Undertaker [Hiato] escrita por biazacha
Notas iniciais do capítulo
Demorei. Muito.
Sei que a maioria deve querer me espancar agora, mas não sou de enrolar muito: trabalhos aos montes, crise criativa e internet caindo por qualquer, entre outros fatores, me trazem aqui apenas hoje. Este cap está pronto a mais de uma semana e de longe não ficou como eu queria....
Mas enfim, espero recuperar o fôlego no próximo.
Agradeço a Super Nani pela recomendação perfeita que em poucas palavras resumiu todo o drama e emoção que é ser uma leitora de Under e aos reviews divertidíssimos e revigorantes da Cherry Girl Blue.
Aff, estou muito dramática, vou comer e ver se trato logo de terminar o próximo cap.... (u.u)'
Boa leitura amorecos!
Se Raven pudesse voltar no tempo e dizer aos seus pais que não precisava de ajuda médica, sem dúvidas o teria feito.
Assim que seus olhares se cruzaram, foi como se algo se acionasse em sua mente – uma coisa ancestral e muito forte – e cada centímetro de seu corpo se pôs em alerta, os olhos esquadrinhando tudo rapidamente, o coração disparado por nenhum motivo aparente, as mãos suando e a mente a mil.
De modo simpático e encorajador, ele abriu a porta e esticou o braço apontando para dentro.
-Vamos, entre. – disse o psicólogo de modo gentil, com um sorriso absolutamente sincero no rosto; a menina praticamente arrastou os pés de modo mecânico para o interior da sala dele, pois uma vozinha que ela costuma atribuir a sua consciência gritava “perigo!” de modo frenético.
O lugar tinha as paredes num tom pêssego bem bonito, mas todos os outros móveis eram em tons monótonos e cansativos de marrom, com a exceção de um luxuriante divã de veludo verde num canto; as paredes estavam cheias de quadros que pareciam ter sido pintados pela mesma pessoa, a maioria retratando aves em pleno voo ou alimentando suas crias – por mais que forçasse a vista, não conseguia identificar o que a assinatura dizia, mas confirmou que eram todos de um mesmo artista.
Pelo menos não havia corujas em nenhuma das telas.
Algumas prateleiras a direita de quem entrava continham livros de aspecto acadêmico e intimidadores e uma pequena cômoda a esquerda – provavelmente com cópias das seções dos pacientes ou algo parecido – ostentava uma miniatura de um navio, uma nau antiga e belíssima, como a de uma super produção hollywoodiana, com detalhes dourados, três mastros e pintura impecável. Não possuía nenhum nome ou similar que lhe permitisse fuçar depois para saber se a embarcação de fato existiu.
O chão era de um acarpetado bege e sem graça, igual a sala do Dr.Langdon e possivelmente como a de todos os médicos do hospital.
Puxando a cadeira de madeira para se sentar sem esperar um convite, ela se encolheu com o som do móvel se arrastando. Era como se subitamente se tivesse tornado sensível a todos os sons, luzes, cores e cheiros a sua volta, e os pelos de seu braço estavam arrepiados desde que ele abriu a porta e a instigou a entrar.
Ficou encarando seu colo com as mãos cruzadas sobre o mesmo, enquanto ouvia ele se movimentar atrás dela e finalmente se sentar na outra ponta da mesa. Lentamente unindo as pontas dos dedos longos e finos sobre a superfície lisa, o homem a encarou com um visível interesse, pois ela podia sentir seus olhos praticamente a queimando até virar pó. Sem querer parecer covarde, ela ergueu os olhos hesitantes e o fitou de modo mais decente:
Fino não era uma definição para seus dedos, mas sim para ele próprio. Dr.Roberts usava um casaco cinzento sobre uma camisa oliva, mas não era o suficiente para encobrir sua silhueta delgada, os ossos salientes em suas mãos, pulsos, rosto e pescoço. Bem como seus nariz reto e similar a uma lâmina, lábios que eram tão diminutos que mais pareciam riscos e olhos estreitos, cuja cor era suavizada pela armação caramelo de seus óculos que não ficavam bem com o formato de rosto. Os cabelos aparentavam terem sido belos cachos no passado, mas seguiam ralos e com um grisalho doentio se mesclando ao castanho claro.
-Bom minha cara, eu sou, como já deve saber, o Dr.Roberts e desde já quero que saiba que estou aqui para ajuda-la. Compreende isso? – ele aguardou calmamente uma resposta, mas ela demorou quase uns dois minutos para formular algo aceitável e o mais monossilábico possível, já que estava disposta a não interagir com ele.
-Compreendo. – apesar da resposta tosca a julgar pela demora pra dize-la, ele não pareceu aborrecido ou desapontado com ela, pelo contrário; seu sorriso se alargou.
-E quero deixar claro que não será obrigada e dizer nada que não tenha vontade.
Ao invés de responder, ela acenou a cabeça.
-Soube de... uma série de acontecimentos confusos em sua vida nos últimos tempos, mas gostaria de ouvir a sua versão da história tudo bem? – ela ficou confusa e aborrecida: se ela não deveria falar o que não queria, como ele a questionava logo de cara sobre um assunto tão delicado?! Mas não iria se deixar levar pela irritação.
-Bem... eu... quero dizer, eu e meu amigo, é... – tentou começar, mas se atrapalhou com as palavras.
-Você pode contar o que quiser Raven. – disse ele – E só abordaremos certos assuntos quando se sentir a vontade para faze-lo certo?
-Sim. – ela abaixou a cabeça, saindo do campo de visão que tanto lhe causava calafrios.
-Tem algo em especial que queira me contar?
-Na verdade não. – soltou, antes que pudesse se controlar. Não sabia como, mas tinha certeza de que ele continuou sorrindo.
-Vamos Raven, se quer melhorar tem que se esforçar não acha?
A menina abriu a boca pra retrucar que não tinha nada de errado, quando sentiu uma pontada violenta na base da coluna, a fazendo arfar e se dobrar sob a escrivaninha do médico.
-Tudo bem minha cara? – ela olhou para ele e viu em seus olhos âmbar um brilho sinistro e cruel que a instantes atrás não existia.
-Tudo bem. – disse num suspiro, esfregando o local dolorido vigorosamente e esperando que a sensação ruim passasse. O que não aconteceu.
-Tem certeza? Me parece abatida... Raven, aqui dentro, mais do que em qualquer lugar, você pode se sentir tranquila.
-Eu sei. – dizia ela, ao mesmo tempo em que pensava ‘até parece’.
-Raven...
-Bom, vamos começar de uma forma mais simples: como é... sua relação com seus pais?
-Ela é... boa. Normal. – seu nervosismo a esta altura era tamanho que ela fazia força para sua voz não falhar; suas costas realmente doíam, com pontadas sem sentido e uma queimação sinistra.
-O que você chama de normal?
Ela não respondeu de imediato, pois sua mente estava trabalhando num ritmo frenético; tinha total certeza de que ouviu a palhacinha chamar seu nome, não de um modo zombeteiro ou provocativo como sempre, mas sim com um quê de pânico inegável na voz. O que levaria aquela aparição perversa a temer pelo bem estar da menina era algo que sem dúvidas Raven não queria conhecer.
Embora sua principal suspeita estivesse sentada a sua frente. Com ele insistindo num assunto aparentemente banal depois daquele ar frio, sua situação não melhorava em nada.
-Raven? – disse ele amigavelmente. A pontada voltou, dessa vez descendo aos quadris.
-Sim?
-Não respondeu a minha pergunta? Devemos ir por outro caminho? – alguma coisa nele sugeria que ele estava ansioso, mas ela não sabia dizer o quê, pois toda a sua conduta indicava o contrário.
-Me desculpe... pode repetir a pergunta? – ela segurava a careta de dor que se formava com obstinação.
-A relação com seus pais. – lembrou ele de modo prestativo – disse que a considera normal, mas o que seria a normalidade pra você?
-Ah, bem, como todas as relações de pais e filhos são sabe? Cobrança por bons resultados na escola, implicância com o estilo musical e negociações longas antes de saídas que se estendem até altas horas.
-Então eles de certa forma te sufocam?
-NÃO! Digo, de forma alguma! Eles também me dão carinho, me apoiam nas minhas metas e sempre me dão ótimos conselhos. Saímos juntos e nos damos muito bem. – ele assentiu sem a encarar nos olhos; parecia estar escondendo uma certa decepção, mas era difícil para ela ter certeza.
-E como eles estão lhe ajudando a lidar com o estresse que tem passado?
-Minha mãe veio falar comigo e se colocou a disposição para ouvir qualquer coisa.... meu pai sempre foi mais fechado, mas toma atitudes como comprar minhas comidas favoritas ou trazer revistas que gosto pra casa na volta do trabalho.
-Raven... – a voz da palhacinha voltou, dessa vez mais suplicante.
-Seus pais são muito conhecidos e respeitados. – disse ele – E tenho consciência de que conquistaram isso se dedicando muito ao trabalho; nada do que disser aqui vai ir para terceiros. – ela se enfureceu com a sugestão nas entrelinhas de suas palavras.
-Eles nunca falharam como pais. Conceituados ou não, antes de médicos eles são humanos e cuidam de sua prole. – crispando os lábios, ela pôs-se a fitar um ponto sobre o ombro esquerdo dele, esperando que a linguagem corporal fosse clara o suficiente.
-Raven.... saia daí....
A voz da menina era cada vez mais fraca, o que deixava Raven apreensiva; entre acidentes, corujas e sensações estranhas, ela não queria que a azulzinha se fosse, pois ela era a única “pessoa” que claramente sabia de toda a verdade por trás daquela confusão.
-Não foi minha intenção ofender aos seus pais ou algo assim. – explicou-se calmamente – Só quero que você se abra e converse comigo.
-Talvez na próxima Dr.Roberts – disse ela se levantando – talvez na próxima.
E, sem esperar por uma resposta do homem, ela caminhou a passos largos e saiu da sala.
Porém, assim que fechou a porta, mal deu dois passos e caiu no chão, suprimindo gritos de dor pela pressão esmagadora que a impedia de andar ou levantar: a metade inferior de sua coluna estava simplesmente travada, bem como os ossos em seus quadris e virilha.
Agarrada a parede, ela se arrastou pelo corredor com a visão turvada pela dor, torcendo para que o sinistro médico não resolvesse sair dali e que alguém mais sensato aparecesse, para que ela pudesse pedir pelo Dr.Langdon. Lágrimas por conta das sensações enlouquecedoras corriam por sua face e antes que ela pudesse reagir de modo mais imperativo, seus sentidos se foram, sua consciência se encolhendo dentro de si mesma para escapar do peso, dor e queimação de um corpo cada vez mais paralisado.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
E ela perdeu os sentidos.... again. Escrever ela acordando foi particularmente divertido, espero que gostem tanto quanto eu. Ah, e no próximo cap trago uma novidade ok?
Beijos!! (*--*)//