P.O.V DANIEL

Vi como o cara me olhava com horror. Já era de se esperar...eu era o fantasma que tinha ido a sua casa para assombra-lo e ameaça-lo e agora, também o guitarrista da banda da Julie, que trauma.

Pela primeira vez tive pena dele, mesmo que só um pouco. E Julie estava ali parada sem dizer uma palavra, sem sequer balbuciar. Acho que ninguém esperava isso de mim.

–Você é... Você é- sim, sou um fantasma, grandíssimo retardado!...Eu queria muito dizer umas verdades na sua cara, mas Julie estava ali e não queria causar-lhe problemas. Muito menos depois do que o Demétrius disse....só teríamos esta semana. Eu ficava com um nó na garganta cada vez que pensava nisso.

–Ele é Daniel, o guitarrista e estes são Martin e Felix,o baixista e o baterista- Julie disseram com uma voz tremula. Voz que dentro de pouco tempo eu não voltaria a escutar.

O idiota continuava sem dizer uma palavra, e não parava de me encarar, o que já estava me irritando e por pouco não falei uma grosseria. Mas, me contive...não queria que a Julie ficasse chateada comigo, não queria ver ela triste outra vez por ter brigado, não queria mais discutir com ela. Se nunca mais vou voltar a vê-la tenho que fazer o possível pra nós ficarmos bem esta semana, não é? Engoli meu orgulho e estendi a mão.

–Daniel... -escutei a Julie sussurrar.

Enquanto isso, ele continuava parado, sem fazer movimento algum.....droga, se ele não disser nada eu vou me arrepender.

–Anda, eu não mordo- Eu disse. Finalmente ele estendeu a mão.

–M-muito prazer.... sou N-Nicolas- gagueja, e pela enésima vez me pergunto como a Julie pode gostar de alguém assim.

–Escuta... Eu te devo desculpas- nossa, nem eu mesmo acredito nas minhas palavras - Por ter te assustado e ameaçado-

Apesar de tudo minha desculpa foi sincera. Soltei sua mão.

–Isso quer dizer que você é um... Fa-fa-fantasma?- e só agora você se da conta? Meu deus, que panaca.

–Sou....

– E eu sou Martin!- ele também estendeu a mão, tentando quebrar o silencio que se formara, depois dele foi o Felix.

Julie não parava de sorrir por causa daquela cena, um sorriso simples e terno, como ela. Prefiro mil vezes ver ela assim do que chorando por minha culpa, mesmo que tenha tido que me humilhar na frente do idiota pra tornar isso possível. Só ver ela feliz já me faz sorrir.

Mas, tudo isso acabou quando vi ele lhe dar um beijo, o qual ela retribuiu com vontade. Ah....não quero ficar aqui para ver mais. Aposto que se eu saísse agora mesmo ninguém sentiria minha falta... Mas, eu sentiria a falta dela.

Sai dali em silencio, sem que ninguém me notasse. Queria ficar sozinho por um momento.

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P.O.V JULIE

Eu estava atônita. Daniel pedindo desculpas? Pro Nicolas? isso tinha que ser um sonho. Me senti tão estranha com este repentino ataque de amabilidade, mas devo admitir que sorri ao ver que eles não brigaram, mesmo que eu não soubesse se esta atmosfera duraria para sempre.

Não podia deixar de pensar em como deve ter sido difícil pra ele se desculpar, se até pude ver em sua cara o esforço que fazia pra ficar com uma expressão serena. Tenho que agradecer ao Daniel e é isso que ia fazer, quando vi que o Nicolas se aproximou e me deu um beijo, um beijo que eu não esperava e que durou mais do que eu queria, porque quando nós finalmente nos separamos Daniel tinha saído.

–Com licença- pedi permissão e sai da edícula com pressa. Procurei no meu quarto, na sala, no banheiro... Sem sucesso. Quando estava a ponto de desistir, o vi pela janela, estava de costas, sentando num dos degraus do terraço. Decidi sentar do seu lado.

–Oi-ele não respondeu, parecia estar distante- Quero que saiba que eu estou muito orgulhosa de você.

–Porque?

–Porque depois de quase...50 anos de existência, parece que você finalmente esta amadurecendo.

Ele deu um sorriso de lado adorável, característico dele... Espera... Eu falei adorável?

–Só fiz porque não queria te deixar zangada -virou o rosto, se não o conhecesse diria que estava... Envergonhado?- Porque parece o Godzila quando se irrita.

Não acredito! Depois de se comportar tão bem me chama de Godzila? Que maneira de estragar o momento.

–Godzila é a sua...- estava a ponto de xinga-lo quando ele voltou a virar o rosto, desta vez pra me encarar. Me olhou fixamente, sorrindo, mas não sarcasticamente como de costume, seu sorriso era triste, nostálgico, indecifrável.

– Desculpa....por ter te feito chorar mais cedo - estava mostrando de novo, esse lado fofo, que ele sempre queria esconder. Ah...se ele fosse assim todo dia, mas a quem estou enganando? Eu também gosto de brigar com ele. Me aproximo para abraça-lo,ele me abraça mais forte.

–Eu sabia que era mentira - disse, com meu rosto apoiado em seu ombro -vocês nunca seriam capazes de partir- senti que ele apertou o abraço ao ouvir isso, ficamos assim por um tempo. Segundos depois, nossos corpos se separaram, então me beijou na testa, o que me deu arrepios, fez minhas bochechas esquentarem, e fez cosquinha na minha mandíbula. Que sensação estranha, mas gostosa...tão gostosa que me deu medo, mesmo eu não sabendo do que.

–Nunca mais faça isso de novo- sussurrei

–Fazer o que?-me perguntou confuso.

–Ser tão legal comigo.

–Porque não?

–Porque isso é mal , mal, muito mal- sacudi a cabeça, alterada- tenho que ver o Nicolas...n-não posso deixar meu namorado sozinho. até.

Sai em disparada dali até o banheiro, tranquei a porta e me olhei fixamente pelo espelho por não sei quanto tempo.

O que estava acontecendo comigo?