Acordei de repente e logo descobri o porque. Minha mãe me sacudia de leve e me chamava baixinho.

Abri meus olhos e a vi. Minha mãe, com os cabelos lanzudos, castanhos e olhos da mesma cor.

- Já é dia 1°? - perguntei com a voz abafada pelo travesseiro.

- Já, querida. Por isso tem que acordar cedo, o trem sai às onze e já são nove horas. Vamos, levante, vou acordar seu irmão. - e dizendo isso, saiu do quarto.

Me levantei lentamente e me dirigi ao espelho na porta do meu armário. Olhei bem para a imagem que este refletia; uma garota de dezesseis anos, de cabelos castanhos-avermelhados e bem cacheados e olhos cor de mel me encarou. Essa era eu. Não admirava minha aparência, mas se havia algo em mim que eu me orgulhava era minha inteligência. Passei em todos os N.O.M.s no ano passado e tinha as melhores notas do ano. É claro, eu não saía falando isso, mas as pessoas descobriam e me humilhavam pelo simples fato de ser inteligênte.

Me troquei rapidamente e logo estava com uma camisa simples azul, jeans um pouco surradas e um all-star velho. Me trocaria no trem.

Fui até a cozinha e encontrei minha família já tomando café. Meu pai, cabelos ruivos e olhos azuis, lendo O Profeta Diário; meu irmão, exatamente igual a meu pai, devorando tudo que punham em sua frente, e minha mãe fazendo torradas para mim.

Me sentei enquanto minha mãe colocava alguns pães no meu prato. Estava com bastante fome, mas encarei a torrada por um tempo.

Esse ano seria igual aos outros. Pessoas me importunando o tempo inteiro, falando sobre o meu cabelo, minhas vestes velhas, minha inteligência e, principalmente, minha falta de amigos.

Não que eu fosse anti-social. Eu tenho só uma amiga, sim, a Lily, minha prima, mas não foi por falta de tentativa. Eu tentei ser amiga das meninas do meu ano, mas elas só falavam dos mesmos assuntos: roupas, sapatos, garotos, falta de estilo de algumas garotas - como eu - e principalmente dele. Ele, Ben Gruun. Aquele garoto que é o mais bonito, mais inteligente e mais popular da escola. Aquele que eu era secretamente apaixonada desde o primeiro ano. Mas ele tinha um namorada, a Jennifer, a garota mais popular.

Meu estômago revirou e de repente, perdi a fome.

Faltavam dez minutos para o trem sair quando encontrei Lily. Estava se despedindo de seu pai, meu tio Harry.

- Oi - eu disse sem fôlego pois estava correndo para tentar achá-la

- Olá, Rose. - disse Harry - Bom, já vou indo, Gina deve estar me esperando. Tchau para vocês duas.

Ele nos deu um rápido abraço e desapareceu na multidão.

- E aí, como foi seu verão? - perguntou Lily. Tinha cabelo ruivo claro, olhos castanhos e um sorriso no rosto. Era dois anos mais nova do que eu, mas nos dávamos muito bem.

- Aah, nada demais. E você?

- Eu fui no jogo das Harpias de Holyhead! - disse ela animadíssima. Quase tinha esquecido a obseção de Lily por quadribol.

- Hum, legal. - eu disse pois não tinha o menor interesse no assunto - Escute, vamos achar um compartimento, ou não vai mais sobrar um vazio.

Achamos um vagão vazio depois de muita procura. Nos sentamos e conversamos um pouco.

Já na metade do caminho até Hogwarts, quando o carrinho de doces já tinha passado, um grupo de pessoas entrou no vagão. Eu estava lendo o novo livro de Transfiguração e Lily, uma revista de quadribol. Levantei a cabeça para ver quem era. Era um grupo de garotos da Sonserina, entre eles, Nott, um grandalhão do grupo e também o líder.

- E aí, Weasley? Legal esse livro, não é? Por que você não empresta para todos os seus amigos? Ah é, esqueci. Você não tem amigos! - disse ele rindo.

Perdi o controle. Não era a piada sem graça que me irritava, era que eu estava cançada.

- ESCUTA AQUI, NOTT! EU ESTOU FARTA, FARTA, DE VOCÊS! - e parti para cima dele, mas Lily me segurou pelas costas.

- Sai fora, Nott.

- Ok. Vamos pessoal, vamos deixar a Potter-Perdedora e a Weasley-Sem-Amigos sozinhas.

E sairam rindo. Mas, antes que a porta se fechasse, vi um dos garotos. Tinha cabelos louros, olhos claros e era alto. E o mais impressionante: não estava rindo de mim.