Uma mulher loira de longos cabelos cacheados olhava tranquilamente através da janela de sua sala. Ela tinha 27 anos, e qualquer um que visse sua beleza e soubesse o quão rica e bem sucedida ela era, poderia dizer que ela tinha uma vida perfeita. Mas não tinha.

Sam não havia nascido em berço de ouro, ao contrário, vivia humildemente com a mãe em Seattle, até o dia em que fora admitida em Harvard, depois de quase se matar estudando persistentemente por seis meses para cursar Ciências da computação. Fora influenciada na escolha por seu grande amigo, que infelizmente não conseguiu ser admitido. Isso o deixara tão irritado, que ele cortou todo o contato com ela e nunca mais se falaram desde que ela partiu. Ela nunca entendeu o porquê disso, só entrou nesse curso para ficar perto dele, pois embora gostasse de informática, queria mesmo fazer medicina, mas por ele mudou de ideia e ganhou em troca seu desprezo.

Ela não sabia por que, mas acordara naquela manhã pensando na última vez em que se viram e ele tinha no olhar tanta mágoa que a deixou em pedaços. Sempre amou aquele cara mais do que a si mesma, e até achou que fosse correspondida, mas ele optou por sua melhor amiga. Sam foi embora de Seattle com o coração sangrando, e embora tivesse tentado manter contato com ele, foi inútil, tudo o que soube foi por Carly, que o havia deixado pra ficar com Griffin. Ele havia ido pra Sorbonne na França também fazer Ciências da computação, mas só dois anos depois de Sam.

Agora Sam estava ali pensando em tudo aquilo enquanto esperava o próximo candidato para entrevista de emprego. Ela era diretora executiva da Aplle e chefe de departamento da área de criação de aplicativos da mesma empresa. Estava tão distraída que nem lera a ficha com o nome dos candidatos, até que a secretária entrou na sala a tirando de seus pensamentos.

–Senhorita Puckett, posso fazer o próximo candidato entrar?

–Ah, sim claro Érika, por favor.

Ela se ajeitou na cadeira, pôs os óculos(ela não precisava mas achava que eles lhe davam um ar mais sério) e aguardou. Quase teve um infarto quando ouviu Érica chamar: “Senhor Fredwardo Benson!”

–Não pode ser -foi tudo o que conseguiu e teve tempo de dizer.

Freddie estava sentado aguardando para ser entrevistado, quando sua mente lhe levou a lembranças que ele preferia esquecer. A mulher que ele amava mais do que a ele mesmo, sempre tentando provar ser melhor que ele, e conseguindo, desta vez segurando uma carta de admissão de Harvard bem em sua frente, esfregando sua alegria bem na sua cara. Como? Se ela passou a vida escolar dormindo enquanto ele se matava de estudar? Ele se sentiu diminuído, humilhado e sabia que ela fazia aquilo por que o odiava, para deixa-lo assim. Passou a trata-la com todo o desprezo possível, e sempre jogando em sua cara o quão ruim, e preguiçosa ela era, ao que ela ignorava completamente fazendo ele se sentir pior ainda.

Lembrava o dia em que Carly descobriu por ele mesmo que ele só estava usando ela para magoar Sam, e quase parou de falar com ele, mas disse que o perdoaria se procurasse Sam e tentasse reatar. Ele disse que o faria, mas nunca teve coragem.Partiu para França com essa promessa não cumprida A medida em que amava Sam a odiava por ela esta sempre destruindo seus sonhos, pisando nele. Achou que era melhor que não se vissem mais.

Agora, 10 anos depois, estava de volta a Seattle, concluindo sua pós graduação em Harvard (sim é possível se graduar em uma universidade e se pós graduar em outra) era um dos programadores de aplicativos mais sondados pelas empresas mundiais, com seu diploma da Sorbonne, e aguardava para avaliar a proposta da Apple. Sim, estava feliz, mas era capaz de abrir mão de tudo aquilo pra ter Sam de novo. Tarde demais, pensou.

Foi quando a secretária o tirou de seus devaneios, o convidando a entrar na sala.

Ele se levantou e quando entrou na sala, sentiu o coração parar.

Os olhos castanhos cruzaram com olhos azuis. Nenhum dos dois sabiam o que fazer. Levar a situação à diante? Sair correndo? Começar a atirar farpas como nos velhos tempos? Ou beijar aquela pessoa a quem amava mais do que tudo?

Continua...