Anti-social escrita por UnknownName


Capítulo 29
Cachorro desastrado


Notas iniciais do capítulo

Quem vai ser a pessoa linda a me dar meu centésimo review? *-*



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/225881/chapter/29

Estávamos sentados na sala, vendo televisão. Eu observava Sarah atentamente, com as pernas cruzadas e sobre o sofá, e um olhar sério.

A garota me olhou estranho, meio assustada. ─ Por quê está me encarando assim à 10 minutos? 

─ Ah, nada. ─ Ajeitei minha posição. ─ É só que não estou acostumado com você aqui.

─ Minha presença é ruim? Eu estou incomodando? ─ Uma expressão preocupada tomou sua face.

─ Não! Não! ─ Levantei as mãos ─ Eu só estou desacostumado. Provavelmente não vou fazê-lo muito cedo, também.

Era o 3º ou 4º dia desde que ela estava morando comigo e meu pai, e também o 3º ou 4º dia de férias. Comecei a considerar que sua presença até PODERIA ser uma coisa boa. Sarah era educada, e sempre ajudava nas tarefas do lar. 

Senti uma vibração no bolso da minha blusa, e peguei meu celular para ver o que era ─ Meu pai havia me mandado uma mensagem.

"Filho, vai no mercado pra mim? Eu deixei anotado as coisas que precisamos na última folha de algum caderno por aí. O dinheiro está em cima do balcão."

─ Ótimo... ─ Falei ironicamente, sem vontade alguma. 

─ O que foi? ─ Sarah perguntou, tentando ver o SMS.

─ Vou no mercado. Já volto. ─ Me levantei e comecei a procurar o tal caderno. ─ Acho que é esse...

─ Quer que eu vá junto? ─ Ela se ofereceu e já ia se levantar, mas eu recusei.

─ Não precisa, eu posso carregar tu- ─ Me interrompi ao ver a lista de compras. "Leite, pão, arroz, café, farinha, suco, refrigerante, feijão, frango, salsicha, tempero para carnes, orégano, alface [...]" Me desanimei mais ainda do que já estava. A garota veio por trás e observou o que estava escrito no papel.

─ Ainda acha que pode trazer tudo sozinho? ─ Ela riu, já pegando o casaco. ─ Eu não tenho nada pra fazer, mesmo.

─ Tanto faz, então. ─ Peguei meu casaco e vesti meu tênis, e fui embora, com Sarah atrás.

Cenas como essa passaram a ser mais frequentes. Comecei a suspeitar que meu pai estava planejando tudo justamente para eu fazer mais coisas com ela. Eu ia ter uma longa conversa com ele, ah se ia...

Seguimos o caminho em silêncio, e quando chegamos no estabelecimento dividimos os produtos e depois nos encontramos no caixa. A volta também foi silenciosa, exceto por algumas conversas aqui e lá.

─ Tô precisando cortar meu cabelo... ─ Comentei comigo mesmo, ao chegar em casa. Não estava muito comprido, mas eu preferia sempre deixar na altura normal.

─ Não está ruim assim. ─ Sarah sorriu, me olhando.

─ Minha franja atrapalha minha visão. ─ Expliquei, tirando o cabelo do olho. 

─ Ah, entendi. Posso deixar as compras em cima da bancada? ─ Ela perguntou, e eu assenti com a cabeça. 

Subi as escadas, e estava indo para o meu quarto quando vi que o cobertor da cama dela estava um pouco caído no chão, então fui arrumar.

Avistei aquele mesmo porta retrato de antes em cima da cômoda, e o peguei, por algum motivo. Sentei-me em cima da cama, e fiquei a observar a foto. Não sei porquê, eu quis ficar olhando aquilo. Sarah, sua mãe, seu pai e seu irmão. Toda a família lá, reunida. 

─ Hum. Acho que eu nunca tirei uma foto em família... ─ Coloquei o objeto de volta em seu lugar, e me levantei, mas Sarah apareceu na porta.

─ O que estava fazendo? ─ Ela entrou e pendurou o blusão num cabide do guarda-roupa. Seus olhos encontraram o porta retrato. ─ Ah, estava vendo a imagem?

─ E-Eu não estava fazendo nada... ─ Cocei a nuca, não querendo olhar em seus olhos.

─ Minha família costumava ser bem unida, mas daí meus pais se separaram.  ─ Ela contou, olhando para o horizonte. ─ Na verdade eu não sei o motivo disso até hoje. Provavelmente porque meu pai começou a ficar agressivo.

─ Entendi... Isso faz muito tempo? ─ Perguntei, depois de alguns instantes, sem ter o que falar.

─ Faz uns 4 anos, mas no começo desse ano meu pai pediu para eu morar com ele. Minha mãe avisou que não era bom, mas como eu estava com saudade dele seus argumentos não me convenceram... ─ Ela olhou para mim, com um sorriso. ─ Mas no final de contas foi bom, né? Eu pude conhecer você e esse lugar, afinal.

─ É... P-Pode ser. Vou voltar pro meu quarto, ok? ─ Avisei e saí, indo direto para o meu computador. 

Fui dormir cedo naquele dia, sem ter muito o que fazer, mas não caí no sono no mesmo momento. Fiquei pensando em várias coisas, e intrigado com o fato de aquela imagem sobre a cômoda de Sarah ter ficado em minha mente. Inveja, talvez? Afinal, minha família nunca se deu bem. Meus pais viviam brigando, e as vezes acho que até teria sido melhor a separação. 

Chacoalhei a cabeça, tentando livrar-me daqueles pensamentos. Passado é passado. Não tinha motivo para ficar pensando nele. É como meu pai disse uma vez "Devemos esquecer o passado, viver o presente e não se preocupar demais com o futuro". Não sei se ele pegou essa frase de algum lugar, mas é o lema dele, que acabou passando a ser o meu, também.

Ouvi barulhos de coisas caindo na sala e levantei com um susto. Desci as escadas rapidamente e encontrei Fênix deitado e um prato e copo quebrados, no chão. Sua pata estava machucada, e tinha alguns arranhões na cabeça.

─ Merda... O que você foi fazer, hein? Já não falei para não pegar comida dos pratos? ─ Me aproximei dele, para observar melhor. Retirei um caco de vidro da sua perna e o peguei no colo. ─ Desastrado.

Subi as escadas e fui até o quarto do meu pai, batendo na porta antes de entrar.

─ Onde estão os esparadrapos e o anti-séptico? ─ Perguntei, rapidamente.

─ Para quê? ─ Ele bocejou e levantou a cabeça, semi-acordado.

─ O Fênix se machucou. Eu posso cuidar disso sozinho, mas não sei onde está o kit de primeiros socorros. ─ Meus braços já começaram a doer de carregar ele. Ele era pequeno, mas era pesado pra caramba.

─ Ah... Tá no banheiro desse quarto, na primeira gaveta. ─ Ele bocejou mais uma vez e voltou a dormir. Peguei o que precisava e voltei à sala. Sarah estava na porta do quarto.

─ O que aconteceu? ─ Ela perguntou, esfreganto o olho, mas tomou um susto ao ver o cão. ─ Nossa! O que foi isso?!

─ Ele se cortou com vidro. Não é nada demais. ─ Continuei o caminho e o coloquei em sua cama. Ajoelhei no chão e abri a caixinha.

─ Tem algo que eu possa fazer para ajudar? ─ Ela ofereceu ajuda, sentando-se do meu lado.

─ Você pode cortar um pedaço dessa faixa, de um tamanho que dê para enrolar bem na pata dele. Tem uma tesoura em cima do balcão. ─ Eu falei e ela assim o fez, enquanto eu desinfetava o local. Me surpreendi em como o cão manteve-se quieto, apenas com alguns gemidos de dor de vez em quando. 

Tratei da ferida e fiquei o observando dormir por um tempo, enquanto Sarah voltou ao seu quarto. Sentei no sofá, e acabei dormindo ali mesmo, não aguentando o sono.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Reviews plz o/