Epílogo

Escutava murmúrios chamando-me para entrar em abismos, cavernas e lugares habitados somente por escuridão.

A névoa rondava sobre mim. Pareciam garras. Garras que flutuavam até meu pescoço e sufocava-me com seus dedos imaginários.

Senti um aperto em minha mão. Pensei em puxá-la de volta para mim, correr como um garotinho esperando ser amparado pelos braços de uma mãe, algo impossível. Olhei para meu lado e percebi uma presença se materializar enquanto segurava minha mão fortemente. Era Sakura.

Ela sussurrava para mim, mandando-me ser forte. Lembrando que sempre...

– Estarei do seu lado.– sorriu 

Acordei tranquilamente observando apenas o céu acima de mim. Sentei, espantando os resquícios do cochilo que havia dado.

Estava novamente sentado no gramado, o céu adquirido tonalidades vermelha e laranja, com nuvens no horizonte envolvendo o sol em um abraço particular. O sol estava se pondo e levando mais um dia de calor que havia esquentado Konoha intensamente. Havia adormecido após um longo dia de construção, estava exausto.

Me levantei e passei minhas mãos por minhas roupas para retirar a sujeira que havia ganhado enquanto rondava o mundo dos sonhos. Escutei grama sendo amassada com passos leves e me virei rapidamente, apenas para encarar um sorriso esboçado para mim, apenas para mim.

Com meu coração batendo descompassadamente em meu peito, fui ao seu encontro. Após um breve instante de hesitação, envolvi seus ombros com minhas mãos e encarei seus orbes esverdeados.

– Conban-uá.

– Conban-uá Sasuke-kun. – com a mesma facilidade de mexer com minha sanidade, Sakura esboçou um dos seus melhores sorrisos. Quando ela ergueu as mãos e tocou-me os antebraços, descobri que desejava mais, queria que ela explorasse cada vez mais com suas mãos e o mesmo queria para mim.

Vi-me ainda mais envolvido quando ela colocou seus braços em volta de mim, pressionando o rosto contra meu peito.

– Eu gosto do seu cheiro depois que trabalha tanto. Cheiro de esforço.

Pensei em afastá-la após constatar que estava sujo e pior: suado.

Não quero afastá-la. Não, por Kami, não quero mesmo. Não quando os pequenos e firmes seios pressionavam meu corpo. Não quando os cabelos macios, tão macios enroscavam-se em meus dedos. Percebi que minhas mãos haviam encontrado automaticamente o caminho para seus cabelos. Rendendo-me ao desejo, enfiei meu rosto em seus cabelos, aspirando o perfume que emanava de seus fios rosados, murmurando seu nome.

Não sei se foi a entonação, a nota de desespero que havia ou até mesmo a quantidade de sentimentos em minha voz que fez Sakura se aproximar ainda mais, querendo me aliviar enquanto acariciava minhas costas com movimentos constantes e lentos. Apertei-a mais contra meu peito, segurando-a bem apertado, como se ela pudesse sumir.

– Você está cheirando a hospital. – murmurei. – Pura e sincera. Não há maldade nesse cheiro, há? – perguntei, mas não queria uma resposta. Comprimi sua boca contra a minha antes que ela desse a intenção de querer responder.

Tomei seus lábios com carinho, querendo saborear o momento.

Seus lábios moviam-se carinhosamente sobre os meus. Nossas respirações se confundiram no mesmo ritmo. Seus lábios eram macios. Sem hesitação, a língua de Sakura procurou pela minha e aprofundei o beijo lentamente. Ela me levou numa montanha-russa de sensações e antes de que pudesse me recuperar da queda de tirar o fôlego, estávamos subindo de novo.

Sakura se agarrou a mim, talvez esperando a nova explosão de velocidade. Passei a língua suavemente sobre a dela, então retirei-a, provocando-a, chamando-a, descobrindo os segredo e sabores ocultos da boca de Sakura. Descuidada, ela seguiu os mesmos movimentos que havia feito anteriormente. Graciosa.

Por um momento lhe permiti assumir a liderança, então segurei sua nuca e esmaguei seus lábios com uma última e intensa investida. Queria Sakura fraca e entregue, totalmente satisfeita e alegre como eu estava.

Quando a libertei, Sakura ficou completamente imóvel, tentando compreender o que acontecera. A excitação em seus olhos deu-me um enorme prazer.

– Se o resultado de um dia de trabalho no hospital for isso, puxa. – suas maçãs do rosto se tornaram vermelhas.

– Não é o hospital, é você. – segurei sua mão e acariciei seu rosto, fazendo-a corar novamente. – Vamos embora, Naruto está nos esperando no Ichiraku.

E mais uma vez o sorriso dela acendeu uma luz em minha alma, gradualmente espantando a escuridão para longe e trazendo finalmente uma esperança que eu considerava inexistente.

Olhando nossas mãos juntas, nossos dedos entrelaçados, descobri que nada podia me atingir e me levar para a escuridão novamente. Sakura estaria do meu lado, me ajudando, me salvando e para sempre.

Sempre...