Youll Just Have To Trust Me escrita por Achele


Capítulo 2
Capítulo 2




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Quinn já estava sentada por dez minutos no vestiário quando a porta se abriu, revelando Santana e Brittany. A Latina parecia entediada, como sempre, e a dançarina loira parecia confusa, bem, como sempre.

"Qual parte de cinco minutos vocês duas não entenderam?" a HBIC resmungou.

"A parte em que eu tinha apenas cinco minutos para convencer o maldito professor de que Britt precisava ir à maldita enfermaria porque ela tinha enfiado o maldito lápis dentro do nariz por acidente e andar por toda essa maldita escola para chegar nesse maldito vestiário," Santana rosnou de volta.

As duas ficaram se encarando por alguns segundos, até Brittany quebrar a tensão que tinha se criado entre as duas alfas.

"Eu estava tentando ver se eu conseguia cutucar meu cérebro com o lápis," ela comentou e encolheu os ombros. A loira dançou até o banco em que Quinn estava sentada — porque andar nunca podia ser tão gracioso como a loira mais alta fazia parecer —, arrastando a Latina com ela. "Passou esse desenho na televisão ontem onde um garoto conseguia cutucar o cérebro dele com uma caneta. Se ele conseguiu, por que eu não consegui?" ela perguntou para ninguém em particular.

Santana suspirou. "Britt-Britt, quantas vezes eu preciso te falar para nunca tentar fazer o que você vê em desenhos animados?"

"Mas, San, —"

"Não, B. Eu não quero ouvir," a Latina colocou um dedo em baixo do queixo da loira e fez com que ela olhasse em seus olhos. "Eu quero que você prometa que não vai fazer isso de novo."

"Mas —"

"B."

"Ok, eu prometo," ela sussurrou. Santana sorriu e se inclinou para beijar de leve a bochecha da loira.

"É tudo o que eu peço," ela sussurrou de volta.

Quinn limpou a garganta para lembrar as outras duas de que elas não estavam sozinhas ali. Santana rolou os olhos.

"Afinal, o que é tão importante que você teve que arrastar a gente para fora da sala com tanta pressa, Q?"

Os próximos cinco minutos foram gastos com Quinn explicando tudo o que tinha acontecido no escritório da treinadora. Santana ficou surpresa, primeiramente, porque aquele era um bom plano. Depois a Latina ficou apenas com raiva, porque tudo o que ela tinha falado sobre o clube no ano anterior era verdade. Ela gostava de Glee. Lá, ela não tinha que ficar alerta todo o tempo, pois ela sabia que ninguém desejava nada de mal a ela. É claro que havia seus dramas, mas o que era de se esperar? Sempre havia drama quando você reunia um grupo de adolescentes e os trancava em uma sala juntos.

"Eu não quero que Glee acabe, San," Britt murmurou.

"Nem eu, B."

Quinn suspirou. "O que a gente faz?"

Mais alguns minutos em silêncio.

"Vamos falar com RuPaul."

–x-

Rachel estava distraída enquanto lia as suas notas antes do terceiro período começar quando a primeira bolinha de papel a atingiu no ombro esquerdo, rolou por cima das suas notas e caiu no chão. Ela olhou para baixo e franziu para o projétil que descansava pacificamente ao pé da carteira. Então, em um ataque em massa, mais duas bolinhas foram arremessadas da sua direita, acertando efetivamente sua cabeça e ombro.

Bufando, ela olhou para o lado e encontrou Brittany acenando e sorrindo e Santana preparando uma quarta bolinha. Quando a Latina se deu por satisfeita com o tamanho da bola, ela mirou na diva, ignorando o olhar irritado que a outra garota estava lançando na direção dela, e atirou.

A bola acertou-a no meio da testa.

"Ha!" Santana exclamou e levantou os braços, um sorriso triunfante no rosto.

"Santana!" Rachel resmungou.

Naquele exato momento, uma quinta bolinha acertou-a na nuca. Rachel já estava vermelha tamanha era sua irritação. Ela virou tão rápido na carteira que suas notas saíram voando, aterrissando ao lado das outras bolinhas no chão.

"Qual é o seu problema?" ela praticamente gritou.

Quinn, que estava sentada uma carteira distante dela, apenas levantou a sobrancelha esquerda e resistiu ao impulso de tacar a outra bolinha que ela tinha em mãos. Rachel parecia bastante irritada e ela preferia que a morena estivesse mais calma quando elas fossem conversar. Uma Rachel Berry calma podia falar em parágrafos quilométricos. Agora, uma Rachel Berry irritada falava em textos completos: com início, meio e fim.

Santana aparentemente tinha outra idéia em mente.

"Olha o tom, RuPaul," ela grunhiu e tacou outra bolinha, essa com mais força e muito mais folhas de papel amassada no meio — era maior do que uma bola de beisebol. Rachel abaixou no momento certo, evitando ser atingida por centímetros, o que fez com que a bola voasse e acertasse Quinn no meio da cara.

"Lopez!"

"Ooops," Santana cantarolou e sorriu inocentemente, "sinto muito, Q". O tom dela foi tão falso que até Brittany conseguiu perceber que a Latina não estava nem um pouco arrependida.

Quinn lançou um último olhar irritado na direção da Latina antes de voltar a encarar Rachel, a qual parecia muito divertida com a situação. O leve sorriso e o brilho naqueles olhos castanhos fizeram com que o coração da loira pulasse uma batida e toda a irritação dela com sua melhor amiga sumiu instantaneamente. Ela teve que resistir ao impulso de sorrir de volta, preferindo manter seu rosto neutro. Elas estavam no meio de uma sala de aula lotada, afinal.

"Berry, nós precisamos ter uma conversa," ela disse em um tom impaciente.

Rachel piscou confusa e olhou para as outras duas Cheerios na sala. Santana parecia estar entediada enquanto amassava mais algumas folhas de papel e Brittany estava desenhando patos um pouco deformados na capa do seu caderno, inocentemente distraída. Ainda confusa, ela voltou a encarar a outra loira, parecendo medir a seriedade da situação.

"Quando você diz nós, você quer dizer 'nós'," ela apontou entre as duas, "ou nós NÓS?" ela perguntou apontando com o dedão para as outras duas garotas atrás dela.

"Nós NÓS."

"Espera, qual 'nós' é esse nós?"

"Urgh, RuPaul, todas nós!"

"Oh," Rachel murmurou e olhou para trás de novo. Brittany agora coloria os patos de várias cores diferentes enquanto cantarolava baixinho e Santana estava desenhando um rosto na bola que ela tinha estado modelando e já tinha adquirido o tamanho de uma cabeça. Quando a Latina parecia satisfeita, ela virou e mostrou sua obra de arte, sorrindo orgulhosa de si mesma. A bola-cabeça era perturbadoramente parecida com Rachel, sendo que com o nariz o dobro do tamanho, já que a Latina tinha usado três folhas só para deixá-lo mais 'realista'. A diva bufou e se voltou para a loira, sentindo-se um pouco ofendida. "Eu não estou nada ansiosa para ter essa conversa, Quinn."

A loira teve que reprimir a vontade de sorrir porque aquela cabeça era simplesmente idêntica à morena. Santana era uma excelente artista, o que poucas pessoas sabiam. A infância da Latina tinha sido dividida entre aulas de desenho e o tempo que ela passava com Brittany e Quinn. Havia cadernos e mais cadernos de desenhos escondidos por todos os cantos: no quarto dela, no armário, na bolsa. Emoções nunca tinham sido fáceis com Santana, então ela encontrou no desenho uma escapatória.

Quase todas as lembranças mais felizes que Quinn tinha da Latina haviam desenhos envolvidos. A mais forte tinha acontecido poucos anos antes, quando a loira e seu pai ainda moravam sob o mesmo teto. Ele tinha gritado com ela por nenhuma razão em particular, apenas pelo prazer de gritar com alguém. Sua mãe tinha apenas ficado olhando de seu lugar preferido no sofá da sala, bebericando ocasionalmente seu copo de uísque. Os dois já estavam tão bêbados e o jantar nem tinha sido servido ainda. Aterrorizada e confusa, Quinn tinha saído correndo pela porta da frente, não se importando em pegar um casaco, e continuou no mesmo passo até chegar à casa da Latina. Algo sobre o lugar sempre trazia segurança a ela. Antes que pudesse bater, a porta voou aberta e olhos negros analisaram-na em busca de qualquer ferimento. Sem encontrar nenhum, ela suspirou e pegou Quinn pela mão, puxando-a para dentro da casa. As duas subiram as escadas em silêncio, este sendo interrompido apenas pelos soluços baixos da loira. Elas chegaram ao quarto da Latina, a qual sentou sua amiga na cama e desapareceu dentro do grande closet que ficava do outro lado. Segundos mais tarde, ela voltou e se sentou ao lado dela, cruzando as pernas e descansando um fino caderno de capa dura em seu colo. "Q," chamou. A loira fungou de leve e levantou seus olhos avermelhados para a outra garota. Não havia nenhum traço de malícia nos olhos negros dela, eles estavam cálidos e tristes ao mesmo tempo. "Aqui." Ela entregou o caderno para a loira e acenou com a cabeça na direção dele. Quinn engoliu as lágrimas que estavam acumuladas em seus olhos e abriu o caderno. Na primeira folha, não havia nada desenhado, apenas um chão preto. Confusa, Quinn franziu e voltou a olhar para a Latina. Esta apenas sorriu e levantou as sobrancelhas. "Continue," sussurrou. Na próxima página, uma pequena mudinha estava brotando. Na outra, aquela muda estava maior, e assim foi, página por página, até que a mudinha se tornou uma grande roseira e, na última página, uma rosa vermelha apareceu no meio dos espinhos, a única cor além do preto do grafite usado para desenhar o resto. "É assim que eu te vejo, Q," ela sussurrou e encolheu os ombros. "Seus pais são os espinhos, e não importa o quanto eles te machuquem, você sempre vai ser a rosa que dá vida à roseira."

"Quinn!"

O grito trouxe a loira de volta ao presente. Ela piscou até que sua visão entrasse em foco, e foi recebida por dois olhos castanhos brilhantes. E eles pareciam aborrecidos.

"Quinn Fabray, eu me sinto no direito de te informar que é extremamente rude ignorar outras pessoas no meio de uma conversa. Eu estou falando aqui por mais de cinco minutos e você nem se deu ao trabalho de —"

"Berry!"

"Oh, nem tente me interromper, Quinn. Você deveria ter pensado melhor antes de começar a me ignorar. Eu estou me sentindo ofendida e um pouco irritada nesse momento, já que você foi quem puxou assunto comigo para depois parar de prestar atenção. E o fato de que Santana começou a arremessar o que aparentemente seria a minha cabeça como uma bola de futebol ao redor da sala não está ajudando nada com o meu humor," ela disse sem parar uma vez para pegar ar.

Olhando ao redor, ela reparou que a bola-cabeça estava de fato sendo passada de mão em mão ao redor da sala, todos os alunos rindo. Santana sorria triunfante em sua carteira enquanto Brittany agora colava adesivos ao redor dos patos coloridos, inconsciente da bagunça ao seu redor.

Rachel murmurou algo como "nariz" e "grotescamente exagerado" e cruzou os braços sobre o peito, resolvendo adotar um pequeno bico para mostrar seu desagrado com a situação.

"Olha, Berry, nós realmente precisamos conversar," ela tentou mais uma vez. A diva apenas lançou um olhar penetrante na direção dela e depois passou a acompanhar o trajeto da bola-cabeça ao redor da sala, agora sendo arremessada de um canto para o outro. Como diabos Santana tinha conseguido fazer aquela bola tão parecida com ela?, pensou exasperada. "Berry, é sobre Glee."

Aquilo fez com que a atenção da morena voltasse à conversa.

"Glee?"

"Sim, Berry. Glee," ela respondeu e escondeu o sorriso triunfante atrás da mão.

"Oh, por que você não me disse isso antes? Muito aborrecimento poderia ter sido evitado, Quinn."

"Tanto faz," a loira murmurou e abaixou rápido para desviar da bola-cabeça que veio voando na sua direção. Assegurando-se de que nada ia ser atirado em sua direção mais uma vez, ela voltou a encarar a morena. "Apenas esteja na sala do coral depois do último período."

Rachel sorriu e concordou com a cabeça. O sorriso sumiu quando a bola-cabeça aterrissou em sua mesa e ela pode ver que mais cinco folhas tinham sido adicionadas ao nariz dela.

"Meu nariz não é tão grande assim!"

–x-

"Hey, Rach!" Brittany exclamou e desceu os degraus onde ficavam as cadeiras entre pulos graciosos. Os grandes olhos da morena ficaram ainda maiores quando ela notou a dançarina que vinha correndo em sua direção e, antes que ela pudesse até mesmo entrar na sala, viu-se presa entre os braços da loira, seu corpo pequeno sendo esmagado até o ponto onde era impossível respirar.

Santana parecia estar se divertindo demais com a situação para separar as duas, e quando a pele naturalmente bronzeada da outra morena começou a ganhar um leve tom de roxo, Quinn começou a ficar preocupada.

"Britt, ela não consegue respirar."

Como a outra loira não afrouxou o aperto, Santana resolveu intervir. Não era como se ela não estivesse apreciando o momento, mas ela também não queria ver Berry ser morta por asfixia. Aquilo simplesmente não teria nenhuma graça.

"B, você vai matar a anã esmagada," chamou.

Parecendo finalmente notar como a outra garota estava se debatendo em seus braços, a dançarina recolheu os braços e observou enquanto Rachel dava alguns passos para trás e enchia seus pulmões com o ar que lhes tinha sido negados.

"Eu sinto muito, Rachel! Às vezes eu me empolgo e aperto demais. Uma vez eu fui tentar abraçar meu peixe, mas ele acabou escorregando e caiu no chão, e quando eu fui tentar pegá-lo, eu apertei demais e os olhos dele acabaram pulando para fora da cabeça dele," ela disse e lágrimas começaram a acumular nos olhos azul-bebê dela.

Exasperada, Rachel olhou para a Latina, que apenas balançou a cabeça e abraçou a dançarina por trás. "Britt-Britt," ela disse em uma voz suave que era reservada apenas para a loira mais alta. "Ele provavelmente já tinha morrido antes de você pegá-lo por causa do tempo que ele ficou fora d'água."

"Então ele já tinha morrido?" Aquilo fez com que ela começasse a chorar. Os olhos da latina se arregalaram comicamente, fazendo com que Quinn rolasse os dela.

"O que Santana está tentando dizer e falhando miseravelmente, Britt, é que a morte do seu peixe não foi culpa sua," Quinn disse. "Como também não foi sua culpa a morte do seu passarinho ou do seu pintinho. Oh, nem o do seu hamster."

"Yeah, esse último foi culpa da Q," Santana acrescentou.

"Santana!"

"Quinn!"

Então as duas começaram a gritar uma com a outra e Brittany continuou chorando. Não muito tempo depois, palavras em espanhol começaram a aparecer no meio dos gritos. Rachel, sentindo-se perdida no meio do fogo cruzado, resolveu consolar a loira mais alta, a qual agora estava soluçando e chorando com mais força.

"RuPaul!" Santana gritou poucos minutos mais tarde. Ela e Quinn estavam a meros centímetros de distância, gritando uma na cara da outra. Rachel nunca iria entender a amizade daquelas duas. Como duas pessoas que passavam noventa por cento do tempo juntas brigando podiam ser tão boas amigas e por tanto tempo era um mistério que devia ser estudado na opinião da morena. "Isso é tudo culpa sua!"

"Santana, fique quieta," Quinn grunhiu e apontou para as cadeiras do primeiro degrau, as mais próximas a elas. "Sentadas, todas vocês."

Rachel correu para obedecer, não querendo aborrecer ainda mais a HBIC. Brittany ainda estava chorando um pouco e fungava ocasionalmente, mas seguiu Rachel, que a puxava de leve pela mão. Santana ficou em pé por mais alguns segundos como uma pequena forma inútil de protesto, mas acabou cedendo no final, jogando-se na cadeira ao lado da dançarina.

"Isso é ridículo," Quinn murmurou para si mesma, caminhando de um lado para o outro na frente das três garotas. Três pares de olhos acompanhavam cada passo da loira. "Nós só temos mais quinze minutos antes do treino começar, então eu vou direto ao ponto. Berry!" ela gritou, fazendo com que a pequena diva pulasse de leve em sua cadeira. "Sylvester enlouqueceu e quer que eu acabe de vez com Glee. Ela basicamente pediu que eu aumentasse o bullying e fizesse todos os membros do clube se virassem contra você, assim você desistiria e Glee acabaria de uma vez por todas, blá, blá, blá. E algo com envelhecimento prematuro e queda de cabelo, mas isso é com Mr. Shue. Deus sabe que essa é a única parte que faz sentido de todo o plano."

Santana concordou com a cabeça.

Todas as três garotas se viraram para a diva, esperando para ver qual seria sua reação. Primeiramente, a morena apenas franziu, como se ela não acreditasse no que estava ouvindo. Depois de mais alguns momentos, o franzido sumiu e seus olhos se arregalaram, como se ela finalmente tivesse percebido que a loira estava falando sério. Afinal, elas estavam falando de Sue Sylvester. Por último, ela voltou a franzir, confusa.

"Hmm, certo," ela disse e levantou a cabeça para poder encarar a loira. "Não me leve a mal, Quinn, eu aprecio que você esteja me dando um aviso antes de fazer com que minha vida nessa escola fique ainda mais difícil e destruir o único lugar onde eu me sinto segura, mas, hmm... Por que você está me avisando?"

Quinn estava surpresa com a reação da morena. Ela esperava que a diva fosse ficar indignada e fosse começar a gritar com ela, ou melhor, ela fosse atrás da treinadora para tirar satisfações e dizer exatamente o que ela achava sobre aquele plano estúpido. Mas nunca passou pela cabeça da loira que a diva fosse ser racional sobre tudo isso. Urgh, ela era Rachel Berry! Ser racional não era um dos muitos adjetivos relacionados à diva.

"O quê?"

"Eu não creio que a treinadora Sylvester tenha planejado isso dessa forma. Quero dizer, isso seria apenas estúpido porque agora eu sei o que você está tentando fazer," ela continuou. "Não que o comportamento de vocês até esse momento não seja satisfatório. Afinal, tacar bolinhas de papel em outras pessoas é algo que eu acho ser extremamente irritante," ela acrescentou enquanto lançava um olhar afiado na direção da Latina. Santana apenas rolou os olhos e cruzou os braços.

"É óbvio que Sylvester não queria que ela te contasse, RuPaul," Santana rosnou.

"Então por que você —"

"Berry, eu não quero acabar com Glee," Quinn interrompeu. Na verdade, o fato de que a diva pensava que ela iria tão facilmente acabar com o único lugar onde ela tinha se sentido em casa no último ano a deixava um pouco triste. "Por isso eu te contei. Eu não sei o que eu vou fazer," disse e se jogou na cadeira ao lado da diva.

Alguns minutos se passaram em silêncio. Nenhuma das quatro sabia o que falar. Santana estava frustrada por não conseguir bolar um jeito de sair daquela situação. Quinn estava se sentindo sufocada, algo que ela não sentia desde que morava junto com seu pai. Rachel estava surpresa e um pouco orgulhosa sobre a atitude da HBIC. Brittany apenas estava confusa sobre como todos os seus bichinhos de estimação tinham acabado morrendo.

"Eu posso sair da equipe," a loira sugeriu.

"Não," Rachel murmurou. "Nenhuma de vocês pode."

Três pares confusos de olhos se viraram em sua direção. Rachel suspirou.

"Olha, acredite ou não, muitas coisas mudaram depois que vocês entraram no clube. Nós não somos mais jogados dentro de lixões com tanta freqüência; agora Azimio só deixa Artie sentado na privada do banheiro do segundo andar duas vezes por semana; Tina consegue ficar quase a semana inteira sem que alguém arrombe seu armário; até mesmo as slushies diminuíram. Bem, não para mim, mas para o resto do clube. Se vocês saírem das Cheerios, Glee vai perder o pouco de respeito que ele tem. Vai ser o inferno que foi o início tudo de novo."

Mais alguns segundos de silêncio, então:

"Ok, eu não vou sair," Quinn murmurou, o que lhe rendeu um sorriso da morena. "Mas Sylvester com certeza vai me expulsar da equipe quando ela perceber que eu não estou fazendo nada. Não vai fazer nenhuma diferença no final."

Os olhos da diva brilharam de uma forma um pouco maníaca. Quinn se inclinou um pouco para longe por puro hábito, lembrando-se de como nada bom vinha em seguida quando Sue tinha aquele mesmo brilho nos olhos.

"Então faça," ela disse e sorriu.

"O quê?"

"Pense, Quinn," Rachel disse e pulou da cadeira. Ela estava animada demais com seu plano brilhante para ficar sentada. "Sue quer que você aumente o bullying, então faça. Ela não vai poder notar que há algo de errado com o plano dela se você fizer exatamente o que ela pediu. E, honestamente, não há muito mais o que fazer para piorar o que eu tenho que agüentar todos os dias. Mais slushies? Eu posso trazer mais roupas de casa. Mais insultos? Eu sou orgulhosa demais para dar ouvido a eles. Se eu souber o que vocês vão jogar em cima de mim, eu vou estar preparada para isso. No final, quando ela perceber que nada do que vocês estão fazendo está adiantando, ela vai se cansar e seguir em frente. Desse jeito, Glee fica intacto e vocês continuam na equipe. Deus, eu sou um gênio," acrescentou e sorriu satisfeita consigo mesma.

Enquanto isso, Quinn, Santana e Brittany estavam olhando para ela de boca aberta.

"Berry, você tem alguma idéia do que você está sugerindo?" Santana perguntou. Ela podia ver o que a outra morena queria dizer. Era um bom plano, para falar a verdade. Talvez um pedacinho dela estivesse um pouco irritado por não ter tido a idéia ela mesma, mas o resto estava apenas confuso.

"Eu sei que vai ser difícil, Santana. Mas se algumas slushies a mais são o preço para manter Glee de pé, eu vou aceitá-lo sem pensar duas vezes," ela respondeu.

Quinn estava dividida. Rachel estava oferecendo a saída mais simples. Talvez não a mais rápida, mas definitivamente mais simples. Tudo o que ela teria que fazer era, bem, tudo o que ela já tinha feito durante os dois anos que ela tinha estado em McKinley. Sue iria ficar entediada quando ela visse que a morena não ia desistir do clube. Mas aumentar o bullying era o que ela tinha prometido não fazer depois da adoção. Ela tinha prometido a si mesma que não encostaria em um copo de slushie pelo resto dos anos que ela ficaria naquele lugar. Se ela podia quebrar as promessas que ela fazia para si mesma tão facilmente, como ela poderia confiar em si para manter as promessas que ela fazia para outras pessoas?

"Berry, eu não —" começou.

"Quinn," Rachel interrompeu. Ela tinha visto o olhar que tinha passado pelos bonitos olhos cor de avelã da loira — como se ela estivesse encurralada. A diva caminhou os poucos passos que a separavam da outra garota e cobriu suas mãos que estavam apertadas em punhos em seu colo com as dela. Quando Quinn não a empurrou para longe, ela sorriu. "Eu não vou mentir para você, eu estou um pouco confusa sobre o porquê você está tão relutante em fazer o que eu sugeri. Santana está quase pulando de alegria na cadeira," ela brincou. A Latina rolou os olhos e quase — quase — conseguiu esconder o pequeno sorriso que apareceu no canto dos seus lábios. "Mas se você se sente tão culpada em jogar a slushie, você pode sempre me ajudar a me limpar depois." Sorriu.

Quinn sentiu seus olhos se arregalarem de leve quando imagens sobre as mil e uma maneiras que ela podia ajudar Rachel a 'se limpar' passavam pela sua cabeça. Santana começou a rir histericamente da cara da loira.

"Eu tenho quase certeza de que ela não quis dizer desse jeito, Q," ela disse entre risadas. Brittany apenas balançava a cabeça e soltava risadinhas, batendo de leve nas costas da Latina, que tentava limpar as lágrimas que tinham escapado durante a crise de riso. Rachel não entendia o que tinha de tão engraçado no que ela tinha falado. Quinn apenas fechou a cara e tentou fazer com que suas bochechas parassem de corar.

Quando a Latina conseguiu parar de rir e voltou a respirar direito, elas já estavam cinco minutos atrasadas para o treino. Brittany se levantou e puxou Santana com ela, entrelaçando seu dedinho com o da outra garota e recebendo um sorriso gentil em troca.

"Melhor trazer mais mudas de roupa amanhã, RuPaul," a Latina avisou e sorriu com malícia. "Se Quinnie aqui não fizer nada, você pode ter certeza de que eu vou."

Com isso, as duas Cheerios se viraram e saíram da sala, correndo em direção ao campo. Se havia algo que Sue Sylvester não admitia era atraso. Elas já podiam prever as dores que elas sentiriam depois de correr as vinte voltas extras ao redor do campo por causa daqueles malditos cinco minutos.

Quinn abaixou-se para pegar a bolsa que ela tinha deixado ao lado da cadeira e já ia andando em direção à porta quando Rachel segurou-a pelo braço. As duas se encararam por alguns poucos segundos em silêncio. "Obrigada, Quinn," a morena disse e sorriu.

"Vai ser você quem vai levar slushies diárias, Berry," a loira murmurou e desviou o olhar. "Você não deveria estar me agradecendo."

Rachel apenas apertou o braço dela com um pouco mais de força e deixou a loira ir. Ela andou até os degraus para recuperar sua própria bolsa e os livros que ela levaria para casa. Quando se virou para ir embora, ficou surpresa ao ver que Quinn ainda não saído do mesmo lugar.

"Você é maluca, sabia?" perguntou a loira.

Rachel apenas encolheu os ombros. "Yeah, você não é a primeira a me dizer isso, acredite."

Quinn apenas balançou a cabeça e deixou um pequeno sorriso escapar. Talvez aquele não fosse o jeito como ela escolheria se aproximar da morena, mas era definitivamente uma oportunidade.

E ela não deixaria a oportunidade passar.

"A gente se vê, Berry."

"Tchau, Quinn."




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