Não demorou muito para eu estar aos pés do Monte Otris. Dispensei o motorista, não queria que ele se arriscasse a tal ponto, dei-lhe todo o dinheiro que tinha no bolso e esperei ele virar a esquina para seguir viagem. O cheiro de bala de menta invadiu meus pulmões, assim como as lembranças.

__ Olá Monte do Desespero – murmurei

Comecei a caminhar no acostamento, a estrada era cercada por florestas de imensos eucaliptos, me certifiquei que a Contracorrente estava no meu bolso, que eu me lembre Zöe disse que monstros adoravam comer essas coisas. A lembrança da caçadora fez meu coração dar um nó.

Depois de quase duas horas caminhando, uma garrafa de água vazia e três pacotes de biscoitos devorados me rendi e sentei no asfalto.

Eu tinha me acostumado tanto com o barulho do vento e da floresta que dei um salto quando o que me parecia um carro subia em alta velocidade pela estrada. Corri para a floresta e me escondi atrás de uma das árvore. O carro subiu e parou perto de onde eu estava.

Um garoto de uns dezesseis anos saiu batendo a porta com bastante força. Ele usava uma jaqueta de aviador, os cabelos eram negros e escorridos, ele se virou e eu o reconheci. Era Nico Di Angelo.

__ PERCY!

Fiz um barulho saindo do mato e Nico sacou a espada feita de um metal negro. Quando ele me identificou a abaixou e abriu um sorriso torto.

__ E ai priminho – disse ele
__ Como me achou e o que está fazendo aqui?

O carro que Nico dirigia era preto, as rodas tinham caveiras pontudas, os bancos eram de couro, e a pintura, meus deuses, era de um preto cintilante com fogo surgindo nas portas. Era um carro infernal.

__ Uou! – exclamei
__ As vantagens de ser filho único – ele encostou-se ao teto do carro
__ Enfim... Conte-me como me achou?
__ Annabeth... Ela assim que chegou ao Acampamento me mandou uma Mensagem de Íris me dando a sua localização, ela pediu que eu o ajudasse com o fim da missão.
__ Ela é muito teimosa, mas já que você esta aqui, coloca essa máquina pra funcionar, tem um bocado de morro ainda
__ Demorou!

Nós entramos no possante infernal, Nico colocou um mini cão infernal com a cabeça saltitante perto do volante, o que era bem cômico. Ele pisou no acelerador e fiquei pregado no banco, olhei pelo retrovisor e pude jurar que chamas negras saiam do asfalto. Em menos de vinte minutos já estávamos no topo do Monte. Saímos do carro. Nico apertou a chave do carro e este se tornou um chaveiro de caveira.

__ Meu pai bem que podia me dar um desses – comentei
__ Quem sabe ele não te dá um carro no formato de concha – zombou Nico
__ Engraçadinho

A Névoa ainda era bem espessa, mas não tanto quanto da ultima vez, continuamos caminhando em direção as nuvens. Logo elas ficaram fracas o bastante e pude ver novamente a árvore enorme cercada por um dragão maior ainda, eu já não achava o campo tão belo quanto da primeira vez talvez por ele me remeter a lembranças ruins, mas Nico parecia deslumbrado.

__ Tentador não? – comentei
__ Demais

As Hespérides – protetoras dos campos e filhas de Atlas - nos cercaram rapidamente.

__ Vós não deveis continuar por esse caminho herói – disse uma delas
__ Irmã, lembra-te este é o jovem Perseu Jackson, salvou o Olimpo contra os Titãs e aprisionou nosso pai em seu martilho – lembrou outra
__ Voltai heróis, Ládon não irá deixa-los desta vez
__ Sinto muito – eu disse – Não posso voltar!

Afastei as irmãs Hespérides e segui caminho junto com Nico. O dragão moveu-se desconfortável sobre a árvore. Ele bocejou e um cheiro ácido invadiu o ambiente – por deuses vou mandar uma escova de dente gigante para esse dragão – continuamos caminhando lentamente ao redor da campina como eu me lembrava que tinha feito da ultima vez. Duas cabeças acordaram, coloquei a mão no ombro de Nico fazendo-o parar.

__ O que foi? – sussurrou
__ Olhe – disse eu no mesmo tom

Apontei para árvore, mas dessa vez eram quinze cabeças acordadas, um arrepio percorreu a minha espinha.

__ Não irás escapar Perseu – falou uma Hespéride dando um risinho em seguida

O dragão virou dez das quinze cabeças acordadas para nós, ele começou a sibilar.

__ Corre! – gritei para Nico

Nós começamos a correr desenfreados pela campina. Vi que já estávamos quase no fim, Nico passou a minha frente, mas parou perto da sombra feita por uma pedra.

__ O que você está fazendo? – perguntei incrédulo
__ Viagem nas sombras, vem!

Ele me estendeu a mão e fui envolvido pela escuridão, arrepios e minha pele quase saindo do rosto. Quando essas sensações passaram abri os olhos, estávamos no topo do Monte. Consegui ver lá de cima São Francisco inteira. Procurei por Nico e lá estava ele caído perto da gruta dos meus sonhos.

__ Nico! – bati em seu rosto – Nico!
__ Me deixa dormir Percy – resmungou ele se enrolando em uma posição fetal
__ Oh deuses

Enfiei meus braços debaixo dos seus, arrastei ele até o canto da gruta e o encostei em uma pedra – longe do precipício – Nico dormia feito um bebezão dark. Tirei a Contracorrente do bolso e a destampei, minha espada de bronze celestial reluziu em minhas mãos. Entrei cauteloso na caverna, mas pera ai esta não é a caverna de Atlas.

Olhei para os lados e vi o caduceu bem longe. Uma sombra, quer dizer, três sombras humanas passaram logo à frente. Escondi-me atrás de uma pedra e fiquei espiando, dessa vez pude vê-los com mais nitidez. Eram duas garotas e um garoto alto, eles pareciam discutir.

__ Reyna, Jason não está aqui – disse o garoto alto
__ Ele tem que estar. Mercúrio disse que ele estaria aqui, nós só precisávamos vir atrás do seu caduceu – protestou ela
__ Reyna... – murmurei
__ Quem está ai? – perguntou o garoto – SAIA!

A voz dele não soou muito confiante. Continuei escondido atrás da pedra. De repente tudo ficou em silêncio, fiquei com medo da minha respiração me denunciar.

__ Aqui está ele! – soou uma voz estridente atrás de mim

Meus pés não tocavam mais o chão, o garoto estava me segurando pela camisa. Pude ver o rosto de cada um deles nitidamente. O menino era enorme, mas tinha um rosto de bebê, uma das meninas era negra e os cabelos cacheados eram meio cor de mel e parecia ter uns treze anos a ultima devia ter a minha idade, com o rosto duro, mas devia ser bonita sem a carranca. Todos vestiam camisetas roxas com escritas “Acampamento Júpiter”

__ O que você está espionando? – esbravejou a garota mais velha
__ Reyna? – perguntei confuso
__ Conhece ele? – o bebezão segurou meu rosto e o aproximou do dela
__ Esse rosto não me é estranho...
__ Reyna, vamos levar ele conosco até o Acampamento, lá decidimos o que fazemos com ele – disse a mais nova
__ Espera! Espera! – gritei – Eu conheço o Jason

O bebezão me soltou no chão, eu iria ficar com a bunda doendo alguns dias. Encarei-os, todos estavam perplexos e Reyna parecia confusa, devia estar vendo algum jeito de me torturar.

__ Como assim? – perguntou Reyna
__ Ele é loiro, tem um corte no lábio, é filho de Zeus, tem uns dezesseis, dezessete anos – respondi apressado
__ Cadê ele? – perguntou o garoto em um tom “ameaçador”
__ Frank deixa ele – a garota mais nova o segurou pelo braço
__ Tudo... Tudo bem Hazel – respondeu ele carinhosamente.
__ Ele foi pro...
__ Desculpe interromper esse encontro entre semideuses

Um monstro com metade do corpo de serpente e outro de uma mulher – nua na parte de cima – veio em nossa direção, nós quatro recuamos. Ela tinha os olhos fixos em nós, com um sorriso nos lábios monstruosos.

__ Lâmiae – disse Reyna.