Passei muito tempo pensando sobre o que acabara de acontecer.

Era inacreditável.

Era impossível.

Era confuso.

Mas não saia da minha mente.

Bem, é claro que eu podia ter imaginado tudo isto, afinal estou sob efeito de remédios fortes, mas algo me dizia que eu não tinha sonhado.

Talvez fosse apenas um desejo que minha mente projetou.

Mesmo assim, eu teria de descobrir.

E eu sabia como fazer.

E eu farei.

Esta noite.

Eu não sabia ao certo que horas era, mas com certeza era dia pois eu ouvi vários passos pelos corredores. Tentei ao menos abrir os olhos, mas o remédio ainda me mantinha presa em meu corpo.

O tempo passou sem eu vê-lo, mas eu podia senti-lo.

A porta do meu quarto abriu para que alguém entrasse, pelo barulho do sapato deveria ser algum enfermeiro.

- Ela vai acordar amanha? – a voz de um jovem ecoou no quarto.

- Sim, mas só amanha. – era a voz de Dake, seus passos são realmente imperceptíveis.

Meus pensamentos se remexeram em minha mente. “Não posso acordar só amanha”.

- E o garoto?

- Vai embora amanha, finalmente.

“Não!” – minha mente esperneou para que meu corpo se mexesse.

- A pressão dela esta um pouco alta, acha melhor fazermos algum exame?

Senti Dake segurar meu pulso e avaliar-me.

- Não, ela esta apenas um pouco alta. Nada para se preocupar. De qualquer forma estarei de plantão esta noite, vou ficar de olho nela.

Eles conversaram mais sobre meu quadro clinico – obviamente não entendi uma palavra – e saíram.

Minha mente mantinha-se agitada, ordenando aos meus membros que se movessem. Foi este ritual por muito tempo até eu mesma cansar.

Castiel iria embora daqui algumas horas e eu perderia a oportunidade de resolver esta questão de uma vez por todas.

Voltei a lutar contra o remédio.

Eu me sentia mais lúcida, talvez eu conseguisse...

Mais algum tempo se passou até eu ver o primeiro feixe de luz de forma nebulosa  tornar-se nítida com o tempo.

Meus olhos estavam abertos. Pisquei para que eles se ajustassem ao ambiente, as cores e luz.

Era noite e parecia ser 10 horas, uma pitada de esperança surgiu em meu intimo e me impulsionou a me mexer.

Fui recuperando meus movimentos aos poucos até senti-los sob meu controle. Sentei-me em minha cama e observei o céu estrelado nesta noite fria de inverno.

Cada passo era um desafio, pois eu ainda tinha dificuldade em manter minhas pernas firmes.

Toquei na fechadura da porta e me lembrei de Dake, ele pode vir aqui a qualquer momento e descobrir que fugi. “Mas eu preciso fazer isto. Preciso saber a verdade.”

E com este pensamento abri a porta e fui em direção ao elevador.

O silencio me deixou nervosa, cada passo meu- mesmo com os pés descalços - pareciam fazer um eco terrível.

A porta estava bem na minha frente, há cinco metros apenas e agora que ele estava tão perto meu coração parecia fazer mais barulho do que meus passos. Minha mente estava vazia e por algum tempo me esqueci porque estava lá.

Tudo que vinha em minha mente era aquele beijo roubado. Se foi real...

Em um momento de fraqueza me apoiei no pequeno sofá ao meu lado. O ar frio ardia em meus pulmões mas eu precisava saber...

Alguns segundos depois retomei minha caminhada cada vez mais nervosa.

- O que ele dirá?!” – minha consciência me perguntava mas eu continuava andando.

- O que você esta fazendo aqui?!