, subitamente estavam em Pedravelha. Um céu azul cerúleo como os olhos mais belos do mundo dispunha-se acima dos dois. Olhou para Cat, e ela virou-se, seus lindos cabelos ruivos dançando com o movimento. A coroa de flores que juntos fizeram naquela ocasião em que viajaram para Pedravelha materializara-se em seus cabelos.



– Sou a Princesa Jenny em Pedravelha. E você é meu Príncipe das Libélulas.



Petyr aproximou-se dela em êxtase, enquanto ela o encarava impassível com seus olhos das lagoas do amor cerúleo. Mas, quando chegou perto, ela novamente deu-lhe o mesmo sorriso travesso, para em seguida correr para longe dele outra vez. - Ainda não me pego-ou!



Outra vez o garoto sorriu, dando um risinho baixo da gracinha meiga dela. Continuou perseguindo-a até que subitamente viu uma figura grande e cinza surgindo do horizonte. Tentou gritar para avisar Cat e chegar até ela para protegê-la, mas não conseguiu; um lobo gigante surgiu e abocanhou-a, arrastando-a pelo chão para o Norte, muito ao Norte, correndo mais rápido do que Petyr podia alcançar. Percebeu também que outro lobo, tão grande e parecido com o que a levara, acompanhava-os de perto.



– CAT! - Gritava desesperado. - CAT, EU VOU TE SALVAR! EU PROMETO! - Desesperado em sua angústia, o menino corria desabaladamente, sentindo suas pernas queimarem pelo esforço. Mal conseguia respirar, estava prestes a desmaiar, quando...



O céu começara a escurecer e tornar-se vermelho. Eu me lembro de quando isso aconteceu. Não. Não agora. Não pode...



Os lobos haviam sumido no horizonte, junto com o corpo de Catelyn. Ao invés da trilha para o Norte, seguindo de Pedravelha, Petyr avistou as torres gêmeas dos Frey ao longe. Não.


Havia música ao longe. Petyr ouvia, chegando das torres, cantores, que cantavam simultaneamente, em um caos de gritos e melodias desconcertantes, a conhecida canção do triunfo Lannister: "As Chuvas de Castamere."


Não. Não, por favor. Não, não toquem nela, NÃO OUSEM, NÃO PODEM, NÃO!



Quando finalmente alcançou as torres, a tragédia já havia se consumado. Corpos estavam caídos no chão, espalhados por sobre poças de sangue.


"- ...Mas agora a chuva chora em seus salões, e alma alguma há de ouvir..." - Cantavam os cantores em agonia.



Petyr, desesperado, olhava para todos os cadáveres, tentando achar o corpo de Cat, para saber se ainda estava viva. Quando chegou a margem do rio, lá estava ela. Porém, jogada ao chão de costas, e completamente nua.



Lágrimas desciam torrencialmente dos seus olhos. - Fale comigo, Cat. Estou aqui, já esta tudo bem. - Puxou o corpo da moça, que estava inerte. Não. Por favor. – Cat, fale comigo, meu amor. Cat, por favor, Cat... - Sua voz estava embargada, enquanto abraçava o cadáver, embalando a morta que tanto amou em vida em seu peito, para frente e para trás. Virou o rosto do cadáver para si, e percebeu que suas mãos agora estavam vermelhas. Havia um corte profundo no lindo pescoço de Catelyn, e seu rosto já não era mais da menina, e sim da mulher adulta e madura, Catelyn Stark, não sua Cat, a Cat que sempre seria dele e de mais ninguém. Mas ainda assim, eram a mesma pessoa.



E havia perdido-as, ambas, para sempre.



Porém, apesar de estar completamente jogado a sua dor, Petyr não esperava o profundo horror que o aguardava. Quando olhou em seus olhos, o azul tão vivaz, tão alegre e do maior mistério, encanto e beleza que o mundo já vira, se fora. Fora petrificado, tornado-se escuro, como pedra, congelado pelo seu frio destino.



A escuridão tomara o mundo, porém não negra, e sim, rubra como sangue; agora que não havia mais o azul da luz dos seus olhos para guiar seus caminhos...



O Petyr adulto, mais conhecido por todos como Mindinho, acordou sobressaltado.



Seu coração batia acelerado, e sentia uma profunda sensação de angústia preencher seu peito, como se um elefante pisasse em seu tórax. As horrendas imagens de seu pesadelo estavam impressas na sua mente.



Não suportou; dirigiu-se até a janela de sua cabine e vomitou longamente.



Não posso mais permitir. Nem que tenha de tomar vinho dos sonhos para dormir.



Petyr vinha sonhando recorrentemente com Cat, em geral sendo este pesadelo. Acreditava que era por conta da presença de Sansa, e os sentimentos indevidos que ela começava a despertar em si; não queria, não podia e não devia sentir nada pela menina. Só viria a atrapalhar seus planos, e até mesmo pô-la em perigo. Minha vida depende de meu juízo pleno, e a dela também.


Mas era inevitável, e mais forte do que ele. Desde que repusera seus olhos na menina, e percebera efetivamente como ela era a memória viva de Cat, ainda mais agora, feita mulher donzela. Especialmente seus lindos olhos. Lembrava-o da mãe, e de todo o seu pesar, mas, ao mesmo tempo, distraía-o, e lhe dava um estranho conforto, como se ela ainda vivesse, como se Cat não tivesse de fato abandonado este mundo. Era quase como se lhe houvessem dado uma segunda chance para todo o amor que guardara dentro de si...


Era o efeito do azul.



Estavam próximos da costa dos Dedos. A galé sofria com uma súbita tormenta, sendo levada de um lado para o outro pelas ondas crescentes e incessantes. Já era o segundo dia de tempestades, e Petyr começou a se preocupar se o Rei Bacalhau teria condições de aguentar tantos baques. Era um bom navio, mas de certa idade.



Decidiu visitar a cabine de Sansa para saber como a menina estava. Havia dado ordens aos criados para que cuidassem que não ficasse doente, e fosse tratada com os maiores zelos possíveis, mas a menina vomitava muito, talvez pelos traumas que vivera em Porto Real e a súbita mudança de vida, ou simplesmente pelo movimento ondulante do barco.



Bateu cuidadosamente à sua porta, e ouviu a meiga vozinha de Sansa responder-lhe que entrasse.



A menina estava sentada na cama, aquecendo-se com a manta. Chocou-se ao ver que era Petyr; obviamente não o esperava.



– Sinto muito, senhor. Se soubesse que era você quem batia à porta, teria me vestido de maneira mais apresentável.



– Não se preocupe, querida. Se estiver confortável, me sentirei mais lisonjeado. - Sorriu de forma calorosa para ela, ao que ela lhe retribuiu com sinceridade. Pobrezinha. Tanta beleza passando por tanto sofrimento...



– Está linda, se me permite dizer, minha senhora. - Viu que Sansa corou e desviou o olhar. - Ofendi-a? - Petyr perguntou, brincando com a timidez dela.


– De forma alguma, apenas... Apenas não posso acreditar, senhor. Devo estar uma bagunça. - Petyr não aguentou e riu da meiguice dela, ao que ela também deu-lhe um risinho educado, porém sincero.



– Está enganada. Poderia se vestir como uma criada em farrapos e ninguém se igualaria à sua beleza. Ainda mais se os farrapos estivessem rasgados, revelando mais seu corpo... Petyr pegou-se pensando na donzela nua, por baixo da manta. Deve estar aquecida com o calor do seu corpo e seu cheiro de moça... Novamente sentiu seu membro viril "acordar", em um curto espaço de tempo. Aparentemente, Sansa tinha esse efeito forte sobre ele. E indevido. Era importante manter-se neutro à sua presença, embora fosse praticamente impossível.



– É muito gentil, Lorde Petyr. Mas devo agradecer-lhe não apenas pelos elogios, como também por tudo que me fez. Obrigada por estar... Ah...



– Cuidando de você? Continuarei fazendo isso de agora em diante, não há motivos para se preocupar. - Tocou com as costas das mãos as bochechas de Sansa, e pôde perceber que estavam realmente deliciosamente quentes como imaginara. - E nem o que agradecer. Não teria possibilidade de fazer diferente. – Vinha repetindo esse tipo de frase com frequência, e com sinceridade, o que nada lhe aprazia.



A linda menina corou e olhou para baixo. - Aliás, sim, teria como me agradecer. - Ela voltou os olhos subitamente para ele, intrigados. - Exatamente desta forma. Olhando-me nos olhos. Este é o maior presente que pode me dar. - Sorriu para ela, para aquela memória viva de Cat, que cada vez mais ganhava espaço em seu coração. E, também, incitava desejo incessante em seu corpo...



Deu-lhe um frasco com uma substância medicinal. – Leve. Este é um chá de ervas, bom para o estômago. Meus criados contaram-me que está enjoada. Isto há de lhe curar. Eu mesmo venho tomando, e tem melhorado meus sintomas.



Sansa agradeceu-lhe, e Petyr sentiu espasmos quando suas mãos se tocaram. De novo, me sinto um moleque. – Deixá-la-ei descansar agora, senhora. A tempestade está mais fraca, e não há mais o que temer. Logo, logo, estaremos em casa. - Sorriu calorosamente para a menina, e dirigiu-se à porta da cabine. Viu a linda expressão agradecida dela sorrir-lhe de volta, e percebeu que a menina subitamente lembrou-se de ser cortês com ele, em retribuição ao remédio.



– Está doente, senhor Petyr? Estimo-lhe melhoras sinceras. - Olhou-o preocupada, como Cat fazia quando Petyr planejava uma travessura.



– Já estive doente, Sansa. Agora... Ouso dizer que posso estar me curando. - Deu-lhe um sorriso misterioso, e brindou-se com uma última visão das lagoas azuis, brilhando curiosas no lindo rosto da menina, desabrochando em flor. Graças a você.








***




Chegaram finalmente aos Dedos, e assim Petyr expôs seus planos à Sansa. Contou-lhe que casaria com Lysa, e todas as tramas - resguardados alguns detalhes, para poupá-la e protegê-la em sua inocência - da morte de Joffrey e resgate da garota. Ensinava-a, pouco a pouco, como o mundo funcionava. Como gostaria que tivessem feito comigo, a tempo, antes de tudo o que vivi.





Sansa já aprendera que a vida não era uma canção, mas mantinha, Petyr percebia, seu espírito sonhador. Ao mesmo tempo, era muito inteligente e astuta. Lembrava-o de Cat, não apenas pela aparência, mas pela personalidade justa e afável, tão carinhosa quanto a mãe. Porém, diferentemente, Sansa tinha uma meiguice inocente e introspectiva, talvez pelos baques da vida que sofrera, talvez, pela própria personalidade. Talvez um pouco dos dois. Entretanto, apesar de todas as dificuldades, ela ainda esperava e queria mais. Queria ser amada e reconhecida, queria um lar, e o conforto dos braços de pessoas amadas. Como Petyr sempre sonhara, desde muito menino.


Esse lado de Sansa, assim, lembrava-o do garoto Petyr que, desde que reencontrara Cat em Porto Real, descobriu que nunca abandonara seu eu adulto. Talvez o único lado em si que ainda fosse bom e digno, o único lado que se permitia sonhar e desejar coisas melhores do que o triunfo de seu rancor e desejo de vingança, companheiros sempre presentes. Não ousava pensar a respeito, mas percebia ele mesmo que mantinha seu lado amoroso, o seu lado... Príncipe das Libélulas.



Os dias passaram, e Petyr distraía-se observando Sansa ao longe. Não poderia sufocá-la com sua presença, tinha de dar tempo a ela para descansar e absorver os novos fatos e acontecimentos. A menina gostava de passar tempo sozinha, ensimesmada, na companhia de um antigo cachorro vira-lata dos Dedos que, inclusive, adorava Petyr. Será que percebeu a importância dela para mim? Sorriu, com tal pensamento.



Uma vez, caminharam juntos por todos os terrenos dos Dedos. Petyr fez graça de sua própria situação, debochando de sua origem - embora a marca de ter nascido pobre e os sofrimentos que disso adviram ainda estivesse frescos em seu ser - e treinou chamá-la de Alayne, como haviam combinado. Preferiria chamá–la de Cat ou Sansa, de fato. Eu seu pensamento e, mais ainda, em seu coração, ela nunca, jamais, seria sua filha bastarda. A farsa mais falsa que já representei. Entretanto, a mais importante...



Depois do oitavo dia de estadia nos Dedos, Lysa Arryn chegou com sua comitiva. Logo, Petyr, Sansa, Bryen, e até o cão que Sansa adotara e outros criados foram recepcioná-la. Agora, de volta a outro pesadelo...


Ajoelhou-se para beijar seus dedos, quando Lysa desceu do cavalo que a trazia. Está gorda como uma porca. Terei de pensar muito em Sansa para levar a noite de núpcias até o final...


– O pequeno conselho do rei ordenou-me que a cortejasse e conquistasse, senhora. Infelizmente, um grande mal necessário. – Acredita que poderá me aceitar como seu senhor e esposo? - Olhou para cima e sorriu debochado para o rosto gordo da mulher, embora ela provavelmente tenha encarado isso apenas como uma brincadeira marota de sua parte.


Lysa puxou-o de pé e beijou-o com força no rosto.



Logo, desenrolou-se o diálogo entre eles, em que Lysa avisara-o de que trouxera os preparativos para o casamento a ser feito nos Dedos. Burra, nunca casaria com mulher alguma aqui. Apenas Cat, obviamente. Petyr tentou convencê-la de casarem-se no Ninho da Águia, afinal, tendo todo o Vale como testemunha, isso facilitaria seus planos de estender seu poderio por sobre os homens destas terras, conhecê-los, agradá-los e manipulá-los devidamente. Mas a tola mulher realmente acreditava que ele a amava, e não que casava por mero interesse. Desistiu de tentar convencê-la e acatou sua vontade. Ao menos, com poucas testemunhas, mais rápido terminará esse sufoco.



O casamento desenrolou-se rapidamente. Proferiram os votos com simplicidade, mas algumas festividades foram feitas; havia comida e bebida para os presentes, flores Tully, típicas dos casamentos da Casa de Lysa, em grandes buquês, e vários pequenos barquinhos feitos por artesãos próximos de Correrrio, de madeira, pintados de azul e vermelho, as cores da Casa Tully.


O tejo, naturalmente, não tem cor... Lembrou-se de quando dissera a Cat que sua casa nao tinha símbolo, e sentiu um profundo aperto no peito: foi inevitável lembrar-se também de quando era jovem e fantasiava, inocentemente, casar-se com Cat...



Ao fim dos votos, os noivos, juntos, levaram um barquinho, no qual fora escrito na madeira, pelo artesão criador: "Petyr e Lysa". Dirigiram-se para o mar, e deixaram que a correnteza embalasse gentilmente o pequeno brinquedo para o mar aberto. Em cima do barco, depositaram duas flores Tully. Era um costume dos senhores de Correrrio, para festejar o casamento. Colocavam os pequenos barcos nos rios, que eram levados pela correnteza, simbolizando a nova vida do casal que começava.



Foram aplaudidos pelos convivas, e Petyr viu seu olhar ser hipnotizado para Sansa. O tempo e tudo ao seu redor pararam. Ela não olhava para o casal, mas sim para o barquinho que, agora, sumia no horizonte. Estava linda. Sorria timidamente, pensando algo que deveria ser desconhecido até pela Donzela, envolta em seus encantos e mistérios femininos recém desabrochados. Fora bem arrumada pelas aias de Lysa, e resplandecia em um vestido tão azul quanto seus olhos, que agora fitavam meiga e sonhadoramente o barquinho levado pela correnteza do mar. Petyr sentiu seu queixo cair levemente, e rapidamente retomou a compostura, forçando-se a desviar o olhar.



A festa seguiu sem maiores acontecimentos, apenas o de praxe: dançaram, beberam hidromel, e Petyr não pôde deixar de reparar o quão feliz Lysa estava. Sentir-me-ia da mesma forma se fosse Cat em seu lugar.



...Ou a filha de Cat. Sussurrou uma voz suave em seu interior.


Surpreendido com a segunda parte de seu pensamento, Petyr meneou levemente a cabeça, como para afastá-lo. Devo me focar, agora. Está tudo quase terminando.



Era a última dança antes das núpcias, e o cantor, chamado Marillion, dedilhou uma melodia conhecida por Petyr, que tanto embalara-o quanto angustiara-o por toda a sua vida. Reconheceu as notas iniciais. "Estações do meu amor."


Lysa e ele dançaram: ela, alheia às emoções do marido, e ele, afetado pela carga emocional da música, embora disfarçasse bem. Quando chegou a estrofe que mais lhe importava, viu Sansa rodopiar próxima a si, enquanto ria, com seus olhos fechados em pleno regozijo, divertida com as festividades. Seus cabelos rubros balançavam-se perfeitamente seguindo seu movimento delicado. No mesmo momento em que ela abria os olhos, o olhar dos dois encontrou-se, e a música alcançou seu ápice. Sansa sorriu-lhe, alegre e linda, uma ninfa da beleza e dos encantos femininos.


"- ...Eu amei uma donzela linda como o outono, com o pôr do sol nos seus cabelos..."



Petyr parou. Sentiu-se atordoado, era como se o tempo houvesse voltado quinze anos antes, e congelado mais uma vez. Ficou ali, embasbacado, enquanto todos a sua volta dançavam, ignorando a explosão de sentimentos dentro dele. Lysa teve de perguntar se ele estava bem para que voltassem a dançar, e Petyr pudesse recobrar seu estado de espírito regular.


Depois, vieram as núpcias. Os criados despiram Lysa, já as poucas aias da mesma, Petyr. Sansa foi levada junto, o que muito lhe agradou. Serviria como inspiração para o que deveria fazer em seguida...



Brincou com todas as aias; enquanto elas tiravam seu manto, ele desamarrava seus vestidos. Se elas puxassem alguma peça de roupa, ele puxava uma delas também. Ao fim, elas estavam todas amarrotadas e seminuas, rindo, seduzidas. Mas, embora tivesse desnudado-as, não tirava seu olhar de Sansa, e não conseguia parar de sorrir-lhe, no que ela respondia ruborizando. É realmente tão donzela como aparenta, e tão apetitosa...



Ao entrar no quarto, Lysa atacou-o. Beijou-o profundamente, gemendo sem parar. Petyr, entretanto, fazia tudo mecanicamente. Sua mente estava longe dali, próxima da menina que agora estava no Salão, protegida por Lothor Brune de qualquer um que ousasse se aproximar dela. Será minha. É minha. De mais ninguém. Como Cat.


Pensando em Sansa, e em como seria sentir, beijar e tocar seu corpo nu penetrou Lysa. A cada movimento, imaginava Sansa em seu lugar, arfando, gemendo, linda e deliciosa em seu corpo jovem e puro, apenas esperando por ele.


Quando enfim terminaram, ambos dormiram exaustos. E, dessa vez, Petyr teve sonhos muito agradáveis, envolvendo Sansa, ele, e roupa alguma... Nada entre os corpos entrelaçados de ambos e um céu de azul cerúleo, como os olhos brilhantes de prazer da menina.



No dia seguinte, Petyr acordou cedo. Contou a Lysa que se tratava da filha de Cat, mas ela já havia percebido. Então, depois de uma breve conversa, vendo que não havia problemas e que Lysa tinha reagido bem à noticia, chamou Sansa para conferenciar com a agora esposa. Horrível pensar que me casei com ela.



Resolveu passear uma última vez por suas terras. Não pretendia pisar novamente nos solos inférteis dos Dedos tão cedo, e resolveu despedir-se, à sua maneira. Andou pela costa, por caminhos mais abandonados e silenciosos, justamente os que mais gostava quando era menino. Costumava catar conchas em praias desertas e com terreno pedregoso acompanhado de sua mãe, Alayne, e tinha memórias alegres de brincar de construir castelos de areia com ela. Estranho pensar que já amei este lugar...


Foi então que viu um dos barquinhos da noite passada abandonado na areia, banhado por ondas pequenas da baía. Estava encalhado, e a praia, repleta de flores Tully.


Teve uma ideia súbita.



Pegou uma das flores Tully que estava seca, caída por sobre a areia, e também o barquinho. Tirou de suas vestes o punhal que sempre levava consigo, e escreveu certos dizeres na madeira do barco, por cima de onde se lia “Petyr e Lysa”, agora já meio apagados pelas águas do mar.



Em seguida, entrou na baía, o suficiente para molhar sua batata da perna. Depositou o barco, e, depois, tirou o broche de tejo que usava no momento, que prendia sua capa, e colocou-o junto a uma única flor Tully, em cima da superfície do barco. Abaixo deles, podia-se ler escrito na sua caligrafia:



"Apenas Cat."



O azul da flor era tao cerúleo quanto os olhos de Cat. Ficou por um tempo assim, olhando o barco que seguia levado pela correnteza, ao longe, ondulando pela superfície de infinito azul do mar desse dia, de céu tão limpo e claro, refletindo-se por sobre tamanha imensidão. Mas havia mais infinito nos olhos de Catelyn...



Os olhos de Sansa.




Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E agora... Só faltam mais um capítulo, e em seguida o capítulo final! Que não serão tão grandes, relaxem, hahahaha!