Foi como estar sonhando. E eu realmente queria que isso estivesse acontecendo. Queria muito abrir os olhos e descobrir que tudo aquilo não passou de um sonho. Mas eu estava errado. Senti que estava deitado em um piso frio. Minha cabeça estava doendo, me sentia desnorteado. Abri os olhos devagar e não reconheci onde estava. Eu encarava um teto cinza, com algumas rachaduras. Me esforcei para levantar a cabeça, mas senti uma tontura ao tentar. Fechei os olhos novamente, tentando fazer com que aquilo passasse.

- Percy? - alguém chamou meu nome.

Mas não era qualquer um, era ela. Era Annie. Sua voz delicada fez com que minhas últimas forças se juntassem. Abri meus olhos novamente e dei de cara com um belo par de olhos cinzas me encarando. Os olhos que eu amava. Os olhos da garota que eu amava. Minha visão ainda estava um tanto ruim, mas eu sabia que era ela. Tentei me levantar mais uma vez, mas Annabeth me impediu.

- Não, fique deitado. Você perdeu muito sangue. - ela disse pousando a mão delicadamente sobre minha cabeça.

Só então notei que estava sem camisa, e que esta, se encontrava enrolada em minha cabeça. Levantei a mão direita e toquei minha própria testa. Ela doía um pouco com apenas um pequeno toque. Não me recordava direito do que tinha acontecido. Mas sabia que, quando saísse dali, Luke poderia ser considerado um homem morto. Ele havia me acertado com alguma coisa, e me levou para algum lugar desconhecido. O mesmo onde Annabeth se encontrava.

Olhei para ela novamente. Seus lábios expremiam um leve sorriso. Me senti bem por estar ao seu lado. Minha mão voou para seu rosto. Um corte não muito profundo se encontrava acima de suas sobrancelhas. Acho que isso explicava o sangue que vi mais cedo nos cacos de porcelana.

- Onde estamos? - pergunto, ainda acariciando seu rosto.

Annie cora e leva sua mão até a minha.

- Na casa de Luke. É ele. Foi ele quem matou Thalia. Era ele esse tempo todo. - assim que ela disse isso, seus olhos se enxeram de lágrimas.

- Mas... Por que? - pergunto curioso.

Essa história de Luke e Thalia ainda me parecia um tanto estranha. Faltavam muitas peças. Eu estava confuso.

- Depois eu te explico, certo? Você tem que descançar. - Annabeth disse pegando minha cabeça com calma e colocando em seu colo  - Sabe, fiquei com medo de você não entender meu bilhete.

Lhe dei apenas um sorriso fraco.

Fechei os olhos enquanto ela mexia em meus cabelos. Estávamos apenas nós dois ali, e provavelmente Luke não planejava nos manter vivos por muito tempo. "Conte à ela, covarde" minha consciencia gritava. Aquele era o momento. Eu sentia isso. Se ela não sentisse o mesmo, de que adiantaria? Íamos morrer mesmo. Estava contando com a ajuda de Zeus, mas sabia que algo poderia acontecer antes que ele chegasse.

Abri meus olhos e vi que Annabeth estava conscentrada em meus cabelos. Mordi o lábio inferior e pensei em como começaria.

- Annabeth... - digo, fazendo com que seus olhos encontrassem os meus - Tem uma coisa... Uma coisa que eu preciso muito te falar.

Annabeth pareceu apreensiva assim que lhe disse isso. Ela me dei um pequeno sorriso e disse:

- Diga.

Respirei fundo e me levantei, com um pouco de dificuldade, de seu colo. Ela me ajudou a me sentar. Fiquei sentado em sua frente, encarando seus olhos.

- Annie, você é minha amiga. Minha melhor amiga. Sempre foi e sempre vai ser. Mas, há alguns anos atrás, algo começou a mudar. Eu não me permitia nem sequer pensar que eu poderia... Bem, estar sentindo algo a mais por você. Você é linda, inteligente, trabalhadora... É incrível. Eu pensava que você nunca poderia se interessar por alguém como eu. Eu sou patéticamente covarde. Sou completamente apaixonado por você e nem sequer tinha coragem de admitir. Mas hoje eu sei o que eu sinto. 

Annabeth escutava atentamente cada palavra. As lágrimas acumuladas em seus olhos começaram a escorrer, mas ela não as limpou.

- Queria me declarar de uma maneira diferente. Eu ia te levar para o parque, depois íamos jogar Painboll. Eu iria ser morto já nas primeiras rodadas, e você, com certeza, seria uma das últimas. Assim que o jogo terminasse, e você falar comigo, ia ver que estava escrito "eu te amo" em minha roupa com tinta. Só então eu poderia te dizer tudo o que sempre senti vontade. Mas o destino é engraçado, ele as vezes te desaponta. E, quase sempre, nos ajuda. 

Fiz uma pequena pausa pois meus olhos também estavam repletos de lágrimas. Mas estava me sentindo cada vez melhor. Finalmente estava dizendo para Annabeth tudo o que sempre quis.

- Estou dizendo tudo isso, Annie, simplesmente porque não aguento mais viver com isso aqui dentro - digo levando sua mão até meu coração, que batia mais rápido do que nunca - Eu te amo, Annabeth. E não consigo viver sem você. Mas vou entender se não sentir o mesmo. Queria saber o que se passa dentro dessa cabecinha e desse coração.

Annabeth pareceu ficar petrificada por um minuto. Após deixar várias lágrimas caírem, ela finalmente se mexeu e limpou o rosto. Então, correu a mão até o bolso da calça e tirou de lá um pequeno bilhete cor-de-rosa. O reconheci de imediato. Sim, ela sabia que eu era seu admirador secreto. Assim que vi o papel, sorri como um bobo. Annie tinha um sorriso divertido no rosto.

- Você é um idiota, Perseu Jackson. Um verdadeiro Cabeça de Alga. Esse tempo todo, você sentia tudo isso, e não conseguiu me dizer nada? - Annabeth disse rindo - Na verdade, acho que nós dois somos dois idiotas. Desde o jantar na casa de minha mãe... Eu não sei, algo havia mudado, eu sentia. E não era algo recente. Acho que... Sempre foi você, Percy. Pra mim, foi sempre você, desde o dia em nos conhecemos. Eu só não... Havia percebido, eu acho.

Senti meu rosto queimar. Agora um sorriso enorme ocupava meu rosto. Não conseguia manter meus lábios unidos. Annabeth ainda chorava. Mas eu estava começando a achar que eram lágrimas de alegria. Pois ela também não parava de sorrir.

- Com relação ao bilhetes, não poderia ter arranjado um jeito melhor de se declarar. Era perfeitos, cada um deles. Mas tenho que confessar que demorei um pouco para reconhecer a letra. Se não fosse por Rachel... - Annie continuou.

- Rachel? - enfatizei rindo.

Annie assentiu.

- Sim, para você ver. Eu mal conseguia caber dentro de mim de tanta felicidade. Queria correr para você e... - Annie fez uma pausa, corando levemente - Pensei que poderia resolvir isso vindo sozinha, mas parece que acabei me enrolando ainda mais. 

Assenti. Annabeth era mesmo maluca. Mas era minha maluca, agora mais do que nunca.

- Somos dois idiotas... - começo.

- Percy...

- Como eu não consegui enxergar isso antes? Acho que era por medo...

- Percy...

- Tinha medo de você não sentir o mesmo e... 

- Percy! - Annabeth me interrompeu.

- O que? - pergunto só então olhando em seus olhos novamente.

Annabeth deu um sorriso maroto e se sentou mais próxima de mim. Se não fosse pela enorme dor de cabeça, eu já teria a agarrado no mesmo minuto. Apenas acariciei seu rosto, tirando alguns fios de cabelos e colocando-os atrás de sua orelha.

- Juro que se não me beijar logo, eu mesma mato você. - ela disse com um ar de brincalhona.

Gargalhei pela primeira vez naquele dia, e Annie também.

"Acho melhor obedecê-la" pensei. Segurei seu rosto e me aproximei. Annie ajudou, se inclinando, já que minha cabeça estava começando a latejar. Mas quem liga para a dor quando se tem a mulher mais perfeita do mundo em seus braços? Ninguém!

Assim que meus lábios tocaram os seus novamente, senti um arrepio percorrer meu corpo. Passei meus braços por sua cintura e a trouxe mais perto, fazendo que que ela se sentasse em meu colo. Annabeth segurava meu pescoço e, vez ou outra, puxava meus cabelos. Seus lábios tinham o sabor ainda melhor do que eu me lembrava. 

Desde a primeira vez que admiti para mim mesmo que estava apaixonado por ela, este sempre fora meu sonho. Tê-la apenas para mim. Fazer dela a minha garota. E agora, aqui estou, com a mulher mais incrivel do mundo me beijando. Mordi seu lábio infeior. Sabia que Annie tinha a mania de mordê-lo quando ficava nervosa, e que iria adorar isso. Estava certo. Ela revidou me mordendo ainda mais forte. Não reclamei. Apenas a beijei com mais intensidade.

Nossas bocas se encaixavam perfeitamente. Sua língua macia me deixava louco. Continuei a beijando até que a necessidade por oxigênio falou mais alto. Finalizei o beijo com um selinho. E a apertei contra mim, fazendo com que Annie me abraçasse. 

Ela enconstou a cabeça em meu ombro e ali permaneceu imóvel. Era ótimo sentí-la assim, em meus braços. Mas eu sentia que estava faltando alguma coisa. Pensei e logo, descobri o que era. Minha mão esquerda e soltou por um minuto e se enfiou em meu bolso, tirando dele, um outro bilhete cor-de-rosa.

Ao vê-lo, Annabeth me lançou aquele belo sorriso que só ela consegue dar.

- Este eu escrevi no intuito de te entregar pessoalmente. Mas vou fazer mais do que isso, vou lê-lo para você. - digo desdobrando o bilhete.

Annie sorriu e voltou a colocar a encaixar sua cabeça em meu pescoço.

Comecei a ler a música que ali dentro estava escrita:

"Esse tempo, esse lugar. Desperdícios, erros. Tanto tempo, Tão tarde. Quem era eu para te fazer esperar? Apenas mais uma chance. Apenas mais um suspiro, caso reste apenas um.

 Porque você sabe que eu te amo, eu sempre te amei. E eu sinto sua falta, estive tão longe por muito tempo. Eu continuo sonhando que você estará comigo e você nunca irá embora. Paro de respirar se eu não te ver mais. 

De joelhos, eu pedirei uma última chance para uma última dança. Porque com você, eu resistiria a todo o inferno para segurar sua mão. Eu daria tudo; Eu daria tudo por nós. Eu daria qualquer coisa, mas não desistirei.

Porque você sabe que eu te amo, eu sempre te amei. E eu sinto sua falta, estive tão longe por muito tempo. Eu continuo sonhando que você estará comigo e você nunca irá embora. Paro de respirar se eu não te ver mais."

- Perfeita, como sempre. - Annie se manifestou assim que terminou.

Seus olhos se encontravam repletos de lágrimas novamente. Trouxe seu rosto para perto do meu e lhe dei um beijo no rosto antes de beijar sua boca, novamente.

Eu poderia ficar ali o dia todo. Poderia resistir todo o tempo que fosse preciso. Os lábios de Annabeth me fizeram pensar que talvez nós não morrêssemos. Talvez alguma coisa poderia dar certo. Era apenas um talvez. Mas fora um desses que me fizeram tomar coragem e dizer para minha Sabidinha toda a verdade. E melhor, fizeram com que eu escutasse a verdade. Ela me amava também.

Perdi a noção do tempo. Seus lábios doces ainda estavam nos meus. Minhas mãos revezavam entre sua cintura e seu pescoço. As vezes Annie passava as unhas em meu peito descoberto, o que me deixava ainda mais animado. Eu a queria tanto quanto ela me queria. Mas ainda tinham algumas coisas faltando. Pelo menos para mim.

Interrompi nosso beijo e beijei seu pescoço. Sentindo-a estremecer. 

- Agora pode me explicar o que aconteceu entre Luke e Thalia? - perguntei voltando a encarar seus olhos.

Annie me deu um último beijo rápido e só então saiu de meu colo. Fiquei desapontado, mas ela se sentou ao meu lado. Então não reclamei.

- Só descobri que era Luke por causa disso. - ela disse me mostrando um papel pequeno e amassado, onde estava escrito o nome e o telefone de Luke - É, uma história um tanto longa, acho melhor deitar.

Obedecendo minha Sabidinha, deitei-me em seu colo. Ela começou a mexer em meu cabelo novamente enquanto me contava o que acontecera mais cedo.