Segredos Em Família escrita por Carol Bandeira


Capítulo 17
Mulheres!


Notas iniciais do capítulo

A julgar pelo título, vocês já devem notar que o Grissom está metendo os pés pelas mãos com as senhoras dele...
Ah um lembrete! Qualquer conversa iniciada por aspas " signfica conversa na linguagem dos sinais". Praticamente qualquer conversa que se tenha com Betty é feita em sinais. Sem mais!
Boa leitura



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O tempo nunca passou tão rápido para Grissom como naquele fim de semana. Ele esperava ter mais tempo para se preparar, mas o universo conspirava contra ele. Muito trabalho, pouco descanso e nenhum tempo para sua família.

Naquele domingo Sara ordenou que Grissom descansasse enquanto ela preparava o almoço para sua sogra. Era uma prova de o quanto ela o amava- disse isso a Grissom na cozinha- pois ela sempre evitava cozinhar para Beth, já que a senhora não parecia apreciar os pratos vegetarianos que a nora fazia.

–Afinal, quem não gosta de uma lasanha de quatro queijos?- ela dizia enquanto cozinhava a massa- Já pensou no que irá dizer a ela?

–Não...- Grissom quase gemeu ao responder.

–É melhor você se decidir logo. Daqui a pouco ela chega, e se você continuar com essa cara de sofredor aí mesmo que ela vai ficar preocupada.

Gil amarrou a cara, mais por saber que sua esposa estava certa do que por outra coisa. Levantando-se da mesa, Gil saiu sem responder a mulher, indo em direção ao escritório na intenção de se trancar lá até sua mãe chegar. Não estava a fim de ficar ouvindo Sara o repreender toda hora. Infelizmente para o homem, Cássia apareceu do nada para se grudar em suas pernas, exigindo que o pai fosse brincar com ela. E foi isso que Gil fez até ouvir a campainha tocar, sinalizando a chegada da matriarca da família.

Como sempre, Cássia saiu correndo na frente. A relação dela com a avó era ótima, e toda vez que a neta sabia que se encontraria com a avó ela era só sorrisos. Após recepcionar sua mãe ele a levou até a sala, onde Betty se acomodou no sofá, com Cássia em seu colo conversando sobre seu fim de semana. Logo Sara apareceu para falar com a sogra e para afirmar que o almoço estava quase pronto.

A espera para o almoço foi extremamente desagradável para Gil, não por conta do silêncio, afinal este era normal com sua mãe. Mas Gil sabia que este não seria um almoço qualquer e Betty com certeza já percebera isso.Os dois então se distraíram com Cássia até Sara pedir que Gil colocasse a mesa. Logo a família já se reunia para partilhar o almoço, que na opinião de Grissom passou tão rápido quanto os dias anteriores. O que estava havendo com o tempo, alguém acelerara os relógios?

Cássia insistira para eles tomarem a sobremesa-sorvetes- na varanda, assim ela poderia brincar no balanço novo que ganhara da avó. Os adultos seguiram a menina para o quintal, onde ficaram brincando juntos até que Cássia começou a bocejar. Ela havia acordado cedo aquele dia, ansiosa para que a avó chegasse. Foi nessa hora que Sara agiu, vendo que seu marido não tomaria iniciativa para fazer o que tinha que ser feito.

Quando Gil se viu sozinho com sua mãe pela primeira vez naquela tarde sua garganta pareceu se fechar. A senhora se sentou no banco de madeira que ficava de frente para a área onde Cássia brincava e bateu a mão na madeira a seu lado, convidando seu filho a se sentar. Gil suspirou fundo e se sentou ao lado da mãe, apoiando seus braços em cima das pernas, as mãos juntas em um gesto de nervosismo.

Mais do que amava passar o tempo com sua neta, Betty adorava quando ela podia conversar com seu filho sem interrupções. Afinal ele era o grande amor de sua vida, o motivo pelo qual ela conseguiu superar a perda trágica de seu marido. A senhora pôs uma de suas mãos nas do filho e as separou. O gesto chamou a atenção de Gil, que finalmente virou sua atenção para a mãe.

“Eu já te disse o quanto eu agradeço a Deus por ter me permitido ver minha primeira neta? Ela é tão linda, Gil. Tão boa...ela me lembra muito a você.”

Gil sorriu para a mãe e passou uma mão no rosto dela.

“Eu também agradeço por Cássia todos os dias...e por Sara...eu não sabia o quanto precisava delas até eu tê-las para mim.”

Apesar dessa fala Betty percebeu no semblante de seu filho algo de triste.

“Então porque você está tão triste, meu filho? Há semanas que só o vejo com nada a não ser preocupação no rosto...desde que foi fazer aquela viagem.”

Gil não pode deixar de sorrir ao ouvir o comentário da mãe. Apesar de ambos serem pessoas muito fechadas, sua mãe não via problemas em ir direto ao assunto quando algo a incomodava. Já Gil, bem era mais fácil arrancar-lhe um dente que extrair qualquer informação que ele não quisesse compartilhar.

“Bem...mãe...eu...eu recebi uma notícia, bem, inesperada a umas semanas atrás, um pouco antes da viagem” Gil teve que parar de falar, já que suas mãos tremiam tanto que dificultariam sua conversa com Betty “Eu queria sim te contar mas ... eu não poderia sem antes ter certeza do que estava se passando. Eu espero que me perdoe por fazer com que você se preocupasse tanto...mas eu realmente...Você se lembra de Ângela, uma amiga minha de Massachusetts?”

Betty ficou confusa com a mudança de tópico repentina, então demorou um pouco a responder.

“Ah... Ângela..não era a esposa de um amigo seu? “

“Sim, ela mesma. Bem, fazia muito tempo que eu não pensava nela, não falava com ela e então...ela apareceu de repente no meu trabalho. Dizendo que queria falar comigo. Ela me contou que...que ela teve um filho meu...há uns quinze anos...ela só veio me dizer isso a pouco tempo.”

Ao observar a reação de Betty à bomba que ele revelou Gil não podia ter certeza do que se passava na cabeça dela. Se Sara estivesse ali provavelmente faria uma piada com relação a maneira semelhante com que Gil reagia a notícias inusitadas. Mas o homem estava preocupado demais com sua mãe para achar graça na situação.

“Mãe?” Gil tocou no rosto de Betty, querendo chamar a atenção da senhora “ Você está bem?” Fez a pergunta usando somente uma das mãos.

“Um filho? Eu não posso...” Betty retirou a mão de Gil de seu rosto “Meu Deus, Gil! Como isso é possível? Essa mulher só pode estar brincando? Como ela teria coragem de esperar tanto tempo...de fazer isso com você? Isso é verdade?!

Claramente exaltada, Betty gesticulava violentamente, tornando difícil para Gil de entender o que dizia.

“Mãe, por favor...eu já me fiz todas essas perguntas, e quanto as respostas...bem, isso é um problema meu com ela. Um que eu já lidei...agora, o que eu posso te dizer? Ângela aceitou fazer o teste de paternidade, e sim, ela está falando a verdade...a viagem que eu fiz foi para conhecer o menino.”

“Mas essa viagem foi há um século! Porque você demorou tanto a me contar?”

“Bem...eu não sabia ao certo como iria te contar sobre isso...e também quando eu voltei de viajem tinha tantas coisas acontecendo com a gravidez de Sara. Isso me fugiu a cabeça até agora.”

Neste momento a porta da sala se abriu e Hank saiu correndo até Gil, sendo seguido de perto por Sara. A morena trazia em suas mãos dois copos de um líquido amarelo e debaixo do braço o que parecia um álbum de fotos.

“Trouxe um suco de maracujá, para acalmar os nervos” ela disse enquanto o marido se levantava para pegar os copos.

Oferecendo um para sua mãe, Gil aproveitou para falar com Sara.

"Obrigado, querida. Precisávamos de algo para os nervos mesmo!"

–Eu reparei. Dei uma olhada pela janela enquanto lavava a louça do almoço. Ela está bem?- Sara indicou a sogra com a cabeça

Gil olhou de relance para a mãe, a qual olhava para o copo como se este fosse o objeto mais interessante que vira na vida.

–Não sei ao certo. Ela não me pareceu muito feliz com isso, mas também....nem eu estava quando recebi a notícia.

Sara então pegou o álbum que trouxera da sala e , dando um beijo no marido, foi entregar o objeto para Betty.

“Betty, aqui está. Este é um álbum com as fotos de Noah, seu neto”

Betty olhou para Sara, os olhos húmidos e a boca cerrada, balançando a cabeça ante a palavra “neto”.

“Eu sei, eu sei. Mas esse menino não tem culpa. Dê a ele uma chance... Gil já o fez.”

Sara saiu do pátio em direção à cozinha, sem nem olhar na direção de Gil. Se o fizesse tinha certeza de que começaria a chorar. Ao entrar na casa uma de suas mãos foi direto para sua barriga ainda lisa, enquanto a outra foi esconder o soluço que deu ao começar a chorar.

Enquanto isso, lá fora mãe e filho folheavam juntos as páginas do álbum. Betty agora não tentava segurar as lágrimas. As primeiras fotos de um Noah bebê eram idênticas as de Gil com a mesma idade. Conforme o garoto crescia ,porém, ele perdera a semelhança com o pai, restando apenas a cor dos olhos e a covinha no queixo.

Conforme Betty passava pelas fotos, Gil relatava detalhe por detalhe sobre aquele neto que era ainda um desconhecido para Betty. Quando Gil terminou sua história, o único detalhe que Betty queria saber era

“Quando vou conhecer meu neto?”

*~*~*~*CSI*~*~*~*

Noah estava jogando seu vídeo-game quando o barulho característico de mensagem nova do Skype soou de seu computador. O jovem logo largou o console para lá, com a pressa que tinha para ligar o outro aparelho. Somente uma pessoa usava o Skype para se comunicar com ele, e essa pessoa era alguém mais que importante na vida do garoto.

–Pai! Oi!

A imagem de Grissom apareceu na tela, e Noah pode ver o sorriso brotar no rosto de seu velho. Era gratificante saber que seu pai se alegrava ao vê-lo. Ainda mais depois da saída abrupta de Gil em sua primeira visita ao filho. Apesar de entender que era uma emergência com a esposa, Noah não conseguia se livrar do sentimento de ser menos importante para Gil do que a família que ele deixara em Vegas. Desde então qualquer demonstração de afeto do pai se tornara mais do que importante para ele. Se seus amigos soubessem o quanto ele estava sentimental desde que seu pai aparecera em sua vida com certeza seria chamado de mimado, bichona ou coisas do gênero.

O que Noah sabia era que ninguém que ele conhece poderia entender o que estava se passando com ele. Seus sentimentos com relação a seus pais variavam hora a hora. Enquanto estava extasiado por ter encontrado seu pai, Noah não podia deixar de ressentir o fato de que ele quase não lhe dava atenção. Ele entendia que a distancia era um fator que complicava sua relação, mas nos dias de hoje existiam tantos meios de encurtar essa distância. Então por que o homem quase não ligava ou mandava mensagens via qualquer aplicativo que existisse para isso? Noah imaginava seu pai brincando horas com sua irmã, enquanto ele checava ansioso por qualquer mensagem dele. Noah pensou até em ligar ele mesmo, mas era orgulhoso demais para fazê-lo. Se o pai quisesse mesmo falar com ele, ah ele teria que ligar.

Seu relacionamento com sua mãe também estava sofrendo com essa nova fase. Noah amava sua mãe, disso não havia dúvidas. Ela fizera o melhor que pode para cria-lo da melhor maneira possível. Noah não era ingrato para não reconhecer o quanto ela abdicara de sua vida para que ele pudesse ser o garoto bem ajustado que era. Mas mesmo assim, nos dias que ele mais sentia falta do pai era nela que ele descontava. Afinal, ele raciocinava que a culpa era dela por ele não ter contato com o pai esses anos todos. Nesses dias de raiva ele tinha que se trancar em seu quarto ou sair de casa para não jogar para cima dela todas as suas frustrações.

Toda essa angústia que ele sentia o fazia mal. Noah não queria ser aquele jovem revoltado, que pensava que o mundo estava caindo a seus pés. Ele não era desse tipo ciumento e enraivecido. Ele não queria ser. Mas as circunstancias tornavam tudo muito difícil de aturar. Ele só esperava não estourar para cima deles.

–Noah, como vai? Treinando muito para as competições?

–Ótimo. O treinador tira nosso couro quando estamos próximos de um torneio, mas já estou acostumado.

–Muito bom, muito bom.

–E como vão as coisas aí? Sua mulher está bem? E minha irmã?

–Sim, Sara já está cem por cento. Cássia está crescendo depressa...e Noah...espero que você não se importe, mas eu contei sobre você para sua avó.

–Eu nem sabia que tinha uma avó paterna! Mas tudo bem. Ela teria que saber de qualquer jeito, não é?

–Sim...então, mas agora que ela já sabe, está insistindo para te conhecer. E isso seria uma oportunidade ótima para você vir passar uns dias comigo, o que acha? Teria que perguntar a sua mãe primeiro, mas queria saber se você está interessado?

–Mas é claro! Quando eu posso ir!

–Que tal no dia de Ação de Graças?Você terá um recesso escolar nesses dias, não é? Assim poderíamos nos ver com mais calma.

–Sim! Vou já falar com a minha mãe e...

–Calma aí, garotão. Deixa que eu ligo e falo com ela. Deveria ter feito isso primeiro...não conte a ela que falei com você sem passar por ela primeiro. Ela vai achar que estou forçando ela a aceitar- Gil deu uma piscadela de olho para o filho- Algo que eu nunca faria, é claro!

Noah riu junto com o pai.

–É claro!

*~*~*~*CSI*~*~*~*

Quando Gil ligou para Ângela no fim daquele dia não esperava que fosse ter que travar uma negociação tão difícil quanto aquela. Apesar de não se opor a ideia de Betty conhecer o neto ela não queria de jeito nenhum deixar o filho ir até Vegas. Sugeriu então que ele levasse Betty para conhecê-lo, ao que Gil negou veementemente. Disse que não queria deixar sua esposa sozinha, ainda mais no dia de Ação de Graças. Angie então sugeriu que ele trocasse a data, mas Gil disse que queria mais tempo com o filho, e que um fim de semana só não seria suficiente. Aquele feriado cairia em uma quinta, e a escola de Noah enforcaria a sexta-feira. Gil disse que compraria uma passagem para Noah voar até Vegas no fim da tarde de quarta. Angie reclamou que não sentia segura em deixar seu filho sozinho em Vegas, era muito perigoso. O perito jurou que não deixaria o filho sozinho em nenhum instante. No fim, cansado de tanto discutir, Gil deixou escapar que já falara com Noah, e que ele ficaria muito chateado se não pudesse ver o pai. Angela, muito irritada com a atitude de Gil, disse então que se Noah fosse ela teria que ir junto. O homem prontamente concordou, sentindo-se aliviado por ter conseguido o que queria.

Foi somente depois que pôs o telefone no gancho que ele se deu conta, olhando para a foto de sua mulher que mantinha na mesa de seu escritório. Sara não ficaria nada feliz em receber a outra mulher na casa deles. Pensando bem, nem sua mãe ficaria muito feliz com a notícia.

–Ótimo, Gil, é a sua cara mesmo! Conseguir deixar não só uma, mas três mulheres irritadas com você em um só dia!

Sua exclamação assustou Hank, que olhou para seu dono assustado.

–Esperto é você, amigão! Ficar solteirão e dar suas saídas pela vizinhança. Muito menos dor de cabeça- Gil deitou sua cabeça na mesa e soltou um suspiro- Espero que o próximo seja um menino...não vou aguentar mais duas mulheres na minha vida!


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