Got My Heart In Your Hands escrita por Julia


Capítulo 143
Desilusão


Notas iniciais do capítulo

Capítulo grandinho. *-* Recomendo ler ouvindo Don't Cry, do Guns N' Roses. Tem tudo a ver com os personagens. Boa leitura!



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Flashback entre Laurence e Sébastien

Eles estavam se tornando amigos. Muito amigos. Mas mesmo que negassem para si mesmos, havia um “mais que amigos” naquela história. Eles sabiam. Talvez não quisessem demonstrar, ou não queriam sentir. Sentir. Sentir aquilo. Aquele sentimento que os dois conheciam bem, pois estavam vivenciando naquele momento.

Acreditavam que isto atrapalharia a amizade que haviam construído, portanto, se declarar não seria bom para ninguém. Mesmo que quisessem eles desconheciam a coragem.

Agora se encontravam mais vezes. Telefonemas, mensagens de texto, e-mails. E mais páginas eram preenchidas no caderno de Laurence. Falavam-se agora com mais frequência. Mesmo que não quisessem sentir o tal sentimento e mesmo que desconhecessem a coragem que lhes faltava, eles estavam aumentando o que sentiam por dentro, fortalecendo o que estavam construindo. Quando o pai de Laurence foi trabalhar em Vancouver, fazendo-o ficar distante, Sébastien foi a única pessoa que se preocupou e esteve ao lado dela.

[...]

─ Prazer David, eu sou Charles, mas pode me chamar de Chuck. Esse é o Sébastien...

─ Seb! Pode me chamar de Seb.

─ Esse é o Patrick, mais conhecido como Pat. Esse é Jean, que você pode chamar de quase careca... Digo, Jeff. - Disse Pierre.

─ Ei, eu não estou quase careca, é só uns fiozinhos que caíram, ok?

David sorriu e disse:

─ Prazer em conhecê-los.

Antes que David pudesse terminar de falar, uma garota com cabelos tingidos de loiro entrou na sala e disse:

─ Pih, meu amor, por que não foi me procurar hoje?

Lachelle era uma garota popular que andava com suas amigas pela escola como se fosse superior aos outros. Ela era ex-namorada de Joel que tinha muita raiva de Pierre, porque alguns diziam que ela terminou com Joel por causa dele.

─ Olha quem chegou, Lachelle sem o clube das luluzinhas. Elas te deixaram, é? - Disse Seb sarcástico.

─ Sébastien, eu não estou falando com você, com licença. - Disse ela enquanto se aproximava e dava um selinho em Pierre.

Ninguém sabia por que Seb sentia tanta raiva de Lachelle além de Pat que estava com ele no dia em que Lachelle humilhou Laurence, uma garota muito bonita por quem Seb sentia uma atração, mas não tinha coragem de falar no meio da rua porque ela havia ido ao baile de fim de ano com um vestido igual ao da Loira.

[...]

Caramba, esse Pierre é um burro mesmo, ele está querendo levar suspensão. E se eu, Sébastien Lefebvre, conheço bem a Senhora Louise, ele vai ficar sem poder ensaiar. Não acredito nisso...

Esperava a Laurence, e quando ela entrou na sala, sentou-se no fundo. O que será que aconteceu? Droga, eu não posso simplesmente chegar e perguntar... Eu sou um idiota!

[...]

Ele aproveitou que a professora tinha ido à reunião semanal de professores que acontecia na escola mesmo e levantou. Os passos eram pequenos e ele tremia... Quando ele chegou perto de Laurence, viu que a carteira na frente dela estava vazia, e sentou.

─ Oi. - Disse ele morrendo de vergonha

─ Oi Seb, tudo bem com você?

Ela sabia o nome dele, e Seb estava muito feliz com isso, que deu um pouco mais de coragem pra falar.

─ Tudo, mas você parece meio deprimida, por isso vim falar com você. O que ‘tá rolando?

─ Deu pra notar, é?

─ É.

─ Tudo bem, eu acho que posso falar pra você. Bom, eu estou triste porque meu pai vai trabalhar em Vancouver e só vou ver ele uma vez por semana.

─ Nossa que ruim, mas e a sua mãe?

Nesse instante os olhos de Laurence se encheram de lágrimas e ela disse:

─ Bom, ela... Ela morreu quando eu nasci.

─ Me desculpa, eu sinto muito.

Seb abaixou a cabeça, mas ele não podia deixá-la chorando, então ele colocou os dedos no rosto de Laurence, secou as lágrimas dela e disse:

─ Ei, você não precisa chorar. Ela deve se orgulhar de você aonde quer que ela esteja. Você é uma menina inteligente, simpática e linda... Agora para de chorar e põe um sorriso nesse rosto!

Laurence olhava fixamente nos olhos azuis de Seb. De algum jeito, aquelas palavras tinham a deixado melhor.

─ Obrigada.

─ Que isso, se precisar eu estou aqui.

Laurence ainda com os olhos cheios de lágrimas levantou e deu um abraço em Seb. Aquele abraço foi muito sincero tanto pra ele quanto pra ela.

Ele não acreditava que aquilo estava acontecendo, ele não sabia de onde tirou aquela coragem pra fazer isso, mas ele não se aproveitou da situação, ele só se despediu e foi para sua carteira.

[...]

─ Minha mãe não morreu.

─ Está falando do que, Laurence?

─ Ela apenas sumiu, e apareceu pra mim, Seb. Depois de muito tempo.

[...]

─ Quem é o fã ou a fã que vai nos conhecer? - Perguntou David.

─ O nome dela é... - Pierre conferiu no papel. ─ Lachelle?

─ O quê? - Jeff pegou o papel da mão de Pierre. ─ É Laura, seu burro. De onde você leu Lachelle?

─ Não sei, eu tenho medo de que ela estrague algo. Mas então, alguém já falou com a Laura?

─ Nós a vimos pela Webcam. Ela é gata! Joel devia pegá-la. - Jeff cutucou Joel.

─ Eita, Jeff. Você não muda nunca mesmo. - Chuck inconformou-se.

[...]

20 minutos se passaram, e o Simple Plan entrou no palco. Muita animação e gritos da platéia, e Laura estava na grade, acenando para o Simple Plan. Eles retribuíram o aceno dela e iniciaram.

[...]

A fã mais animada que cantava todas as músicas do Simple Plan inteirinhas era Laura, a sortuda que passaria o dia inteiro ao lado dos meninos. O show do GD durou aproximadamente duas horas, e como os meninos estavam cansados preferiram descansar, exceto David que assistiu ao show inteiro, e ainda deu um tchauzinho para Laura que gritava seu nome. Depois que o show terminou, Billie, que estava sabendo da promoção, chamou Laura para ir até os bastidores ver os meninos. Ela esperava vê-los só no dia seguinte, então ela subiu no palco com a ajuda de um segurança e agradeceu a Billie pela oportunidade. Chegando ao camarim ela viu todos muito relaxados; Pierre e David estavam brincando ou brigando no sofá; Avril e Chuck conversando; Laurence estava sentada em outro sofá e Seb parecia dormir com a cabeça no colo dela; Pat, Jeff e Joel jogavam cartas sentados no chão; ela entrou e simplesmente a única coisa que conseguiu fazer foi chorar e sorrir para eles.

[...]

─ Ei, prazer em te conhecer. Você já deve saber meu nome. - Disse Pierre na hora que viu a garota, assim parando de brigar com David.

─ Oi... É um prazer conhecer vocês também. - Disse ela envergonhada.

Avril, Chuck, Joel, Jeff, Pat, David, Pierre e Laurence levantaram e foram cumprimentar a garota que ainda estava em prantos.

─ Oi, sou Avril, namorada do Chuck. Prazer em conhecê-la.

─ Ei, eu acho que já ouvi uma música sua no Youtube, o nome era...

─... Complicated. - Completou Avie.

─ Isso. Parabéns, é muito boa!

─ Ah, que isso, obrigada. Você é muito simpática.

Ela cumprimentou todos, e quando chegou a vez de Jeff, ele travou. Ela era linda demais, tinha cabelos castanhos na metade das costas, com pontas onduladas. A pele dela era branquinha quase no tom da de David, que sem dúvidas era o mais branco do pessoal. Ela vestia uma camiseta personalizada do Simple Plan, devia ter mandado fazer... Tinha o nome dos integrantes e das músicas, além de desenhos de notas musicais, corações, estrelas e coisas assim. Vestia também uma calça jeans justa, e uma sapatilha preta. Não usava muita maquiagem, apenas blush em um tom rosa claro, lápis de olho e rímel, então ele tomou coragem e falou:

─ Oi, sou Jeff... E você é muito linda.

─ Obrigada, prazer em conhecê-lo. - Ela sentiu suas bochechas esquentarem, ‘devia estar toda vermelha’, pensou ela. ─ Posso tirar uma foto com você?

─ É claro.

Ela tirou fotos não só com Jeff, mas com todos... Pegou autógrafos e os abraçou, até Laurence perceber que Seb ainda dormia no sofá.

─ Seb, Seb, acorda. - Dizia Laurence enquanto cutucava-o.

─ Hummmm, o show já acabou? - Perguntou ele enquanto abria lentamente os olhos.

─ Já, Seb, levanta.

Ele levantou e viu Laura.

─ Oi, desculpe, eu acabei dormindo.

─ Tudo bem.

Seb tirou uma foto com ela, deu autógrafo e também deu um abraço nela.

Passaram-se duas horas... Eles ficaram conversando, porque o Simple Plan iria voltar ao hotel junto com o Green Day e eles ainda estavam conversando com os produtores sobre os próximos shows, que aconteceriam em três dias.

Durante a conversa, Jeff não conseguia tirar os olhos de Laura. Isso nunca tinha acontecido antes, era uma coisa muito forte, Jeff estava realmente apaixonado. Ela foi indo embora, pois tinha que arrumar um hotel pra ficar ainda, estava sozinha no Rio. Despediu-se de todos e foi.

[...]

─ Seb, eu tentei, juro que tentei. Mas não consigo resistir. Eu quero você, quero que você seja o primeiro. E não tem coisa mais romântica do que fazer amor com alguém que você ama... Numa praia!

─ Eu também quero que você seja a primeira.

─ Então... Você também é virgem? - Laurence sorriu.

─ Sim, eu tive vergonha de falar, mas...

─ Não diga nada. - Laurence continuou o beijando, mas interrompeu o beijo, apenas para tirar a parte de cima do biquíni, e também as calças de Sébastien.

─ Eu te amo. - Sébastien beijou a testa de Laurence.

─ Eu também te amo.

Os dois já estavam completamente sem roupa e começaram a rolar pela areia. Fizeram amor com toda a calma e paciência, pois Laurence ainda não havia esquecido totalmente de que foi estuprada. Após ficarem horas naquele clima amoroso, eles puseram novamente as suas roupas e voltaram para o hotel.

[...]

Lavigne notou o comportamento estranho de Laurence. Ela estava muito feliz.

─ Laurence, o que aconteceu?

─ Nada, Avril. Por que a pergunta?

─ Você está tão feliz... Eu tenho a impressão de que você transou com o Sébastien.

Laurence soava frio.

─ Nossa, amiga. Que besteira é essa, é claro que não. Estou feliz por estar no Brasil, só isso.

─ Ah... - Avril não conseguia acreditar nessa felicidade estranha que a amiga estava sentindo, e também percebeu a sua reação quando se referiu ao Sébastien.

─ Eu vou tomar um banho. - Laurence pegou a sua toalha e foi até o banheiro.

─ Tem algo estranho, e eu vou descobrir. - Avril dizia para si mesma.

Enquanto isso, no quarto dos meninos...

─ Sébastien... Sébastien... SÉBASTIEN! - Pierre gritou, pois Sébastien estava distraído olhando para o nada, vidrado.

─ O quê?

─ O que aconteceu com você, cara? Está com uma cara de tonto.

─ Não aconteceu nada, Pierre.

─ Eu acho que aconteceu. Tem a ver com a Laurence? Porque eu vi que vocês sumiram por algumas horas. O que fizeram?

─ Nada, Pierre.

─ A noite foi boa?

─ Que noite? Ah, para de encher o saco. Eu vou tomar um banho e deitar que eu ganho mais. - Sébastien apanhou a toalha que estava em cima da cama e foi para o banheiro.

─ Gente, ele voltou estranho. - Disse David.

─ Eu acho que ele transou com a Laurence e não quer nos contar.

─ Será, Pierre? - Perguntaram todos.

─ Eu tenho certeza que é isso.

─ Mas por que ele está escondendo então? - Perguntou Joel.

─ Ótima pergunta. - Respondeu Pierre.

─ Vamos descobrir. - Falou Jeff.

─ Pode ser TPM. - Patrick riu, fazendo todos rirem também.

─ Mas ele não é assim. Alguma coisa está estranha. - Chuck completou.

Voltando ao quarto das meninas...

─ Laurence, me conta o que aconteceu, por favor. Sempre fomos amigas, não é justo você me esconder as coisas.

─ Está bem, eu transei com o Sébastien sim.

─ O QUÊ? MAS O QUE EU TE DISSE ONTEM, CRIATURA?

─ Avril, não consegui resistir a ele. E foi muito bom, ok? Foi na praia.

─ Ok, eu não falo mais nada, você já é “grandinha”, né?

─ Não briga comigo. Desculpe-me.

─ Está bem, eu não vou brigar.

─ Você comprou o quê? - Laurence sentiu o cheiro.

─ Pastel. Você quer? É um dos salgados mais famosos do Brasil.

─ Quero!

Laurence tentou morder o pastel, mas ao sentir o cheiro, seu estômago começou a embrulhar e ela recusou.

─ Nossa, eu não consigo sentir o cheiro, estou ficando enjoada.

─ Por quê? É tão bom.

─ Eu sei, tem uma cara ótima, mas não estou me sentindo bem.

─ Laurence, só tem uma explicação para esse enjoo.

─ Qual?

─ Você está grávida.

─ Grávida?

[...]

─ É, Laurence, grávida. Acontece quando transa sem proteção, sabe?

─ Sei, mas...

─ O Seb usou camisinha?

─ Er... Não, mas a gente estava na praia.

─ Vocês foram irresponsáveis isso sim, mas será que não foi do estupro?

─ Não, porque sabe, aquele cara não queria fazer isso e ele usou camisinha.

─ Não queria, mas fez.

─ E agora Avril, o que eu faço?

─ Calma, às vezes pode ser só um mal estar. Vamos à farmácia comprar um teste.

─ Ok, vamos

As meninas desceram e pro azar delas Pat estava na recepção do hotel fazendo uma ligação.

─ E agora, Laurence? Ele vai perguntar onde a gente está indo.

─Calma, ele está distraído, vamos andar rápido.

Elas praticamente saíram correndo até a porta, mas ficaram observando com quem Pat falava.

─ Hayley, quando você ouvir essa mensagem, por favor, me liga, eu preciso falar com você.

Avril arregalou os olhos... Por que diabos Patrick estava ligando pra Hayley se ela estava no Canadá?

─ Avril, vamos logo, já é de noite, as farmácias já vão fechar!

─ Não seja boba, aqui por perto as farmácias são 24 horas.

─ Que seja, mas quero voltar logo, depois você dá uma de detetive e investiga a vida do Pat!

─ Ok, vamos logo então... Quero saber se vou ser titia. - Disse ela dando uma risadinha.

Laurence a ignorou e as duas seguiram até a farmácia que ficava na esquina do hotel. Elas entraram e foram falar com o atendente.

─ Oi, você tem... Teste de gravidez? - Perguntou Laurence envergonhada.

─ Sim, aqui está.

Elas pagaram e foram direto para o hotel. Chegando ao quarto, Laurence foi até o banheiro fazer o teste que poderia mudar a vida dela. 10 minutos depois ela saiu do banheiro com o teste em mãos e encarava Avril; ela estava sem reação e o rosto estava pálido.

─ E então? - Perguntava Avril ansiosa.

─ Eu... Eu... Eu estou grávida do Sébastien! - Disse ela enquanto corria para abraçar a amiga. Ela estava feliz, mas não sabia como Seb iria reagir, tinha que deixar as coisas em ordem na sua cabeça. Estava tudo tão confuso, o estupro era tão recente... Avril parecia estar melhor sobre isso, mas Laurence ainda tinha pesadelos com a voz daqueles caras, porém quando ela estava com Seb, era tudo tão mágico, era como se todos os problemas desaparecessem, tudo era perfeito com ele, ela se sentia como se fosse a garota mais feliz do mundo.

[...]

─ Então, Laura, me fala mais sobre você. - Disse Jeff.

─ Bom, eu sou bastante tímida, porém alegre. Gosto de dar risadas e fazer novos amigos. Ah, eu não tenho muito que falar de mim.

─ Você tem irmãos?

─ Tenho uma irmã, mas eu não a vejo desde que ela tinha 2 anos. - Laura começou a chorar.

─ Não, não fica assim. - Jeff a abraçou. ─ Você vai reencontrá-la. Talvez ela esteja bem próxima a você.

─ O meu colar tem a foto dela. - Laura tirou o colar de seu pescoço.

O colar de Laura era um coração de ouro, que quando abria, a foto de sua irmã estava lá, em tamanho grande.

─ Que linda a sua irmã. Parece você.

─ Ah, que isso.

Laura, que estava segurando o colar, deixou cair de suas mãos. Sem perceber, continuou a sua caminhada.

[...]

Ao decorrer da caminhada, Laurence encontrou o colar de Laura no chão, mas ninguém sabia de quem era. Laurence viu sua foto no colar, e achou estranho, pois o colar não era seu. Quem havia colocado uma foto dela no colar?

– Gente, essa sou eu.

– Que bonitinha. - Pierre olhava o colar.

– Mas o colar não é meu.

– Ué, e de quem será então? - Perguntou Sébastien.

– Não sei. De alguma pessoa que me conhece muito. Eu tenho uma irmã que não a vejo desde que eu tinha dois anos, essa foto foi realizada na última vez que a vi.

– E por que, Laurence?

– Ah, Avril... Eu não sei direito sobre a história.

Ao voltarem para o hotel, instantes depois, lá estava Laura, desesperada procurando o seu colar.

– Alguém viu o meu colar?

– Como ele é? - Indagou Laurence.

– Um coração de ouro. Abrindo-o tem a foto da minha irmã, que não a vejo desde que ela tinha dois anos de idade.

– Espera, você disse irmã?

– Sim. - Laura ficou assustada.

– Como ela é?

– Bom, ela tinha cabelos castanhos que nem o seu, uma pele linda, sapeca, gordinha... Hoje ela já deve ter a sua idade.

– Me fala mais sobre ela. Vocês brincavam muito?

– Brincávamos.

– Laura...

– O que, Laurence?

– Eu não consigo acreditar que é você.

– Eu o quê?

– A irmã que eu tanto procurei. Eu achei esse colar, e nessa foto sou eu.

– Laurence? Você é minha irmã?

– Sim.

– Ah, que felicidade.

As duas se abraçaram. Finalmente se reencontraram após muitos anos. Estavam muito contentes e ficaram matando as saudades até de madrugada.

Flashback off

Melanie recebeu alguns medicamentos e uma vacina na perna onde levou uma mordida. A menina gemia de dores, mas ficou calma, pois sabia que aquilo, de alguma forma, iria curá-la. Teve que passar por uma cirurgia, pois o osso de sua perna havia sido deslocado e se não tivesse tratamento a tempo, aquilo poderia apodrecer e até mesmo matá-la.

A cirurgia foi um sucesso, mas precisou colocar em sua perna por causa de uma pequena fratura. Os dentes do lobo haviam perfurado a pele da garotinha. A enfermeira que estava medicando Melanie, entregou para ela um par de muletas, e ela saiu andando apoiada nas mesmas, e ainda gemia de dor. Mas tudo ocorreu bem, e eles retornaram à sua casa.

[...]

─ Sébastien, que foto é essa? - Perguntou Laurence furiosa ao mostrar uma foto de Sébastien beijando outra mulher, enquanto os dois estavam nus sobre a cama.

─ O que é isso? - Sébastien pegou a foto das mãos de Laurence e analisou, não acreditando no que estava vendo.

─ Eu gostaria que você me explicasse isso, Sébastien Lefebvre. - Ela cruzou os braços e disfarçou as lágrimas que por pouco caíra sobre seu rosto.

─ Meu amor...

─ Não me chama de amor. O meu nome é Laurence. - Ela o interrompeu.

─ Laurence... Eu não sei como isso foi parar em suas mãos.

─ Ah, então você admite que transou com uma vadia? - Gritou ela.

─ Fala baixo!

─ EU NÃO VOU FALAR BAIXO! ME RESPONDA, SÉBASTIEN ALEXANDER PÉPIN LEFEBVRE!

─ Laurence, isso é montagem. Alguém deve estar tentando acabar com a nossa vida.

─ E por acaso quer que eu acredite nisso? Homens são todos iguais. Você é um verme, Sébastien.

Ela subiu as escadas e se dirigiu ao quarto de hóspedes. Certificou-se de que trancou a porta do quarto e foi até seu banheiro. Rosqueou a torneira e assim como a água escorria na pia, lágrimas infinitas rolaram em seu rosto e ela continuou se perguntando o que fez para o mundo ser assim, tão injusto com ela.

Lavou seu rosto uma, duas, três, quatro vezes e fechou a torneira. Sentou-se no chão de seu banheiro e começou a chorar de novo, só que desta vez de raiva. Uma coisa horrível é chorar de raiva, você chora e esse sentimento não sai de jeito algum, ao menos que você faça algo para mudá-lo.

Ela estava fazendo isso sem parar, chorava e chorava repetidas vezes. Por quê? Porque ela não aguenta, não é forte o suficiente, não entende nada, o mundo, as pessoas... É tudo tão confuso. Cada vez mais. Agora o choro de raiva vem acompanhado do ódio que sente para com Sébastien, que a maltrata e não entende seus sentimentos, ele não percebe, e nunca vai perceber, o quão ruim é isso.

Não se sabe o porquê faz, porque pratica, mas faz isso por simples maldade. Não, espera, Sébastien não seria capaz. Será que estava sendo vítima de uma armação? Bem, era isso que Laurence gostaria de acreditar, mas não conseguia.

Raiva, angústia, solidão, ódio e tristeza invadiam o coração daquela pequena garota sentada no canto de seu banheiro, inconformada com a vida. Ela estava sozinha e a palavra solidão a assombrava.

Levantou-se e abriu o chuveiro, a água estava gelada. Mesmo estando no inverno ela entrou de roupa embaixo dele. Mais gelada estava ela por dentro do que o frio que sentia naquele momento. Sentou-se no chão e chorou novamente. A água caia em sua cabeça pesadamente. Ela fazia várias perguntas a si mesma, a qual não sabia como responder.

Enfim saiu do chuveiro, desligou-o e limpou seu rosto. Foi se olhar no espelho, seus olhos estavam da cor dos cabelos de Hayley: vermelhos. Havia muito desespero dentro dela. Ela não sabia mais o que fazer.

Saiu do banheiro, se secou e se trocou. Suas perguntas continuavam, assim como não havia respostas para tais.

Quando deitou a cabeça em seu travesseiro sabia que o dia de amanhã seria novamente difícil e repetitivo como sempre, então teria que ser forte, mais forte do que imaginava.

[...]

Na manhã seguinte, quando Laurence acordou, decidiu sair de casa às pressas, porém sem levar nada, apenas para esfriar a cabeça. Talvez ela levasse algo mais tarde, mas por enquanto, ela queria apenas esquecer-se das coisas que a faziam mal.

Pegou uma blusa xadrez, que estava perto de uma blusa com a foto do Sébastien com a letra de “My Dear” nas costas. Chorou ao ver a roupa ali, pendurada sobre o cabide, mas enxugou as lágrimas rapidamente e vestiu a blusa que havia apanhado antes.

Colocou a mesma sobre a cama, junto de uma calça jeans justa - ou seja, skinny - e vestiu tudo depressa. Como o frio de Montreal ainda estava rigoroso, e ainda caíam flocos de neve, ela alcançou uma jaqueta de snowboarding, daquelas grossas, que protegia totalmente do frio e também da neve, que poderia congelá-la - obviamente -.

Dirigiu-se até a porta da sala em silêncio, para que Sébastien não a visse, e foi caminhando pelas ruas de Montreal. Sem rumo, sem vida, sem ânimo. E ânimo pra quê? A vida não faria mais sentido algum para Laurence.

No caminho ela repensou em como foi seu dia anterior e já sabia o que aconteceria novamente. Enfim chegou à sua antiga escola, e antes de passar pelo portão, ela deu um suspiro fundo e entrou naquele local onde passou dias sofridos. Foi lá que conheceu Sébastien e apaixonou-se. Lágrimas rolavam em seu rosto de forma severa, e os sons de sua respiração ofegante acompanhada de alguns soluços era a única coisa que se podia ouvir.

Sentou-se perto de um canteiro de flores e acompanhou os flocos de neve caindo sobre os galhos de árvore. Vestiu o capuz para que sua cabeça não ficasse congelada, e olhou à sua volta. A escola estava em reforma e, portanto, estudantes estavam em suas casas. Também não haveria condições de estudar em um clima tão frio e rigoroso como aquele, pois a neve estava na altura dos joelhos... Corajoso Laurence por ter saído de casa na época de inverno.

O poder das dores a fez chorar novamente, hora após hora. Até que ela viu um caco de vidro sobre a grama, e ela não pensou duas vezes, já havia feito aquilo, somente uma vez, e agora era necessário. Ela precisava.

Se cortar foi um jeito de tirar a dor de dentro. Um simples gesto e o sangue escorria pelo seu pulso. Ardia, mas isso não a incomodava. Apenas demonstrar para si mesma que a dor por fora, a dor de se cortar, poderia ser mais forte do que a de dentro (o que ela sabia realmente que não era) a acalmou um pouco e ela repetiu o ato mais três vezes. Apenas parou por causa da visita de Lachelle e Sarah.

─ Laurence, por que você está fazendo isso? - Perguntou Lachelle que segurava o pulso de Laurence com cuidado para não machucá-la, enquanto o sangue ainda jorrava por todos os lados.

─ Eu não presto para nada nessa vida. Eu quero morrer. Vou me suicidar. Vocês sabem de algum supermercado aqui perto para eu comprar veneno de rato? Pode até ser pet shop. - Laurence chorava mais ainda ao falar. Algumas coisas saíram emboladas por causa de sua voz ofegante.

─ Laurence, você é jovem, linda... Não tem que ficar se matando dessa maneira. Você já parou para pensar que isto pode ser uma armação? - Disse Sarah tentando acalmar a morena, mas os choros e os soluços ecoavam-se cada vez mais. Por sorte, o local estava deserto.

─ Sarah, você já tentou se matar muitas vezes, e já tentou me matar. - Exclamou Laurence um pouco furiosa, sem medir as consequências de suas palavras.

─ Eu sei disso muito bem, Laurence. Lachelle e eu tentamos isso, mas no céu, nós recebemos uma segunda chance, e vimos que estávamos perdendo o nosso tempo tentando prejudicá-la. Apenas para de se matar, não é isso que merece. - Sarah disse com uma voz calma, sem se preocupar com um pouco da ofensa que Laurence havia cometido.

─ Mas o Sébastien...

─ Ele é um cara doce, não iria fazer isso com uma menina tão linda como você. - Sarah interrompeu Laurence.

─ Eu perdi a vontade de viver. - Nesse instante, o celular de Laurence tocou. Era Sébastien, e ela desligou depressa.

Uma, duas, três... Quatro chamadas perdidas de Sébastien. Porém, na quinta vez, ela atendeu, pois Lachelle havia ordenado para que ela fizesse isso. Talvez fosse algo importante.

“O que você quer, Sébastien? O QUÊ? COMO ASSIM A LAUREN FOI SEQUESTRADA? Ok, eu estou indo te encontrar. Na delegacia? Tudo bem, estou saindo daqui. Até mais. ” - Laurence desligou o celular e saiu correndo, deixando Lachelle e Sarah falando sozinhas. Mas não se importaram, pois tratava de algo urgente.

Fez a mesma coisa que no dia anterior, porém sem cortar os pulsos. Apenas lágrimas e uma dor forte no peito. Esse agora era o ciclo de seu dia. Puxou a manga da blusa para que cobrisse parte da sua mãe. A desculpa era o frio lá fora, mas a verdade eram seus pulsos.

Sentiu-se melhor por um tempo, mas quando pisou no portão da delegacia após uma hora de jornada até lá, quase chorou novamente ao pensar que teria que suportar ver o rosto de Sébastien. Ela sabia que era muito forte por tudo aquilo, mas não o suficiente. O sorriso de sempre não havia mais em seu rosto. Agora se tornara uma pessoa séria. Não aguentava mais ficar em casa chorando e quando sair, colocar rapidamente um sorriso. Não. Isso era falsidade demais. Aquilo não era o que ela sentia, então pra que demonstrar o que não é realmente?

Ela chegou até o local onde Sébastien se encontrava, e ao ver a Laurence, abriu um sorriso largo. Laurence não correspondeu tal ato.

─ Tudo bem? - Perguntou Sébastien.

─ Tudo. - Ela respondeu, olhando para os lados.

─ Não parece.

Ela olhou pra ele como se perguntasse o porquê e ele olhou para os seus pulsos. A manga de sua blusa havia subido um pouco e os cortes estavam à mostra. Ela puxou a manga rapidamente.

─ Ah... É que... - Ela estava tentando encontrar alguma resposta.

─ Não precisa se explicar. - Ele disse.

─ Você não entenderia. - Disse ela.

─ Talvez.

─ Como assim?

─ Laurence, eu sei que está assim por minha causa. Mas eu fui vítima de uma armação.

─ Sébastien, depois nós discutimos isso. Agora precisamos saber da nossa filha. Porque apesar de tudo, você nunca vai deixar de ser pai dela.

Sébastien sorriu de canto ao ouvir a última frase, e Laurence tirou a sua blusa. Abriu os botões de sua blusa xadrez até formar um decote na mesma. Sébastien não conseguia desviar a atenção aos movimentos das mãos de Laurence. De alguma forma, aquilo estava o provocando, e ele já estava começando a suar.

─ Aqui é quente demais. - Disse Laurence.

─ Sério? Eu estou com... Com... Frio. - Sébastien tropeçou nas palavras por ainda estar atento ao decote de Laurence.

─ Mas você está suando. - Laurence mordeu os lábios com força, para conter o riso, pois percebeu que Sébastien estava se sentindo provocado.

─ Eu? Não, eu... Eu... Estou com frio, de verdade.

─ Ah... Eu estou suando. - Laurence se limpou com as mãos, passando perto de seus seios, o que fez Sébastien delirar ainda mais.

Sébastien se levantou, furioso, e beijou Laurence fervorosamente. Por um momento ela cedeu, mas logo o empurrou, três minutos depois.

─ Você é louco, Sébastien?

─ Por você, Laurence. Eu não estou mais suportando ficar longe de você.

─ Quem mandou aprontar comigo? Agora aguente as consequências.

─ Eu já disse que foi uma armação.

─ Enquanto não provar, eu não vou acreditar. Foi um grande erro ter me apaixonado por você. E por favor, sai de cima de mim!

Sébastien se afastou e voltou para o seu lugar. Laurence fechou novamente os botões de sua blusa, após perceber que o delegado estava se aproximando. Eles estavam atentos à investigação do crime, e precisavam encontrar Lauren de uma vez por todas.


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Notas finais do capítulo

Ri muito da Laurence deixando o Seb ''louco'' HSUAHSUAHSUAHSUAHS



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