"O Destino não se faz anunciar. Tem demasiado bom senso ou demasiada crueldade para o fazer.[...] O saber seria fatal. A incerteza é que dá encanto. A bruma torna as coisas maravilhosas." (O Retrato de Dorian Gray, Oscar Wilde)

POV Katniss

Aquele lugar ainda me dava arrepios. Eu lembrava a primeira vez em que estive aqui, sem imaginar as consequências do que eu tinha feito. Sem saber que aquilo um dia iria matar Prim, Finnick e tantos outros.

Respirei fundo, tentando ignorar tudo aquilo e escutar o que o enfermeiro que Paylor mandara nos chamar estava falando.

_É claro que não fazíamos a mínima ideia... Sequer temos certeza do que realmente aconteceu, mas o Dr. Mylles insiste...

Voltei a ignorar suas palavras ao reconhecer o cabelo azul de Elyn. Ela estava deitada de bruços em uma maca, ainda tão pálida... Ela estava mais magra do que a última vez em que eu a vira pessoalmente e suas costas estavam nuas, revelando uma série de cicatrizes rosadas e enrugadas. As primeiras palavras do enfermeiro voltaram a minha cabeça. "Suspeita de tortura."

O Dr. Mylles passou a mão pelos cabelos ruivos, já com alguns fios grisalhos.

_Tortura. Com toda a certeza. Veja só o espaçamento preciso entre uma cicatriz e outra! Eu posso dizer até mesmo que isso é uma obra de alguém do Distrito 13.

O enfermeiro olhou para Mylles como se pedisse que ele tomasse cuidado com suas palavras.

Aproximei-me do rosto fino e frágil da garota. A Panem inteira prendeu a respiração naquele momento em que os três tributos se encontraram no centro da arena. E o país inteiro entrara em estado de choque quando os três tombaram. A faca de Elyn estava envenenada, e achou seu alvo na garganta de Lynette. Não havia como a garotinha de doze anos escapar viva daquilo. Mas um ferimento causado pela flecha de uma besta nem sempre era fatal.

As pálpebras da garota estremeceram, e logo em seguida seus olhos azuis se encontraram com os meus. Ela entreabriu os lábios e disse, com uma voz baixa e cansada.

_Por favor me diga que a vadia está morta.

POV Elyn

Ela tinha que ter morrido. A primeira coisa em que pensei ao acordar foi um nome. Caesar. Mas quando abri os olhos e vi os olhos cinzentos de Katniss... Eu não consegui dizer o que queria. Eu não tinha coragem suficiente para ouvir o que quer tivesse acontecido. Ele não podia ter... Não. Eu não aguentaria.

Mas de alguma forma ela sabia, mesmo que eu não tivesse dito uma palavra sobre ele.

_Lynette está morta. Mas Caesar está vivo.

Senti meu corpo relaxar. Ele estava vivo. Era só isso que eu precisava saber.

_Mas Elyn, temos que falar sobre uma coisa. - seus olhos estavam mais frios. - O que aconteceu com suas costas? Quem fez isso?

Engoli em seco. O que aconteceria se eu dissesse a verdade? Ela já estava morta, de qualquer forma...

_Foi a líder do Distrito 13. Coin.

POV Caesar

Eles não me deixaram vê-la. Mesmo que eu afirmasse que já estava me sentindo bem o suficiente para deixar aquele quarto, eles não deixavam.

Meu vô já tinha vindo me visitar, e prometera que conseguiria permissão para que meus pais também viessem. Perguntei sobre a Elyn. Só mais um ou dois dias, ele dissera. Nós dois tínhamos de nos recuperar.

_O que está acontecendo lá fora? - perguntei.

Meu avô sorriu.

_Ninguém sabe de nada do que está acontecendo! Ninguém sabe se vocês dois estão vivos ou mortos! A Capital está em polvorosa!

E apesar de tudo, eu tive que sorrir. Caesar Flickerman não era o renomado entrevistador dos Jogos por nada. Sua empolgação era contagiante e fez com que, por um momento, eu esquecesse de tudo pelo que eu passara na arena.

Fechei os olhos, ignorando o incômodo das ataduras que envolviam meu torso. De que importava o que iria acontecer daqui em diante? Elyn está viva. Nós ganhamos.