Nathaniel entrou no ônibus com o nariz ainda bem vermelho e algumas manchinhas da mesma cor podiam ser vistas em seu pescoço, rosto e mãos.

“Coitado” – pensei.

Uma gargalhada alta surgiu atrás de nós, Castiel se deleitava numa risada longa e maldosa.

Contrai as sobrancelhas da mesma forma que minha mãe fazia quando eu falava algo na hora errada. Minha boca formou uma linha reta. Eu estava fervendo de raiva. “Mas é claro... é isto que o fogo faz.”- grunhi mentalmente.

Castiel olhou para mim no meio de uma longa gargalhada e piscou. Como que para me provocar, fez mímica enquanto eu lia em lábios: “Parabéns. Depois eu assino.” E piscou novamente antes de colocar o fone no ouvido.

Virei-me, revoltada.

Tirei da bolsa um papel e uma caneta.

“Desculpe,

Eu sei que só trouxe problemas para você desde que apareci, mas juro que desta vez foi sem querer; da minha parte.

Ass: Mel.

Cutuquei o ombro do Nathaniel que estava sentado no banco a minha frente, ele pegou o bilhete, surpreso e o leu.

Não esboçou reação alguma. Apenas se levantou para conferir se todos estavam no ônibus e mandou o motorista seguir em frente.

Ken estava ao meu lado, estranhamente quieto. Puxei assunto com ele e em menos de um minuto ele já era o velho Ken novamente.

Meu celular vibrou, era uma sms.

“A gargalhada do Castiel o incriminou. Isso não me surpreende, ele sabe que sou alérgico e você é isca fácil.

Não se preocupe nada que algumas doses de antialérgico não resolva. ;)

Ass: Nathaniel. ”

Sorri.

Comecei a digitar a resposta mas Ken tomou toda minha atenção e decidi responder depois.

Ken se animava cada vez mais e eu ria das historias engraçadas que ele me contava. Nunca passamos tanto tempo conversando, e ele me surpreendeu. Estava calmo e tentava muito, embora não sendo tão bem sucedido, não dar vazão ao lado apaixonado dele. Comemos biscoitos de chocolate e conversamos até o ônibus parar em frente ao prédio.

Suiika, Anna e Shiu gritaram em coro, olhei para trás e lá estavam elas, na ultima fileira de bancos do ônibus.

– A gente se vê depois. – disse ao Ken e ele se despediu.

Castiel vinha em minha direção e tive que me espremer entre as fileiras de banco para ele passar.

“Perfeito cavalheiro” – pensei.

Ele falava no celular. Escutei uma única frase no seu típico tom arrogante: “Não, hoje não dá”

Segui em direção as três, Ann e Shiu eram só sorrisos.Suiika se limitava a cara de tédio.

– Oi meninas! – eu disse.

Todas abriram a boca, mas apenas Suiika falou:

– Ora, sem formalidades bobas. Vamos direto ao assim. A gente...

– Sim, Sim! Direto ao que importa, certo? – Anna a interrompeu, segurou forte meu braço, emocionada. Seus olhos brilhavam. Hoje vai ter o show da melhor banda do mundo e TEMOS que ir.

– Isso, e pensamos em convidar você. - Shiu disse – Você vai AMAR. Não tem como não amar eles, né?

Nos olhos dela também tinha aquela emoção louca de fã. Anna assentiu aos pulos.

– Não exagerem. – Suiika continuava com sua expressão de tédio.

– Ela esta assim porque é uma única que tem carta de motorista... E bem, precisamos de carona. - Anna explicou e eu sorri.

– E pensei em decidir esta tortura com você. – Suiika disse para mim com um sorriso malicioso entre os lábios.

Olhei para os lados, indecisa.

– Não sei pessoal, meu AP ainda esta uma bagunça e tenho que encontrar uma maneira de me vingar...

– Ah não! Sem desculpas. É nosso primeiro passeio, não pode recusar. – Shiu disse

– E Suiika só vai se você for. Anna choramingou.

Revirei os olhos.

– Esta bem.

Quatro horas e meia depois estávamos entrando no carro. Suiika emburrada por não poder ler seu mais novo livro mitológico, Shiu tentando se controlar, Anna ligada nos 220 volts e eu rindo delas.

– Olhem aqui, eu poderia muito bem estar no meu AP lendo meu livro, que alias parei na melhor parte! Poderia estar deitada na minha cama quentinha, confortável e macia. Poderia estar comendo algo bem gostoso... Mas não, estou aqui. Portanto, se querem que isto aconteça mais uma vez, não surtem como da ultima vez. – Suiika disse olhando fixamente para Shiu e Anna.

Shiu ajeitou a postura e arrumou o babado do seu vestidinho e Anna simplesmente revirou os olhos. Sabíamos que a razão da Suiika estar tão desanimada é porque o se “deus grego” não vai.

Suikka ligou o carro e seguimos por ruas que eu não conhecia, o radio ligado ao som de uma musica animada. Logo estávamos todas cantando ( ou berrando ) Somebody told Me – The Killers.

Chegamos ao clube alguns minutos depois. O nome do lugar se destacava na escuridão da noite com suas letras em Neon: BASEMENT.

“ Porão?” – traduzi mentalmente.

Eu estava de salto e era desconfortável já que eu nunca tive o costume de usá-los.

Havia uma pequena fila, apesar de ser uma terça- feira.

Pagamos a entrada e enquanto descíamos as escadas Shiu e Anna conversavam animadas.

Por todo o percurso até o andar de baixo, havia o desenho de uma escada em Neon, dando a impressão que estávamos descendo ainda mais.

Quando chegamos lá embaixo vi em todas as paredes havia esta mesma escadinha em forma de palitinho em Neon, uma rosa, outra azul, outra verde, no outro canto uma amarela e outras que nem me atentei. Algumas paredes tinham prateleiras com livros, abajures e bugigangas empoeiradas.

Era aconchegante, apesar de abafado. Um perfeito porão.

Num dos cantos havia uma secadora com neon a envolvendo-o e destacando-o na escuridão. Assim como uma lavadora e em outro canto um baú velho exatamente como nos porões.

O local estava lotado e todos estavam animados.

Sentamos em uma das mesas e pegamos energéticos para beber.

Shiu e Anna ainda conversavam a respeito da banda e Suiika se animou assim que começamos a falar sobre mitologia.

Meu celular vibrou, era uma sms. Não dei muita atenção a mensagem, apenas vi a hora: 9:30.

O dono do club surgiu no palco. Anna deu pulos na cadeira, inquieta. Shiu era mais recatada, uma típica garota da época Vitoriana, mas ainda assim mostrou traços de ansiedade.

– Eles já vão subir! – Anna gritou.

Eu assenti, curiosa.

– Quem são? – achei mais seguro perguntar para Suiika.

– A bandinha do Lysandre.

– Lysandre?

– Você não conhece.

Olhei para o palco.

– Bem, parece que vou conhecer agora.

As luzes se apagaram e tentei identificar quem estava em cima do palco, mas a escuridão era demais para meus fracos olhos humano.

E então o silencio tomou conta do Club.

O silencio foi cortado apenas pelos acordes iniciais d Wake Me Up When September Ends.