Suspirei calmamente, olhando para o nada, enfim me voltando para a menina da recepção.

- Podemos ir. – Dei um sorriso fraco na direção dela, a mesma fez um sinal para acompanha-la.

- A propósito, eu sou Claire, irei te mostrar todo o campus da clinica, você poderá descansar a vontade, para amanha começarmos com o tratamento. Mas antes você precisa entregar-me as suas malas, outras pessoas irão revistar se está tudo de acordo, sabe, não é permitido nenhum objeto prejudicial ao tratamento aqui. – Assenti. Ela entregou minhas malas para um homem cujo nome era Robert, logo ele saiu de minha vista, entrando em um lugar desconhecido por mim.

 O lugar era demasiadamente lindo para uma clínica de reabilitação, como havia dito, tinha muito verde, gramas, arvores, dando um toque de harmonia ao lugar. Por dentro era como um colégio interno. Havia um refeitório, sala de lazer, quartos e entre outros, basicamente era um tanto confortável.

- Agora que você já conhece quase tudo por aqui, vou te mostrar seu quarto. Hoje você está liberada para andar livremente por onde quiser, seu caso não é tão sério, algumas pessoas tem que passar 24 horas em observação, algumas vezes uma moça irá fazer inspeção para saber onde você está, só para constar, não se incomode com isso, pois vai acontecer frequentemente. – Ela disse tranquila enquanto ia em direção ao meu quarto, deduzi. Como eu já estava esperando por algo semelhante, assenti sem pestanejar. – Na clinica temos a hora certa de tomar café, almoçar, jantar, tomar banho, acompanhamento psicológico, terapia entre outras coisas, com o tempo você irá se acostumar com os horários. – Ela sorriu para mim. - Aqui está. – Claire abriu uma porta branca que se encontrava no meio de um corredor elegante, provavelmente a ala dos quartos. – Fique a vontade, este será seu quarto durante algumas semanas.

- Obrigada. – Passei pela porta, observando tudo.

Era um tanto aconchegante, bem simples, como eu gostava.

- O banheiro é logo ali. – Claire apontou para uma pequena porta. – Tem tudo o que você precisa lá. Bem, eu já vou indo, qualquer coisa você pode me procurar, até mais Srta. Lovato. – Ela acenou com a cabeça e saiu pela porta, fechando-a em seguida.

Sentei-me na cama, perto da minha mala, que por acaso já estava lá. Observava tudo com calma, fotografando cada mínimo detalhe em minha mente. Seria tudo tão diferente do que eu estou acostumada, que às vezes era quase impossível encarar a realidade de que eu estava ali mesmo, em uma clinica de reabilitação. Eu já havia pensado tantas vezes em me internar, mas isso nunca realmente aconteceu, e veja onde eu estou agora...

Peguei uma peça de roupa simples, como todas que estavam delicadamente dobradas ali, afinal eles não permitiam roupas muito decoradas, nem ao menos joias.

Tomei um banho demorado, tentando expulsar todas as energias negativas sobre mim, logo depois vestindo minhas vestes.

Era tão estranho abrir o armário e ver que nenhum objeto cortante se encontrava ali, e como eu estava disposta a mudar, não tinha trago nenhum comigo, seria uma falta de maturidade imensa.

Assim que saí do banheiro liguei a TV que havia no meu quarto, não tinha muitas opções em relação a atividades. Coloquei em um canal de fofocas para ver se continha algo sobre mim ,e, como esperado, eles estavam falando sobre a minha internação.

“Nesta tarde de terça feira (06/04), a cantora Demi Lovato foi vista entrando em uma clinica de reabilitação chamada Timberline Knolls em Illinois. Segundo informações a garota, dona do single Skyscraper, está oficialmente internada com tempo imprevisto de saída, o motivo desta decisão a própria Demi nos contou em um programa de TV, quando ela admitiu em rede nacional que sofre por transtornos alimentares e automutilação, Demi ainda confirma que cancelou toda a sua turnê mundial que estava prestes a começar  neste mês, ela argumenta que precisa de um tempo para cuidar dela mesma, e depois voltar para o mundo da música...”

Desliguei a TV rapidamente, eu não queria pensar em nada agora, só queria seguir em frente, pois já que comecei, não tenho motivos para parar.

Levantei-me da cama em um pulo e abri a porta um pouco cautelosa, não havia ninguém no corredor, apenas eu. 

Andei um pouco, virando em alguns corredores, até enfim achar a saída para o campus, onde havia algumas pessoas sentadas em umas mesinhas, outras fazendo tricôs e essas coisas. Vi também uma mulher de branco conversando com uma menina, o que deduzi que era uma enfermeira.

Assim que a enfermeira saiu daquele lugar fui em direção à menina que estava conversando com ela, já que não tinha nada para fazer, preferi arrumar alguém para conversar um pouco.

- Oi. – Disse parando em frente a ela. A garota enfim levantou o rosto, sorrindo um pouco. Ela tinha seus cabelos loiros perfeitamente lisos amarrados em um rabo de cavalo frouxo, seus olhos azuis demonstravam uma expressão triste, e em sua bochecha direita havia três cortes fundos. Como eu entendo um pouco sobre o assunto deduzi que ela própria se cortou naquele lugar.

- Oi. – Ela disse em um quase sussurro. – Ei, você é Demi Lovato, não é?

- Sim. Posso me sentar aqui? – Perguntei apontando para o lado dela. A menina assentiu. - Qual seu nome?                                

- Meu nome é Hanna. – Ela disse se virando para mim. – Mas o que você está fazendo aqui? – Hanna perguntou confusa. Abaixei minha cabeça alguns centímetros.

- Problemas.

- Mas você parece ser tão... Normal. – Ela riu um pouco. – É o seu primeiro dia? – Assenti. – Ah, então é por isso. Fique preparada, estas pessoas vão por você louca. – Ri junto com ela.

- Como assim?

- Eles pegam muito no pé, você não tem muita privacidade, sem contar que alguns pacientes ficam o dia inteiro na sala de terapia, conversando com psicólogos, essas coisas. Até o banheiro dos quartos tem câmeras, para evitar que você vomite escondido ou algo parecido. - Hanna disse olhando para o nada.

- Assim você me deixa assustada. – Ela riu. – Mas e você? Está aqui há quanto tempo? –Falei tentando arrumar algum assunto.

- Faz três semanas. Eles sempre me vigiam, acham que eu posso tentar me matar de novo. – Hanna disse despreocupada.

- Você já tentou se matar? – Falei um pouco surpresa.

- Isso não é surpresa, grande parte das pessoas que estão aqui já tentaram se suicidar. – Olhei ao redor, observando algumas pessoas que estavam por perto, elas pareciam normais.

Justin POV

Nós estávamos voltando para Los Angeles novamente, eu não conseguia falar nenhuma palavra sequer durante a viagem toda, o silêncio tinha virado meu melhor amigo agora.

- Justin, melhora essa cara, você não quer ver a Demi saudável? – Alfredo perguntou, assenti lentamente. – Então, isso era o melhor que ela podia fazer, Demi vai voltar mais forte ainda cara.

- Mas ela não merecia passar por isso, ela é uma pessoa tão incrível, como isso foi acontecer logo com ela? - Deixei uma pequena lágrima escorrer por minha face. Homens também choram. - Se eu pudesse pegar toda a dor que ela estava sentindo e passar para mim... Eu faria isso.

- Mas a questão é que você não pode. E alem do mais, nada acontece por acaso, talvez fosse preciso ela passar por isso. – Ele disse com a mão direita no meu ombro.

- Por quê? – Perguntei.

- Para torna-la mais forte. – Ele disse simplesmente. Fiquei processando o que ele disse. Até que fazia algum sentido. Afinal, dizem que nós aprendemos errando, e se você não aprender, a vida te ensina. Mas não era justo ser dessa forma. Eu não estou exagerando, cara, é uma clinica de reabilitação, ela passou mais de cinco anos se automutilando!

Nós chegamos a Los Angeles e eu fui direto para a casa da minha mãe, não antes de pegar minhas malas na casa de Alfredo.

Conversei um pouco com ela e depois subi para o meu quarto, adormecendo de vez.

Demi POV

Acordei com uma voz doce chamando pelo meu sobrenome, me dando leves chacoalhadas.

- Só mais cinco minutos. – Disse me virando para o outro lado.

- Desculpe, tem que acordar agora. O horário do café da manhã termina daqui uma hora, e você precisa se alimentar. – Abri meus olhos lentamente, dando-me a visão de uma claridade imensa que vinha da janela. Levantei-me e a mulher saiu do quarto. Fui em direção ao banheiro e tomei um banho rápido, coloquei uma roupa simples e logo já estava indo para o refeitório.

Peguei uma bandeja, eram torradas e panquecas com um suco de laranja. Olhei bem em volta, onde haviam varias pessoas sentadas em algumas mesas. Achei Hanna sentada em uma bem no fundo, fui em direção a ela e me sentei ao seu lado.

- Oi, tudo bem? – perguntei sorrindo para ela.

- Oi, é, na medida do possível. – Ela sorriu de volta.

Por conta das inspetoras nós tivemos que comer toda aquela comida – enquanto conversávamos - que era realmente muita, eles não deixavam nenhum paciente sair até julgarem de bom tamanho o que comemos.

- Srta Lovato? – Uma mulher veio em minha direção. – Você pode me acompanhar, por favor? – Ela perguntou. Olhei em direção a Hanna, um pouco assustada, ela só sorriu e assentiu.