Eu podia sentir a rocha fria contra minha bochecha direita. Meus braços encontravam-se cheios de hematomas doloridos. Eu tinha medo de olhar para minha perna. Eu podia senti-la ardendo e sangrando. Eu lutava para respirar. Os músculos da minha perna esquerda doíam pelo esforço que eu fizera tentando chutar a cabeça do bestante. Por fim, eu conseguira acertar seu olho e afastá-lo por tempo suficiente para arrastar minhas pernas para dentro da caverna.

Mas agora eu percebia o sangue que escorria dos cortes que as garras do bestante fizera em meu rosto, deslizando pelo meu pescoço e encharcando o tecido que cobria meu ombro esquerdo, e sentia-me cansada demais para me mover um centímetro que fosse. Fechei os olhos e deixei que a escuridão me tomasse.

POV Caesar

Dei um nó cuidadoso nas ataduras e voltei-me ao rosto de Elyn, segurando na mão direita um pote de remédio que chegara em um paraquedas junto com as ataduras. Tracei com cuidado a linha que começava pouco abaixo de seu olho esquerdo e descia em diagonal até seus lábios. Ela já havia desmaiado quando a encontrei, e o canhão soara três vezes desde então, uma delas por Felly. Tínhamos encontrado o bestante rosnando para uma fenda entre duas rochas. Felly avançara, cravando a lança por entre as costelas do bicho. Isso causara sua morte, mas também permitira que eu tivesse uma vista clara do pescoço da criatura e o acertasse com uma flecha.

E então eu vira o sangue.

Terminei de passar a mistura em seu rosto fino e examinei o pouco que eu conseguira salvar do que tínhamos pego na Cornucópia. Três cantis, um pacote de carne seca, o arco e algumas flechas, o veneno e duas facas que pertenciam a Elyn. Três outras facas estavam presas a seu cinto, além de uma espada curta. Quando anoiteceu e o hino começou a tocar, esforcei-me para ver através de uma pequena brecha no teto da caverna. Felly foi o primeiro a aparecer. Depois uma garota loura de olhos azuis pálidos cujo nome eu não lembrava completamente, alguma coisa a ver com Moon, seguida das imagens de Kanya e Pandora.

Deitei-me, sentindo-me incomodado com a pedra fria sob minha cabeça. Peguei a mochila e acomodei a cabeça de Elyn sobre ela, antes de acomodar-me da melhor forma que pude, a uns dez centímetros dela, e adormecer.

POV Elyn

Acordei, cansada demais para abrir os olhos. Mas a dor diminuíra. Uma sensação de frescor se espalhava pela minha perna e por meu rosto. Eu podia sentir uma mão familiar seguindo os contornos de minha cintura, e minha cabeça repousava sobre o ombro de alguém. Alguém não. Caesar.

Pela primeira desde que entrei na arena, desde que meu nome fora escolhido para a edição final dos Jogos Vorazes, permiti a mim mesma um pqueno descanso, e deixei-me relaxar ali, com os braços de Caesar ao meu redor. Eu ainda confiava nele, apesar de tudo. Mas então ergui-me, cautelosamente, para não acordá-lo. O momento havia passado, e eu não poderia mais relaxar. Olhei para a minha perna, envolta em bandagens, e sorri inconscientemente.

_Elyn?

Olhei para ele, para os olhos verdes que me encaravam com uma pergunta muda em seu interior.

_Estou bem. Muito melhor, na verdade. Só com um pouco de sede.

Ele pegou um cantil pela metade e algumas tiras de carne seca, entregando-os a mim, e pôs-se a examinar minha perna. Mordisquei um pouco de carne enquanto ele retirava parte das bandagens, trocando-as por outras limpas. Quando terminou, ele segurou meu queixo com delicadeza e passou a examinar os cortes em meu rosto.

Seus dedos traçaram as três linhas que cruzavam meu rosto, estremecendo de leve ao chegar aos meus lábios. Olhei-o pelo canto dos olhos, encontrando as íris verdes. Engoli em seco. Eu podia ver em seus olhos tudo o que nenhum de nós teria coragem de dizer.

_Sempre? - questionei, minha voz mais fina que o normal.

_Sempre. - respondeu Caesar, e seu tom era o de uma promessa.