Terça feira. A semana só havia começado... Droga.

Nesse dia da semana eu teria aula de geografia logo após o intervalo, ou seja, na 5ª aula. Combinação linda né? 2 Tipos de tortura diferentes: Geografia e Sarah... Se bem que esses dias ela estava ficando menos irritante, respeitando meus limites.

─ David... David? ─ Sarah chamava minha atenção, me tirando de meus devaneios, enquanto estávamos sentados atrás da escola. Na verdade, eu estava sentado e ela veio atrás, como sempre, mas acho que isso não importa pra vocês...

─ Quê... ─ Falei, sem vontade

─ Então, sobre o trabalho em grupo... ─ Ela continuou

─ Que trabalho? ─ A interrompi

─ Ué, o professor de biologia passou um trabalho sobre o corpo humano, esqueceu? ─ Ela dizia, com uma expressão surpresa

─ Grupo? ─ Resmunguei, jogando a cabeça pro alto

─ Aham. Em duplas. Vamos fazer juntos? ─ Ela me olhava com uma cara de cachorro abandonado na mudança

─ Não. ─ Cruzei os braços.

─ Vai fazer com quem? ─ Ela perguntou, ainda com aquela cara pidona.

Olhei para a diagonal oposta à ela

─ Não sei... ─ Falei, pensativo

─ Ah, vai! Por favor! ─ Ela continuava pedindo ─ Você não tem nenhuma dupla mesmo! Vamos, vai ser legal!

─ Legal com certeza não. ─ Discordei

─ Vamos, você não tem outra escolha mesmo... ─ Ela dera(ou melhor, ia dar) um leve soco no meu ombro, no qual eu bloqueei.

─ Tanto faz ─ Falei, por fim

Pude ouvir ela sussurrando um "Yes!". Era estranho, por quê ela queria minha companhia? Eu sou a pior pessoa na qual você gostaria de ter ao seu lado. Ela nem deveria ter falado comigo na primeira vez, para início de conversa... Mesmo com os alertas das colegas de classe, ela insistiu nisso.

"Ha ha!", pensei "Ela deve estar tentando me consertar! Ha ha, boa sorte, garota!". Foi a única coisa na qual consegui pensar. Nem meu próprio psicólogo conseguira o fazer, por quê ela acha que seria especial?

─ Então, vamos nos reunir para fazer o trabalho quando? ─ Ela falava, mexendo no celular

─ Cada um vai fazer sua parte, sozinho. ─ Falei, por fim, pegando meu livros(eu tinha os levado para estudar), me levantando e indo embora. Não pude ver sua face, mas Sarah parecia decepcionada. O que ela esperava?

O sinal soara alguns minutos depois, e eu fui para a minha aula. Sarah chegou um pouco mais tarde, e se sentou ao meu lado.

E a aula foi passando...

Uma coisa que eu havia notado, era que ela não estava de blusa. Ela sempre vinha vestindo alguma roupa de manga comprida.

Foi então, que olhei(disfarçadamente, de canto) e vi que o braço dela tinha muitos hematomas.

─ Melhor cobrir isso, alguém pode ver ─ Sugeri, apontando para seu braço. Ela tomou um susto e pôs a mão sobre os machucados.

─ Err... Meu blusão está lavando, eu eu fui obrigada a vir assim ─ Ela parecia envergonhada

─ Hm. ─ Eu falei e voltei a olhar pra frente

Confesso que fiquei um pouco curioso para saber de onde vinha aquilo, mas não dei muita importância. Por outro lado, Sarah tentava à todo custo esconder o que eu já tinha visto: colocava o braço debaixo da mesa, cruzava os braços etc etc etc...

Balancei a cabeça, em reprovação.

─ Coloca uma maquiagem, sei lá ─ Falei, já farto de sua incessante procura por alguma maneira de se esconder.

─ Eu não tenho nenhuma aqui! ─ Ela disse

Revirei os olhos, e virei para o meu lado.

─ Rebeca, empresta aí um pó para rosto ─ Pedi, e ela me entregou o dito cujo.

─ Aqui. ─ O entreguei para Sarah.

─ Valeu ─ Ela agradeceu.

Era engraçado, hematomas como aqueles sumiriam em alguns poucos dias, e aqueles estavam fortes. Ela estava na escola há uma semana, e desde o início vinha sempre com as mangas compridas. Portanto, os hematomas provavelmente teriam surgido novamente. Fiquei mais curioso ainda, mas não quis demonstrar, para falar a verdade.

─ Bem... Hm... Pode devolver à Rebeca? E... Ahn... Obrigada ─ Ela dizia, meio sem jeito, devolvendo o objeto.

Coloquei o pó em cima da mesa da outra garota, e tentei prestar atenção nos últimos minutos de aula que restavam.

Quando eu fui me levantar, na troca de aulas, Sarah me segurou pela manga.

─ Escuta, no trabalho, você vai fazer a parte dos órgãos do tórax e as coisas que envolvem o bombeamento de sangue no coração, e eu faço o resto, ok? ─ Ela me informou. Assenti com a cabeça, confirmando.

Caminhei calmamente até minha classe de gramática. A professora era bem divertida, era uma das poucas aulas que eu curtia.

Mas como tudo que é bom dura pouco, a aula passou no que pareciam 10 minutos.

Voltei para casa com uma preguiça descomunal, e uma depressão pós-nada. Sei lá, eu estava com uma vontade de morrer, gritar, não sei. Literalmente, depressão pós-nada.