The More Boys I Meet... escrita por Jones


Capítulo 1
Be my Valentine?




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Meu nome é Abigail.

Quando você ouve esse nome, imagina uma senhora de noventa e nove anos e seis meses e não alguém de vinte e seis anos e perfeitamente normal como eu. Ok, eu não sou perfeitamente normal. As minhas amigas normais estão grávidas, noivas ou prestes a se casar. Eu estou solteira, com uma criação razoável de cachorros – são três enormes, chamados Tobias, Jake e Pete – e uma carreira estável. Porque carreira é mais importante que homens, é o que eu acho.

Mas meu nome é Abigail.

Meus amigos normalmente me chamam de Abbie, meu pai me chama de Biggie – deve ser alguma brincadeira com minha estatura mediana de um metro e sessenta. – e minha mãe e alguns familiares me chamam de Gail. Gail me lembra Gay. Nada contra os gays, eu amo os gays, tenho muitos amigos gays... Gosh, isso se pareceu bastante com homofobia. Eu não sou homofóbica. Posso apagar as últimas frases?

Do que eu estava falando mesmo?

Ah, que meu nome é Abigail.

Mas esse cara com o qual marcaram um encontro às cegas para mim, continua me chamando de Andrea. Em que universo esses são nomes parecidos, senhor? Começam com a letra ‘a’ e essa é a única semelhança. Única.

Eu deveria saber que encontros que minha mãe arruma não são confiáveis.

Ela sempre tenta me juntar aos espécimes mais esquisitos: filho do padeiro quando eu tinha dezoito e ainda era bonita – palavras dela; primo de segundo grau do filho do pastor quando eu tinha vinte e já estava na hora de me casar – continuam sendo palavras dela; neto do presidente comunitário do meu antigo bairro no subúrbio de Londres, hoje em dia, quando eu terei sorte se alguém ainda quiser se casar comigo – é, ela não para de falar.

E eu nem queria me juntar a ninguém.

Sério, eu acho que vinte e seis anos é uma idade perfeitamente normal para ser solteira. Eu não penso em ter filhos e nem em me casar, mas a Rose disse que a madrinha do casamento dela deveria levar um encontro para a cerimônia. E eu achei isso bem idiota e me recusei a levar um encontro até começarmos a arrumar o esquema das mesinhas e todos se sentarem em casais e eu ser o castiçal.

Não curto ser o castiçal.

O problema é que o casamento é em uma semana e essa semana termina no dia dos namorados. Ou seja, eu tenho seis dias para arranjar um encontro, porque marcar encontro no dia dos namorados vai assustar mais a mim que ao cara e porque eu já preciso do par no jantar de ensaio. Sério, é deprimente, parece desespero. Não que eu não esteja desesperada, estou desesperada, mas não é por amor: só preciso de um cara legal no qual darei um chute no dia seguinte, nada difícil.

Aliás, não deveria ser tão difícil.

Sou baixinha, verdade, mas os sapatos me deixam com mais uns dez, às vezes quinze, centímetros. Meus cabelos são cacheados e abaixo dos ombros, eu gosto deles, de certa maneira, mas não saio parecendo uma maluca. Acho que me vejo tão bacana no espelho que eu não deveria precisar me encontrar com essas pessoas.

***

Era a segunda noite de tentativas.

Hoje é a vez de Carl Johnson, amigo de infância do meu irmão mais velho e meu primeiro namorado. Já imaginava que ia ser uma porcaria de encontro quando disse que iria. A necessidade faz um sapo pular.

– E então docinho, quando vamos para o seu apartamento? – Ele perguntou enquanto eu engolia a sobremesa para fugir dali.

– Como é que é? – Me engasguei.

– É, você sabe. – Ele piscou, e fez uma careta estranha. – Como nos velhos tempos.

– Que velhos tempos? – Eu perguntei enojada, erguendo uma sobrancelha. – Eu tinha quatorze anos quando namorei você, Carl, nós não fizemos nada além de andar de mãos dadas e uns beijinhos na sua caminhonete.

– Hey... – Ele disse, e eu pude ouvir as engrenagens enferrujadas em seu cérebro trabalharem para que ele pudesse obter uma memória sobre mim. – Ah, é verdade, acho que estava te confundindo com outra pessoa.

Esse é o pesadelo dos encontros.

De verdade. O cara quer me levar pra cama e nem lembra quem eu sou, além de ter passado a noite inteira falando sobre como gostava dos ovos do café da manhã dele. Eu detesto Noiva em Fuga.

– Mas vai rolar né? – Ele perguntou, ainda me encarando com os olhos ‘sedutores’.

– Nem em um milhão de anos. – Eu disse, me levantando da mesa. – Nem em outra vida.

O cara era bonito, tinha os olhos verdes belos, os cabelos eram loiros e bem curtos. De boca fechada, era o cara ideal. Quando abria a boca, me fazia querer vomitar.

– Gatinha, que isso! – Ele berrou atrás de mim. – Não foi para isso que passamos uma hora conversando? Para fazer gostoso depois?

– Deus! Que nojo. – Eu disse abandonando o restaurante.

– Eu sei que você me quer. – Ele veio andando atrás de mim, fiquei com medo e entrei no carro.

– Não. Não mesmo. – Dei a partida e saí dali antes que pudesse vomitar.

Muito difícil.

Muito.

***

Terceira noite.

E eu fui bem otimista para esse encontro.

Nunca liguei para essas coisas bestas como restaurantes chiques e roupas caras, mas o cara me levou para comer sushi e eu amo sushi.

Contudo, eu estou começando a me achar a criatura mais inteligente do planeta saindo com esses abestados. Eu tinha esperança com esse: professor, trinta anos, conhecido de Rose.

Me ferrei.

– Toc-toc. – Ele disse pelo que parecia ser a milésima vez.

– Quem é? – Eu perguntei, virando a dose de saquê. – Quem é?

– Repete. – Ele respondeu, quase não conseguindo segurar o riso.

– Repete quem? – Girei os olhos, disfarçadamente.

– Repete, repete. – Ele respondeu rindo e eu enchi a boca de sushi para não xingá-lo.

O cara se acha legal e engraçado.

Bem, eu não acho. Não acho nem um pouco.

Chato de galocha, passou a noite usando muitas palavras para falar da mesma coisa, fazendo piadas sem graça e tentando passar a mão nas minhas coxas. Piadas de mal gosto, outra noite desperdiçada.

– Toc- toc. – Ele falou, já rindo.

– Quem é? – Eu perguntei, mordendo o as bochechas para controlar a raiva.

– Pirulito. – Ele respondeu, quase chorando de rir.

– Pirulito quem? – Me preparei para o pior.

– Pirulito que bate, bate! – Então ele começou a gargalhar, batendo no meu ombro.

Um, você não vai bater nele. Dois, ele provavelmente sofre de algum problema mental. Três, ele precisa de ajuda. Quatro, vai ver você é mau humorada. Cinco, não, definitivamente não é isso.

– Hein, eu estou indo embora, foi um prazer te conhecer! – Só que não, acrescento mentalmente.

– Não, eu te levo. – Ele diz, pagando a conta.

– Não mesmo, eu pego um taxi. – Eu levantei e apertei a mão dele. – Até mais!

– Ok! – Ele diz, tentando me puxar para um beijo. E conseguiu.

– Sério mesmo, tchau. – Eu disse o empurrando.

Eu atraio gente esquisita não é?

Acrescentei “matar Rose” na minha lista do que fazer antes de morrer.

Eu beijei aquele sapo.

Beijei.

E não que eu tivesse a esperança que ele virasse um príncipe, mas ele poderia virar um asno e seria mais inteligente que aquele mongol.

E não é como se eu não tivesse tentando, eu estou dando uma chance, mas tá difícil.

***

Esse encontro quem marcou foi Lily.

Essa era a primeira dica de que tudo daria errado. A segunda dica foi que o cara é colega de trabalho de Hugo e a terceira, foi que o sujeito de voz grossa e palavreado rude insistiu em me buscar e me deixar em casa.

O problema de deixar um cara te buscar é que depois você não tem veículo para fugir para casa. O problema de deixar um cara te levar em casa, é que ele sempre quer entrar para tomar um café.

A má notícia é que eu não tomo café, sucker.

Todos devem estar me achando metódica e um verdadeiro porre, deve ser por isso que eu não tenho um namorado. Mas se vocês sofressem o que eu sofro, iam ser metódicos e um porre também, até porque eu não estou dividindo nada mais que a verdade: eu não tenho sorte para homens, não só não tenho sorte como tenho um dedo podre que acaba escolhendo os piores tipos possíveis.

– Então eu disse a ela "eu sou o homem! Eu vou te buscar a hora que eu quiser!". - Ele falou empolgado, batendo na mesa e entornando a taça cheia de vinho na garganta. - Ela disse que queria que eu fosse buscá-la às sete e quinze, e só para mostrar quem mandava, eu estava lá às sete.

– Mas você estava lá no horário combinado, certo? - Eu perguntei, erguendo as sobrancelhas, sério, que idiota.

– Não, eu cheguei na hora que eu quis. - Ele falou, relaxando na cadeira.

– Você chegou antes, às sete e quinze você estava lá. - Eu estava apontando para o óbvio. - Não fez diferença pra ela. Nenhuma.

Ele pareceu ponderar sobre o assunto.

Demorou algum tempo até ele perceber que eu tinha razão. Eu estava até me divertindo com a ignorância dele.

Eu não era a pessoa mais inteligente e nem a mais esperta, mas era engraçado como eu encontrei os espécimes mais ignorantes da terra. O Jason, esse cara do encontro, não é burro, mas é meio lerdinho, coitado. Sei que bebemos demais, tipo, bastante e eu estava rindo do quão bobalhão com pose de machão ele era.

Sei que do nada o infeliz começou a chorar e apertar minha mão.

– Eu a amava, sabia? - Ele começou. - Mas agora não importa.

– Você vai superá-la. - Eu tentei dar o meu apoio, mesmo sem saber quem era 'ela'.

– Nunca, eu sinto esse vazio aqui dentro sabe? - Ele falou, esmurrando o próprio peito. - É como se... Ela tivesse arrancado minha cabeça com os dentes!

– Há quanto tempo vocês terminaram? - Perguntei, tentando soltar minhas mãos doloridas das dele.

– Três dias. - Ele chorou.

– E você já está em outro encontro? - Perguntei, incrédula, aproveitando a oportunidade para escapar.

– Estou tentando esquecê-la. - Ele disse, enxugando as lágrimas. - Mas está difícil.

– Há quanto tempo estavam juntos? - Fingi interesse.

– Três semanas, mas pareceu uma vida inteira.

– Três semanas? - Eu sorri, me divertindo internamente. - Isso parece um relacionamento longo e duradouro. Vá reconquistá-la!

– Você tem razão... Você tem razão! - Ele disse, colocando a jaqueta de couro. - Ah, mas e você?

– Eu? Eu vou ficar bem... - Exultante? Feliz? Livre?– Triste, mas eu supero. Parecia que teríamos um futuro brilhante, mas acho que não somos almas gêmeas.

Eu nem me importei em pegar um taxi e ir para casa.

Aliás, nem me importei em ouvir as músicas chatas de corno que ele estava escutando.

Eu amei aquela música.

***

Quinto encontro e saco cheio.

Dessa vez Mark Lewis – escolhido da noite pelo meu irmão mais velho – me levou para um bar. Não sei que mulher na galáxia, aprecia um primeiro encontro em um lugar que é a única mulher além da garçonete.

– Eu comprei um Playstation três ontem, destravado! Já comecei a fazer download dos jogos! – Ele disse em um ponto da noite.

– Ah, eu tenho um Xbox, mas o meu é travado, prefiro comprar os jogos originais. – Eu falei, tomando um gole da minha cerveja. – É que caso o meu Xbox quebre, se eu destravar, não dá para consertar na garantia.

– Ah, mas você vai ficar gastando dinheiro com jogos? – Ele perguntou incrédulo, levando a mão esquerda à virilha e realmente coçando sua virilha. Eca. De boa, eca. – Eu comprei um que o gráfico é perfeito, cara! Parece que o sangue que sai do personagem é verdadeiro sabe e aí a gente ouve o os ossos quebrando e os miolos do cara se espalhando, às vezes até rola do intestino escapar sabe?

Eu amo videogames, sério. Eu sou viciada, eu e James – um amigo meu, primo de Rose – passamos boa parte da nossa vida jogando videogame. Aliás, ele é o meu nerd pessoal de videogame e computadores. Mas eu realmente não gostaria de estar falando sobre videogames a noite inteira, eu mencionei que eu gostava e que eu era campeã de Guitar Hero para play station 2 e tenho todos os jogos de dança do kinect.

Só sei que o cara estava usando umas calças cargo enorme e um ego que combinava.

– Eu passo boa parte do meu dia na academia. – Ele disse, flexionando o braço. – Não só porque eu sou personal trainer, mas porque a gente tem que se cuidar né?

– É... – Concordei, tentando evitar girar os olhos.

– Falar nisso, acho que eu posso te conseguir um ótimo desconto na academia! – Ele falou, empolgado e eu cruzei os braços.

– Você está me chamando de gorda? – Eu semicerrei os olhos.

– Não! Não! Que isso? – Ele se apressou em se defender. – Mas não posso dizer que você está no seu peso ideal.

Eu nem estava me sentindo tão ofendida, mas levantei e fui embora. Para todos os efeitos, eu fui embora porque ele me chamou de gorda. Ah, e antes de ir, eu joguei um shot de tequila na cara dele, desperdício de bebida, mas não de drama.

E o drama é o mais importante.

***

Sexto e último encontro.

A última esperança.

E dessa vez as coisas pareciam que iriam dar certo. O cara era lindo, elegante e me levou para comer comida italiana, simples e requintada ao mesmo tempo. Claro que com um cara daqueles, eu não me importaria em ir comer cachorro quente na esquina.

Mandei um torpedo para Izzie a agradecendo pelo cara e ela me mandou outro dizendo que se não namorasse Alvo, ela mesma sairia com ele. E cara, quem não sairia?

– Eu gostaria muito de ir à Nova Iorque ano que vem. – Ele disse, colocando um vinho de nome esnobe na minha taça. – Eu conheço muitos lugares, mas nunca tive a oportunidade de visitar Nova Iorque.

– Nossa! Eu também! Sempre quis ir à Nova Iorque. – Eu tentei não parecer muito histérica, mas estava difícil.

– Talvez possamos ir juntos no futuro. – Ele disse, me olhando com aqueles olhos azuis sedutores.

Minha reação natural deveria ser me assustar com esse lance de planos a longo prazo, mas ele era tão lindo e legal.

– Desculpe! – Ele disse após bocejar, cobrindo a boca com a mão direita. – Ontem passei a madrugada assistindo a sétima temporada de Friends!

– Você curte Friends? – Eu perguntei, extasiada. – Eu também!

– Meu personagem favorito é o Chandler! – Ele falou, fazendo uma imitação de uma das caretas do Chandler.

– O meu também! – Eu disse. – E depois a Rachel!

– Eu amo a Rachel! – Ele falou, com os olhos brilhando. – E a Jennifer Aniston é linda.

– Nossa, eu também acho.

Pronto, era o cara perfeito. Gostava das coisas que eu gostava, era lindo, interessante e não muito alto, mas nem era baixinho. Não falou nada nojento, está me chamando de Abbie e ele é lindo. Lindo.

Muito lindo.

E inteligente.

– Eu adoro uma comédia romântica, drama e até um filme de ação às vezes. – Ele divagou, tomando um gole de vinho. – Mas eu gosto de filmes mais antigos, eu amo filmes dos anos oitenta e alguns dos anos noventa, são os reis da comédia... Mas eu amo filmes da Audrey Hepburn.

– Eu também! – Eu falei, com impressão de que tinha falando muitos ‘eu também’ essa noite. – Isso pode soar bobo, mas eu sempre quis ir a Nova Iorque para tomar café da manhã em frente ao Tiffany’s.

– Não é bobo. – Ele disse sorrindo. – Muitas pessoas tem esse sonho!

– Eu sei, mas é quase uma obsessão, sabe? – Eu falei, tomando mais um gole do meu vinho. – Já até treinei fazer coques nesse cabelo estupido e cacheado.

– Seu cabelo é lindo! – Ele falou, esticando a mão para tocar meu cabelo.

– Ah, obrigada. – Eu disse instantaneamente corada.

– É a verdade, combina com você! – Ele falou, sorrindo, com aqueles dentes brancos e lindos.

Ele estava se comportando como um perfeito cavalheiro, sem avançar nenhum sinal e fazendo comentários sutis ao meu respeito. Até mudaria minha ideia sobre casamentos se o casamento fosse com ele.

– Adorei a sobremesa! – Eu disse, agradecendo por ele ter pedido para mim. – Eles realmente fazem ótimos doces aqui.

– Não fazem? Eu adoro! – Ele falou, pagando a conta. – Todas às vezes que estou na fossa eu venho jantar aqui, só pela sobremesa, não que a comida não seja boa.

– Eu sei que... A gente acabou de se conhecer – Eu falei, escondendo minhas mãos nas costas. – Mas estou me perguntando se você tem algo para fazer amanhã.

– Dois encontros em duas noites? – Ele perguntou e eu fiquei corada, até ele sorrir. – Ousada.

– É só que eu tenho algo muito retardado para fazer e... Preciso de companhia. – Eu disse, mais vermelha que uma pele morena como a minha permite.

– Eu bem que gostaria, mas amanhã tenho um encontro com Jamie. – Ele falou, com as mãos no bolso.

– Jamie? – Eu perguntei, incrédula. Ele era tão legal e estava se encontrando com outra? Que coisa mais... Cafajeste.

– É! Meu namorado! – Ele falou, sorrindo. – Eu preciso apresentar minha nova amiga para ele! Ele vai amar te conhecer!

– Ele? – Eu estava mais incrédula ainda. Mas precisava disfarçar. – Ele vai?

– Claro, Abbie! – Edward disse, me dando um selinho acidental. – Opa!

Não ele não virou príncipe.

Na realidade, ele é um príncipe que curte outros príncipes. Tudo bem.

Mas eu deveria ter desconfiado.

Sério.

Primeiro: quem me apresentou foi a Izzie e ela tem uma leve tendência a só se interessar por homossexuais, com exceção de Alvo – e eu tenho minhas dúvidas... Brincadeira. Segundo: eu acho que o celular dele tocou uma música da Madonna enquanto conversávamos.

Eu não tenho sorte. Nenhuma sorte.

Nenhuma.

Why can't they be like the ones that mean everything to me? Warm and loyal, open and friendly… It's not like I'm not trying, ‘cause I'll give anyone a shot once.

Tinha acabado de chegar em casa de mais um fiasco, tinha colocado meu pijama de lacinhos que eu normalmente não digo que tenho para ninguém e estava preparando meu sorvete da depressão quando a campainha tocou.

– Hey! Trouxe Halo 4 e coca cola. – James disse adentrando meu apartamento. – Bonito pijama, hein.

– É... Obrigada. Pode entrar! – Eu disse fechando a porta, enquanto ele ligava meu videogame.

– O que houve? Você parece triste... – Ele perguntou, um pouco mais atencioso que o costume. – Um dos seus encontros não deu certo?

– Nenhum deles deu! E esse parecia que ia dar tão certo! – Eu falei, deitando a cabeça no colo do meu melhor amigo. – Mas ele era gay.

– O cara era gay? – James tentou não rir, mas não conseguiu segurar, e só parou quando viu meus olhos semicerrados. – Foi a Izzie que apresentou, não foi? Claro que foi! Ela gosta de pessoas com tendências homossexuais, como o Alvo.

– Já falei que não tem graça se a pessoa não ouve. – O repreendi. – Por que você não me apresentou nenhum de seus amigos?

– Porque eu acho essa sua busca por acompanhantes para o casamento ridícula! – Ele falou, exasperado e eu levantei minha cabeça do colo dele, para encará-lo melhor. – E porque eu acho que eu não tenho nenhum amigo que te mereça.

– Obrigada pela parte que me toca. – Falei olhando para o teto. – E esse é o problema: eu não mereço ninguém, ninguém me merece e eu vou morrer sozinha.

– Você não vai morrer sozinha. – Ele falou, sorrindo. – Lembra que quando fizermos trinta e cinco, se não estivermos casados com ninguém, o que é quase impossível dado ao fato de como sou incrível, vamos nos casar um com o outro?

– Você vai acabar se casando com alguém legal, e eu vou morrer sozinha. – Eu choraminguei.

– Ah, cala a boca, você é linda e qualquer idiota com um pênis e um coração se apaixonaria por você. Sem pênis também. – Ele disse me atirando um console do videogame. – Aposto que eu te derroto fácil no videogame.

– Derrota nada. – Falei, me sentando direito no sofá.

Fiquei digerindo as palavras dele e atirando nele – isso em Halo significa: ganhando – ao mesmo tempo, até realmente entender o que ele disse.

– Hey! Por que você deu pausa? – Ele perguntou, me encarando com os olhos castanhos semicerrados.

– Se qualquer idiota com um pênis e um coração se apaixonaria por mim, porque eu não consigo encontrar ninguém? – Eu perguntei, cruzando os braços.

– Ainda isso? – Ele fez careta. – Porque você não encontra a pessoa certa estalando os dedos, às vezes demora anos e anos, às vezes você já a conhece!

– Mas eu estou dando uma chance ao destino e ao cosmos e essas coisas! Estou dando uma chance às pessoas. – Eu falei, o encarando de verdade e me divertindo por dentro. Tem coisas na vida que você demora muito a perceber.

– Vai ver você não está dando uma chance às pessoas certas. – Ele falou um pouco antes de olhar para os próprios pés. – Agora que tal dar play no jogo?

– Agora que tal a pessoa a quem eu deveria estar dando uma chance, me dar uma chance? – Perguntei arqueando a sobrancelha. Ou tentando fazer isso.

Eu o vi confuso, e de repente sorrindo e de repente jogando o meu controle de videogame no chão e avançando em cima de mim.

– Hey! Hey! Meu controle! – Eu o esmurrei antes de colocar minhas mãos em volta do pescoço dele.

– Eu compro outro. – Ele riu antes de me beijar pela primeira vez.

E não foi a última vez.

E ele não virou príncipe.

E eu nem queria que ele virasse, porque príncipes me assustam.

Talvez eu fosse o sapo e tenha acabado de virar princesa, porque só uma sapa não percebe que está apaixonada pelo melhor amigo desde sempre e que ele está sentindo o mesmo há muito tempo. Fiquei tanto tempo procurando aqueles que significariam tudo para mim, leais e companheiros, quando eu já o tinha há muito tempo...

É claro que quanto mais caras eu conhecia mais eu amava meus cachorros, porque o único que eu era capaz de amar mais que eu amo os meus cachorros estava do meu lado o tempo inteiro.

Burra.

Sei que o meu acompanhante naquele casamento era o mais bonito de todos. E que começamos a namorar no dia dos namorados, que clichê!

Suck it, invejosas.

Feliz dia dos namorados.


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