O Garoto Da Casa 918. escrita por Greensleeves
Notas iniciais do capítulo
espero que gostem...
"Querida, o que houve!" -Disse minha avó quando entrei em casa.
"Eu esqueci meu casaco." -Olhei para ela tremendo.
"Vá tomar um banho quente." -Ela disse.
Assenti. Tirei meus sapatos e subi as escadas correndo.
A água quente bateu na minha nuca e foi escorrendo pelas minhas costas e cobrindo meu corpo que agora se esquentava; era tão bom. Quando olhei para o espelho estava todo embaçado, passei a mão e pude ver meu reflexo na marca limpa.
A garota de cabelos molhados e olhos manchados de rímel parecia cansada. Coloquei meu vestido* e sequei meu cabelo. Quando saí, o cheiro de chá rondava a casa. Fui para meu quarto e peguei uma blusa, eu estava com mais frio do que antes.
"Vó eu posso sair com July amanha de novo?" -Perguntei encostando na parede da cozinha.
"Eu ia pedir sua ajuda nas estregas, mas claro."
"Vamos nos encontrar depois das duas." -Comente- "Tenho tempo de te ajudar."
Ela sorriu e levou o bule para a mesa.
"Como foi no parque?"
"O que quer dizer com isso?" -Perguntei.
"Você nunca é de sair e agora quer ir de novo?" -Ela deu uma risadinha e se sentou na minha frente.
"É que tinha uns garotos lá..."
"Já entendi tudo."
Eu não pude deixar de rir.
"Não é nada de mias vovó." -Segurei a xícara para esquentar minhas mãos- "É que eles vão ficar na cidade até semana que vem... E combinamos."
"Tudo bem, você pode ir." -Ela disse.
"Obrigada."
Uma das coisas que eu amava na minha avó, é que ela era compreensiva para tudo.
"Então, antes do almoço você me ajuda com as entregas e depois você pode ir."
Bebi meu chá.
x
A lua estava cheia, eu poderia ficar olhando a noite toda para ela. Me levantei e fui até a janela, abri o vidro e olhei para a rua lá em baixo. Alguns carros passavam, mas a rua esta silenciosa. Olhei para as casas e para as arvores do parque, como eu amava essa cidade.
Ouvi a porta se abrindo e me virei. Vovó entrou e sorriu.
"Eu já vou me deitar querida." -Ela comentou.
"Boa noite." -Disse fechando a janela e a cortina.
"Boa noite." -Ela então saiu.
x
Quando acorde o sol invadia meu quarto. Me levantei e troquei de roupa, desci para a cozinha e vovó estava no telefone, quando me viu sorriu.
"Tudo bem, chau." -Ela disse desligando.
"Bom dia vó." -Disse indo para a geladeira.
"Duas entregas." -Ela disse.
"Tudo bem."
Depois do café, vovó foi até o quartinho e pegou dois potes de geleia, um de mel e outro de melado. Nossas entregas eram apenas produtos caseiros, e as pessoas adoravam; principalmente as do asilo.
"São tudo para o asilo." -Disse vovó.
Eu ri.
"Tudo bem, eu levo." -Disse pegando a trouxinha com os produtos.
"Cuidado."
Assenti e saí. Com as entregas ficando famosas, vovó teve de comprar uma bicicleta e isso facilitava muito.
Coloquei a trouxa na cestinha da frente e montei. O asilo não ficava longe e nossa rua era bem tranquila. Pedalei calmamente pelas calçadas, virei esquinas e em cinco minutos eu já estava lá. Deixei a bicicleta perto da cerca e entrei.
"Bom dia, encomenda da Anna Produtos." -Disse para a recepcionista.
Ela já me conhecia, por isso deixou eu entrar em um sorriso.
Na salinha, vários idosos estavam sentados ou jogando dominó, quando me viram, não disfarçaram a felicidade.
"Bom dia." -Eu disse.
"Olá Helena." -Disse a senhora Douglas.
"Como vai a senhora?" -Perguntei.
"Vou cada dia melhor com os doces da dia avó."
Sorri.
"Vou por os potes no armário." -Disse indo para os fundos.
Coloquei os potes no armarinho de vidro e voltei.
"Lembre-sem exercícios também, não só doces." -Disse.
Eles riram.
"Estamos assim mais pelos doces do que os exercícios." -Disse o senhor Jonathan.
Ri.
"Tenho que ir, aproveitem."
"Espere." -A senhora Douglas veio até mim- "Aqui está."
Ela colocou duas moedas na minha mão.
"Você sabe que eu não cobro para vocês."
"Mas você é uma moça e precisa." -Ela deu seu sorriso desdentado.
"Obrigada." -Sorri.
Voltei para casa e fiz o resto das entregas. Quando era meio dia elas já tinha acabado.
"Esta com fome querida?" -Vovó perguntou.
"Não." -Respondi tirando meu casaco e pendurando no cabide.
"Vou fazer uma torta."
"Pode ser." -Fui até ela e coloquei o dinheiro no pote.
"Você sabe que sua ajuda é muito útil para mim." -Ela comentou enquanto cortava os tomates.
"Eu sei vó, por isso que eu amo o que faço pela senhora."
Ela sorriu.
"Mas as vezes eu gostaria que você tivesse algo melhor."
"De novo esse assunto vó?" -Suspirei.
"Estou falando serio. Talvez fazer uma faculdade..."
"Vó eu amo trabalhar com a senhora, e se eu não estivesse aqui, me sentiria culpada."
Ela se virou e me olhou.
"Obrigada querida."
Sorri.
x
"E então ela ficou de novo com a história da faculdade." -Disse.
"Ela te ama, Helena." -Jully disse.
"Eu sei, mas eu fico pensando o que seria dela sem eu aqui para ajudar."
Jully deu de ombros.
"Ela poderia ficar no asilo..."
Olhei para ela.
"Soube que eles tratam as pessoas muito bem lá." -Ela comentou de cabeça baixa.
"Não sei.."
Chegamos no parque, e como dito, os garotos estava lá. Quando nos viram, vieram até nos."
"Olá rapazes." -Disse Jully.
"Oi." -Lian respondeu- "Você esqueceu isso ontem."
Ele mostrou meu casaco.
"Ah, obrigada." -Peguei.
"Eu pensei em te devolver, mas eu não sabia onde você morava."
"Tudo bem, obrigada mesmo assim por guardar."
Ele sorriu.
"O que vamos fazer hoje?" -Perguntou Jully.
Os dois se entreolharam.
"Nós trouxemos isso." -Howard pegou uma cesta que estava no chão.
"Piquenique?" -Perguntei.
"Vocês não gostam?"
"Adoramos." -Jully sorriu.
Arrumamos a toalha perto de uma sombra e Lian arrumou as coisas.
"O que vocês fazem por aqui?" -Ele perguntou pegando uma maça.
"Tinha um cinema, mas estão arrumando." -Peguei uma uva.
"Tinha um teatro, mas depois de uma chuva que deu, o teto foi para baixo acabou com o lugar. Então o prefeito desistiu e acabou transformando num museu." -Disse Jully.
"Museu do que?" -Howard perguntou.
"Sei lá, eu nunca fui." -Ela de de ombros.
Olhei para o céu que dessa vez estava limpo. Como ontem, não tinha cara de que iria chover.
"O que foi?" -Perguntou Lian.
Olhei para ele.
"Nada.." -Dei de ombros.
"Você não é muito de falar." -Ele riu.
"Não mesmo." -Jully respondeu.
"Quer dar uma volta." -Perguntou Howard.
Jully assentiu e se levantou, os dois foram para o lago e eu fiquei sozinha com Lian. Durante dez minutos ficou a quele silêncio constrangedor entre nós.
"Você gosta de pássaros?" -Por fim ele perguntou.
"Sim." -Sorri.
"Eu tenho um guia de pássaros só da Europa."
"Legal."
"Eu posso trazer para você ver da próxima vez." -Ele disse.
"Adoraria."
Ele assentiu.
"Desculpa, eu não sou o tipo de menina animada."
"Percebi."
Desviei o olhar. E foi sempre assim, quando eu tinha a grande chance de ter amizade com alguém, eu estragava tudo.
"Mas eu não vejo problema nisso." -Ele disse.
Olhei para ele.
"Acho até fofo. Do que ser a quelas garotas que chamam atenção de mais."
Sorri. Senti meu rosto esquentar e acho que minhas bochechas tinham passado de cor normal para extrato de tomate.
Ele riu.
"Você é muito tímida."
Ri, escondendo o rosto com as mãos.
"Ah, eu sei." -Disse.
"Quer dar uma volta?"
"Prefiro ficar aqui." -Disse olhando para trás e vendo Jully e Howard juntos.
"Entendi." -Ele disse percebendo o que eu quis dizer.
Suspirei.
"Você quer uma uva?" -Ele pegou o pote.
"Pode ser." -Peguei uma e coloquei na boca.
Senti ele segurando meu rosto e se aproximando. Meu coração foi a mil. Seus lábios tocaram no meu rapidamente e quando eu abri os olhos ele já se afastava. Rimos; por qual motivo? Eu não sei. Mas foi muito bom, apesar de ter durado três segundos.
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*Essa história não acontece tão atualmente. Mais ou menos 1950.. por ai =)