Primeiro Beijo escrita por Lost Satellite


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Uma original, existe apenas uma menção a melhor saga de todos os tempos Harry Potter.



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- E então você é ou não é? – Ana tornou a perguntar, com os olhos brilhando em expectativa e curiosidade.

Receosa e nervosa, abri a boca para responder, embora som algum pudesse sair. Poderia mentir, poderia simplesmente não responder, mas não podia dizer a verdade, não admitiria aquela constrangedora e humilhante verdade.

- Não! – Finalmente respondi convicta de que mentir era a melhor opção.

- Hmmm, é mesmo. E com quem foi? – Ela ainda curiosa especulou. – Diga Liza, com quem foi?

- Deixe de ser curiosa Ana, não irei contar, é muito pessoal. – Tentei dar a volta no assunto.

- Liz, se não me dizer com quem foi, vou achar que está mentindo para mim, diga logo, com quem foi que você deu o seu primeiro beijo! – Exigiu ela, me colocando contra a parede. Minhas mãos tremeram, e logo comecei a suar frio, eu nunca fui muito boa em mentiras, então o jeito era fugir.

- N-não vou lhe dizer, vamos aceite isso. Tenho que ir até a biblioteca, se não se importa, converso com você mais tarde. – Peguei minha mochila e me levantei da calçada, deixando Ana sentada sozinha na porta do colégio.

- Ótimo, agora dei pra ficar mentindo! – Resmunguei batendo com a palma da mão em minha testa, enquanto caminhava em direção à biblioteca há uns dois quarteirões da escola.

Era difícil aos 17 anos admitir que eu nunca houvesse beijado. Não que eu não quisesse, afinal sempre desejei mudar essa situação, mas toda vez que me propunha a fazer essa passagem, ou não encontrava a pessoa certa, ou então algo dava errado. Eu é que não iria dar o meu tão querido e esperado beijo com qualquer um, ele teria que ser especial, teria que ser único e memorável, um beijo que não me envergonhasse ao lembra-lo nas minhas doces recordações da juventude. O pior é que falando assim pareço até uma velha cheia de sonhos não realizados, talvez.

Tente entender, para mim o beijo é algo o mais do que só contato físico ou atração, também não estou falando só de amor, embora ache que seja fundamental nessa ocasião, mas o que estou querendo dizer é que o beijo significa um encontro de almas, onde algo magico e único acontece, algo que transcende até mesmo o nosso entendimento. Digo isso com toda certeza, porque você jamais vai se esquecer de como é aquele momento, e então você passara a ansiar por mais e mais. Beijar é como se drogar, você vai se viciar e se embriagar nas emoções e sensações que o beijo lhe proporciona. Isso é um fato.

Uma vez, em uma ocasião eu cheguei tão perto, mas tão perto de me realizar, foi realmente por pouco, uma pena que tenha sido estragado. Lembro-me até hoje com detalhes e remorso.

- Liza, eu não entendo como uma garota como você ainda está sozinha. – Fred me perguntou sorrindo. Naquele momento a rua estava deserta, caminhávamos de volta para minha casa, havíamos ido ao cinema, e voltávamos caminhando. Afinal de contas eram apenas alguns minutos.

- Talvez eu só não tenha encontrado a pessoa certa. – Joguei verde na intenção de colher maduro.

- Sei bem como é isso. Sempre penso em ter alguém legal ao meu lado, mais aí vem aquela duvida, onde ela está?

- Exatamente. Vai ver ela está mais perto do que se imagina não é?!

- Nunca se sabe, sinto que serei surpreendido pela vida. – De repente ele estacou no meio da calçada me encarando. – Liza, você acha mesmo que ela está perto?

- Sim, dá pra sentir no ar. – O encarei me aproximando.

- Posso lhe contar um segredo?

- Sempre.

- Eu penso muito em você.

É agora, tenho certeza. Vou ser beijada, vou viver um romance desses de tirar o folego.

- Pensa? E o que isso significa?

Ele deu dois passos eliminando a distancia entre nós. É agora, pensei comigo.

- Significa que quero você ao meu lado. – Quando finalmente achei que ia chegar ao momento tão aclamado, ao invés de me beijar ele apenas me abraçou. – Quero uma amiga de verdade ao meu lado.

Você deve estar se perguntando: Mas o que é isso?!

Cara de tacho. Sabe o que é isso?! Decepção, eu querendo um namorado, e ele querendo uma amiga. Eu realmente achei que ele podia ser e era perfeito para cumprir com o que eu havia sonhado.

Eu tinha 16 anos quando isso aconteceu, e desde então Fred e eu somos melhores amigos, ele ainda não encontrou a garota certa, mas nem quis esperar, experimentou quase todas que surgiram pelo caminho. Ele entrava e saia de um relacionamento como quem troca de roupa, e eu sempre fui o ombro amigo que estava ao seu lado, sempre.

Paciência com isso. Depois de ter conhecido garotos tão galinhas que queriam apenas passar o rodo, garotos comprometidos querendo uma aventura, ou então apenas amizade. Desisti. Uma amiga certa vez me disse que eu não preciso entrar em filas ou correr atrás, mas sim esperar que na hora certa, a pessoa certa, iria aparecer, e estaríamos prontos. Ela me disse que Deus tinha alguém especialmente preparado pra mim.

Acreditando nisso ou não, decidi apenas esperar.

E isso tem me atormentado todos os dias. É muita pressão, para que se fique com alguém, para que se namore, para que se esteja junto com alguém e blá blá blá.

- Liz! Liz! Liz! – Ana corria atrás de mim feita uma destrambelhada. Caminhei lentamente até ela me alcançar.

- O que foi? – Perguntei um pouco ressentida pelo interrogatório anterior.

- Está chateada comigo? Olha só, eu acho que você está mentindo pra mim, mas como uma boa amiga estou disposta a perdoar e a te ajudar.

- Hã? – Indaguei relembrando da mentira deslavada que lhe contei.

- Liz, eu sei que você é BV. – Ana falou se segurando para não rir.

- Ana, se isso sair daqui eu mato você. – Me entreguei ameaçando-a.

- Como pode? Você é tão linda e legal, qualquer garoto se jogaria na frente de um carro pra ter você. Por quê?

- Por que ainda não aconteceu, acho que sou exigente demais.

- Caramba, se você não fosse minha amiga eu iria curtir muito com a tua cara. – Ela riu descaradamente. – Vamos vou à biblioteca com você, tenho uns livros pra entregar mesmo.

A biblioteca estava quase deserta, não fosse por um nerd, sentado numa mesa aos fundos escondido atrás de uma pilha de livros de ficção.

- Liz, aquele ali deve estar na mesma situação, porque não o chama pra dar umas beijocas. – Ela riu com desdém.

Antes que eu pudesse lhe responder curta e grossa, alguém me interrompeu.

- Quem vai sair pra dar umas beijocas?- A voz atrás de mim perguntou me assustando, era ele.

- Oi Fred. – Ana o cumprimentou, já enrolando uma mecha dos seus cabelos loiros em seu dedo, demonstrando um charme, numa tentativa frustrada de chamar a atenção do meu amigo. Ela sempre fazia isso, e ele nunca notava.

- Oi Ana, e então quem vai sair pra dar umas beijocas? Não me diga que é você Liz, afinal nunca vi você saindo com ninguém desde muito tempo. – Ele riu. Ah, aquele sorriso, era sinal de falta de ar, sinal de que ele estava jogando com alguma garota, sinal de que até o final da semana eu estaria prestando ombro amigo a ele por outro relacionamento foguete que não conseguiu chegar às alturas.

- Eu estava sugerindo para a Liz dar uma saída essa noite, ela precisa se soltar um pouco, curtir, quem sabe dar uns beijos. – Ana provocou irônica.

- Quem sabe. – Respondi casualmente, dando de ombros enquanto analisava uns livros na prateleira. Odiava passar por aquilo, Ana era uma boa amiga, mas tinha seus defeitos como qualquer humano. Algum dia eu iria acabar matando-a, e quem iria me culpar?! Faria um grande favor à humanidade, é isso!

- Podíamos sair hoje, você e eu. – Sugeriu despreocupado Fred para Ana, que arregalou os olhos surpresa com o convite. Êpa que Lêlêlê é esse??! Desde quando Fred estava a fim de sair com Ana, ele nunca sequer olhou pra ela.

Ok, desde quando ele repara nela?! E por que quer sair com ela?! O que foi que eu perdi nessa história?!

- Claro, eu adoraria.

Deixei um livro cair diretamente no meu pé, e senti uma dor aguda ao abaixar rapidamente para apanha-lo e bater com a testa na prateleira. Típico para mim a anormal desastrada.

- Hei calma aí. Você parece um pouco desastrada hoje. – Meu amigo riu de mim enquanto, apanhava o livro que deixei cair com uma mão e com a outra segurava meu braço, me ajudando a levantar.

Por um momento enxerguei um pouco turvo, e logo senti a dor latejante no local da batida.

- Que ótimo. – Murmurei indo me sentar, com ele ainda segurando meu braço.

- Você está bem? – Perguntaram ambos ao mesmo tempo.

- Sim, só um pouco tonta. E então vão sair juntos?

- Acho que sim. – Minha amiga respondeu encarando com um sorriso o jovem a minha frente.

- Eu tenho que ir Liz. Me liga depois, os dois. – Ana se foi sorridente, acho até que se esqueceu de devolver os livros.

- ok. – Dissemos brevemente.

- Você está bem mesmo?

- É, estou legal. Tenho que ir, muito dever de casa para fazer.

- Vamos então. – Ele ofereceu a mão pra me levantar. O que eu recusei.

Fred é um ótimo amigo, de verdade. E se ele me quer como amiga, não sou eu quem vai fazer o contrario, é claro que saber que meus dois amigos iam sair e provavelmente rolar algo entre eles, mexia um pouco comigo. Nem sei o porquê, mas preferia que eles fossem apenas amigos.

- Liz, eu estive pensando. Queria te apresentar um amigo, você poderia sair com a gente hoje.

- U-um amigo?! – Me interessei sem querer.

- É, eai você vai?- Ele sorriu. Droga, outra vez aquele sorriso. Estava na cara que ele tinha Ana apenas como uma distração momentânea.

- Claro. – Eu é que não iria ficar de fora dessa.

- Ótimo passo na sua casa as oito. Esteja pronta. – Ele se foi, levando com ele o maldito sorriso que iria curtir com minha amiga. Ainda me pergunto, porque é que sempre me meto nas confusões dos meus amigos. Claro, é isso o que os amigos fazem.

Peguei alguns livros, e fui para casa. Algo estava errado, Ana e Fred iam sair e isso estava me atormentando de uma forma que não deveria.

Eu estava linda. Observei-me mais uma vez no espelho do toucador. Cabelos soltos impecáveis, maquiagem leve e simples, destacando meus olhos negros. O vestido preto romântico me caiu perfeitamente tomando a forma do meu corpo.

Ouvi a leve batida contra a porta do meu quarto e logo a voz da minha mãe avisou-me:

- Liz, querida seu amigo já chegou.

- Mãe, diga que já estou indo.

Peguei minha bolsa, o celular e dei uma ultima olhada no espelho falando comigo mesma. – Espero que saiba onde está se metendo Liza.

Ao chegar ao jardim, logo avistei aquele tão familiar sorriso.

- Você está linda. – Ele disse segurando minha mão, enquanto abria a porta do carro.

-Obrigada. – Sorri um pouco sem graça pelo elogio. – Emprestou o carro do seu pai?

- Na verdade, eu ganhei este aqui hoje.

- Parabéns! Eu posso saber o motivo?

- É que finalmente ganhei aquela bolsa para a faculdade. Gostaria que fosse a primeira, a saber, mas meus pais leram a carta antes de mim, mas você é a primeira pra quem estou contando se serve de consolo. – Ele riu.

- Ual, que privilégio.

 Ele ligou o carro e acelerou, logo estávamos estacionados em frente ao cinema, Ana já estava lá nos esperando, quando nos viu, abriu um sorriso de orelha a orelha. Será que ela tinha ideia do que meu amigo pretendia, será que ela não estava depositando esperanças demais?! Por um momento lamentei por ela caso ele a decepcionasse.

- E então onde está o seu amigo? – Perguntei já sentindo que poderia acabar sobrando naquela história.

- Já deve estar chegando. – E foi só ele falar que avistamos um garoto de cabelos negros e curtos se aproximando pela calçada. – Beleza, Tom essas são Ana e Liza, meninas este é o Tom.

- Olá Tom – Cumprimentei recebendo um beijo na bochecha casualmente, enquanto Ana também.

- Bem Ana e eu vamos lá comprar as entradas, porque não aproveitam pra conversar. – Disse Fred se afastando com Ana pendurada em seu braço.

- E então Liza, foi muito difícil te convencer a entrar nessa? – Tom perguntou.

- Nem tanto, só temi acabar segurando vela por aqui essa noite.

- Que engraçada coincidência. – Ele riu. – Sabe, quando Fred me disse que você era linda, achei que ele estava exagerando pra me convencer a sair, mas agora olhando pra você, vejo que fui surpreendido. - Ah, pelo menos ele não passou nenhuma cantada furada, ufa, para o meu alivio.

- Exagero o de vocês. Fred geralmente costuma ser exagerado.

- Bom, nisso eu tenho que concordar, ele falou tanto de você que chegou a ser dramático ouvi-lo. – Ele disse ainda me fitando. Hei, desde quando Fred fala exageradamente sobre mim para outra pessoa?! Fiquei curiosa para saber mais.

- E o que mais ele te falou?- Perguntei na lata, não omitindo o meu tom de interesse.

- Muitas coisas, na verdade eu não me lembro da maioria, mas quem se importa, quero conhece-la pessoalmente. – Ele piscou. Por que tenho a impressão de que essa será uma longa noite?!

- Olha só, vai ter sessão apenas para Harry Potter. – Ana comentou se aproximando de nós junto com Fred.

- Harry Potter?! Mas já lançaram toda a série. – É claro, que eu como uma fã de carteirinha nunca havia perdido uma estreia, e como todos, lamentei o término dos lançamentos.

- Hoje é a noite da reprise, eles estão reprisando toda a série esse mês. Já comprei as entradas, eu sei que a Liz, adora essa saga. Vamos lá, já está na hora.

Compramos pipoca e fomos às poltronas. Obvio que ao meu lado se sentou Tom, e no outro Fred, sobrando Ana na outra ponta.

Assim que o filme começou, as luzes se apagaram e o silêncio predominou o local.

Estávamos assistindo o Enigma do Príncipe. Eu adorava aquele filme, parece ser o único que os trata de uma forma mais humana, vemos drama adolescente, amizade, romance e um pouco de comédia, por um momento parece até que o lance se ser o herói é deixado de lado na ação, mas só por um momento, em minha opinião um dos melhores.

Cena entra, cena vai. E encontro um personagem como eu. Rony aos 16 anos enfrenta o desastre de nunca ter beijado, e quer a todo custo mudar a situação. Mas, ele estava tão ocupada enfiando a língua na boca de outra garota, que ser quer pode perceber que bem ao seu lado estava a pessoa certa com quem ele poderia ter vivido esse momento, sua melhor amiga que gostava dele. Adolescentes confusos, só fazem besteiras. Espera, do que eu estou falando, eu sou um desses adolescentes.

Na metade do filme, Tom se aproveitou e esticou o braço sobre meu ombro, acho que ele está querendo se dar bem, mas não passou disso. Já do outro lado, não posso dizer a mesma coisa. Eles não paravam de conversar, o filme inteiro. Umas garotas atrás de nós já haviam ficado irritadas com o bate papo, uma delas até jogou um punhado de pipoca sobre eles, não pude deixar de rir é claro, dou o maior apoio a elas.

O filme entrou nas cenas mais desesperadoras, quando Harry é agarrado por um monte de inferis, mas o casal ao meu lado não parava de cochichar. Quando eu estava pronta para mandar eles se calarem, uma das meninas atrás de nós se irritou pra valer.

- Hei! Calem a boca! Tem gente querendo prestar atenção no filme! – Olhei para trás e pude ver suas caras zangadas. Todo fã faz isso. Eu também fiz.

- Acho que eles vão acabar saindo daqui debaixo de vaias se não ficarem quietos. – Tom cochilou tomando minha atenção pela primeira ver durante o filme.

- Tem razão, eles não sabem o perigo que é entrar em uma sessão potteriana e ficar conversando durante o filme, enquanto um bando de fãs malucas se irrita. – Ri baixinho com meu próprio comentário.

Outra vez cochichos dos dois. Tom olhou pra mim em cumplicidade segurando o riso.

- Eu seguro e você bate? – Perguntou ele enquanto lançava pipoca sobre eles.

Finalmente chegamos às cenas finais, quando Harry chora sobre o corpo do diretor e todos erguem suas varinhas em sinal de luto. Eu desmorono em lágrimas, ah, mas porque é que eu tenho que ser tão sentimental?! Minhas lágrimas silenciosas são interrompidas pelos meus soluços. E então o filme acaba as luzes se acendem e todos caminham em direção à saída. Nem sinal de Fred ou de Ana. O que eu perdi?!

Sou tirada de minhas questões quando a mão de Tom gentilmente me ajuda a levantar, ele oferece um lenço. Mas, espera que tipo de garoto tem um lenço para oferecer a uma garota dentro do cinema?!

- Obrigada. – Murmuro sem graça por causa da choradeira.

- Tudo bem, toda vez que venho ao cinema venho prevenido para uma ocasião como essas. – Ele sorriu, me guiando com a mão em direção a saída. Talvez Tom tenha seja muito mais do que julguei sem conhecê-lo.

Enquanto vamos indo para fora, fico presa em um conflito interior, que ótimo, hora perfeita pra isso.

Fico pensando no filme. Todos os personagens conseguem se resolver amorosamente, seja a curto ou longo prazo. Rony podia ter esperado por Hermione, mas ele estava vivendo. Hermione podia ter esperado por Rony, mas ela também estava vivendo. Harry, Gina, todos eles estavam simplesmente vivendo. Livres de se apegarem a conceitos, apenas vivendo os desejos, os sonhos, as aventuras, se relacionando sem medo de se decepcionar. Sem medo de ter uma história pra contar.

E então chego à conclusão: Se você tem medo dos erros, você tem medo de viver, porque viver é errar e aprender com seus erros, com os erros dos outros.

Então é isso, não vou esperar mais nem um segundo sequer para viver, não importa se vai ser como sempre sonhei ou o contrario, mas quero ter uma história pra contar, quero viver, quero errar, aprender, quero ser livre, quero beijar, quero viver sem medo.

- Tom! – Chamei sem pensar.

- Sim?! – Ele me olhou em resposta, estávamos sozinhos do outro lado da rua em frente ao cinema.

- Como você espera encerrar esse encontro? – Perguntei indo logo ao ponto.

- Por que está me perguntando isso? – Ele estranhou.

- Nunca fui beijada! – Disse o encarando. Aquele era um dos momentos mais desesperados da minha vida e também mais livres. Livres de conceitos, pressão, eu estava apenas fazendo minhas escolhas e buscando a felicidade.

- Te admiro por isso. Mas aonde quer chegar? Seja mais especifica.

- Não sei mais se meus conceitos até hoje estavam certos ou errados, mas eu quero viver de verdade, livremente. E esse é o primeiro passo, quero me livrar desse fantasma que me assombra. E estou escolhendo você, para partilhar esse momento.

- Por quê? – Ele perguntou sério.

- Porque, apesar de como eu queria que fosse. Você está aqui, e você é exatamente como eu queria que fosse. – Sorri. Tom apesar de tê-lo conhecido há apenas algumas horas, era a pessoa certa pra isso. E sabe como eu soube?! Quando ele me deu aquele lenço, e quando gentilmente ofereceu sua mão para me ajudar a levantar. Que tipo de garoto vai a um encontro no cinema e se preocupa em levar um lenço, temendo que a garota desmorone em lagrimas?! Eu sei qual, o tipo que te respeita, que te trata como uma princesa mesmo sem te conhecer, o tipo que não vai brincar com você, porque ele não gostaria que fizessem o mesmo com ele. O tipo que você sempre quis ao seu lado, em todos os momentos, mas nunca encontrou, e de repente ele te encontra eaí tudo fica diferente.

- Você vai se arrepender amanhã, porque está tomando decisões em um impulso de emoções.

- E quem se importa?! Eu não quero me importar.

- Mas eu sim. Não vou ser o responsável pela sua decepção.

- Está decepcionando agora. – Murmurei.

- Desculpe. – Ele encarou os pés. Estendeu suas mãos e segurou as minhas, e depositou ali um beijo e então me olhou nos olhos – Mesmo ainda sem te conhecer, eu já sabia que era eu a pessoa certa. Acredite. Mas você não precisa da pessoa certa, eu lhe causaria muita decepção.

- Sabe que eu não estou entendendo nada.

- Mais um dia você vai entender. Adoraria ser o seu primeiro beijo. – Ele riu se divertindo. – Mas, não poderia causar essa infelicidade a você ou a pessoa que está tomando todos os atalhos errados até você. – Ele se calou.

- A quem?

- Veja só, vim aqui essa noite na esperança de terminar bem esse encontro. Mas só tem um jeito dele acabar bem. – Ele soltou minhas mãos.

- Quem é você, um príncipe encantado que toda mulher um dia sonhou? – Confesso que estou admirada, completamente extasiada pela sensação de conhecer a perfeição em forma de gente.

- Príncipes encantados não existem Liza, embora eu te trate como uma princesa. Eu fico por aqui, tenho que ir, sabe como é, a busca interminável. Não vou mais tomar do seu tempo, tenho que encontra-la. Você já foi encontrada.

- Hã?! Por que você fala assim, de que livro de romance, ou de contos de fada você saiu?

Ele riu, acenando um adeus. E se foi caminhando, da mesma maneira como chegou.

E agora?! Eu viajei longe, o que foi que aconteceu aqui?! Alguém pare o mundo que eu quero descer, já!

E que papo é esse de pessoa certa?! Atalhos errados?!

Ou eu estou doida, ou aquele cara fez isso de propósito para me confundir.

Gostaria, de que ele parasse de tomar atalhos errados e chegasse logo. E mais uma vez entrei em parafuso no subconsciente.

- Liz! – Ouvi uma voz chamar meu nome do outro lado da rua. Era Fred, e ele estava sozinho.

Ele atravessou a rua vindo ao meu encontro.

- Onde está Ana?! – Perguntei, não a vendo em lugar nenhum, ainda estava meio aérea devido à conversa anterior.

- Ela foi embora. Acho que não gostou do filme.

- Poxa, que pena. E então?

- Apenas fui leva-la, mas acabei pegando um atalho errado.

- Acho que você anda tomando atalhos errados por demais, está demorando muito. – Aquelas palavras saltaram da minha boca em automático. – Lamento por você e a Ana, sabe.

- Eu sei, e mais uma vez nós acabamos aqui.

- Pois é.

- Desculpe fazer você terminar a noite comigo, sempre com a pessoa errada senhorita Liza. – Ele sorriu, e dessa vez me pareceu tristonho, porque suas palavras faziam o maior sentido dentro da minha cabeça, será que era isso que Tom estava querendo dizer. Será que Fred era mesmo a pessoa errada para mim. Esse tempo todo, mas só fazia sentido em palavras. Ele era meu amigo, e só.

- Sempre a pessoa errada. No momento errado, no lugar errado. Que destino doido. – Me aproximei lhe tocando o ombro.

-Que destino retardado, o que será que ele quer?! – Ele segurou meu rosto em sua direção como sempre fazia.

- Eu não faço ideia. – Murmurei quase inaudível.

- Então vamos descobrir.

Eu podia estar perdendo o juízo, estragando tudo, mas quem liga?! Ele era a pessoa errada, no momento errado, na noite errada. Aquele era o beijo mais errado que alguém podia imaginar. E também o mais perfeito.

Eu realmente não poderia querer de outra forma. Desengonçado, estranho... Molhado. E do contrario que eu sempre imaginei, eu sempre iria me sentir com vergonha dele toda fez que me lembra-se. Mas essa é a vida, não se nasce sabendo, você tem que viver, experimentar, se jogar de cabeça e deixar acontecer. E no final você sempre terá uma boa história pra contar seja ela dramática, feliz, cômica, sem graça, mas uma coisa é certa, é preciso viver!


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Notas finais do capítulo

E então deixe aqui o seu review, garanto que sua mão não vai cair por isso xD
Bj's



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