Pov: Narradora

Longe da movimentada Nova York, um lugar mantém-se calmo e longe da confusão da cidade grande. Um lugar onde os seres vivem apenas para proteger outros seres. Estamos no castelo dos guardiões. Um lugar claro, com paredes brancas e brilhantes, com um teto alto, sustentado por grandes pilastras feitas no formato de arquitetura grega antiga. Tudo muito bem iluminado e perfumado com o cheiro de rosas silvestres. Um lugar onde qualquer um desejaria ir para meditar um pouco. O lugar era bastante grante e ficava numa dimensão em que só os guardiões podiam encontrar, poucos guardiões estavam circulando por lá naquele dia, a maioria estava em campo protegendo ou simplesmente andando pela terra, claro, sem poderem ser vistos. As coisas estavam calmas, calmas até demais. Entenda, aquela lugar nunca ficava calmo, sempre havia alguém em perigo ou uma grande decisão para ser tomada no conselho. O problema maior dos guardiões naquele momento era o controle.

O conselho não conseguia mais controlar todos os guardiões, parecia que todos agora queriam ignorar as regras, tudo por causa de Percy, a ideia de que ele podia fazer tudo aquilo deixava os outros guardiões animados para tentarem coisas novas, o que era um grande problema, as pessoas estavam desprotegidas e os guardiões ficando incompetentes, parecendo crianças mimadas querendo sair por aí e descobrir o mundo. Maldida hora em que Percy fora se apaixonar. Em parte, Gabriel sabia que tudo aquilo era sua culpa, fora ele quem ajudara o rapaz a realizar seu sonho e agora tinha que lidar com as consequências. Mas ele tinha seus motivos para acreditar que fizera a coisa certa, afinal, ele mesmo, um dia, quis estar no lugar de Percy, mas com uma única grande difrença: Ele não fora correspondido.

Há milênios atrás ele fizera aquele pedido para o, na época, chefe dos guardiões, cargo que hoje é seu. Naquela época a ideia de se apaixonar pela pessoa protegida já era, para a maioria, absurda, mas mesmo assim ele conseguiu a permissão para encontrar com ela. Naquela época as coisas eram diferentes, muito diferentes. Eram outros tempos, mais ou menos antes da Primeira Guerra Mundial... o que dificultava mais as coisas. Ele se apaixonou perdidamente por uma moça, uma moça que nem mesmo como humano ele poderia ter. Noiva de um homem que amava e cheia de amor para dar... seu único amor na vida, que logo depois ele viu casar, ter filhos e depois, já bem idosa, morrer. Ele ainda visita o túmulo dela de vez enquando, quando pode. A história deles se espalhou por aí, os outros guardiões acharam melhor que nenhum outro guardião tivesse aquele pededo atendido. Só que ao ver o caso de Percy, Gabriel não teve como negar, ele parecia estar disposto á tudo pela garota, o máximo que ele pode fazer foi adiar os prazos, conseguiu fazer isso até Percy e sua protegida completarem 18 anos, depois... A única coisa que pode fazer foi deixá-lo conhecê-la.

O problema é que eles foram longe demais, criaram uma ligação muito forte, muito perigosa. Percy tinha um prazo para ficar no mundo dos humanos, ele não poderia ficar com Annabeth para sempre, e Gabriel temia que o laço que eles formaram fosse forte demais para ser quebrado, mas eram as regras, ele não podia fazer mais nada para ajudá-los, lamentava muito. Sabia que mais cedo ou mais tarde o prazo acabaria e ele precisaria trazer Percy de volta. Não sabia quando isso iria acontecer, mas tinha certeza de que não acabaria bem. Uma vez que ele ficasse na terra quando o prazo acabar, acarabará morrendo no mesmo segundo que decidir ficar. Afinal, ele abrira mão da eternidade para vê-la.

-O que vamos fazer? -perguntou Nico desesperado.

-Nada, não podemos fazer nada para ajudá-lo.

-Tem que haver alguma coisa, ele não vai querer voltar. -Nico não sabia se ficava com raiva ou com medo pelo amigo.

-Eu sei que é complicado, mas não há nada que possamos fazer! -Disse Gabriel com a voz firme.

-Mas... Nós dois sabemos que ele não vai querer deixá-la, nós dois sabemos que ele vai morrer, e não vamos fazer nada?

-Podemos tentar avisá-lo, mas só isso. -falou apertando as têmporas.

-Como? Você tirou a memória dele, lembra? Não posso aparecer lá e contar toda a verdade. -disse Nico.

-A memória dele vai voltar aos poucos, foi apenas para o caso de ele falar sobre quem ele realmente é, ela não pode saber. O mundo não entenderia.

-Você ao menos poderia ter confiado nele, não simplesmente apagar as lembranças dele, ele não iria contar, não faria isso!

-Não podíamos confiar nele, ele está apaixonado, acabaria contando á ela.

-Isso é injusto.

-Nosso trabalho não é amá-los, e sim protegê-los.

-Uma coisa acaba levando á outra.

-Nico, sei que você não vai entender e Percy também não, mas algumas coisas não podem acontecer.

-E o que vai acontecr agora? Quando o prazo termina?

-Por enquanto, você continuará como guardiãos dele, e eu não sei quando o prazo termina, varia de acordo com o guardião. Pode ser daqui a um ano ou amanhã...

-Como saberemos que ele tem que voltar?

-Quando ele recuperar a memória totalmente e sentir que o tempo acabou, só ele saberá.

-E como ficará a garota, Annabeth?

-Ele poderá protegê-la, se conseguir, mas nunca mais poderá vê-la ou tocá-la outra vez, mas ele pode deixar que outro faça esse trabalho e proteger outra pessoa.

-Isso não vai dar certo, ele não podia ter ido até ela.

-Perseu é um rapaz notável, acredito nos sentimentos dele pela garota, afinal, nós o criamos para ela... Só que eles são de mundos completamente diferentes, ele nem ao menos é humano, não há a possibilidade de eles ficarem juntos.

-Como isso foi permitido, então? Por que criaram o Percy para ela.

-Porque estava escrito.

-Onde, nas estrelas? -Nico perguntou irônico.

-Mais ou menos. -Gabriel respondeu calmo.

-Tá de brincadeira!

-Não, temos algumas profecias, antigas e que fazem o nosso destino, o de Percy, infelizmente, é esse.

-Não pode ser...

-Mas é, tem coisas que nós não controlamos.

-Mas e se...

-Já chega por hoje, Nico. Já falamos demais, temos que deixar as coisas acontecerem. Percy irá se recuperar aos poucos e lembrar quem ele é, e decidir a coisa certa.

-E qual seria?

-Voltar, é claro, e viver.

-Então ele vai fazer a escolha errada, com certeza. -Disse Nico saindo da sala, batendo a porta e pisando duro. Ele não podia acreditar que o amigo lutara tanto para no final não poder ficar com a mulher que ama.