All The Broken Hearts escrita por Yukari-chan


Capítulo 4
A falta que a falta faz


Notas iniciais do capítulo

Título retirado de uma música (adoro o nome dessa música, apenas)
Obrigada à Conceived Dream por betar ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/231959/chapter/4

[03. A falta que a falta faz]

Tinha a vaga... Não era exatamente “lembrança”, a palavra que Yuu procurava. Não se lembrava daquele lugar, mas de alguma forma, tinha uma sensação que não lhe era desconhecida sempre que estava ali. Apenas não sabia o motivo, da mesma forma que não entendia toda aquela humanidade que o rodeava sempre que ia até ali.

A vontade surgira de repente, apenas pensou, e quando deu por si, já estava lá. Não era proibido estar ali, ao que parecia, muitos voluntários estavam sempre por lá – fazendo o que os humanos chamam de caridade –, e a tarde sempre era horário de visitação – pelo menos, ao que ele pôde perceber. Então, ele podia simplesmente andar a esmo pelo local.

Nos últimos tempos, a vontade repentina e inexplicável de estar lá vinha aumentando. Era algo antigo, embora não pudesse precisar desde quando, mas havia simplesmente desaparecido. Talvez algum dia, ele tivesse sabido o motivo de se sentir ligado de alguma forma àquele lugar, mas hoje havia sumido. Junto com a vontade de voltar.

Era da natureza de Yuu ser vazio, algo inerente a tudo que ele era. Não se lembrava de todo o mal que causara ou de quantas almas havia partido, muito menos sabia o porquê de fazê-lo, só o que sabia é que sempre foi assim e que assim continuaria. Um ciclo eterno que nunca lhe daria paz.

Entretanto, de algum tempo pra cá, sempre que olhava Uruha, tinha aquela agoniante sensação de que se esquecera de alguma coisa, e inconscientemente era como se soubesse que a resposta estava ali. Era a coisa mais humana que tinha, o único sentimento que nutria.

Não fazia sentido, pois se tratava de uma mera clínica de reabilitação e repouso para humanos. Chamavam assim, mas, ao ver de Yuu, era um lugar para mentes insanas. Os humanos acabavam ali quando enlouqueciam ou quando ficavam quebrados demais.

Abandonados sem propósito nem futuro. Quase pareciam com ele.

-Com licença, você é um dos novos voluntários? – uma voz animada soou às suas costas, enquanto ele olhava o jardim, ocupado por diversas pessoas.

-Perdão? – respondeu, se virando para ver um moreno sorridente.

-Me disseram que três novas pessoas se prontificaram ao serviço voluntário. – ele respondeu com toda a calma do mundo. Quando sorria, se formavam adoráveis covinhas em seu rosto. – E como o vejo sempre por aqui... Sou Uke Yutaka, sou enfermeiro aqui.

“Mesmo se não for um dos que estou esperando... Me deixa curioso, não é o tipo de voluntário que eu costumo receber.”

-É, suponho que não. – Yuu quase pôde sorrir ao pensar numa comparação entre si e os voluntários daquela clínica.

Se pudesse, responderia: sou a causa dessas pessoas estarem assim, não a solução.

-O que acha de ajudar essa tarde? – o enfermeiro retrucou. Estava acostumado aquele tipo de pessoa, ou achava que estava.

Sempre iam até ali; Às vezes por culpa, às vezes por pena. Com parentes na mesma situação, conhecidos, amigos, namorados... E tinham vergonha de admitir, ao mesmo tempo em que se corroíam em remorso. Nunca se esqueceriam da moça que aparecia todas as tardes por ali, fingindo não querer nada, quando na verdade observava secretamente o irmão – coisa que Yutaka só descobriu tempos depois.

-Não é nada de mais, e companhia pura e simples faz diferença pra eles. A maioria foi completamente abandonada por aqui. A família vem, os larga e... – continuou dizendo, e ao final suprimiu um suspiro. – Não é nada de mais, de verdade. Basta você estar aqui, sabe?

O moreninho sorriu, e Yuu se perguntou por que ainda estava ali. No final das contas, acabou apenas se deixando arrastar pelos corredores. Talvez fosse ser engraçado, talvez aquilo o fizesse perceber que estava tendo delírios por conviver demais com humanos, e já que estava apenas vagando... Perguntava-se se aquelas almas seriam fáceis de roubar.

O que Uke lhe pedia, ele nunca poderia fazer; qualquer pessoa que ficasse prolongadamente perto dele sentiria apenas medo e desespero. Talvez aquilo já o tivesse frustrado um dia, não se lembrava. Se não fosse por esse fato, quem sabe pudesse ser mais humano.

Não tinha raiva, nem ódio dos humanos. Na verdade, nem mesmo desgostava deles. Apenas fazia o que fazia, e isso era tudo. Não era satisfatório, mas ao mesmo tempo não lhe trazia pesar algum.

-Aqui. – o enfermeiro soou simples, se aproximando de um dos bancos do jardim, onde uma pessoa estava sentada, de costas pra eles. Não sabia por quanto tempo tinha se perdido em seu devaneio, mas estavam numa parte mais afastada. – Esse é Reita... Na verdade, Reita é um apelido. Não sabemos seu nome.

O loiro não pareceu se incomodar ao ouvir seu nome, nem mesmo se mexeu. Continuou apenas sentado, olhando longamente para o nada. Yuu se aproximou, sem saber explicar de onde surgira toda aquela curiosidade repentina.

Queria ver aquele rosto. Queria ver aquela pessoa.

-Porque ele está aqui? – deu por si perguntando, enquanto olhava longamente para o rosto sério e inexpressivo de Reita.

-Bom, não sei ao certo. Ele é um mistério... Simplificando, ele não tem absolutamente nada. – deu de ombros. – Aparentemente, foi vítima de um assalto, anos atrás. O namorado dele morreu, e ele ficou em coma... Quando acordou, estava assim.

“Não é amnésia ou algo do gênero. Não é nada que eu ou qualquer outro já tenhamos visto. O corpo funciona perfeitamente e o cérebro está em plenas condições, nenhum tipo de trauma ou distúrbio que evidencie esse comportamento. Ele está apenas... Vazio. Como se não tivesse alma.”

Yutaka parou por um momento, e o silencio reinou. Era ruim se sentir assim tão impotente, especialmente nesse caso. Tinha adquirido um carinho especial por Reita, não sabia por que, apenas aconteceu. Era triste olhar para ele, e saber que não tinha ninguém.

Absolutamente ninguém. E nem mesmo sabia muito sobre ele, nunca descobriram seu verdadeiro nome, ou como tudo aquilo aconteceu.

Era errado, mas andou procurando informações sobre o loiro, qualquer coisa. Queria tentar localizar um parente, um amigo... Sua procura nunca dava resultados, era como se tudo que o ligasse a uma vida prévia tivesse deixado de existir. Mesmo o tal namorado, do qual tomou conhecimento, depois de muito procurar, não havia descoberto nada sobre. Nem ao menos um nome.

-Ele vai gostar de ter companhia pra variar. – disse por fim. – Talvez duas pessoas solitárias consigam se entender.

E assim, sem dizer mais nada, apenas saiu, dando um tapinha nas costas de Yuu. E correndo ao se dar conta de que deveria estar com os outros voluntários.

Shiroyama não disse nada, apenas se sentou no banco ao lado do loiro que continuava indiferente à sua presença assim como a qualquer outra coisa. Podia simplesmente ter ido embora, mas por alguma razão não queria.

Yutaka não sabia, mas estava certo. Era algo que Yuu podia sentir apenas por se aproximar dele.

-Então, você não tem alma? Nunca conheci ninguém assim. Vivo, pelo menos. –disse com um sorrisinho. – Talvez possamos ser amigos.

Tinha, afinal, uma estranha e inexplicável simpatia por aquele loiro. Algo que nunca havia sentido por mais ninguém.

自分責めれば, 気持ちは少し楽になれる

If I blame myself, will my feelings become a little more comforting ?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Nada é o que parece...



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "All The Broken Hearts" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.