Agridoce escrita por Costtolinana


Capítulo 2
Quando Me Apaixonei


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo de "Agridoce" *--*~
Espero que gostem ♥



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Quando eu me apaixonei, tinha somente seis anos, justamente quando o vi pela primeira vez. Seus olhos acobreados me chamaram atenção quase que instantaneamente. Ele se parecia tanto com o nosso pai... A cor loira dos cabelos, o queixo afilado, a postura altiva, os traços elegantes…

Eu estava envergonhada. Uma criança miúda como eu não se comparava com um rapaz quase feito e atraente. No momento em que minha mãe puxava minha mão para subir em direção ao meu quarto, imaginava como eu ficaria quando me tornasse uma moça. Será que eu ficaria elegante tanto quanto aquele ser?

- Claro que vai minha querida, você será muito mais bonita do que aquele imundo. – Respondeu a minha mãe quando perguntei. – Serás a dama mais bela que todos já viram, serás cortejada por vários nobres e serás invejada por todas as mulheres da sociedade. – Dizia com certo désdem no fim.

Um sorriso enorme se espalhou por meu rosto. Fiquei a noite toda imaginando sobre o que mamãe me disse naquela tarde. A mais bonita. Era um título e tanto, não era? Eu achei na época, que se comparava ao título de rainha do país. Como eu era uma criança tola.        

Os dias que ele passou em nossa casa foram poucos. Mamãe não me deixava sair do quarto, dizia que era para eu não me contaminar caso ficasse perto de meu irmão. Só conseguia vê-lo de longe, escondida. E assim passaram os dias, ele foi embora.

Fiquei tão triste por não poder passar mais tempo com ele, conhecê-lo melhor, saber do que ele gosta, até porque, ele é o meu irmão. Mas, minha mãe nunca deu esta oportunidade. Acho que é realmente por isso que eu nunca o considerei como um irmão de verdade. Sempre o olhei com curiosidade e, até posso arriscar, com certo desejo.

Anos se passaram. Exatamente nove anos desde a última vez que o vi. Nunca tinha esquecido aquele olhar penetrante e jovial que carregava em seus olhos quando eu espiei por detrás da saia da minha mãe.

Em todos esses anos me dediquei aos estudos e diversos passatempos para completar a minha personalidade e me tornar uma verdadeira dama que a sociedade elogiava. Todos os amigos de meus pais elogiavam a minha eloquência ao falar e a minha postura perfeita diante de todos. Até quando alguns dos convidados me cortejavam longe dos outros presentes, eu conseguia me sair muito bem em não destratá-los em momento algum. Tudo isso era para que eu pudesse ser a dama perfeita aos olhos dele. Sim, eu sei que isso é muita idiotice de minha parte, que eu estava sendo muito infantil por mais que os meus modos e o meu corpo bem desenvolvido dissessem o contrário, mas, eu queria deixar de ser a sua irmãzinha para ser a única para ele.

Esse era o meu maior objetivo. E com isso, passaram mais dois anos.

Estava no jardim contemplando o dia límpido e fresco. O vento calmamente fazia as folhas farfalharem e esse som me deixava calma. Tirei os olhos do livro que lia e vislumbrei o céu azul. Sorri de leve agradecendo pelo dia calmo, sem lições ou deveres. Respirei devagar, queria sentir a beleza do dia até pelo ar que enchia os meus pulmões. Infelizmente, acabei adormecendo.

O sol já estava quase sumindo quando acordei. Meus olhos se abriram tão devagar quanto eu poderia, já que ainda estava com muito sono. Não sabia que horas eram naquele momento, olhei para os lados esperando acordar totalmente. Quando a dormência passou, percebi que já era muito tarde, deviam estar me procurando. Me levantei rápido demais, quase caindo pela cabeça pesada do sono, respirei fundo e corri. Não era muito boa em corridas, até porque, essa não era a atividade de uma verdadeira dama – o que venho estudando a muitos anos de minha vida para ser.

Cheguei ao portão principal ofegante. Minha mãe, que tinha algumas rugas de preocupação em seu belo rosto, fez uma cara feia quando me viu. Acho que era uma mistura de raiva e desgosto além da preocupação aparente.

- O que você pensa que está fazendo? – Falou desesperada quando cheguei mais perto. – Não pensou em como estava com o seu sumiço? – Nessa última frase, quase gritava.

- Me desculpe, acabei adormecendo. – Foi o que respondi. Não era mentira, realmente acabei dormindo, o que não suavisou a expressão no rosto de minha mãe que agora era de pura irritação.

- Como ousa agir de maneira inconsequente? Isso não é coisa que uma dama faça. – Deu ênfase na palavra dama.

- Não foi a minha intensão. – Respondi cabisbaixa.

- Isso não é desculpa menina. Se tivesse acontecido alguma coisa à você? Como eu ficaria perante a sociedade? Quer que pensem que eu sou uma mãe relapsa? – Finalmente ela gritava. Sua voz nervosa atingiu os pontos mais agudos que eu já ouvi em toda a minha vida. Nenhuma peça de ópera se comparava àquele grito. – Vá já para o seu quarto e repasse todas as regras de como se comporta uma dama da alta sociedade. E só saia de lá amanhã pela manhã.

Tentei protestar, o que foi inútil. Andei a passos lentos, quase arrastados para os meus aposentos. Isso sempre acontecia quando alguma coisa saía fora de controle da minha mãe em relação a mim.

Ela tinha uma verdadeira obsessão por mim. Não, tenho certeza que era pela minha educação, não sei dizer ao certo. Acho que era pelo fato do meu pai não lhe devotar muita de sua atenção e eu por eu ser sua única filha. Eu sentia que ela tinha medo que não conseguisse arrumar um noivo digno para mim ou poderia ser o caso de se livrar o mais rápido possível da responsabilidade de me criar. Sempre pensei que era um pouco dos dois. Fora o hábito de sempre - não importa o que fosse - de pensar no que os seus amigos nobres da alta sociedade pensavam dela e de nossa família.

Hipocrisia. E estava bem estampada em cada sorriso que ela destribuía pelos salões dos bailes.

Sabia que não iria jantar esta noite, era uma uma maneira da minha mãe me castigar. Fiquei o tempo que tinha para “aprender as boas maneiras de uma dama” observando o céu que mudava de cor com a chegada da noite.

Pensei em tantas coisas enquanto olhava o céu estrelado… Pensei na minha vida, pensei se um dia encontraria alguém que me amasse e se esse sentimento seria recíproco, pensei em tantas outras coisas que eu não recordo mais, pensei nele. No que estaria fazendo, no que estaria pensando, se lembrava de mim. Depois de tantos anos, eu mal lembrava de sua voz, mas o seu sorriso ficou registrado em minha memória. Aquele rosto travesso e juvenil pelo qual me encantei.

- Senhorita. – Alguém me chamava delicadamente – É hora de acordar, o sol já está alto lá fora. – Terminou abrindo de vez as cortinas – Sua mãe está a sua espera.

Abri os meus olhos quando ela falou em minha mãe. Me estiquei o máximo que eu pude antes de me levantar de uma vez.

- Francisca, meu pescoço está doendo! – Reclamei, movimentando a minha cabeça de um lado para o outro, bocejando no fim.

- Acho que foi pelo mal jeito que a senhorita acabou adormecendo ontem a noite. – Respondia com paciência. Isso era uma das coisas que eu mais gostava nela, sempre disposta a cuidar de mim e me ouvir. Acho que era por isso que eu sempre fui tão apegada à ela.

Acordei na poltrona perto da janela, que estava fechada. Era comum, em noites tão lindas quanto aquela, eu acabar adormecendo e Francisca vinha fechar a janela. Principalmente quando era por conta de alguma disciplina maluca da minha mãe.

Me estiquei o máximo que eu podia até sentir uma dor aguda que me fez encolher um pouco.

- Sinto que vou ficar alguns dias com essa dor. – Disse movendo meu pescoço de um lado para o outro, ouvindo um pequeno estralar pelo movimento.

- Isso acontece quando se adormece em local inapropriado, Senhorita. – Respondeu Francisca, seca. Ela me respondia assim na intenção que eu aprendesse a não ser tão destraída como eu era, o que não dava muito certo.

Com a ajuda de Francisca, me arrumei o mais rápido possível, descendo as escadas o mais ereta e delicada que me era permitido devido a dor que sentia no pescoço.

- Está atrasada, menina. – Quase gritava novamente. – Quando vai aprender que o homem não deve esperar a dama, e sim o oposto? – Falava com toda a irritação que poderia expressar.

- Sinto muito, não era a minha intenção demorar, estava um pouco indisposta. – Abaixei a minha cabeça em sinal de desgosto. Eu nunca gostei dessas coisas de “cem regras cruciais para ser uma verdadeira dama” que a minha mãe insistia em dizer e repetir quase todos os dias. Era irritante tê-la ao meu lado reclamando de tudo que eu fazia, me fazendo sentir inferior, e muitas vezes, afirmando que eu não deveria ter sido filha dela, que me deixar nascer foi uma perda de tempo.  

- Não abaixe a cabeça ao falar! – Gritou mais do que pretendia, dando, em seguida, um leve pigarro – Uma filha da nobreza deve sempre estar de cabeça erguida, independente de estar ou não em uma situação favorável. – Fazia agora um gesto que mostrava a sua altivez.

Na mesa, tentei comer o máximo que eu pude, obedecendo todas as regras de etiqueta e nunca deixando a minha mãe perceber que eu comia a mais do que todas as manhãs. Ela sempre dizia que eu nunca casaria se fosse um pouco mais cheia e controlava o que eu comia. Quando ela começava aquele falatório sobre ser esbelta para arrumar um marido eu pensava em qualquer coisa para não prestar atenção a sua voz que, nessas horas, passava de irritante habitual para absurdamente alta e irritante.

O tempo passou calmamente, para o meu deleite. Sorri para o céu pintado de nuvens quando terminei as minhas lições e corri em direção ao jardim. Sei que quando voltasse, a minha mãe estaria reclamando comigo novamente, mas eu amava correr livre pelo grande e bem cuidado jardim. Claro que não era um trabalho muito fácil com esses vestidos rodados e a falta de hábito para a corrida, mas eu não me importava. Só queria ser livre.

Na hora do jantar, estávamos todos a mesa. Quando digo todos, quero dizer que o meu pai nos acompanhava. Ao término do jantar ele olhou sorridente para nós duas, e passou a falar.

- Minhas queridas, daqui a duas semanas, daremos uma festa. – Sorria. Os dentes perfeitamente alinhados e brilhantes afirmavam que ele estava muito feliz.

- Duas semanas? Meu querido, não é pouco tempo? – Minha mãe parecia desesperada. Sempre que dávamos festas, ela arrumava os preparativos no mínimo com um mês de antecedência.

Eu perguntei a coisa mais importante naquele momento.

- Por qual motivo daremos essa festa, meu pai? – Falei por fim. A face de minha mãe parecia um pouco surpresa, com toda certeza ela não havia pensado nisso.

- Para a chegada de uma pessoa muito especial, minha linda menina. – Seu sorriso aumentava a cada palavra. – Vamos dar uma festa de boas vindas ao seu irmão! – Praticamente cantou essa última frase.

O rosto da minha mãe se retorcia em raiva e desgosto. Só de pensar em preparar uma festa em sua linda casa para a pessoa que ela mais detestava em todo o mundo a deixava de mal humor. Mesmo a ideia de organizar uma festa para mostrar a sociedade que ela é um exemplo de esposa e mãe dedicada e que a nossa família é perfeita não a fazia melhorar sua expressão.

Eu congelei por um segundo. Quantos anos faziam que eu não o via? Nove? Dez? Eu tinha perdido a conta no momento. Tudo que pensava era naquele lindo rosto, cheio de charme e beleza. Como será que ele estaria? Senti meu coração falhar uma batida, não conseguia acreditar no que tinha ouvido. Vi a minha mãe falar alguma coisa para o meu pai, o que não prestei a mínima atenção. Só pensava em como seria o momento em que o encontrasse novamente. Dessa vez eu estava maior, minha mãe não poderia me impedir de vê-lo, abraçá-lo, ouvir a sua voz.

Em meu quarto, fechei os meus olhos tentando imaginar a sua voz. Será que estaria muito grossa? Naquela época, eu não o ouvi falar muito, por isso, não recordava de sua voz em nenhum momento. Agora sim eu poderia ter mais contato, mostrar a ele todo o meu esforço durante todos esses anos para me tornar a mais bela dentre as damas de minha idade.

E assim, duas semanas passaram como uma fina chuva de verão.


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Notas finais do capítulo

É isso aê meus queridos ;*
Como sempre, agradeço a minha peixinha beta Carol por ter me ajudado em mais um capítulo. Agradeço também as pessoas que deixaram review, vocês não sabem como eu fiquei feliz com eles, por vocês, eu vou sempre procurar melhorar cada vez mais, me aguardem ♥
Sim, se por algum acaso eu estiver indo rápido demais, vocês podem me avisar para que eu possa dar uma freada, viu? (se bem que eu acho que vai ser ao contrário)
Bom, por hoje é só pessoal! o>
Até a próxima meus divos ;D



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