Havia duas semanas que Angelina tentava entender o motivo pelo qual havia escrito aquela frase. Para ela, não fazia nenhum sentido, pois não era nada do que ela estava vivendo. Por mais que pensasse, que tentasse ligar a algum fato, não sabia o que a tinha levado a escrever tais palavras. Como uma boa moça inteligente, ela sabia o que significava cada palavra, e o que aquela frase queria dizer em suas entrelinhas. Mas como?

Enquanto Angelina estava perdida em seus pensamentos, Núbia abre a porta de seu quarto, e faz um sinal, chamando-a para descer. Angelina logo volta à realidade, se pondo em pé de prontidão, e acompanha sua mãe, com seu caderno e uma caneta azul em mãos.

Elas descem as escadas juntas. Angelina tenta ver através da expressão de sua mãe o porquê de ela tê-la chamado. Ao chegarem na sala de estar, a menina percebe que Manoela estava sentada no sofá bege claro, e Nicolas estava em pé, impaciente, inquieto, andando de um lado para o outro, mas sorrindo feito um bobo.

Havia um clima leve no ar, Angelina podia notar. Ao perceber que seu bloquinho de sempre não estava consigo, subiu as escadas correndo, quase caindo ao tropeçar em um dos degraus, para pegá-lo onde o havia deixado: em cima de sua escrivaninha, e deixou seu caderno ali no lugar.

Ao regressar, viu a mesma cena, mas com Núbia sorrindo junto, com lágrimas nos olhos. O que será que estava acontecendo? Angelina estava confusa, sem saber se eles estavam felizes ou tristes. Onde já se viu sorrir e chorar ao mesmo tempo?

Nada conformada, Angelina pega seu bloquinho e escreve “Mas o que está acontecendo aqui? Podem me explicar?”, e entrega à sua mãe, que lê em voz alta, para que todos saibam o que a menina dissera. Núbia, entre lágrimas salgadas e sorrisos doces, gentilmente pegou a caneta da mão de sua filha e escreveu: “Anjo, você sabia que quando dois corações se amam, geralmente aparece um terceiro que os une para sempre?”

Naquele mesmo instante, Angelina ficou extremamente pálida, imaginando o que mais sua mãe havia lido em seu caderno. Pegou a caneta e escreveu: “Por que essa pergunta?”, e esperou a resposta de sua mãe, achando que levaria bronca por suas escritas românticas. Mas Núbia a surpreende:

“Manoela está esperando um filho. Ela está grávida!”

Angelina pega o papel tremendo, lê e relê, e não acredita no que está escrito. Como assim, a Manoela estava grávida? E isso é motivo pra ficar feliz e triste ao mesmo tempo? Ficou se indagando com essas questões, mas optou por não expô-las. Então, saiu correndo novamente, para pegar de volta o seu caderno, e mostrar o que ela achava que era coincidência, para seus parentes presentes.

Desceu as escadas lentamente, diferente das outras vezes, pois estava nervosa com a opinião deles. Abriu a página onde estava escrita a frase, e mostrou-a para Núbia, que leu sem dar muita atenção. Mas ao perceber o que estava escrito, arregalou os olhos e ficou boquiaberta. Assustada com mais esse feito de sua filha, deixou o caderno cair. Angelina, em sua simplicidade, pegou o caderno, fechando-o e o colocando contra o peito e, amedrontada, pensou ter feito algo muito ruim, e que sua mãe com certeza não havia gostado nada.

Nicolas então decide pegar o caderno de Angelina, abrindo-o exatamente na primeira página, e lendo seus primeiros textos. Ele a olha com um olhar desconfiado, como se lesse sua alma, enquanto Angelina ficava cada vez mais ruborizada. Mas ao chegar na página em que sua sobrinha havia escrito a frase, ele empalideceu, principalmente ao ver a data. Como ela poderia saber da gravidez de Manoela duas semanas antes de ser descoberta?

Manoela ficou olhando os três, mais confusa que Angelina ao ver a expressão deles.

— O que está acontecendo, amor?

— A Angelina... ela... sabia.

— Sabia do quê?

— Da sua gravidez.

— Como, se nós só descobrimos ontem?

— Ela escreveu aqui essa frase, veja. Olha a data.

Na hora, Manoela ficou muda. Seu olhar se tornou um olhar assustado. Quando as proezas de Angelina se acabariam? Ela nunca esteve acostumada com o que aquela garota conseguia fazer.

E eles ficaram se olhando em silêncio, mais surpreendidos com o feito de Angelina do que com a própria gravidez de Manoela. E Angelina os olhava, sem entender o que eles estavam pensando, mas com uma certeza: sua frase foi bem usada.