Seria estranho contar coisas que aconteceram comigo em terceira pessoa. Portanto, vou escrever em primeira.

Vejamos... por onde posso começar... Ah, já sei.

Eu sou do tipo que vocês podem considerar como "anti-social". Odeio pessoas. É praticamente impossível ter uma convivência comigo. Solitário? Nunca me senti assim. Deve ser o costume...

Na época desta história eu tinha 15 anos. Eu estava no primeiro ano do ensino médio. Tudo o que eu fazia na escola era fazer as lições requisitadas, prestar alguma atenção na aula e copiar as coisas do quadro. No intervalo eu ficava no que considero como "meu lugar". Ficava nos fundos da escola, próximo à algumas quadras de basquete e vôlei. De vez em quando me distraio vendo alguns jogos, que acontecem de terça e quinta.

Apesar de não conviver com outros, eu conhecia cada pessoa que estudava naquele colégio. Não por nome, lógico, mas por vê-las, eu conhecia. Veja bem, era um colégio grande, mas eram sempre as mesmas pessoas. Raramente entravam caras novas.

Porém, um dia, passou na minha frente uma garota nova. Engraçado, estávamos no meio do ano, não era usual entrarem pessoas novas na metade do ano... Mas não liguei muito pra isso.

O sinal soou e eu voltei para a minha respectiva classe. Típica escola americana, com horários diferentes para os diferentes alunos. Minha aula seria de química. Interessante, a aluna nova estava lá também.

Sentei-me em minha carteira dupla, com o lugar direito vazio. Olhei em volta. Ótimo, o único lugar vazio. Aquela garota ia ter que sentar comigo.

─ Oi, como vai? ─ Ela dizia, se sentando ao meu lado

─ Não poderia estar melhor... ─ Respondi, sarcástico, e depois voltei minha atenção ao professor.

─ Quanta simpatia... ─ Ela respondeu da mesma maneira ─ Meu nome é Sarah ─ Ela estendeu a mão, esperando que eu a apertasse.

A olhei de canto por um segundo, e continuei olhando pra frente.

Ela voltou sua mão em cima da mesa, devagar, meio magoada, eu acho. Eu não estava nem aí, eu não era obrigado a criar nenhum tipo de relacionamento com ninguém.

─ David. E eu não quero amizades aqui, ok? ─ Decidi que ela deveria saber ao menos meu nome, e deixei claro meu interesse em relações.

─ Tá bom então... ─ Ela voltou sua atenção ao professor.

Pude ouvir ela puxando conversa com outras garotas da turma.

─ Não se preocupe, ele é assim mesmo. Não gosta de ninguém. Não acho que vai ter muita sorte com esse aí. Ele estuda aqui desde o quarto ano, nunca conversa com ninguém. ─ Uma delas falou

─ É, eu percebi ─ Sarah respondeu

E depois continuaram falando um monte de baboseiras de mulher, das quais nada me interessava.

O professor, logicamente, notou a conversa paralela que atrapalhava a aula.

─ Francamente, você acabou de entrar nessa escola! Já quer criar uma má impressão? Vou deixar passar dessa vez, mas na próxima eu farei uma observação na pasta sobre seu mau comportamento em sala, senhorita Sarah. ─ Ele a fitava com raiva

─ Desculpe, professor ─ Ela estava com a cabeça baixa

Dei um sorriso. Foi engraçado vê-la se dando mal.

A novata me olhou de canto, com uma expressão de raiva, o que me fez abrir um sorriso maior. Ela voltou a olhar pra frente, frustrada.

Acabada a aula, me levantei e fui embora para a outra classe. Passei antes no meu armário, fazer a troca de materiais.

─ Hey, não foi muito simpatico da sua parte rir de mim quando eu levei uma bronca! ─ Veio a menina chata me perturbar novamente

─ Não estou afim de ser simpático com ninguém. ─ Eu falei, frio.

Peguei meus materiais e fui saindo, mas a garota insistia em querer conversar.

─ Eu tenho certeza de que deve ter um motivo para você ser tão frio assim. O que aconteceu? ─ Ela me acompanhava,andando

─ É estúpido querer falar comigo. Vá para a sua classe. ─ Ordenei

─ Minha próxima aula é com você também ─ Ela estava com um sorriso no rosto

─ Eu mereço... ─ Esfreguei a cara com as mãos.

Adivinha? Isso mesmo! A única carteira que ela podia se sentar era fazendo dupla comigo! Êêê... Tô morrendo de felicidade.

Fui relutante me sentar. Maldita aula de geografia... Não tinha classe mais cansativa que essa.

A garota continuava a tentar puxar assunto comigo.

─ E então, de que tipo de música você gosta? ─ Ela perguntava

─ Por quê precisa saber disso? ─ Perguntei, de saco cheio

─ Ah, como nós vamos ter algumas aulas juntos, pensei que eu deveria saber um pouco mais sobre a sua pessoa. ─ Ela explicou

─ Não tenho nada de interessante para você saber. Me deixa em paz. ─ Eu já não aguentava mais.

Ela, frustrada, cedeu. Pelo menos pelos próximos 40 minutos restantes da aula eu não teria mais atazanação.

Aula chata, professor chato. O sinal soou e eu peguei minha mochila. Ainda bem que era a última aula.

Me levantei calmamente e saí da sala. Peguei os materiais que eu precisava levar para casa e saí em direção ao portão principal.

Mas logicamente eu não iria ter paz.

─ Hey ─ Sarah me chamava

─ Ah não... ─ murmurei para mim mesmo ─ O que foi agora? ─ Perguntei

─ Err... eu só queria me desculpar por ser tão chata. Eu acho que começamos com o pé esquerdo. ─ Ela parecia envergonhada.

─ Ora, desculpas? Taí uma coisa que eu não ouço todo dia. Está desculpada. Mas eu continuo sem querer fazer amizade. ─ Avisei

─ Certo... Mas posso pelo menos saber o por quê de você ser assim? ─ Ela perguntou

─ Eu só... odeio todo mundo. Até mais. ─ Falei e saí de perto. Já era o bastante.

Certas pessoas insistem em querer criar relações de amizade comigo, mesmo depois de eu dizer que não estava interessado nisso. É meio ridículo uma pessoa insistir em algo que sabe que não vai dar certo.

Mas o professor, que sabia que eu demorava um pouco pra ir realmente embora, veio atrás de mim.

─ Bekner! ─ Ele me chamava

─ Sim? ─ Me virei

─ Mais uma chamada. ─ Ele me disse, entregando um envelope ─ Eu realmente acho que você deveria se envolver mais

─ Por quê simplesmente ninguém entende que eu não gosto de pessoas?! AAAAH! ─ Falei, puxando os cabelos

─ Esteja no psicólogo às 2 amanhã,ok? ─ Ele me informou

─ Ok... ─ Cedi, relutante.

Pude perceber Sarah nos olhando de canto. Segui meu caminho embora, passando reto por ela.